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Delegado em Santarém tenta imitar a Operação Lava Jato

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Ao receber primeiras informações da tal operação “Fogo do Sairé” que percorreram os noticiários do dia de ontem, fiquei em choque em ver a cara de pau da Polícia Civil de Santarém, de ter a coragem de acusar uma equipe de brigadistas voluntários de incendiários, e de quebra tentar atingir ONGs reconhecidamente comprometidas com o meio ambiente e com as populações da região de Santarém. 

Mas, se pensarmos nas teses que vêm sendo construídas desde agosto pelo Governo Bolsonaro, tentando incriminar as Ongs da Amazônia pelos incêndios, faz sentido pensar que esta operação tenha tentado atender aos comandos do capitão. 

 

Do dia do Fogo a operação fogo da Sairé

Desde de quando uma nuvem negra, fruto da fumaça vinda da floresta amazônica que ardia, cobriu o céu da região sudeste, e ganhou espaço na mídia internacional e nas redes sociais, a primeira estratégia do governo de B. foi acusar a Ongs de estarem por trás dos incêndios. 

Essa acusação feita em 20 de Agosto de 2019, não teve espaço nem na mídia golpista, que recebeu com descrédito por não haver provas, e por parecer uma reação quase infantil as denúncias graves sobre grupos de ruralistas apoiadores de Bolsonaro que convocavam “o Dia do Fogo”. 

Imagem de satélite mostra centenas de focos de incêndio (assinalados com cruzes vermelhas) ao longo da BR 163 / Inpe

Segundo as denúncias feitas em 15 de agosto de 2019, estimulados pelas propostas de afrouxamento das leis ambientais, os apoiadores do seu Jair, convocavam em grupos de whatsapp os colegas a pôr fogo na floresta aproveitando o período tradicional de seca. A reportagem do Brasil de Fato cita que:

segundo o jornal local Folha do Progresso, era chamar a atenção do governo. “Precisamos mostrar para o presidente que queremos trabalhar e único jeito é derrubando. E para formar e limpar nossas pastagens, é com fogo”, afirmou ao jornal um dos organizadores da manifestação.

 

Depois disso, o Presidente B., ainda conseguiu quase criar incidentes diplomáticos internacionais contra Emmanuel Macron e outros líderes internacionais indignados com as denúncias, até chegar ao absurdo de agredir nas redes sociais a mulher do presidente da França.

 

No caso de ontem (26)…

Foi ainda mais aterrador ver como a grande mídia G., correu em fazer o seu papel de imprensa oficial do Estado do Terror.  

Tá Okey, nenhuma surpresa, mas ainda sim aterrador. 

A tal imprensa… do G de GOLPE… mesmo sendo ameaçada pelo seu líder… permanece no seu abusivo papel de manchar a profissão de forma indelével. 

Segundo a tal nota oficial da polícia, divulgada por esse veículo, a operação acusa também o instituto Aquífero Alter do Chão, a ONG Saúde e Alegria (PSA), e o WWF  (World Wild Fund of Nature), numa intrincada trama onde os jovens brigadistas teriam posto fogo para receber dinheiro de apoio ao combate aos incêndios, a partir da vendas de fotos do incêndio para o WWF. 

Um áudio foi usado como sustentação da tese do delegado, e exibido com o velho estilo de sempre da mídia G, onde supostamente o brigadistas estariam garantindo aos seus fornecedores que haveria incêndio para as imagens. 

 

 

Foi interessante repensar isso tudo, e lembrar que na cobertura dos incêndios na região amazônica, a tal imprensa G, fez mirabolantes saídas no seu exercício diário e nacional de enrolação, em que mesmo diante das evidentes responsabilidades do governo do B., ainda conseguia noticiar os incêndios, hora amenizando sua dimensão, e por diversas vezes envolvendo o nome do ex-presidente Lula o comparando com B. Foi tão constrangedor que o apresentador WB ainda teve que se explicar no dia seguinte, por que a opinião pública nacional e internacional caiu matando nas redes sociais. 

Em nota, divulgada hoje (27.11) o governo do estado do Pará, afirma que: NÃO interfere em investigações da Polícia Civil, que age de forma autônoma, e ressalta que ela não pode agir sem  autorização judicial. E reitera que as ONGs são fundamentais para a preservação das florestas no Estado, e que o Executivo continua parceiro de todas as instituições.

