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Estado de Exceção

Dize-me com quem andas: a agenda oficial de Bolsonaro na Presidência

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Por Renata Kotscho Velloso, especial para os Jornalistas Livres

 

No último dia 28 de agosto, foi divulgada a notícia que o governo havia decretado sigilo por cinco anos sobre as visitas aos palácios da Alvorada e do Jaburu1. Até a manhã do dia 05 de setembro, porém, essas informações continuavam disponíveis no site oficial do governo. A partir destes dados, analisamos os 1377 compromissos do presidente Jair Bolsonaro entre 01 janeiro e 31 agosto de 2019. Saiba o que descobrimos sobre o dia-a-dia da presidência a partir da sua agenda oficial.

Nos primeiros oito meses de governo o presidente participou de inúmeros cultos religiosos e cerimônias militares, recebeu cantores sertanejos e jogadores de futebol, além de uma variedade de pessoas acusadas dos mais diversos crimes e ídolos de infância da ala dura do regime militar. Pouca atenção foi dada, porém a temas prioritários para a população, como saúde e desemprego.

Este diário presidencial começa com a história de dois Albertos: O ex-deputado federal Alberto Fraga e o coronel da reserva Carlos Alberto Marsiglia. Além da coincidência no nome, os dois dividem outra peculiaridade, apesar de não terem função no gabinete, eles compartilham da intimidade do presidente e de decisões importantes da república.

Nos 8 primeiros meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro encontrou com esses dois Albertos 13 vezes; 7 vezes com Alberto Fraga e 6 com Carlos Alberto Marsiglia. Isso significa que, somados, os dois ilustres desconhecidos desfrutaram de mais tempo da atenção presidencial do que o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ou do que a ruidosa Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Mas quem são essas pessoas?

O primeiro, ex-deputado Alberto Fraga que não conseguiu ser reeleito, ganhou notoriedade por ter escrito o seguinte nas suas redes sociais “Conheçam o novo mito da esquerda, Marielle Franco. Engravidou aos 16 anos, ex-esposa do Marcinho VP, usuária de maconha, defensora de facção rival e eleita pelo Comando Vermelho. Exonerou recentemente 6 funcionários, mas quem a matou foi a PM”, publicou o ex-deputado no seu twitter2, três dias após a execução da vereadora do PSOL. Na época, o conselho de ética da câmara decidiu arquivar o processo de quebra de decoro movido contra o deputado. Mas se você faz parte do grupo que se revolta mais com corrupção do que com ofensas pessoais, precisa saber também que poucos meses depois Alberto Fraga acabou condenado em segunda instância por outro crime: chefiar um esquema de propina no DF. 3 Em um dos encontros com o presidente, no dia 22 de julho, o ex-deputado participou de uma reunião onde também estava presente o Subprocurador-geral da República Augusto Aras, na época considerado favorito para assumir a Procuradoria-geral da República no lugar de Raquel Dodge.

(*nota: no dia 05 de setembro, enquanto esta análise estava sendo produzida, o presidente Jair Bolsonaro anunciou o nome de Augusto Aras como o novo procurador-geral da república. Na mesma data, o ex-deputado Alberto Braga havia sido recebido por Jair Bolsonaro as 8:00 da manhã no Palácio da Alvorada).

O segundo Alberto, Carlos Alberto Marsiglia, é um militar da reserva que chegou a se aventurar como empresário. Em 2011, sua empresa chamada Global Tech assinou contrato para vender, sem licitação, R$ 14 milhões em veículos Land Rovers equipados com radares russos como parte da preparação do exército para a Copa do Mundo de 2014. O esquema ficou conhecido como o “escândalo dos Land Rovers”. A Global Tech havia sido criada um ano antes pelo Coronel, que é sócio-majoritário e possui 83% das cotas. Na época da assinatura do contrato o Coronel Marsiglia ocupava a função de Adjunto da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do exército4 e é suspeito de ter agido para beneficiar a sua empresa5. Marsiglia esteve com o presidente em seis ocasiões, cinco no Palácio do Planalto e uma no Alvorada. Num mesmo dia, 22 de maio, ele se reuniu às 7:20 da manhã no Alvorada às sós com o presidente e voltou a encontrá-lo de tarde, no planalto, em nova reunião onde estavam também presentes o Ministro-Chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni e o Ministro da Economia Paulo Guedes. No dia seguinte a reunião com Guedes e Onyx, Marsiglia voltou a encontrar-se, dessa vez novamente as sós, com o presidente. Prestígio é isso.

Prestígio junto ao presidente é o que também não falta ao Presidente da Embratur Gilson Machado Guimarães Neto e ao Secretário Especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Luiz Antônio Nabhan Garcia.

O nome de Gilson Machado pode ser encontrado na agenda oficial do presidente 20 vezes desde janeiro, seis vezes mais do que o seu chefe, o Ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio (ele próprio suspeito de coordenar o esquema de candidaturas “laranjas” do PSL em Minas Gerais6). O sanfoneiro pernambucano presidente da Embratur já foi multado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)7 por descumprir regras de turismo sustentável, mas isso não o impediu de ser nomeado por Bolsonaro inicialmente para a função de Secretário do Ecoturismo dentro do Ministério do Meio Ambiente e depois para o comando da Embratur. O último encontro se deu por ocasião da apresentação do biólogo e apresentador de TV Richard Rasmussen, que viria a ser nomeado “embaixador do turismo no Brasil”. Rasmussen, por sua vez, é visto pelo Ibama como “criminoso ambiental”. Ele é acusado, entre outras coisas, de manter animais silvestres em cativeiro e de introduzir, sem autorização, espécies estrangeiras no Brasil.8

Mas Rasmussen não foi a única celebridade que o presidente da Embratur teve a oportunidade de conhecer no governo Bolsonaro, ele também foi convidado para as visitas do jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho, da dupla sertaneja Bruno e Marrone, do cantor Amado Batista e do jornalista Alexandre Garcia. É possível, porém, que ele tenha ficado chateado de não ter tido seu nome incluído na lista das pessoas que foram ao planalto receber junto com o presidente o jogador Duzão da NFL, contratado pelo Miami Dolphins. Em compensação, o sanfoneiro abrilhantou, infelizmente sem música, duas das transmissões ao vivo (“lives”) que Jair Bolsonaro faz semanalmente em sua página no Facebook. Em uma dessas lives, esteve presente outro “embaixador do turismo” nomeado pela Embratur, o professor de jiu-jitsu Renzo Gracie, que demonstrou toda a sua desenvoltura diplomática ao se referir ao presidente da França da seguinte forma: “Vem aqui que tu vai tomar um gogó nesse pescoço, nesse pescoço de franga. Tu não me engana não, pô. Aqui o Merthiolate tá ardendo, fera”9.

