Texto: Lucas Bois
Revisão: Ágatha Azevedo
Escutar notícias, ouvir uma narração e ser levado por uma trilha sonora… O que antes poderia ser um programa de rádio, hoje talvez seja um episódio de podcast. Esse fenômeno que invadiu a internet há poucos anos, continua em constante crescimento no número de ouvintes e se expande também na variedade de assuntos oferecidos. Atualmente, grande parte dos temas de podcasts estão relacionados à pandemia da COVID-19 ou ao contexto sócio-político decorrente do bom ou mau enfrentamento dos governos a essa crise mundial sanitária. No nosso país, a pandemia escancara as desigualdades ao evidenciar os problemas sociais que separam as classes econômicas da população.
Diante desse contexto, as jornalistas Raquel Baster e Joana Suarez decidiram mergulhar no mundo do podcast para contar histórias de mulheres brasileiras que enfrentam a pandemia, além dos desafios diários vividos cotidianamente. “A gente tem certeza que as mulheres sempre tem as melhores soluções. Ao reunir essas histórias, trazemos muitas ideias e inspirações, formando uma grande ciranda. Daí veio o nome do podcast: Cirandeiras“, conta Joana.
Para conhecer melhor esse espaço de webrádio e feminismo, os Jornalistas Livres fizeram um bate-papo com as jornalistas que contam sobre o processo de produção, a pandemia e a relação desse projeto com a democratização da comunicação.
Como começou
Raquel Baster e Joana Suarez já dividiam afinidades pelas pautas feministas e bastou apenas uma semana de quarentena para que colocassem o projeto do podcast em ação. Joana, que vem do jornalismo de redação, conta que já vinha se aproximando da rede de podcasts, refletindo sobre a acessibilidade do áudio e seu poder de democratizar: “A maioria dos textos que eu faço são textos enormes e tenho a certeza que muita gente não lê, principalmente as mulheres sobre quem eu falo. O áudio me atraía muito porque leva as pessoas a imaginarem, criar cenários e ir para outra dimensão. Agora na pandemia onde as pessoas estão confinadas, o podcast virou uma companhia, uma forma de sair de casa.”
Já Raquel trouxe ao universo do podcast, sua experiência com a comunicação popular: “Eu sempre trabalhei muito com rádio comunitária e me interesso por essa forma de comunicação que está mais próxima das pessoas. Por mais que ainda seja um novo tipo de mídia, o podcast traz as características do rádio, como as histórias contadas através de uma narração.”
Como é produzido
Muitas vezes, quem escuta um podcast não imagina o que pode estar por trás de sua produção. Segundo as jornalistas, a primeira coisa a fazer é pensar no tema e escolher as mulheres para as entrevistas, por elas chamadas de “cirandeiras”.
“Geralmente o episódio tem a ver com uma pauta que já trabalhamos anteriormente e assim, procuramos mulheres que já tivemos contato. Por coincidência, toda vez que decidimos uma pauta, acontece algo nacionalmente que se conecta ao programa.” Joana lembra que o episódio recente Pandemia na internet sobre segurança digital foi ao ar na mesma semana em que o Senado brasileiro discutia o projeto de lei que combate fake news, enquanto outra discussão acontecia nas redes sobre a exposição de dados pessoais dos usuários do aplicativo FaceApp.
Após o primeiro contato, elas fazem uma pesquisa sobre a cirandeira, enviam as perguntas e dão algumas dicas à entrevistada de como fazer uma boa gravação utilizando o próprio WhatsApp. Como essa orientação, muitas vezes, não é suficiente, nem sempre os áudios tem a melhor qualidade, “mas na pandemia tá tudo justificado”, comenta Joana.
Com as respostas da entrevistada, o roteiro chega a ter mais de 10 páginas e leva de 20 a 30 horas para sua elaboração. A cada episódio, uma delas toma à frente a função de escrever o roteiro, incluindo referências pessoais, e em seguida, a parceira acrescenta a sua parte. “A gente percebe que às vezes um tema muito comum para uma, pode ser muito complexo para a outra. A gente vai se complementando para facilitar o entendimento de quem escuta”, conta Raquel.

Depois do roteiro, vem a hora da gravação que exige algumas preparações, como escolher um horário silencioso do dia para gravar, desligar a geladeira e armar um pequeno estúdio caseiro com edredons. “O legal do podcast é que é uma mídia barata. Basta ter um celular, internet e gambiarras”, conta Joana dando risadas.
Retorno dos ouvintes
As jornalistas contam que 75% das pessoas que ouvem o podcast são mulheres e pertencem ao grupo social que elas convivem. Além do desafio de expandir a rede de ouvintes, elas relatam que ainda é uma grande dificuldade fazer com que o podcast retorne às pessoas entrevistadas e a outras mulheres que não estão acostumadas a esse tipo de mídia.
Raquel conta que a cirandeira Lia de Itamaracá, entrevistada no episódio Pandemia na Ilha, só pôde escutar o podcast após seu produtor viajar até a ilha onde mora para mostrá-la pessoalmente em seu celular. Lia é uma das mulheres brasileiras que ainda não fazem parte dessa grande rede de internet em 2020.
