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Escola da Vila é vendida a simpatizante do MBL

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Ao imaginar uma educação libertadora, como ele a batizou,
pensou em um trabalho pedagógico com um profundo e largo sentido humano.
Um ofício de ensinar-e-aprender destinado a desenvolver
em cada educando uma mente reflexiva, uma amorosa sensibilidade,
um crítico senso ético e uma criativa vontade de presença e
participação da pessoa educada na transformação de seu mundo.
Carlos Rodrigues Brandão, sobre Paulo Freire

A Escola da Vila foi ferida de morte. Impossível dissociar da reforma educacional pretendida pelos sócios do golpe. Impossível separar do Projeto Escola sem Partido. A Escola da Vila, que teve Madalena Freire entre suas fundadoras, era uma das poucas escolas do país que se distinguia por valorar o pensamento crítico, por relacionar conhecimento e transformação social e por prezar trabalho democrático e participativo.
A Escola não foi formada por grupo empresarial, tampouco por fundo de investimentos. Ela nasceu, há quase quatro décadas, da união de um grupo de professores que queria ensinar, simplesmente ensinar com qualidade. Não buscavam formar patetas. O resultado foi reconhecido. Até pelo capital.

A Bahema S.A. comprou 80% da Escola da Vila

A venda foi anunciada à BM&FBovespa e à imprensa em 14/02/2017. No dia seguinte, as sócias da escola comunicaram aos professores, funcionários, alunos e pais de alunos. A notícia veio duas semanas após o início da ano letivo. Pais e mães ainda oscilam entre pasmos e enraivecidos. Fossem alertados no final do ano letivo, próximo ou passado, teriam tempo para decidir por outras escolas. A forma escolhida por vendedoras e compradores lhes deixa quase sem saída.

O que dizem as vendedoras?

As vendedoras afirmam em comunicado que: “Assim, é com grande satisfação que comunicamos a todos vocês que três grandes escolas brasileiras – a Escola da Vila, de São Paulo, a Escola Parque, do Rio de Janeiro, e a Escola Balão Vermelho, de Belo Horizonte –, com nítidas afinidades filosóficas e pautadas em teorias de educação contemporâneas, se reúnem numa sólida parceria com o objetivo maior de fortalecer nossos projetos pedagógicos precursores da valorização da autonomia, cooperação e pensamento crítico dos nossos estudantes”.
Pois bem, a Bahema comprou 80% da Escola da Vila, 5% da Escola Parque e ainda negocia com a Balão Vermelho. Não seria um tanto prematuro afirmar que as escolas estão reunidas em um “sólida parceria”?
“Neste momento, observa-se também forte movimento de consolidação de escolas que, em parceria com empresas, buscam melhorar a saúde financeira das instituições e viabilizar sua perenidade”, continua a nota, revelando possivelmente a real motivação para a venda.

Quem são os compradores?

Nas informações trimestrais de 30/09/2016, a Bahema S. A. definiu sua atividade dessa forma: “A Companhia não comercializa produtos ou serviços. Seu resultado compõe-se exclusivamente de: a) dividendos e juros sobre capital próprio das companhias nas quais possui investimentos; b) receitas financeiras de aplicações financeiras; e c) ganho na alienação de investimentos”. Em uma palavra: especulação.

Jair Bolsonaro, Fernando Holiday, Deltan Dallagnol e outros

As más notícias, no entanto, não param por aqui. O diretor de relações com o mercado da Bahema, Guilherme Affonso Ferreira Filho, foi o organizador do 3o Fórum Liberdade e Democracia, realizado em outubro de 2016. O principal convidado do 1o painel, “O papel do Estado no século XXI”, foi Jair Bolsonaro. O mediador foi Hélio Beltrão do Instituto Mises. Os outros painéis foram igualmente recheados de representantes da extrema direita.
Um dos homenageados do evento, ironicamente agraciado com o prêmio Luís Gama, foi Fernando Holiday, do MBL.


Ou outro homenageado foi Deltan Dallagnol, com o prêmio Liberdade 2016, o procurador do power point “não tenho provas, mas tenho convicção”.