Mais discreto, Luiz Antônio Nabhan Garcia, teve seu nome da agenda oficial do presidente 16 vezes, 7 vezes a menos do que sua chefe, a ministra da Agricultura Tereza Cristina. Mas isso não significa que tenha pouca influência junto ao presidente. É creditado a ele a demissão do general Franklimberg Ribeiro de Freitas da presidência da FUNAI. Segundo Nabhan Garcia, o general foi demitido porque “é um jogador incompetente”. Franklimberg, por sua vez, ao deixar o comando da Funai, afirmou que Nabhan “saliva ódio aos indígenas”.10 Faz sentido para um presidente que afirmou ao vivo que no que depender dele não haverá mais demarcação de terra indígena no país.11 Franklimberg, enquanto comandava a FUNAI, esteve com o presidente em apenas três ocasiões, até ser substituído por Marcelo Augusto Xavier da Silva no final de julho. Xavier, um ex-Policial Militar, além de ter sido reprovado pela avaliação psicológica em um dos concursos públicos que prestou, é acusado de ter dado um soco no rosto do próprio pai, um idoso de 71 anos, que registrou pessoalmente boletim de ocorrência em janeiro deste ano.12

Os esquecidos

Em setembro de 2018 o instituto Datafolha divulgou uma pesquisa mostrando que saúde (mais do que violência, corrupção ou desemprego) era considerado o principal problema do país13. O próprio presidente tomou posse com uma bolsa de colostomia acoplada ao seu intestino, em decorrência do atentado a faca que sofreu durante a campanha eleitoral. Mas nem isso fez com que Jair Bolsonaro priorizasse a pasta da saúde com seu tempo. Nos 100 primeiros dias de governo, o nome do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, não havia aparecido uma única vez na agenda oficial do presidente. Depois disso, o ministro da saúde esteve às sós com o presidente em apenas 2 ocasiões. Seu nome aparece 11 vezes na agenda oficial. Atrás dele, entre os ministros, apenas Damares Alves, que esteve com o presidente 8 vezes (metade que Nabhan, o secretário especial de assuntos fundiários) e Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, demitido em fevereiro.

O nióbio, sempre ele

Grandes empregadores também passaram longe da agenda oficial presidencial. Das dez maiores empresas empregadoras do Brasil14, o presidente encontrou-se apenas com o presidente da Ebserh, o General Oswaldo Ferreira, e por uma única vez. A Ebserh é uma empresa pública de direito privado, vinculada ao Ministério da Educação. Já Dimitrius de Oliveira, presidente da Atento no Brasil, empresa de Teleatendimento que é a campeã de contratações com carteira assinada no país, com mais de 70 mil postos de trabalho, não esteve com o presidente do Brasil uma única vez. Também não tiveram seus nomes citados na agenda oficial de Jair Bolsonaro os presidentes da BRF, da Vale, da Delima Comércio e Navegação, da Associação Paulista para Desenvolvimento da Medicina, da Seara Alimentos ou do Itaú Unibanco, pela ordem os 6 maiores empregadores do país depois da Atento. Mas o presidente encontrou sim espaço na agenda oficial para receber o empresário Rogério Parada, dono da CEO UP Telecom Ltda, uma empresa de telecomunicações com capital de R$ 100.000,00 que investe em pesquisa sobre grafeno no Vale do Ribeira15.

Outro empresário que também pode se beneficiar de um encontro presidencial foi Vicente Jorge Rodrigues, um dos ex-proprietários da Noar Linhas Aéreas. A empresa encerrou as atividades em 2011 após um acidente aéreo que resultou na morte de 16 pessoas. Vicente Jorge esteve com o presidente em três ocasiões. A última, em agosto, aconteceu na intimidade do Alvorada. E se Eduardo Bartolomeo, presidente da Vale que emprega mais de 42.000 pessoas no Brasil, não apareceu na agenda oficial nem após a tragédia de Brumadinho, o mesmo não se pode dizer do empresário Ida Yoshiaki, presidente da Marui Galvanizing Co16. Durante visita a Osaka, Jair Bolsonaro se reuniu com o empresário japonês de bijuterias feitas a partir de nióbio e ainda comprou dele um colar no valor de R$ 4.000,0017 para presentear a primeira dama.

 

Best Friends Forever

Falando em amigos internacionais os principais “bróders” do presidente são o ex-embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel e o embaixador de Israel no país, Yossi Shelley. Sobel encontrou-se com Jair três vezes e é considerado um dos patrocinadores da indicação do filho de Jair, Eduardo Bolsonaro, para a embaixada do Brasil nos EUA18. Já Shelley teve, por assim dizer, mais sorte, e esteve com o presidente em seis ocasiões oficiais. Mas houve pelo menos mais uma, já que um encontro no dia 07 de Julho, antes da final da Copa América não apareceu na agenda oficial. Detalhe: no rega-bofe, Jair Bolsonaro e o embaixador de Israel degustaram uma lagosta (proibida segundo as traduções judaicas). Também fizeram parte da agenda oficial “estrangeira” do presidente o prefeito de Miami, Francis X. Suarez (conservador do partido Republicano que recentemente propôs banir a apresentação de artistas cubanos na cidade19); o sultão Ahmed Sulayem (principal executivo da Dubai World, uma empresa que em 2009 estava devendo mais de 60 bilhões de dólares devido a aquisições fracassadas20); e um culto com do Pastor John Hagee (fundador de uma megaigreja em Santo Antônio no Texas e difusor, entre outras ideais, de que o aquecimento global não se deve a ações humanas e sim ao retorno de Cristo)21

