Vejo o Papa na tv, logo após o almoço, na sexta-feira, mas é entardecer no Vaticano. Há um silêncio profundo ferindo a imensidão da Praça São Pedro, demoro a entender a situação, pouco devoto que sou. É tão intensa a cena muda que me atenho. É a pandemia, logo me envolvo no coro sublime, agente invisível vozes cantam, tais anjos e querubins, arquitetura épica deserta de multidão.
“Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador… Nos vimos amedrontados e perdidos.”
É a homilia.
A pregação desses dias, o para ou não para dos homens, o vírus escancara nossas dívidas. Nossa concentração de renda e o disparate da má distribuição de lucidez entre os donos do poder evidenciam as incongruências da peste.

Ao mesmo tempo em que Francisco ora, tão distante, e as nações reforçam que a solidão é boa medida agora, aqui sei que alguns oram inverso, querem as multidões.
Dá uma tristeza essa sexta-feira, tanta dissonância entre a razão e bom senso dos seres.
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Imagens por Vaticano News, DL News e Vasily Surikov (1872)
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