Delegado de Santarém, querendo fazer espetáculo hollywoodiano

O principal ouvido na reportagem da imprensa G, é o delegado José Humberto Melo Jr que afirma ter indícios, por meio de interceptação de escutas telefônicas autorizadas. A reportagem até fala de um vídeo postado em redes sociais, que não foi mostrado, que incriminaria o grupo de brigadistas. 

Segundo o delegado, o WWF teria ainda conseguido doações do ator Leonardo DiCaprio de mais de 300 mil, e a ONG Saúde e Alegria estaria envolvida na trama, segundo a reportagem, pois a fazia doações a Brigada com o CNPJ da instituição. 

A Brigada de Incêndio de Alter do Chão, manifestou em nota o repúdio às prisões arbitrárias dos brigadistas voluntários:
Estamos em choque com a prisão de pessoas que não fazem senão dedicar parte de suas vidas à proteção da comunidade, porém certos de que qualquer que seja a denúncia, ela será esclarecida e a inocência da Brigada e seus membros devidamente reconhecida.”

LEIA outra nota, emitida na tarde de ontem pelo povo Borari, na íntegra:

Em nota, povo Borari repudia prisão de brigadistas voluntários em Alter do Chão

 

O WWF negou essas afirmações em nota, afirmando que não comprou nenhuma imagem, e que fez uma doação de cerca de 70.000 para a Brigada de voluntários de Santarém, na figura jurídica do Aquífero Alter do Chão, para compra dos equipamentos para combate a incêndio. Leia a íntegra da nota.

Caetano Scannavino coordenador do projeto Saúde Alegria que estava em Brasília numa audiência na Câmara dos Deputados fez alguns esclarecimentos na transmissão do Fórum Permanente de Defesa da Amazônia, e por esse motivo conseguiu atenção no Jornal das 21 horas da mídia G.

Ele se disse preocupado com a forma como a polícia invadiu a instituição e com os equipamentos e documentos originais que foram apreendidos, que não sabe até agora quais são as acusações. Afirmou que assim como outras ONGs, apoia e vai continuar apoiando os Brigadistas de Alter do Chão, para somar esforços contra as queimadas e incêndios da região. Que em relação a prestação de contas, que seus balanços sempre foram públicos e que são frequentemente auditados. Inclusive um dos últimos prêmios que receberam, foi uma certificação em gestão.

Perguntado sobre a investigação ter motivação política, o coordenador não quis fazer fazer acusações, mas lembra que tem feito em seu blog e redes sociais diversas denúncias sobre a exploração imobiliária na região. Publicamos um dos seus artigos em:

Santarém sofre pressão para alterar plano diretor na marra, pondo em risco mais uma área de proteção ambiental

Também recomendamos a leitura do artigo sobre a grilagem de terras, publicado originalmente na Carta Capital:

Amazônia: garimpos jogam ‘uma Brumadinho’ a cada 20 meses no Tapajós

 

Conheça mais sobre o projeto Saúde e Alegria em:

Como atua a ONG Saúde e Alegria, acusada de envolvimento em incêndios florestais

 

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O “REI FRANCIS” DE CÁCERES

Prefeito de Cáceres no Pantanal, utiliza maquinário público em sua fazenda e fecha os olhos para o fogo e a fumaça na cidade

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Cáceres se encontra na micro região do Alto Pantanal. Tem uma população de quase 95.000 habitantes, faz fronteira com a Bolívia e é a principal cidade abrangida, quer dizer envolta ou abraçada, pelo Pantanal.

Agora imagine o abraço de um corpo em chamas e soltando fumaça.

“EU VOU GANHAR ESSA ELEIÇÃO DE QUALQUER MANEIRA.”

Francis Mariz Cruz.

O prefeito de Cáceres é Francis Mariz Cruz tem um patrimônio de quase 50 milhões de reais declarados. Oficialmente apoia o candidato Paulo Donizete que é de seu partido e que vai concorrer contra a sua vice prefeita Eliene, mas Francis acredita que mesmo que o candidato apoiado por ele perca, sua vice ainda pertence à sua base aliada o que lhe garantiria mais regalias políticas no município como supõe no áudio vazado.

Entrada daFazenda Cometa, de Francis Mariz Cruz, prefeito de Cárceres, micro região do Alto Pantanal, MT.