Em resumo

Uma escola com valores progressistas foi vendida, pela professora Sônia Maria Barreira e suas sócias, para uma empresa de “Guiga” Affonso Ferreira Filho, simpatizante do MBL e dos procuradores seletivos da Lava Jato. O MBL é notório defensor do projeto Escola sem Partidos.

Não foram suficientes os ataques às escolas públicas. Um dos maiores símbolos da educação transformadora capitulou.

 

Notas
1 Para saber mais sobre a Escola da Vila e ver o comunicado sobre a venda veja: http://www.escoladavila.com.br/
2 Para mais informações sobre a Bahema S.A. veja: http://www.bahema.com.br/
3 Para assistir ao 1º Painel, O papel do Estado no século XXI, a participação da Senadora Ana Amélia, o cientista político Fábio Ostermann (fundador do Movimento Brasil Livre – MBL), o Deputado Jair Bolsonaro, mediado por Hélio Beltrão do Instituto Mises, veja: https://www.youtube.com/watch?v=0N0vJ4aBb9g
4 O 2º Painel, O que queremos ser quando crescermos, do 3º Fórum Liberdade e Democracia tratou do tema da Educação e contou com Joel Pinheiro da Fonseca, Arthur do Val e Adriano Gianturco. A mediação foi de Júlio Bratz Lamb, diretor de relações institucionais e do Fórum da Liberdade do Instituto de Estudos Empresariais. Veja em: https://www.youtube.com/watch?v=nhHuJE6xos8

5 O 3º Painel, Desigualdade vs Pobreza, do 3º Fórum Liberdade e Democracia com a participação de Diogo Costa, Leandro Narloch e Raiam Santos. Com moderação de Wagner Lenhart. Veja em https://www.youtube.com/watch?v=0N0vJ4aBb9g&t=71s

6 Em resposta ao texto publicado pelos Jornalistas Livres, a Bahema, por meio de sua assessoria de imprensa afirma o que segue. Jornalistas Livres reafirmam sua preocupação com o destino de uma das escolas mais bacanas do Brasil, agora que uma empresa com nítidas ligações com o MBL e o projeto da Escola sem Partido assumiu o seu controle.

Nota

Prezados editores do Jornalistas Livres

Esclarecemos que a Bahema S.A. não defende nenhuma linha político-ideológica, não tem ligação com qualquer instituição política, movimento ou partido. A Bahema é uma empresa com mais de 60 anos de existência. A nova geração, que está à frente da empresa, escolheu a área educacional para se associar com o intuito de criar um grupo de escolas com projeto pedagógico semelhante, baseado no construtivismo e que defenda valores como democracia, ética e humanismo. Por isso, se associou também à Escola Parque, no Rio de Janeiro, e está em conversas com a Balão Vermelho, em Belo Horizonte. A Bahema associou-se à Escola da Vila por causa da sua história de quase 40 anos, por sua essência, e não para transformá-la. O objetivo é tornar o projeto sustentável e perenizá-lo. Reforçamos, assim, que a Bahema não apoiou institucionalmente os eventos a que a reportagem se refere. Os palestrantes em questão são os únicos responsáveis por suas declarações, que não refletem em nenhuma hipótese os valores e opiniões da Bahema.

Bahema S.A”

7 Pais e responsáveis por alunos estão divulgando um abaixo-assinado, em http://bit.ly/2lTkTA5 em apoio aos professores e funcionários da Escola da Vila:

Por que isto é importante

Os pais e responsáveis por alunos da Escola da Vila aqui abaixo‐assinados se solidarizam com a carta escrita pelo grupo de funcionários da escola (copiada abaixo). Apoiamos e reiteramos os valores estruturantes definidos por estes em tal documento, relativos a esta comunidade e suas necessidades imediatas.

CARTA ÀS DIRETORAS E NOVOS GESTORES DA

ESCOLA DA VILA

Prezadxs,

Frederico Affonso Ferreira

Guilherme Affonso Ferreira

Sônia Maria Barreira

Fernanda Azevedo Marques Flores

Vania Marincek

Ana Luiza Martinez do Amaral

Eva Diaz Alvarez

No dia 14 de Fevereiro de 2.017, os professores e professoras da Escola da Vila – os funcionários da administrativo uma semana depois‐, agrupados por segmentos, receberam a comunicação da nova composição societária da escola. Coube a diretora geral anunciar ao grupo a venda de uma parte importante da escola. Recebemos com surpresa tal comunicado, já que no decorrer no último ano, a diretoria não havia sinalizado tal intenção ou um risco financeiro que pudesse colocar em jogo o negócio, que é a escola. Logo após o término da última reunião, a grande mídia anunciou que os novos sócios haviam adquirido 80% das ações da escola e que as atuais gestoras administrariam os 20% restantes.