 

Venha a nós

Culto religioso, aliás, foi o que não faltou na agenda do presidente. Desde a posse, Jair Bolsonaro frequentou, segundo a agenda oficial, 15 cultos. Esteve na Abertura oficial do 37º Encontro Internacional de Missões dos Gideões, no ato de Consagração do Brasil a Jesus Cristo por Meio do Imaculado Coração de Maria, na 46ª AGE – CONAMAD – Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, na 27ª edição da Marcha para Jesus, na sessão Solene em Homenagem aos 42 anos da Igreja Universal do Reino de Deus, na Celebração Internacional 2019: “Conquistando pelos olhos da Fé” e no culto Especial de Celebração de 25 anos da Igreja Fonte da Vida, entre outras cerimônias religiosas.

As celebrações religiosas só perdem para as militares na agenda oficial do presidente: 31 solenidades das Forças Armadas contaram com a presença de Jair Bolsonaro desde o início do ano. Para se ter uma ideia, dos 11 compromissos oficiais que o presidente participou na cidade do Rio de Janeiro no período, 7 foram cerimônias militares, 2 cultos religiosos, 1 jogo de futebol e 1 almoço com o Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN).

Ainda falando sobre o Rio de Janeiro, o contato preferido do presidente no Estado é Gutemberg de Paula Fonseca, Secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado do Rio de Janeiro. Guto, como é conhecido, é um ex-árbitro de futebol que coordenou a campanha nas mídias sociais do então candidato Wilson Witzel ao governo carioca. O ex-juiz esteve com Bolsonaro em quatro ocasiões, o dobro do seu chefe, o governador Witzel.

 

Redes sociais

Mas não é segredo para ninguém que Jair Bolsonaro gosta mesmo de redes sociais. O presidente recebeu no planalto, junto com a Senadora Soraya Thronicke, um grupo denominado “youtubers de direita”, além deles, também foram recebidos individualmente pelo presidente os influencers Allan dos Santos e Fernanda Sales (do Terça livre), Gil Diniz (o carteiro reaça), o médico Italo Marsili (um psiquiatra que ajuda seu público a “vencer o vitimismo”) e a youtuber e atriz Antonia Fontenelle (conhecida por ser a viúva do diretor de TV Marcos Paulo), entre outras personalidades de semelhante calibre.

Apesar da desenvoltura nas lives e nas interações com “youtubers de direita”, Jair Bolsonaro não tem exatamente uma relação afável com à imprensa. Mesmo assim, o presidente concedeu entrevistas ao Silvio Santos, do SBT e a TV Record. Mas o jornalista campeão de encontros com o presidente foi Douglas Tavolaro, da estreante CNN Brasil. Tavolaro foi recebido três vezes pelo presidente. Na primeira vez, ainda em janeiro, estavam presentes também o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro e o sócio de Tavolaro na CNN Brasil, Rubens Menin. O empresário Menin é também dono da maior construtora de imóveis residenciais da América Latina22, a MRV, empresa que em 2012 foi incluída na “lista suja” do trabalho escravo no Brasil. Sobre Tavolaro, que além de chefiar o jornalismo da Rede Record encontrou tempo para escrever a biografia do bispo Edir Macedo, seu ex-colega de emissora José Luiz Datena disse o seguinte: ”não tem caráter nenhum”, “não vale nada”, “por esse Douglas eu não coloco a mão no fogo nem um pouquinho, porque nunca gostei desse sujeito profissionalmente”.23

 

Pedófilo e espancadores

Menos singelo é o contato do presidente com suspeitos de crimes graves como: o ex-deputado federal Luciano Castro (acusado de envolvimento em rede de pedofilia no Estado de Roraima24), o ex-ministro do STE Admar Gonzaga Neto (acusado de lesão corporal em um caso de violência doméstica contra sua ex-esposa25), o coronel da PM Alberto Malfi Sardilli (acusado de espancar um delegado de 80 anos26) e Rodolfo Oliveira Nogueira (presidente do PSL no Mato Grosso do Sul e acusado de ameaçar de morte sua colega de partido, a senadora Soraya Thronicke, de quem é suplente27).

Mas, bandidos a parte, o presidente Jair Bolsonaro parece ser mesmo um grande defensor da família. De fato, além dos seus filhos que o visitam constantemente no local de trabalho, (Carlos Bolsonaro foi citado 7 vezes na agenda oficial do pai, Eduardo 9 e Flávio 22) o presidente também recebeu a irmã do ministro Paulo Guedes, Elizabeth Guedes que ocupa a vice-presidência da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup)28 e o Deputado Estadual Rodrigo Lorenzoni, filho do ministro-chefe da Casa Civil Onyx, e que tem como uma das principais proposta aumentar a criação de novas escolas cívico-militares.29

Sozinho, Eduardo Bolsonaro esteve em mais visitas oficiais com o pai do que que todos os deputados das bancadas dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Alagoas, Bahia, Sergipe, Ceará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Acre, Rondônia e Espírito Santo. Já Flávio Bolsonaro, com 22 visitas, esteve com o pai mais vezes do que os encontros que tiveram os senadores das bancadas das regiões Centro-Oeste, Sul e Nordeste.

Misteriosos

Mas além dos filhos próprios e de famosos, o presidente também recebeu em seu ambiente de trabalho vários cidadãos desconhecidos, como por exemplo Ingrid Monteiro Peixoto Becker, apresentada na agenda oficial apenas como “meteorologista”. A moça esteve no planalto com o companheiro, o “analista de sistemas” Arsênio Carlos Andre Flores Becker, e levou o filho, um bebê no carrinho. Houve também a visita da família Braz Cotrim, de Catanduva. Mesmo no grupo da cidade no Facebook, os participantes não sabiam o que a família foi fazer no planalto. O pai, José Braz Cotrim é médico na UTI na cidade, mas não há informações de demandas ou representações que essas pessoas tenham junto a sociedade. Mas pode ser que mais tarde o mistério seja desvendado, como aconteceu com Ricardo Braga, apresentado na agenda apenas como “economista” em sua visita oficial ao planalto no dia 31 de julho. Até o dia 03 de setembro, era possível apurar apenas que o economista trabalhava como diretor de investimentos no pequeno Adbank. No dia seguinte, porém, foi revelado que Ricardo, sem nunca ter trabalhado no setor, será o novo secretário especial da Cultura30, no lugar de Henrique Pires que deixou o cargo acusando o governo de censura.