O Francisco da Cometa é conhecido assim por ser dono de uma loja de venda de motos, a Cometa Moto Center. Apenas um de seus empreendimentos entre fazendas, aviões, imóveis rurais e prédios comerciais além das 17 empresas das quais é proprietário.

Como todo milionário, o Rei de Cáceres, é arrogante. Em áudio obtido, que corre nos grupos de whatsapp da cidade, o candidato avisa que ganhará a disputa sem fazer esforço algum. “Essa eleição tá no papo!”

https://youtu.be/vs6JBoCgww0

Também não esconde o uso irregular de maquinário municipal utilizado exclusivamente para obras municipais de construção e transporte em benefício próprio como a reforma na Fazenda Cometa. 

Maquinário municipal sendo utilizado em Fazenda do Prefeito de Cárceres.

Fazendo o percurso da Transpantanal envolta em fumaça pela manhã, fotografo passando por mim pelo menos três caminhões da Prefeitura de Cáceres voltando da Fazenda Cometa do Pantanal, do Prefeito Francis. A fazenda está em reformas e o maquinário utilizado para as tais reformas são da prefeitura como é possível ver em fotos e vídeo.

A Fazenda tem sua sede a 12 km de sua entrada. Modesta propriedade que vende touros, sêmen e matrizes. O prefeito aceita seu touro velho na compra de um Nelore Cometa.

Na volta da Transpantanal passo por um foco de queimada recém iniciado à beira da estrada. Paro para observar em busca de alguma prova de crime ambiental, mas o tempo é curto e preciso voltar para o centro para me trocar. As roupas que estou usando estão pretas, sujas de terra, cinzas e fedem a fumaça. A sede e o calor de 45° também castigam e preciso me hidratar antes de voltar à tarde para continuar o trabalho.

Foco de fogo à beira da estrada

No retorno para a Transpantanal à tarde, aquele pequeno foco de fogo se transformou no Inferno abaixo. A fumaça escura tomou a ponte e o fogo pulou para o outro lado do rio se aproximando de casas, à beira do Rio Paraguai. 

No local não há nenhum caminhão da prefeitura, ou do exército e nem corpo de bombeiros para tentar conter o fogo. Na verdade, desde que cheguei na cidade, não vi movimentação alguma dos bombeiros ou do exército o que surpreende de forma negativa já que a coluna de fumaça principal vem do centro da cidade cujo foco se encontra na mata que está no Rio Paraguai.

Não existe esforço municipal na contenção das chamas que consomem a mata do outro lado do rio dia e noite. Um detalhe que chama ainda mais atenção é que a rua que fica na Praça da Sematur e que faz frente para o rio é também a rua onde mora o Prefeito.

Francis Mariz Cruz não apoia nenhuma iniciativa de socorro a animais. A prefeitura não dá suporte a brigadistas voluntários e nem criou uma força tarefa em concomitância com exército ou marinha para combater os demais focos de queimadas espalhados nas várias áreas da cidade. Nada está sendo feito.

Ao amanhecer, Cáceres desaparece sob a fumaça espessa que atravessa o rio e se instala no centro e entorno. Com o Sol forte ela deixa de aparecer com tanta nitidez, mas à noite é impressionante. E mais impressionante ainda é a apatia dos moradores que levam a vida como se nada estivesse acontecendo. Ao redor de Cáceres são incontáveis os focos de incêndio e é desumana e incompreensível administrativamente a ausência do combate ao fogo. 

Talvez a explicação para essa apatia seja o fato de que a cidade se encontra no terceiro lockdown desde o início da Pandemia. Há toque de recolher, inclusive, às 20h. A despeito dos casos de covid19, crescentes assim como os óbitos, a cidade caminha como se nada estivesse acontecendo. Mas caminha lentamente já que é difícil enxergar com tanta fumaça nos olhos.

Quem se beneficia dessa cegueira que o fogo e a fumaça trazem é o prefeito. Não que ele faça algum esforço para esconder algo.

Leia mais sobre a cobertura dos incêndios no Pantanal

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Fogo criminoso para passar a boiada e a soja no Pantanal

Queimadas iniciadas em cinco propriedades do MT respondem pela destruição de área equivalente à cidade do Rio de Janeiro. Duas dessas fazendas são de pecuaristas que vendem gado para empresas da família Maggi (Amaggi e Bom Futuro), fornecedoras de gigantes como JBS, Marfrig e Minerva.