Frente à nova situação política, econômica e administrativa da Escola da Vila e de posses de poucas informações sobre os novos sócios, é que o grupo de funcionários iniciou uma pesquisa sobre o histórico público dos novos sócios, procurando compreender a escolha das diretoras e buscando conforto em acreditar que o projeto pedagógico da escola, tão caro a este grupo, estaria preservado. As publicações encontradas na rede, anexo a este documento, apresentam a intenção dos novos sócios em investir em educação desde Junho/2016 e um posicionamento a favor de uma educação liberal, contrária aos princípios e valores construídos e praticados pela Escola da Vila atualmente. Esta pesquisa gerou mais insegurança, pois não foi encontrado, em nenhum momento, algo que acalentasse esse sentimento coletivo e que demonstrasse que os novos gestores, de fato, acreditassem no tipo de trabalho desta escola.

Neste sentido, o grupo sentiu a necessidade de ampliar a discussão a todos os funcionários da escola e foram agendados encontros presenciais na tarde do dia 18 e na noite do dia 23 de Fevereiro. Com o comparecimento de cerca de 15% dos funcionários da escola em cada uma das reuniões, representando todos os setores, decidiu‐se elaborar uma carta de princípios a ser apresentada aos novos gestores, onde seriam elencados valores de máxima importância para quem trabalha nesta escola e constituir um Grupo Permanente de Discussão de Funcionários, um espaço horizontal e transparente em que se possa compartilhar informações, angústias e temores, mas também tomar decisões frente à nova relação de trabalho. O documento tem o intuito de iniciar um diálogo estruturado com os novos sócios e as diretoras.

Diante disso, o grupo de funcionários da Escola da Vila apresenta abaixo os valores estruturantes para esta comunidade e suas necessidades imediatas:

(1) Defesa dos valores do projeto político pedagógico:

(a) Uma educação construída sob os preceitos do construtivismo, inclusiva, humanista, socialmente solidária e participativa, cuja identidade se constituí em torno da defesa da diversidade e do estímulo e respeito à autonomia dos indivíduos.

(2) Transparência nas relações entre as instâncias institucionais:

(a) Abertura total do contrato feito com a Bahema: queremos saber quais são as metas do fundo de investimentos e se estas metas entram em contradição com nossos valores político‐pedagógico.

(3) Não à terceirização:

(a) Desde já, enfatizamos que não há neste projeto político pedagógico espaço para a terceirização. É impossível que o projeto de educação que almejamos e que construímos cotidianamente seja alcançado por meio da superexploração e precarização do trabalho, seja qual for a atividade (limpeza, administrativa, tecnologia, docência, coordenação, segurança, etc.).

(4) Regulação dos direitos autorais sobre a produção de material didático:

(a) A produção de material didático autoral e a reflexão didática é um dos principais valores deste projeto e compreendemos que a nova composição societária coloca a discussão sobre estes direitos em outro patamar. Queremos que a nossa produção intelectual seja garantida, reconhecida, preservada e que sua remuneração e uso sejam negociados diretamente com o coletivo de funcionários.

(5) Esclarecimento da situação do Centro de Formação:

(a) Foi‐nos comunicado que o Centro de Formação, inclusive seus débitos, foram absorvidos nesta negociação. Nesse sentido, queremos rediscutir os valores pagos aos professores formadores, seus direitos autorais e a relação de exclusividade destes professores com centro.

(b) Não assinamos nenhum contrato antes que sejam realizadas rodadas de negociação com os formadores do Centro de Formação.