Um infográfico produzido pelo site iinterativa utilizando as fontes do IBOPE, Spotify Newsroom e ABPod, mostra que cerca de 45% do público dos podcasts é formado por homens, do sudeste do país, que pertencem às classes A e B e tem entre 16 e 24 anos. Segundo a pesquisa feita em 2019, 32% dos entrevistados nem sabiam o que é um podcast.
Se o podcast ainda é limitado a uma pequena parcela da população, o WhatsApp talvez possa ser um lugar mais democrático para a sua difusão. As jornalistas contam que decidiram fazer os episódios em formatos pequenos de até 30 minutos para conseguir enviar pelo aplicativo de mensagens e garantir que o podcast alcance o maior número de pessoas.
Democratização da comunicação
Para a jornalista Raquel Baster, é inevitável discutir o alcance dos podcasts sem pensar na democratização dos meios de comunicação no Brasil. Apesar do surgimento das novas mídias, grande parte das informações veiculadas é controlada por um conglomerado de grandes empresários que atendem os interesses privados dessa própria elite.
Segundo ela, “não adianta inventar a roda do podcast, sem falar da estrutura da comunicação no Brasil. Para tornar (a comunicação) mais acessível, precisamos discutir a concentração midiática. A internet ainda não é acessível para grande parte da população brasileira. Precisamos que o maior número de pessoas tenham acesso, mas que possam também alcançar os meios de produção.”
No episódio sobre trabalhadoras rurais, a entrevistada Verônica Santana fala sobre a dificuldade das agricultoras em conseguir se comunicar durante a pandemia, visto que o trabalho sempre foi presencial. “A gente tem muita dificuldade, tanto no domínio dessas ferramentas, como no desafio de que a internet não funciona na maioria dos nossos territórios rurais. No campo, a internet ainda não é uma realidade.”, diz Verônica.
Segundo a pesquisa TIC Domicílios, apenas 50% da população rural tem acesso a internet e esses números podem diminuir ainda mais de acordo com o recorte social e econômico.
Por outro lado, Joana revela seu otimismo no poder das novas mídias: “Acho que o podcast vai se democratizar como aconteceu com o Instagram. Quando a gente poderia imaginar ter acesso a sotaques das pessoas do sertão do Cariri?” Joana se refere ao podcast BUDEJO, de Juazeiro do Norte, e cita ainda o Radionovela produzido por alunos da UFPE em Caruaru, no agreste pernambucano, que narra em formato de radionovela O Alto da Compadecida em Tempos de Pandemia, adaptação da obra de Ariano Suassuna.
Para onde vai essa Ciranda
O podcast Cirandeiras teve início durante a pandemia, portanto grande parte dos seus episódios tem esse tema como contexto. No entanto, as jornalistas Raquel Baster e Joana Suarez pretendem continuar os episódios futuramente, indo a diferentes locais do Brasil para entrevistar de perto as mulheres que conduzem “as cirandas”.
Os episódios das Cirandeiras estão disponíveis nas plataformas mais conhecidas de podcast e tem a cada quarta-feira um novo episódio. Também estão presentes no Instagram, onde ocorrem as lives com as outras mulheres dentro das temáticas dos programas.
Bárbara
13/04/19 at 9:09
Sem palavras Lola! Eu TB festejo MT essaessa conden 👏👏👏👏👏👏👏👏
Rafael Oliveira (@RafaelO98153974)
13/04/19 at 9:12
Pena que essa condenação nunca seja cumprida, que tipo de humor é esse? Um cara sem graça, que se aproveita de situações para poder se promover ,insultando pessoas e depois dizendo “foi uma piada” ,vivemos em uma idiocracia, exaltando idolos de barro que se moldam de acordo com a situação
JOSÉ FERREIRA DA SILVA
13/04/19 at 10:05
Faz muitíssimo bem ao intelecto e acrescenta conhecimento, quando me deparo com matéria bem escrita, rica em conteúdo, como a que escreveu Lola Aronovich. Ainda que em tom festivo pelo desfecho que teve a condenação do rapaz, useiro e vezeiro em fazer chacotas ofensivas, principalmente, às minorías nas quais me incluo. A autora da matéria descreve com profundidade a trajetória “ofensiva” , do que se intitula humorista, até então desconhecida por mim, e que após a narrativa escrita muito bem articulada por Lola, dá ideia do quanto o rapaz ofendeu aos de cor negra extensivo a mim. Por seu escrito esclarecedor, repito, sou totalmente solidário ao festejo comemorativo, vez que, conforme a matéria, em algum momento, foram, também, as ofensas dirigidas à sua condição de mulher. Ainda, com referência à condenação, estimulado pela grei de pessoas simpatizantes ou corporativas, ao que parece o condenado faz “deboche” , e como bem diz Lola, essa condenação, ao menos, servirá de freio as investidas do “humorista”. Será ?
Ronaldo de Faria Castro
13/04/19 at 10:40
Humorista sem graça!