 

Torturadores

Mas voltando aos nossos Albertos, existe um terceiro que não visitou o presidente, mas que se faz presente em seu governo. Trata-se do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, falecido em 2015. O presidente é fã confesso do coronel, considerado o líder das torturas no regime militar, a quem Bolsonaro chegou a dedicar o seu voto a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Portanto, é natural que o presidente tenha recebido em seu gabinete a viúva do torturador, a senhora Maria Joseíta Brilhante Ustra. Joseíta porém não foi a única parente de torturador que Bolsonaro recebeu no planalto. O primeiro integrante do Itamaraty a ser recebido pelo presidente no seu local de trabalho não foi o novo chanceler Ernesto Araújo e sim o ministro-conselheiro Francisco Fontenelle Filho, que esteve no palácio já no dia 03 de janeiro, logo após a posse. O pai do diplomata Francisco era conhecido como Major Fontenelle31 e figura no “Projeto Brasil Nunca Mais” como alguns dos comprovadamente envolvidos em tortura, sendo considerado pródigo em pau de arara, choque, espancamento e simulação de fuzilamento.32

Por fim tem o vice, e é bom que a gente não se esqueça quem ele é: o general Hamilton Mourão. O vice encontrou-se com Bolsonaro 27 vezes desde a posse, uma quantidade ínfima perto do General Augusto Heleno, com 139 menções na agenda oficial presidencial. Será que ele está se sentindo “decorativo”, como outro?

Tabelas

Ranking dos Ministros

Ministro

Ministério

Encontros

Ministro a partir de

Onyx Lorenzoni Casa Civil

187

Augusto Heleno Gabinete de Segurança Institucional

139

Paulo Guedes Economia

72

Jorge Oliveira Secretaria-Geral da Presidência

68

21/06

Ernesto Araújo Relações Exteriores

66

Fernando Azevedo Defesa

63

Carlos Alberto Santos Cruz Secretaria de Governo

61

Luiz Eduardo Ramos Secretaria de Governo

56

04/07

Floriano Peixoto Vieira Neto Secretaria-Geral da Presidência

37

18/02

André Luiz Almeida Mendonça AGU

32

Abraham Weintraub Educação

27

09/04

Sergio Moro Justiça e Segurança Públic

26

Tarcício Gomes de Freitas Infraestrutura

25

Ricardo Salles Meio Ambiente

25

Marcos Pontes Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações

23

Tereza Cristina Agricultura, Pecuária e Abastecimento

23

Bento Albuquerque Minas e Energia

23

Osmar Terra Cidadania

17

Wagner Rosário CGU

14

Marcelo Alvaro Antônio Turismo

14

Gustavo Canuto Desenvolvimento Regional

13

Luiz Henrique Mandetta Saúde

11

Ricardo Veles Rodrigues Educação

11

Damares Alves Mulher, Família e Direitos Humanos

8

Gustavo Bebianno Secretaria-Geral da Presidência

7

Ranking dos Deputados

Parlamentar Partido Estado Região Encontros
Deputado Major Vitor Hugo (PSL/GO) PSL GO Centro-Oeste