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Por Daniel Camargos e André Campos | Foto: João Paulo Guimarães | 22/09/20 | para a Repórter Brasil

Parte do fogo que devasta o Pantanal mato-grossense teve origem em fazendas de pecuaristas que vendem gado para o grupo Amaggi, do ex-ministro e ex-senador Blairo Maggi, e para o grupo Bom Futuro, de Eraí Maggi, considerado o maior produtor de soja do mundo. Esses dois grupos empresariais, por sua vez, são fornecedores das gigantes multinacionais JBSMarfrig e Minerva

O levantamento da Repórter Brasil se baseou emestudo da ONG Instituto Centro de Vida, que identificou que as queimadas no Mato Grosso começaram em cinco propriedades, a partir da análise cruzada dos focos de calor do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), imagens dos satélites Sentinel-2 e Planet e mapeamento das áreas atingidas por incêndios da NASA. O estudo do ICV analisou os focos de incêndio no Mato Grosso entre 1º de julho e 17 de agosto, mas ressalta que a primeira queimada na região começou em 11 de julho. Com base na geolocalização dessas fazendas, a Repórter Brasil usou dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e da Secretaria de Estado da Fazenda para identificar os proprietários, bem como documentos para averiguar os compradores de dois desses fazendeiros. 

No Pantanal mato-grossense, incêndio começou em cinco fazendas, duas delas dedicadas à criação de gado (Foto: Christiano Antonucci/Secom-MT)

O fogo que teve início nessas cinco propriedades rurais voltadas para pecuária, todas localizadas em Poconé (100 km da capital Cuiabá), foi responsável por destruir 116.783 hectares, área equivalente à cidade do Rio de Janeiro. Esse volume de destruição correspondeu a 36% da área total atingida por incêndios no Pantanal mato-grossense no período analisado (entre julho e a primeira metade de agosto).

O incêndio que atinge o Pantanal é alvo de investigação da Polícia Federal, que apura a responsabilidade de fazendas na área rural de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Já o estudo do ICV se concentrou no Mato Grosso, no entorno da cidade de Poconé.

Entre essas cinco propriedades rurais mato-grossenses, está a fazenda Comitiva, de Raimundo Cardoso Costa, onde o fogo começou em 20 de julho e foram registrados pelo menos 171 focos de incêndio. A área total destruída pelo fogo iniciado nesta fazenda foi de 25.188 hectares.

De acordo com dados da Secretaria de Estado de Fazenda do Mato Grosso, Raimundo Cardoso Costa é proprietário de outra fazenda, vizinha à Comitiva, chamada Recanto das Onças. A Repórter Brasil identificou que a fazenda Recanto das Onças comercializou gado com o grupo Bom Futuro, mais conhecido pela produção de soja, mas que tem um rebanho de 130 mil cabeças de gado nelore. O grupo Bom Futuro está entre os fornecedores de gado dos maiores frigoríficos do Brasil: JBS, Marfrig e Minerva, conforme atestam documentos a que a reportagem teve acesso.  

Outra fazenda localizada em Poconé e que está entre as cinco analisadas pela Repórter Brasil é a Espírito Santo, de José Sebastião Gomes da Silva, onde o fogo começou em 4 de agosto. Segundo o Inpe, foram pelo menos 73 focos de incêndio que destruíram 14.292 hectares, segundo análise da NASA.

Os incêndios que começaram em fazendas do Mato Grosso já destruíram uma área equivalente à cidade do Rio de Janeiro (Foto: Mayke Toscano/Secom-MT)

Gomes da Silva também é dono de outra fazenda, a Formosa. Essa propriedade vende gado para a fazenda Rio Bonito, de Elza Junqueira de Carvalho Dias, que, por sua vez, comercializa gado com a JBS e Marfrig. A Fazenda Formosa também é fornecedora da Amaggi Pecuária. A empresa faz parte do grupo Amaggi, da família do político Blairo Maggi, que tem 10 fazendas no Mato Grosso e atua em diversos setores além de soja e pecuária, como energia e logística. A Amaggi Pecuária, por sua vez, está entre as fornecedoras da JBS, Marfrig e Minerva. 

Na semana passada (14), uma equipe da Polícia Federal de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, estado que também abriga o bioma Pantanal, realizou buscas e apreensões em quatro fazendas, com a suspeita de que o fogo teria sido provocado intencionalmente para a abertura de pastos. Os policiais investigam se aconteceu com o Pantanal algo similar ao ‘Dia do Fogo’, quando fazendeiros e empresários de Novo Progresso, no Pará, organizaram queimadas na Amazônia nos dias 10 e 11 de agosto do ano passado.