(6) Isonomia salarial entre os segmentos, unidades e planos de carreira:

(a) Discussão do plano de carreira com o grupo dos funcionários, desde que se atenda a formação profissional e intelectual destes;

(b) Queremos o mesmo salário para o mesmo trabalho. Entendemos a centralidade que os primeiros anos da educação formal tem em nosso projeto político‐pedagógico e, portanto, não aceitamos mais que os funcionários dos primeiros segmentos sejam remunerados com valores abaixo dos outros segmentos. É preciso também equalizar os salários entre unidades. Não aceitaremos nenhuma estratégia de redução salarial por meio da criação de cargos e categorias especiais

(c) Profunda discussão salarial frente a nova situação e consoante ao trabalho exigido por este projeto.

(d) Construção de um plano de equiparação salarial entre os segmentos;

(7) Garantia de benefícios para além dos previstos nas convenções sindicais:

(a) Manutenção da bolsa de estudos dos filhos e filhas dos funcionários da área administrativa: queremos a garantia de que não haverá qualquer modificação nas bolsas de estudos fornecidas para os filhos e filhas de funcionários da escola. Acreditamos que as relações de trabalho que estabelecemos são fundamentais para a manutenção do nosso projeto político‐pedagógico.

(b) Equiparação dos benefícios (plano de saúde e cesta básica) de todos os funcionários aos dos professores.

(c) Construção de um alojamento digno e fim das limitações de circulação e usufruto dos espaços e equipamentos de uso comuns por todos os funcionários.

(d) Autonomia total do corpo docente na organização do currículo do Ensino Médio.

(e) Compromisso de melhoria de todas as formas de trabalho dentro da Escola e pelo direito de organização dos seus trabalhadores.Assim, solicitamos as diretoras e aos novos sócios uma reunião coletiva, com todos os funcionários da escola, reunidos num mesmo espaço, para apresentação dos novos gestores e discussão dos itens apresentados acima. NÃO PARTICIPAREMOS DE REUNIÕES POR SEGMENTOS E SETORES. Acreditamos que só o diálogo transparente poderá unir esforços para a preservação e manutenção de 37 anos de história desta escola e destes funcionários.”

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12 Comments

12 Comments

  1. robcruz

    24/02/17 at 18:17

    A Escola da Vila há alguns anos vinha exigindo que seus alunos fossem exclusivamente aqueles que tiravam conceito A nas avaliações. Um processo de seleção perverso, para conseguir bons índices de avaliação no Enem e com isso poder cobrar mensalidades exorbitantes. Meu filho estudou lá durante 5 anos e a medida que o ensino médio ia se aproximando eles ficavam cada vez mais ortodoxos em relação às notas dos alunos. Quando percebemos isso imediatamente mudamos ele de escola. Ficamos sabendo posteriomente que vários dos seus colegas, meninos ótimos, inteligentes, foram reprovados pois não atingiam a tal meta do conceito A. Isso os obrigava a estudar mais ou a saírem da escola. A tão famosa escola construtivista de São Paulo se tornou uma escola fascistóide e pelo visto conseguiram o que queriam ($$$), com esta grande negociação.

  2. Alexandre

    24/02/17 at 18:48

    Que exagero!! Duvido que mudem algo relevante, os caras são homens de negócio, não vão por a perder, ninguém rasga dinheiro!

    Toda essa humanização custa 3 paus por mês, quem vai querer colocar uma renda dessas em risco! Dançarão conforme a música

  3. alex

    24/02/17 at 19:21

    Parece que a agora só ficou o Equipe, aqui em SP… Tão tradicional quanto “era” a Escola da Vila.

  4. Luciano Nunes

    24/02/17 at 19:42

    Ótimo que um fundo de investimentos queira colocar seus fundos na educação ainda mais investindo em escolas que trabalham de forma consciente a formação do pensamento. Que este ensino avance como o restante do pais e que tenhamos mais dinheiro para escolas como estas e menos mimimi e mais trabalho pra todos.

  5. SILVIA DE CASTRO ARRUDA

    24/02/17 at 20:03

    Que horror!!!!!
    Destruição de todo lado…

  6. Fernando

    24/02/17 at 21:06

    Ainda não entendi onde está o problema nisso. Alguém tem algo e resolve vender. Pura normalidade.

  7. Fabio

    25/02/17 at 13:23

    Acompanho o trabalho da Escola da Vila há anos e acredito que é um projeto pedagógico consolidado, não é porque a escola foi adquirida por uma empresa de investimentos (ou especulação como queiram) o direcionamento filosófico será alterado, aliás um direcionamento independente sem ligação partidária ou de esquerda e direita.