81

Deputada Joice Hasselmann, (PSL/SP) PSL SP Sudeste

18

Deputado Pastor Marco Feliciano (PODE/SP) PODEMOS SP Sudeste

11

Deputado Hélio Lopes, Deputado (PSL/RJ) PSL RJ Sudeste

11

Deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ) DEM RJ Sudeste

9

Deputado Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) PSL SP Sudeste

9

Deputada Bia Kicis (PSL/DF) PSL DF Centro-Oeste

8

Deputado Delegado Éder Mauro (PSD/PA) PSD PA Norte

6

Deputado Sóstenes Cavalcante (DEM/RJ) DEM RJ Sudeste

5

Deputado Alceu Moreira I(MDB) MDB RS Sul

5

Deputado Silas Câmara (PRB/AM); PRB AM Norte

5

Deputado Fábio Faria (PSD/RN) PSD RN Nordeste

5

Deputada Carla Zambelli (PSL/SP) PSL SP Sudeste

5

Deputado David Soares (DEM/SP) DEM SP Sudeste

4

Deputado José Nelto (PODE/GO) PODEMOS GO Centro-Oeste

4

Deputado Guilherme Derrite (PP/SP) PP SP Sudeste

4

Deputado Otoni de Paula (PSC/RJ) PSC RJ Nordeste

4

Deputada Caroline de Toni (PSL/SC) PSL SC Sul

4

Deputado Coronel Armando (PSL/SC) PSL SC Sul

4

Deputado Luciano Bivar (PSL/PE) PSL PE Nordeste

4

Deputado Marcel Van Hattem (NOVO/RS) NOVO RS Sul

3

Deputado José Medeiros (PODE/MT) PODEMOS MT Centro-Oeste

3

Deputado Aluisio Mendes (Podemos/MA) PODEMOS MA Nordeste

3

Deputado André Ferreira, PSC/PE PSC PE Nordeste

3

Deputado Júlio César (PSD/PI) PSD PI Nordeste

3

Deputada Greyce Elias (AVANTE/MG) AVANTE MG Sudeste

2

Deputado Daniel Coelho (CIDADANIA/PE) CIDADANIA PE Nordeste

2

Deputado Olival Marques (DEM/PA) DEM PA Norte

2

Deputado Fábio Ramalho (MDB/MG), MDB MG Sudeste

2

Deputado Herculano Passos (MDB/SP) MDB SP Sudeste

2

Deputado Rogério Peninha Mendonça (MDB/SC) MDB SC Sul

2

Deputado Fred Costa (PATRI/MG), PATRI MG Sudeste

2

Deputado Édio Lopes (PR/RR) PP RR Norte

2

Deputado Fausto Pinato (PP/SP) PP SP Sudeste

2

Deputado Hiran Gonçalves (PP/RR) PP RR Norte

2

Deputado Ricardo Izar (PP/SP) PP SP Sudeste

2

Deputado Marcos Pereira (PRB/SP) PRB SP Sudeste

2

Deputado Silvio Costa Filho (PRB/PE) PRB PE Nordeste

2

Deputado Vinícius Carvalho (PRB/SP) PRB SP Sudeste

2

Deputado Gilberto Nascimento (PSC/SP) PSC SP Sudeste

2

Deputado Cezinha de Madureira (PSD/SP) PSD SP Sudeste

2

Deputado Samuel Moreira (PSDB/SP) PSDB SP Sudeste

2

Deputada Aline Sleutjes (PSL/PR) PSL PR Sul

2

Deputado Bibo Nunes (PSL/RS) PSL RS Sul

2

Deputado Filipe Barros (PSL/PR), PSL PR Sul

2

Deputado General Girão (PSL/RN) PSL RN Nordeste

2

Deputado Márcio Labre (PSL/RJ) PSL RJ Sudeste

2

Deputado André Janones (AVANTE/MG) AVANTE MG Sudeste

1

Deputado Luis Tibé (AVANTE/MG) AVANTE MG Sudeste

1

Deputado Alan Rick (DEM/AC); DEM AC Norte

1

Deputado Alberto Fraga (DEM/DF) DEM DF Centro-Oeste

1

Deputado José Mario Schreiner (DEM/GO) DEM GO Centro-Oeste

1

Deputado Pedro Lupion (DEM/PR) DEM PR Sul

1

Deputada Elcione Barbalho (MDB/PA) MDB PA Norte

1

Deputado Baleia Rossi (MDB/SP) MDB SP Sudeste

1

Deputado Darcísio Perondi (MDB/RS) MDB RS Sul

1

Deputado Gutemberg Reis (MDB/RJ) MDB RJ Sudeste

1

Deputado José Priante (MDB/PA) MDB PA Norte

1

Deputado Newton Cardoso Junior (MDB/MG) MDB MG Sudeste

1

Deputado Paulo Ganime (NOVO/RJ) NOVO RJ Sudeste

1

Deputado Tiago Mitraud (NOVO/MG) NOVO MG Sudeste

1

Deputado Marreca Filho (PATRI/MA) PATRI MA Nordeste

1

Deputado Franco Cartafina (PHS/MG), PHS MG Sudeste

1

Deputado Abílio Santana (PL/BA) PL BA Nordeste

1

Deputado Dr. Jaziel (PL/CE) PL CE Nordeste

1

Deputado Pastor Gildenemyr (PMN/MA) PMN MA Nordeste

1

Deputada Renata Abreu (PODE/SP) PODEMOS SP Sudeste

1

Deputado Diego Garcia (PODE/PR) PODEMOS PR Sul

1

Deputado Roberto de Lucena (PODEMOS/SP) PODEMOS SP Sudeste

1

Deputado Arthur Lira (PP/AL) PP AL Nordeste

1

Deputado Átila Lins (PP/AM) PP AM Norte

1

Deputado Evair Vieira de Melo (PP/ES) PP ES Sudeste

1

Deputado Jerônimo Goergen (PP/RS) PP RS Sul

1

Deputado Pinheirinho (PP/MG) PP MG Sudeste

1

Deputado Arnaldo Jardim (PPS/SP) PPS SP Sudeste

1

Deputado Capitão Augusto (PR/SP) PR SP Sudeste

1

Deputado Cristiano Vale (PR/PA) PR PA Norte

1

Deputado Giacobo (PR/PR) PR PR Sul

1

Deputado Luiz Nishimori (PR/PR) PR PR Sul

1

Deputado Marcelo Ramos (PR/AM) PR AM Norte

1

Deputado Paulo Freire Costa (PR/SP) PR SP Sudeste

1

Deputado Wellington Roberto (PR/PB) PR PB Nordeste

1

Deputado Celso Russomanno (PRB/SP) PRB SP Sudeste

1

Deputado Jhonatan de Jesus (PRB/RR) PRB RR Norte

1

Deputado João Campos (PRB/GO) PRB GO Centro-Oeste

1

Deputado Manuel Marcos (PRB/AC) PRB AC Norte

1

Deputado Márcio Marinho (PRB/BA) PRB BA Nordeste

1

Deputado Capitão Wagner (PROS/CE) PROS CE Nordeste

1

Deputado Toninho Wandscheer (PROS/PR) PROS PR Sul

1

Deputado Glaustin Fokus (PSC/GO) PSC GO Centro-Oeste

1

Deputado Paulo Eduardo Martins (PSC/PR PSC PR Sul