“Queremos descobrir quem foram os autores [das queimadas no Pantanal]”, disse, à Repórter Brasil o delegado Daniel Rocha, em referência ao fato de que os incêndios que destroem o bioma teriam sido provocados pela ação humana — e não por conta do período seco. As propriedades investigadas pela Polícia Federal na operação Matáá ficam próximas ao Parque Nacional do Pantanal, na divisa dos dois estados, e, segundo o delegado, são grandes fazendas de pecuaristas. 

O fogo é a forma mais barata de ampliar uma pastagem, conforme explica o diretor-executivo da Amigos da Terra Amazônia Brasileira, Mauro Armelin. Para o executivo, os frigoríficos deveriam analisar também os seus fornecedores indiretos, como forma de coibir o desmatamento e também as queimadas provocadas pela ação humana. “Se os frigoríficos não fizeram a análise completa e monitorarem os [fornecedores] indiretos, eles nunca poderão dizer que suas cadeias de produção  são livres de desmatamento”, explica. 

Mais de uma centena de frigoríficos assinaram com o Ministério Público Federal (MPF) um acordo, que ficou conhecido como “TAC da Carne”, em 2009, para não comprar gado de áreas desmatadas ou autuadas por trabalho escravo na região amazônica. Mais de 10 anos depois, os frigoríficos conseguem driblar o acordo com uma série de artimanhas, muitas vezes envolvendo fornecedores indiretos com problemas socioambientais, como mostrou a Repórter Brasil em reportagem publicada em junho.  

‘Fogo começou com explosão de automóvel’, diz pecuarista

Raimundo Cardoso Costa disse à Repórter Brasil que o fogo em sua propriedade começou após a explosão de um veículo. “Os bombeiros apagaram, mas o fogo ficou nas raízes das plantas e depois espalhou”, diz. O fogo, segundo ele, destruiu 40% dos 15 mil hectares da sua propriedade, além de ter se alastrado para outras fazendas. 

O fogo é a forma mais barata de ampliar uma pastagem, segundo Mauro Armelin, da Amigos da Terra. (Foto: Christiano Antonucci/Secom-MT)

O fazendeiro reclama da legislação ambiental e diz que o ideal seria liberar o fogo no período que não fosse seco. “Tem que deixar o pantaneiro limpar o que tem que limpar”, afirma. Raimundo diz também que jamais colocaria fogo na própria fazenda, pois sem a mata nativa, que funciona como uma cerca natural, ele teria de gastar R$ 10 mil para construir um quilômetro de cerca — sua fazenda, segundo ele, precisaria de 50 quilômetros.

Morador de São Paulo, ele tem fazendas no Pantanal há 10 anos e um rebanho de 1,2 mil cabeças de nelore. É um típico fornecedor indireto, pois vende gado,  principalmente, para outros fazendeiros que engordam a criação antes de comercializarem para o abate nos frigoríficos. Ele afirma ter vendido a fazenda Recanto das Onças, apesar de seu nome ainda constar como proprietário em documento da Secretaria de Estado da Fazenda. O pecuarista, no entanto, confirmou que  negociou, em diversas ocasiões, com o grupo Bom Futuro (fornecedor de JBS, Marfrig e Minerva). 

Raimundo reclama da responsabilidade dos incêndios recair sobre os fazendeiros. “Estão detonando a gente. O pantaneiro sempre foi o cuidador do Pantanal”, afirma. Ele também é um defensor do presidente Jair Bolsonaro. “Tudo que acontece no Brasil é culpa do Bolsonaro. A mídia acha que quanto pior, melhor. Temos que ajudar o presidente a melhorar o Brasil.”

A reportagem entrou em contato com a advogada do outro fazendeiro, José Sebastião Gomes da Silva, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto. 

A Amaggi, que compra gado de José Sebastião Gomes, informou à Repórter Brasil que vai suspender as compras de gado com este fornecedor enquanto aguarda a apuração sobre a responsabilidade da origem dos focos de incêndios em outras propriedades de Gomes.

Jaguatirica morta por conta dos incêndios na região de Poconé-MT (Foto: João Paulo Guimarães/Repórter Brasil)

A Minerva Foods destacou que “os produtores agropecuários são também prejudicados por incêndios de grandes proporções, que podem atingir suas propriedades”. Disse que os fornecedores diretos dela (Amaggi e Bom Futuro) não apresentam irregularidades, mas não comentou sobre os fornecedores indiretos (Raimundo e José Sebastião). 