    Importante esta injeção de “ânimo”, para que a Escola da Vila possa respirar e cruzar a crise que se instaurou na economia, aumentando a inadimplência e atingindo em cheio as escolas mais alternativas e menos monetaristas e que dependem do pagamento das mensalidades para sobreviver.

    Desejo muito sucesso na nova fase!

  8. Elisa Capllonch

    25/02/17 at 15:31

    Escola sem partido, não significa escola sem valores. Democracia e pluralidade? Não é isso que se lê neste artigo. Quero só ver se vão deixar o meu comentário ou se vão “censurar”.

  9. stefanie

    25/02/17 at 18:42

    É digno de nota e preocupação a compra da Escola da Vila por um grupo unicamente
    interessada em ganhos financeiros.
    A coerência do projeto pedagógico pode estar em risco.
    Porém é curioso notar que a carta dos funcionários parece mais preocupada em ampliar ganhos e direitos para todos os trabalhador e – algo que, pelo visto, não existia antes – que em defender o ensino, a qualidade, ou o projeto pedagógico.
    Se o grupo financeiro pagar mais e melhor, de repente eles serão “bonzinhos”?
    Por que colocar essas reivindicações que desviam da discussão principal?

  10. MAURO SCARPINATTI

    25/02/17 at 22:22

    Isso é triste de mais!

  11. Sandra Martins

    26/02/17 at 1:47

    Que vergonha!!! que alternativas pais responsáveis e funcionários terão? Porque a direção que vendeu a escola… e agora parece que não há como desfazer o que já foi sacramentado.

  12. carolina Canedo vicari

    27/02/17 at 22:16

    Grande pesar por essa notícia. Sinceramente… O que essa direção tem na cabeça??? Óbvio que não acreditam realmente no que estão defendendo, ou não acreditam na Educação Freiriana 🙁

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#EleNão

Moradores da Maré são bailarinos em espetáculo com temporada na Suiça

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Foto: Andi Gantenbein, de Zurique, Suíça, para os Jornalistas Livres

Denúncias sobre os atuais tempos de antidemocracia, assassinatos da população preta, pobre e periférica e o da vereadora Marielle Franco aparecem em cartazes erguidos pelos bailarinos de “Fúria”, espetáculo de Lia Rodrigues, considerada uma das maiores coreógrafas brasileiras da atualidade e uma das mais engajadas na realidade política do país.

A foto é da noite deste sábado (16), durante apresentação do grupo brasileiro no ‘Zürcher Theaterspektakel’, em Zurique, Suíça.

No Brasil, Fúria estreou em Abril, no Festival de Curitiba. A montagem evidencia, de maneira crítica, relações de poder, desigualdades, e as interligações entre racismo e capitalismo.

O espetáculo foi concebido no Centro de Artes da Maré, na Maré, RJ. O local foi inaugurado em 2009, e o projeto nasceu do encontro de Lia Rodrigues Companhia de Danças com a Redes da Maré. Os bailarinos são moradores da favela e de periferias do RJ.

Fruto dessa mesma parceria é a Escola Livre de Dança da Maré que resiste, em meio ao caos do governo violento de Witzel contra as favelas do RJ.

 

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Temer/Kassab preparam ataque ao seu direito à Internet

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O método Temer de solapar direitos dos cidadãos brasileiros tem novo alvo: a Internet. Sem qualquer discussão prévia, os golpistas querem mudar a composição do Comitê Gestor da Internet.

A consulta pública determinada pelo governo, sem diálogo prévio com os membros do Comitê e com apenas 30 dias de duração, certamente pretende aumentar o poder e servir apenas aos interesses das empresas privadas. As operadoras de telefonia têm todo o interesse do mundo em abafar as vozes de técnicos, acadêmicos e ativistas que lutam pela neutralidade da rede, por uma Internet livre, plural e aberta.

Veja, abaixo, a nota de repúdio ao atropelo antidemocrático da consulta pública determinada por Temer/Kassab. A nota é da Coalizão Direitos na Rede que exige o cancelamento imediato desta consulta.