1

Deputado André de Paula (PSD/PE) PSD PE Nordeste

1

Deputado Diego Andrade (PSD/MG) PSD MG Sudeste

1

Deputado Edilázio (PSD/MA) PSD MA Nordeste

1

Deputado Estadual Georgiano Neto (PSD/PI) PSD PI Nordeste

1

Deputado Haroldo Cathedral (PSD/RR) PSD RR Norte

1

Deputado Reinhold Stephanes Junior (PSD/PR) PSD PR Sul

1

Deputado Sargento Fahur PSD PR Sudeste

1

Deputado Daniel Trzeciak (PSDB/RS) PSDB RS Sul

1

Deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB/PR) PSDB PR Sul

1

Deputado Nilson Pinto (PSDB/PA) PSDB PA Norte

1

Deputada Chris Tonietto (PSL/RJ) PSL RJ Sudeste

1

Deputada Major Fabiana (PSL/RJ) PSL RJ Sudeste

1

Deputada Professora Dayane Pimentel (PSL/BA) PSL BA Nordeste

1

Deputado Alexandre Frota (PSL/SP) PSL SP Sudeste

1

Deputado Carlos Jordy (PSL/RJ) PSL RJ Sudeste

1

Deputado Coronel Chrisóstomo (PSL/RO) PSL RO Norte

1

Deputado Coronel Tadeu (PSL/SP) PSL SP Sudeste

1

Deputado Delegado Francischini (PSL/PR) PSL PR Sul

1

Deputado Delegado Marcelo Freitas (PSL/MG) PSL MG Sudeste

1

Deputado Delegado Pablo (PSL/AM) PSL AM Norte

1

Deputado Delegado Waldir (PSL/GO) PSL GO Centro-Oeste

1

Deputado Dr. Luiz Ovando (PSL/MS) PSL MS Centro-Oeste

1

Deputado Eleito Julian Lemos (PSL/PB) PSL PB Nordeste

1

Deputado Felício Laterça (PSL/RJ) PSL RJ Sudeste

1

Deputado Felipe Francischini (PSL/PR) PSL PR Sul

1

Deputado General Peternelli (PSL/SP) PSL SP Sudeste

1

Deputado Heitor Freire (PSL/CE) PSL CE Nordeste

1

Deputado Luiz Lima (PSL/RJ) PSL RJ Sudeste

1

Deputado Nelson Barbudo (PSL/MT) PSL MT Centro-Oeste

1

Deputado Nereu Crispim (PSL/RS) PSL RS Sul

1

Deputado Nicoletti (PSL/RR) PSL RR Norte

1

Deputado Sanderson (PSL/RS) PSL RS Sul

1

Deputado Beto Faro (PT/PA) PT PA Norte

1

Deputado Pedro Lucas Fernandes (PTB/MA) PTB MA Nordeste

1

Deputada Leandre (PV/PR) PV PR Sul

1

Deputada Dra. Vanda Milani (SOLIDARIEDADE/AC); SOLIDARIEDADE AC Norte

1

Deputado Augusto Coutinho (SOLIDARIEDADE/PE) SOLIDARIEDADE PE Norte

1

Deputado Lucas Vergilio (SOLIDARIEDADE/GO) SOLIDARIEDADE GO Centro-Oeste

1

Deputado Paulinho da Força (SOLIDARIEDADE/SP) SOLIDARIEDADE SP Sudeste

1

Deputado Zé Silva (SOLIDARIEDADE/MG) SOLIDARIEDADE MG Sudeste

1

Ranking dos Senadores

Parlamentar Partido Estado Região Encontros
Senador Flávio Bolsonaro (PSL/RJ) PSL RJ Sudeste

22

Senador Davi Alcolumbre (DEM/AP) DEM AP Norte

14

Senador Fernando Bezerra Coelho (MDB/PE) MDB PE Nordeste

9

Senadora Soraya Thronicke (PSL/MS) PSL MS Centro-Oeste

6

Senador Chico Rodrigues (DEM/RR) DEM RR Norte

5

Senador Roberto Rocha (PSDB/MA), PSDB MA Nordeste

3

Senador Major Olimpio (PSL/SP) PSL SP Sudeste

3

Senador Eduardo Braga (MDB/AM) MDB AM Norte

2

Senador Eduardo Gomes (MDB/TO) MDB TO Centro-Oeste

2

Senador Elmano Férrer (PODEMOS/PI) PODEMOS PI Nordeste

2

Senador Jorge Kajuru (PSB/GO) PSB GO Centro-Oeste

2

Senadora Leila Barros (PSB/DF) PSB DF Centro-Oeste

2

Senador Arolde de Oliveira (PSD/RJ) PSD RJ Sudeste

2

Senador Otto Alencar (PSD/BA) PSD BA Nordeste

2

Senador Izalci Lucas (PSDB/DF) PSDB DF Centro-Oeste

2

Senadora Selma Arruda (PSL/MT) PSL MT Centro-Oeste

2

Senador Luiz do Carmo (MDB/GO) MDB GO Centro-Oeste

1

Senadora Rose de Freitas (PODE/ES) PODEMOS ES Sudeste

1

Senador Romário (PODEMOS/RJ) PODEMOS RJ Sudeste

1

Senador Ciro Nogueira (PP/PI) PP PI Nordeste

1

Senador Luis Carlos Heinze (PP/RS) PP RS Sul

1

Senadora Daniella Ribeiro (PP/PB) PP PB Nordeste

1

Senadora Mailza Gomes (PP/AC); PP AC Norte

1

Senador Jorginho Mello (PR/SC) PR SC Sul

1

Senador Mecias de Jesus (PRB/RR) PRB RR Norte

1

Senador Zequinha Marinho (PSC/PA) PSC PA Norte

1

Senador Lucas Barreto (PSD/AP) PSD AP Norte

1

Senador Nelsinho Trad (PSD/MS) PSD MS Centro-Oeste

1

Senador Omar Aziz (PSD/AM) PSD AM Norte

1

Senadora Juíza Selma (PSL/MT) PSL MT Centro-Oeste

1

Senador Fernando Collor (PTC/AL) PTC AL Nordeste

1

Ranking dos Partidos

Partido Encontros
PSL

210

DEM

43

PODE

38

MDB

31

PSD

30

PP

21

PRB

17

PSC

12

PSDB

10

PR

8

NOVO

5

SOLIDARIEDADE

5

AVANTE

4

PSB

4

PATRI

3

CIDADANIA

2

PHS

2

PT

2

PL

1

PMN

1

PPS

1

PROS

1

PROS

1

PTB

1

PTC

1

PV

1

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2 Comments

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  1. Eneraldo Carneiro

    17/09/19 at 19:44

    Um reparo. Wilson Witzel não foi candidato virorioso ao “governo carioca” mas ao governo fluminense. Carioca refere-se especificamente à Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Fluminense, além do time de futebol, refere-se ao Estado do Rio de Janeiro. Assim, governo do Estado do Rio de Janeiro, é governo fluminense. Governo carioca seria o da Cidade, mas como tal não se usa “governo”.