Fascistóide;
Deveria ter sido encarcerado!
Crápula racista!
Marcos Antonio Duarte
13/04/19 at 10:55
Texto excelente
, Muito bem escrito e esclarecedor.
Daniel Mendes
13/04/19 at 11:00
Bom dia Lola, eu odeio esse site, mas leio porque quero manter o equilíbrio, odeio a maioria das reportagens que vocês fazem, mas leio pra manter minha mente equilibrada,, gosto de parte do humor do Danilo, parte, acho a outra parte muito ofensiva, mas quero dizer que essa sua matéria de hoje foi espetacular!! Concordei com cada palavra sua, essa é uma das poucas matérias desse site que eu concordo na íntegra, parabéns pela matéria! Em relação ao Gentili, eu mesmo sendo de extrema direita, deixo minha posição. Todos são iguais negros, homossexuais heterossexuais, bissexuais, intelectuais, normais vejo todos de forma igual, meus melhores amigos são angolanos pra você ter uma ideia! Então, Nem todos da extrema direita são racistas, fascistas, homofóbicos como vocês dizem!
José Wilton
13/04/19 at 12:12
Infelizmente o humor inteligente e de qualidade se perdeu, a muito sarcasmo e preconceito camuflado em “forma de humor”, nosso povo precisa urgentemente acordo pra tudo que está acontecendo nesse momento de total escuridão ao patrimônio sócio-cultural do Brasil. Devemos tomar de volta nossas referências: Chico Anísio, jo, tv pirata, mazaropi, os trapalhões… Não podemos deixar que pessoas que não possuem pelo menos o velho e primordial Bom senso de suas atribuições sejam referência para essas geração já tão afogada nesse maremoto de desinformação.
Atila tadeu santos e moura
13/04/19 at 13:17
Não sei… diante dos fatos, me parece que a condenação dele foi muito leve. Particularmente, não gosto do programa dele, nao tem gabarito, nem história, foi produzido . Além do mais esse formato de programa é muito chato. Gentili não é jô soares, Clodovil ou hebe Camargo . Gentili é lixo sem formação ou knowhow. Sem carisma sem história … só um filhinho fe papai quem ganhou um programa de TV para brincar!
Inácio da Silva
13/04/19 at 13:19
Na sanha de reclamar desse comediante a única coisa que vão, efetivamente, conseguir é dar publicidade às besteiras que ele fala, aumentar a audiência dos programas dele e, por conseguinte, seu cachê na televisão…como dizia o finado Carlos Imperial, que vivia ofendendo os outros: “Falem mal, mas falem de mim”…ignorá-lo é o que mais prejuízo traria ao bolso dele…ai sim iria doer…essa condenação não fará nem cosquinhas nele…não irá preso e poderá ser reformada nas instâncias superiores…
Marcello Antunes da Silva
13/04/19 at 14:28
Parabéns Lola. Ontem mesmo escrevi mensagem para a ombudsman da Folha pedindo que se faça uma comparação entre a liberdade de expressão desse cidadão, o Golden Shower e a exposição de um racista que xingou o STF. Questiono que, pessoalmente, posso chamar uma ministro do STF e dizer que eh piada, afinal de contas eu pago o salário dela? Tempos obscuros este
Mario
13/04/19 at 14:57
Mas ñ será mais primário
Raul
13/04/19 at 15:05
Só aguardando pra ver quando deixaremos de nós importar com as besteiras que outros falam, e dar importância ao racismo real como um pai de família ter seu veiculo alvejado 80 vezes por engano, infelizmente perdi meu tempo lendo essa “notícia”.
Cláudia Mendonça Magalhães Gomes Garcia
13/04/19 at 15:57
Há muito ele não faz comédia. Comete crimes. Um moleque criminoso. Como moleques são as pessoas que o defendem.
Rosemblatt Ferreira Gomes Lima
13/04/19 at 16:07
Parabéns a Jornalista pelo posicionamento lúcido e inteligente, já fui até fã desse imbecil, mas hoje até me envergonho disso, gente desse tipo tem que ser processado e condenado sim, essa foi a primeira condenação, mas muitas outras virão ainda, ele que se cuide, pois na próxima ele dever ser preso.
JOAO ALEX MARSIGLIA
13/04/19 at 19:10
O Brasil tem tanta coisa para satirizar, pra que usar de baixarias das mais baixas para com minorias? Eu até gostava do Gentili nos tempos da Band mas agora que virou celebridade ele acha que pode tudo inclusive ter atitudes nojentas como a que teve contra a Maria do Rosário. Perdeu as estribeiras bem a razão.
Inácio da Silva
14/04/19 at 20:52
É interessante ver que muitos dos que gritam que ninguém pode ser considerado culpado antes de esgotados os recursos em cortes superiores (caso do Lula) querem aqui considerar o comediante culpado após uma sentença em primeira instância…que, inclusive deverá ser reformada nas cortes superiores e ele não perderá a condição de réu primário…
Joyce Jota
30/04/19 at 14:38
Odeio esse ser. Por mim ele mofava na cadeia.