Dona das marcas Montana e Bassi, a Marfrig afirmou que usa uma plataforma de monitoramento via satélite para monitorar os fornecedores com focos de incêndio e que há um alerta para que a compra de gado seja suspensa até que a situação seja esclarecida, mas que não há controle total sobre os fornecedores indiretos. A empresa reconhece a questão como “crítica” e lançou, em julho, um programa para tentar resolvê-la.

A JBS, proprietária das marcas Friboi, Seara, Swift e Doriana, afirmou que só consegue monitorar os fornecedores que vendem diretamente para o frigorífico, pois não tem acesso às Guias de Trânsito Animal (GTAs) dos elos anteriores da cadeia. Sem a informação sobre as GTAs, a empresa entende que seria “precipitada qualquer conclusão da JBS sobre a origem do gado adquirido desses fornecedores” (Leia todos posicionamentos na íntegra)

O grupo Bom Futuro não retornou o pedido de posicionamento da Repórter Brasil

Destruição avassaladora

As queimadas no Pantanal neste ano são as maiores desde que o INPE começou a registar os números, em 1998. São quase 16 mil focos de incêndio (até a última quarta-feira), 56% maior que 2005, o pior ano da série histórica. O fogo destruiu 15% da região, com 2,3 milhões de hectares da maior área úmida do mundo.

Há dez dias, bombeiros e brigadistas apenas observavam o fogo na região de Poconé, alastrado por áreas grandes demais para ser controlado (Foto: João Paulo Guimarães/Repórter Brasil)

A fauna nativa do Pantanal é a que mais sofre. São 1,2 mil espécies diferentes de animais, sendo que 36 são ameaçadas de extinção. Entre as vítimas estão cobras, jacarés, macacos e onças. Os incêndios já dizimaram um refúgio de araras azuis e avança sobre uma área de proteção de onças-pintadas.  

“Quando cheguei em Poconé, perto da meia noite, a cidade estava envolta na penumbra. A fumaça era tão pesada que acreditei ser a névoa da madrugada. Não era. Era o efeito causado pelos mais de 2 milhões de hectares que estavam em chamas no Pantanal”, relatou o fotógrafo João Paulo Guimarães à Repórter Brasil

Matéria original em https://reporterbrasil.org.br/2020/09/fogo-no-pantanal-mato-grossense-comecou-em-fazendas-de-pecuaristas-que-fornecem-para-gigantes-do-agronegocio/?fbclid=IwAR0_-BMpH6auU33ED_7U5dcJDdrHrCLay2sUocyzBp5o8gQSJcK-Gnb76hg

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Lideranças indígenas de Pernambuco denunciam invasão de suas terras

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No último dia 22 de Junho de, 2020 o pajé Jaguriçá e a Cacica Elúzia, ambos lideranças indígenas da etnia Pankararu-Opará localizada no Município de Jatobá (PE) 452 km do Recife, denunciaram ao departamento Jurídico do Ylê-Oca casa das tradições em Olinda, o conflito que vem ocorrendo em razão de interesses territoriais entre não-índios e índios estabelecidos no Território Indígena Pankararu Opará.

Ocorre que, desde o reconhecimento da T.I. Pankararu Opará pela FUNAI, agricultores não-índios que se estabeleceram na mesma localidade vem fazendo ameaças de violência e morte aos indígenas, já tendo destruído duas edificações integrantes do sítio ritualístico daquela etnia e tendo também queimado uma árvore sagrada para os índios no contexto do conflito.

Pajé Jaguricá Pankararu Opará

 

 

 

Os indígenas reportam já terem denunciado à situação às autoridades competentes, porém, com o contexto da Pandemia, ainda não tiveram qualquer devolutiva das instituições. A casa das tradições afroindígenas – Ylê Oca, provocou à Defensoria Pública da União e ao Ministério Público de Pernambuco a encetar diligências para mediar o referido conflito de interesse territorial, a fim de minimizar tensões entre índios e não-índios na região e apurando eventuais responsabilidades penais no que tange as denúncias de ameaça e intolerância religiosa veiculadas pelos indígenas, a fim de evitar o agravamento do conflito e ocorrência de mais violações de direitos.

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