  2. Wallace Silva

    08/10/19 at 17:30

    Perfeito!
    Grupo de Danca Para a Sua Dança Árabe, Brasil, Sao Paulo – SP

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Censura

Militares fazem o que sabem de melhor: esconder os mortos

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Imagine uma epidemia que se alastra rapidamente e mata entre 10% e 20% dos infectados. Imagine que essa epidemia mata principalmente crianças e em especial as da periferia, com menor acesso ao saneamento básico e à saúde. Agora, imagine que por três anos os meios de comunicação sejam censurados nas reportagens sobre a epidemia, que os médicos sejam proibidos de dar entrevistas e que o Ministério da Saúde, controlado por militares, não divulgue os números corretos sobre a doença e as mortes. Isso já aconteceu no Brasil, e não faz tanto tempo assim.

Entre 1971 e 1974, pelo menos 60 mil pessoas de sete estados brasileiros (40 mil só em São Paulo, o epicentro da epidemia) foram infectadas pela bactéria causadora da meningite. Até hoje é impossível precisar quantos morreram. Mas para impedir o que achavam ser uma histeria dos médicos, os militares decidiram esconder esses fatos, e os mortos, da população. Centenas, talvez milhares de crianças, aliás, foram enterradas na mesma vala comum clandestina do cemitério de Perus, na capital paulista, onde eram jogados os corpos de dissidentes políticos torturados e mortos pelo Doi Codi.

Um ótimo vídeo curto sobre a epidemia de meningite e a maquiagem de dados da ditadura militar está disponível no canal Meteoro.doc. Ontem, o canal publicou um novo vídeo, tratando especificamente da atual maquiagem de dados e da disputa de narrativas entre o novo governo militar, que teoricamente ainda não é uma ditadura, e os meios de comunicação para se informar ou desinformar a população.

O tratamento governamental da epidemia de meningite dos anos 1970 só vai mudar em 1974, com um novo general no poder e a aquisição pelo governo de 80 milhões de doses da vacina. Sim, já havia vacina para a meningite e o governo sabia que se tivesse feito uma campanha de vacinação anos antes, teria poupado milhares de vidas. Mas pra que admitir um genocídio se podia dizer que havia um “milagre econômico”? É como disse a ex-secretária da Cultura, Regina SemArte: é muito peso carregar essa fileira de mortos.

Telegrama da Polícia Federal ordenando a censura nos dados sobre a epidemia de meningite. Fonte: Twitter do historiador Lucas Pedretti @lpedret. Como os telegramas não tinham pontuação, usavam a sigla VG para vírgula e PT para ponto final.

Assim, em julho de 1974, com a admissão oficial de que havia uma epidemia, o jornalista Clovis Rossi, então trabalhando no jornal O Estado de São Paulo, preparou uma grande reportagem de capa, intitulada Epidemia de Silêncio, na qual dizia: “Desde que, há dois anos aproximadamente, começaram a aumentar em ritmo alarmante os casos de meningite em São Paulo, as autoridades cuidaram de ocultar fatos, negar informações, reduzir os números referentes à doença a proporções incompatíveis com a realidade — ou seja, levando, deliberadamente, a desinformação à população e abrindo caminho para que boatos ocupassem rapidamente o lugar que deveria ser preenchido per fatos. Fatos que as autoridades tinham a obrigação, por todos os títulos de esclarecer ampla e totalmente”. Leia a matéria completa aqui.

Mas, claro, militares não gostam que digam quais são suas obrigações e publiquem que estão desinformando a população. Assim, a matéria de Rossi foi censurada e em seu lugar o Estadão publicou um trecho do poema Os Lusíadas, de Luís de Camões.

Por causa da Lei da Anistia, de 1979, os militares jamais foram responsabilizados criminalmente pelas mortes na pandemia e nem pelas torturas, mortes, desaparecimentos e ocultação de cadáveres de dissidentes políticos. Mas talvez a história não se repita com a pandemia de coronavírus. Ontem, o Supremo Tribunal Federal, atendendo a uma ação dos partidos Psol, PCdoB e Rede Sustentabilidade, determinou a divulgação diária das informações sobre os dados de Covid-19 até às 19h30, pelo Ministério da Saúde. E também ontem, o Tribunal Penal Internacional de Haia, na Holanda, decidiu analisar a denúncia do PDT de genocídio promovido pelo Governo Bolsonaro. Esse é um caso raro, já que normalmente o TPI só julga ex-governantes acusados de crimes contra a humanidade.

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Brasília

Manifestações mostram que Bolsonaro desliza sem volta para o precipício

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Manifestações em todo o Brasil comprovam que o povo está farto da necropolítica do miliciano no Poder - Foto: Felipe Corvello

Por Ricardo Melo*

Que me perdoe Dacio Malta, um dos mais destacados jornalistas do país e produto de uma linhagem que vem de Octavio Malta, co-fundador da Última Hora e um dos mais brilhantes profissionais da grande imprensa quando ela podia ser chamada deste nome.
Mas o último artigo de Dacio aqui publicado, sobre o impeachment de Bolsonaro, ficou no meio do caminho.

Ele tem toda razão ao afirmar que Bolsonaro merece o impeachment diante da atitude do genocida, expulso do exército como terrorista, frente à Covid-19. Mas oscila quando diz que seus outros crimes foram “absolvidos” porque foi eleito em 2018.

Ora, Bolsonaro não foi eleito sob regras democráticas. Primeiro, beneficiou-se do impeachment irregular de uma presidenta legitimamente eleita. Depois, contou com o apoio sórdido de uma ação judicial conduzida contra Lula pelo seu futuro ministro, hoje “desafeto”, o infecto Sérgio Moro. Qualquer dúvida a respeito desaparece quando se consultam os diálogos trazidos a público pelo “The Intercept Brasil”. Lá se revela o caráter criminoso e parcial com que o Marreco de Curitiba manipulou o processo. Não bastasse isso, Bolsonaro beneficiou-se de uma máquina milionária de mentiras, orientada por assessores americanos e financiada por empresários brasileiros para espalhar fake news contra seus adversários.

