Mostra histórica de temática LGBT com 264 obras de artistas consagrados é acusada por grupos de extrema direita de ser apenas apologia a pedofilia, zoofilia e anti-cristã. Banco patrocinador aceita a censura com medo de boicote e conflitos.
#Libertários?
#PelaLiberdadeDeExpressão
#PelaLiberdadeArtística
#FascistasNÃOpassarão
Alguém consegue imaginar artistas como Volpi, Portinari e Lygia Clark como criminosos defensores da pedofilia que querem “destruir a família brasileira”? Alguém acha que um banco privado montaria uma exposição para implantar um “comunismo globalista”? Pois centenas de comentaristas de sites de extrema direita (e também de nossa página no Facebook e talvez aí embaixo daqui a pouco) parecem acreditar nisso. Devem ser as mesmas pessoas que concordam com Olavo de Carvalho quando ele diz que a Pepsi adoça seu refrigerante com fetos abortados (https://www.youtube.com/watch?v=AblcSjwIZbg), os que creem piamente que a Terra é plana (https://www.youtube.com/watch?v=eC4YRYsB0PQ) ou os que juram que o nazismo é uma ideologia de esquerda (https://www.youtube.com/watch?v=nmFAPqzaAz8). Pois é. Em mais um triste passo em direção ao obscurantismo e fascismo, essas mentes “brilhantes” resolveram voltar suas baterias e seu “vasto” conhecimento em história, política e arte contra uma exposição artística: a Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Santander Cultural de Porto Alegre.
A mostra histórica sobre arte com temática LGBT, com 264 obras de diversos artistas consagrados, como a “O Eu e oTu”, de Lygia Clark, feita em 1967, foi encerrada hoje após manifestações de grupos reacionários. Além de Clark, há obras de outros 84 artistas como Adriana Varejão, Alfredo Volpi, Cândido Portinari, Clóvis Graciano, Fabio Del Re, Flávio Cerqueira, Gilberto Perin, Sandro Ka, Yuri Firmesa e Leonilson. A mostra reunia pintura, gravura, fotografia, serigrafia, desenho, colagem, cerâmica, escultura e vídeo. Um painel amplo e diversificado da produção sobre a temática que segue outras mostras semelhantes como as cinco realizadas esse ano em Londres (https://www.out.com/art-books/2017/2/03/5-queer-art-exhibitions-see-spring-london), ou esta em Nova York (http://www.mcny.org/exhibition/gay-gotham) ou ainda essa em Paris (https://www.rencontres-arles.com/…/expositions/view/106/sin…).
Mas depois de quase um mês de sucesso de público e crítica no centro cultural de um banco na capital gaúcha, postagens coordenadas em páginas e grupos de extrema direita, incluindo um vereador de Porto Alegre eleito pelo PSDB mas com “selo MBL”, divulgaram que se tratava de uma mostra de “apologia à pedofilia” e contra “a moral e os bons costumes cristãos”.
Com isso, os que se auto-intitulam “libertários”, pediam a seus seguidores que pressionassem o banco privado (divina ironia) a fechar a exposição. Pior, estimularam seus adeptos a filmar, constranger e expor os visitantes do centro cultural. Desse modo, a segurança do banco foi obrigada a fechar as portas da mostra ontem para evitar confusões. Hoje, a direção lançou uma declaração de encerramento definitivo da exposição, que deveria permanecer aberta até 8 de outubro. Os relatos de agressões aos visitantes são bizarros, como pode se ver abaixo.
No Brasil de 2017, os “libertários” parecem preferir a destruição de obras de “comunistas” e “anti-cristãs” (basta ver os comentários nos posts), da mesma forma como Hitler liderou a queima de milhares de livros de autores comunistas e judeus em 1933. No mesmo lugar onde isso ocorreu, aliás, recentemente a artista argentina Marta Minujín erigiu uma imensa instalação, o Partenon dos Livros, uma obra em favor da liberdade artística, intelectual e de expressão.
Como bem lembrou Kiko Nogueira em artigo no DCM (http://www.diariodocentrodomundo.com.br/80-anos-depois-dos-nazistas-o-mbl-consegue-cancelar-mostra-de-arte-degenerada_por-kiko-nogueira/), “em junho de 1937, o ministro de Propaganda do Terceiro Reich, Joseph Goebbels, encarregou o presidente da Câmara de Artes Plásticas, Adolf Ziegler, de vasculhar todos os museus em busca de ‘arte decadente’. Milhares de peças produzidas depois de 1910, que não se adequavam ao ideal de beleza nazista, foram reunidas em Munique numa exposição chamada ‘Entartete Kunst’, ‘Arte Degenerada’. ‘Os senhores veem à nossa volta essas abominações da loucura, da insolência, da inépcia e da degeneração. O que os olhos percebem, nos causa, a nós todos, choque e repulsa’, falou Ziegler na abertura, antecipando a turma gaúcha. Expressionistas como Emil Nolde, Käthe Kollwitz e Ernst Barlach, alemães, foram jogados no lixo. Vassily Kandinsky, Marc Chagall e Pablo Picasso foram proibidos. ‘Praticamente não houve resistência’, escreveu a perita em história da arte Anja Tiedemann, da Universidade de Hamburgo. As obras que não foram destruídas acabaram vendidas no mercado negro para financiar o regime.”
Já temos pelo menos um evento marcado em Porto Alegre em repúdio ao encerramento da exposição e o avanço dos fascistas (https://www.facebook.com/events/905454412938548/)
Vejam aqui a vergonhosa declaração do banco para o encerramento da mostra: https://www.facebook.com/SantanderCultural/posts/732513686954201