Nota de repúdio

Contra os ataques do governo Temer ao Comitê Gestor da Internet no Brasil

A Coalizão Direitos na Rede vem a público repudiar e denunciar a mais recente medida da gestão Temer contra os direitos dos internautas no Brasil. De forma unilateral, o Governo Federal publicou nesta terça-feira, 8 de agosto, no Diário Oficial da União (D.O.U.), uma consulta pública visando alterações na composição, no processo de eleição e nas atribuições do Comitê Gestor da Internet (CGI.br).

Composto por representantes do governo, do setor privado, da sociedade civil e por especialistas técnicos e acadêmicos, o CGI.br é, desde sua criação, em 1995, responsável por estabelecer as normas e procedimentos para o uso e desenvolvimento da rede no Brasil.

Referência internacional de governança multissetorial da Internet,

o Comitê teve seu papel fortalecido após a

promulgação do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014)

e de seu decreto regulamentador, que estabelece que cabe ao órgão definir as diretrizes para todos os temas relacionados ao setor. A partir de então, o CGI.br passou a ser alvo de disputa e grande interesse do setor privado.

Ao publicar uma consulta para alterar significativamente o modelo do Comitê Gestor de forma unilateral e sem qualquer diálogo prévio no interior do próprio CGI.br, o Governo passa por cima da lei e quebra com a multissetorialidade que marca os debates sobre a Internet e sua governança no Brasil.

A consulta não foi pauta da última reunião do CGI.br, realizada em maio, e nesta segunda-feira, véspera da publicação no D.O.U., o coordenador do Comitê, Maximiliano Martinhão, apenas enviou um e-mail à lista dos conselheiros relatando que o Governo Federal pretendia debater a questão – sem, no entanto, informar que tudo já estava pronto, em vias de publicação oficial. Vale registrar que, no próximo dia 18 de agosto, ocorre a primeira reunião da nova gestão do CGI.br, e o governo poderia ter aguardado para pautar o tema de forma democrática com os conselheiros/as.

Porém, preferiu agir de forma autocrática.

Desde sua posse à frente do CGI.br, no ano passado, Martinhão – que também é Secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – tem feito declarações públicas defendendo alterações no Comitê Gestor da Internet. Já em junho de 2016, na primeira reunião que presidiu no CGI.br, após a troca no comando do Governo Federal, ele declarou que estava “recebendo demandas de pequenos provedores, de provedores de conteúdos e de investidores” para alterar a composição do órgão.

A pressão para rever a força da sociedade civil no Comitê cresceu,

principalmente por parte das operadoras de telecomunicações,

apoiadoras do governo.

Em dezembro, durante o Fórum de Governança da Internet no México, organizado pelas Nações Unidas, um conjunto de entidades da sociedade civil de mais de 20 países manifestou preocupação e denunciou as tentativas de enfraquecimento do CGI.br por parte da gestão Temer. No primeiro semestre de 2017, o Governo manobrou para impor uma paralisação de atividades em nome de uma questionável “economia de recursos”.

Martinhão e outros integrantes da gestão Kassab/Temer também têm defendido publicamente que sejam revistas conquistas obtidas no Marco Civil da Internet, propondo a flexibilização da neutralidade de rede e criticando a necessidade de consentimento dos usuários para o tratamento de seus dados pessoais. Neste contexto, a composição multissetorial do CGI.br tem sido fundamental para a defesa dos postulados do MCI e de princípios basilares para a garantia de uma internet livre, aberta e plural.

Por isso, esta Coalizão – articulação que reúne pesquisadores, acadêmicos, desenvolvedores, ativistas e entidades de defesa do consumidor e da liberdade de expressão – lançou, durante o último processo eleitoral do CGI, uma plataforma pública que clamava pelo “fortalecimento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, preservando suas atribuições e seu caráter multissetorial, como garantia da governança multiparticipativa e democrática da Internet” no país. Afinal, mudar o CGI é estratégico para os setores que querem alterar os rumos das políticas de internet até então em curso no país.

Nesse sentido, considerando o que estabelece o Marco Civil da Internet, o caráter multissetorial do CGI e também o momento político que o país atravessa – de um governo interino, de legitimidade questionável para empreender tais mudanças –

a Coalizão Direitos na Rede exige o cancelamento imediato desta consulta.