Não fosse tudo isso, Lula teria ganho as eleições com folga ainda no primeiro turno. Até a rampa do Planalto sabe disso.

Bolsonaro é um presidente fraudulento, ilegítimo, com ou sem covid-19. Um usurpador. Sua trajetória neofascista, misógina, homicida, armamentista, desenvolvida durante 30 anos no Congresso, só se tornou “maioria nominal” graças a expedientes liberticidas e, sobretudo, porque contou com o apoio da elite apodrecida que prefere qualquer coisa, menos governos com algum viés social.

Sim, estes traços tenebrosos ganham tintas mais carregadas quando ele age como homicida assumido diante de uma pandemia devastadora. Transformou o Ministério da Saúde dirigido por militares desqualificados em um esconderijo de cadáveres.

Mas isso é apenas o ápice da trajetória de um desequilibrado a serviço do grande capital e seus asseclas na grande mídia, nas Forças Armadas, no Judiciário e no Legislativo. Bando de acólitos anti-Brasil. O conjunto da obra já é mais do que suficiente para expulsar Bolsonaro e sua gangue do poder que ele e sua turma de milicianos tomaram de assalto, pisoteando meios democráticos elementares.

Paradoxalmente, esse alucinado só está de pé por causa do isolamento que ele tanto ironiza. Estivesse segura de sair às ruas sem colocar em risco a própria vida, a população já teria dado cabo deste excremento. Isto já começou a mudar como mostraram as manifestações de domingo.   

Este será o curso inevitável dos próximos momentos.

 

*Ricardo Melo, jornalista, foi editor-executivo do Diário de S. Paulo, chefe de redação do Jornal da Tarde (quando ganhou o Prêmio Esso de criação gráfica) e editor da revista Brasil Investe do jornal Valor Econômico, além de repórter especial da Revista Exame e colunista do jornal Folha de S. Paulo. Na televisão, trabalhou como chefe de redação do SBT e como diretor-executivo do Jornal da Band (Rede Bandeirantes) e editor-chefe do Jornal da Globo (Rede Globo). Presidiu a EBC por indicação da presidenta Dilma Rousseff.

Leia mais Ricardo Melo em:

 

Pandemia: 1% mais rico do País não está nem aí para as mortes dos pobres

 

RICARDO MELO: BRASIL À DERIVA, SALVE-SE QUEM PUDER!

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#EleNão

Os camisas negras de Bolsonaro

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Mais de 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens foram submetidos ao assassinato e à tortura de forma programada pelos nazistas com o objetivo de exterminar judeus e outras minorias. Nos primórdios da Itália fascista, os camisas negras – milícias paramilitares de Mussolini – espancavam grevistas, intelectuais, integrantes das ligas camponesas, homossexuais, judeus. Quando a ditadura fascista se estabeleceu, dez anos antes da nazista, Mussolini impôs seu partido como único, instaurou a censura e criou um tribunal para julgar crimes de segurança nacional; sua polícia secreta torturou e matou milhares de pessoas. Em 1938, Mussolini deportou 7 mil judeus para os campos de concentração nazista. Sua aliança com Hitler na 2ª Guerra matou mais de 400 mil italianos.

Perdoem-me relembrar fatos tão conhecidos, ao alcance de qualquer estudante, mas parece necessário falar do óbvio quando ser antifascista se tornou sinônimo de terrorista para Jair Bolsonaro. Os direitos universais à vida, à liberdade, à democracia, à integridade física, à livre expressão, conceitos antifascistas por definição, pareciam consenso entre nós, mas isso se rompeu com a eleição de Bolsonaro. O desprezo por esses valores agora se explicita em manifestações, abraçadas pelo presidente, que vão de faixas pelo AI-5 – o nosso ato fascista – ao cortejo funesto das tochas e seus símbolos totalitários, aqueles que aprendemos com a história a repudiar. Jornalistas espancados pelos atuais “camisas negras” estão entre as cenas dessa trajetória.

A patética lista que circulou depois que o deputado estadual Douglas Garcia(PSL-SP) pediu que seus seguidores no Twitter denunciassem antifascistas mostra que o risco é mais do que simbólico. Depois do selo para proteger racistas criado pela Fundação Palmares, e das barbaridades ditas pelo seu presidente em um momento em que o mundo se manifesta contra o racismo, e que lhe valeram uma investigação da PGR, essa talvez seja a maior inversão de valores promovida pelos bolsonaristas até aqui.

A ameaça contida na fala presidencial e na iniciativa do deputado, que supera a lista macartista pois não persegue apenas os comunistas, tem o objetivo óbvio de assustar os manifestantes contra o governo e de açular as milícias contra supostos militantes antifas, dos quais foram divulgados nome, foto, endereço e local de trabalho.

É a junção dos “camisas negras” com a Polícia Militar, que já se mostrou favorável aos bolsonaristas contra os manifestantes pela democracia no domingo passado em São Paulo e no Rio de Janeiro. E que vem praticando o genocídio contra negros impunemente no país desde sua criação, na ditadura militar, muitas vezes com a cumplicidade da Justiça, igualmente racista.

Como disse Mirtes Renata, a mãe de Miguel, o menino negro de 5 anos que foi abandonado no elevador pela patroa branca de sua mãe, mulher de um prefeito, liberada depois de pagar fiança de R$ 20 mil reais, “se fosse eu, a essa hora já estava lá no Bom Pastor [Colônia penal feminina em Pernambuco] apanhando das presas por ter sido irresponsável com uma criança”. Irresponsável. Note a generosidade de Mirtes com quem facilitou a queda de seu filho do 9º andar.

Neste próximo domingo, os antifas vão pras ruas. Espero não ouvir à noite, na TV, que a culpa da violência, que está prestes a acontecer novamente, é dos que resistem como podem ao autoritarismo violento. Quem quer armar seus militantes, e politizar forças de segurança pública, está no Palácio do Planalto. É ele quem precisa desembarcar. De preferência de uma forma mais pacífica do que planejam os fascistas para mantê-lo no poder.

Por: Marina Amaral, codiretora da Agência Pública

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