É repudiável que um processo diretamente relacionado à governança da Internet seja travestido de consulta pública sem que as linhas orientadoras para sua revisão tenham sido debatidas antes, internamente, pelo próprio CGI.br. É mais um exemplo do modus operandi da gestão que ocupa o Palácio do Planalto e que tem pouco apreço por processos democráticos.

Seguiremos denunciando tais ataques e buscando apoio de diferentes setores,

dentro e fora do Brasil,

contra o desmonte do Comitê Gestor da Internet.

 

8 de agosto de 2017, Coalizão Direitos na Rede

 

Notas

1 A Coalizão Direitos na Rede é uma rede independente de organizações da sociedade civil, ativistas e acadêmicos em defesa da Internet livre e aberta no Brasil. Formada em julho de 2016, busca contribuir para a conscientização sobre o direito ao acesso à Internet, a privacidade e a liberdade de expressão de maneira ampla. O coletivo atua em diferentes frentes por meio de suas organizações, de modo horizontal e colaborativo. A nota está em https://direitosnarede.org.br/c/governo-temer-ataca-CGI/ .

2 Para ouvir a entrevista, à Rádio Brasil Atual, de Flávia Lefévre, conselheira da Proteste e representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet, que afirma que as mudanças visam a atender interesses do setor privado e ferem caráter multiparticipativo do Comitê: https://soundcloud.com/redebrasilatual/1008-enrevista-flavia-lefevre

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FRAGMENTO E SÍNTESE

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Ligar a tv logo cedo num pequeno quarto de hotel no interior do país é desentender-se dos fatos nos telejornais matutinos. Abre-se a janela e uma menina vai à escola à beira do rio, um menino faz gol de bicicleta entre guris e o homem ergue a parede de sua casa.  Tudo tão distinto das ruas em alvoroço de protestos urbanos ou políticos insanos.  No rincão o que se busca é continuar vivo entre chuvas e trovões, sem não ou talvez. Tudo é certo. Sem modernidades calam ou arremedam nossa urbanidade, gente que se defende com pimentas e ervas, oração e vizinhança. Voz sem boca, boca sem voz, essa gente não é parte nas notícias selvagens dos jornais distantes.  Se resolvem entre cozidos, arte, bola e santos. No país de tantos cantos, muitos voam fora da asa e sem golpes entre si vão tocando suas mazelas e graça.

Mas vivemos tempos obscuros, a noite persiste em nossos avançados quinhentos e tantos anos e muitos santos. Dizem que burro velho é difícil se corrigir nos hábitos. Em manhã chuvosa na grande São Paulo, ligo a tv e o notbook, as janelas se abrem antes que a cortina deixe entrar o novo dia. Surpreendente ver na tv o deputado Jair Bolsonaro afirmando em um clube israelita na cidade do Rio, que se presidente for, não teremos mais terras indígenas no país. Ao mesmo tempo o computador expõe na rede social a opinião de meu amigo Ianuculá Kaiabi Suiá, jovem liderança do Parque Indígena do Xingu, onde leio ao som do deputado que ladra:

Jair Bolsonaro, obrigado por você existir. Graças a você, hoje, temos noção de quanto a população brasileira carece de conhecimento, decência, consciência, juízo, amor e que carrega um imenso sentimento de ódio sem saber o porque. Sim, sim, não sabem. Um exemplo? Veja a bandeira de quem te aplaude, é de um povo que, assim como nós, sofreu as piores atrocidades cometidas pelas pessoas que pensavam como você. Enfim, eu não sei se essa parcela do povo brasileiro pode ser curada, mas vou pedir para um pajé fumar um charuto sagrado e revelar se o espírito maligno que se apossou da tua alma pode ser desfeita com uma grande pajelança.

Ianuculá sabe o que diz, sabe de todo martírio vivido pelos povos originários, e mesmo assim se propõe a consultar o mundo dos espíritos.

 

É deus e diabo na terra do sol, a mesma terra que ofende também abriga e anuncia uma mostra de cinema indígena nos próximos dias. Terra de etnias e corpos na terra, a cidade maravilhosa do Rio não se calará diante do fascismo desses tempos sombrios, acompanhe.

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