O golpe ainda não foi consumado, mas a censura já começa a operar nas redes sociais. Na tarde da última quinta-feira, 5 de Maio, a militante feminista Maria Clara Bubna tentou acessar o seu perfil no Facebook e deparou-se com a mensagem de que ele estava desativado. Sem receber qualquer justificativa por e-mail ou nenhum outro canal, ela buscou os contatos de suporte da rede, até o fechamento desta, sem resposta.
É evidente que se trata de um movimento de censura, operado através dos algorítmos supostamente neutros da rede social. Maria Clara tinha uma base de cerca de 7000 seguidores e constantemente compartilhava reflexões do movimento feminista, da esquerda e, no atual momento político, contra o golpe parlamentar que tramita em Brasília.
Há pouco mais de uma semana, Maria Clara publicou em sua página um chamado de mensagens de apoio para a presidenta Dilma Roussef. O resultado foi surpreendente: em 5 dias, foram recebidas cerca de 5 mil mensagens, algumas inclusive acompanhadas de ilustrações cedidas por artistas para o projeto, que acabou se transformando em um livro.
Para Maria Clara, o sucesso da iniciativa incomodou os fascisas. Os ataques desta vez foram além das mensagens e comentários costumeiros:
“eu recebia com frequência mensagens me xingando do básico, comunista, pão com mortadela, feminazi… Só que dessa vez os ataques foram mais fortes, porque tentaram invadir meu email e meu dropbox.”
Ela relata que recebeu notificações dos ataques destes serviços e conseguiu evitá-los. A desativação do perfil que veio em seguida, segundo ela, pode ter acontecido através de denúncias de spam ou de que o perfil apresentaria um nome falso – sabidamente as maneiras mais eficazes de se aproveitar do sistema do Facebook para derrubar uma página – mesmo com sua identidade tendo sido verificada pela rede social.
Para Maria Clara, o algorítmo do Facebook não é neutro como se afirma:
“No mínimo inclinado à direita sim. Veja, meu facebook não tinha NENHUM tipo de discurso de ódio, “pornografia”, nudez, armas, sangue, nada. Meu perfil tinha minhas fotos e meus textos políticos de esquerda e feministas. Não é possível que seja mais fácil derrubar o perfil de quem não tem nenhum discurso de ódio em sua página do que perfis que pregam absolutamente a intolerância e a violência.”
Não se trata de um caso isolado. Em Abril deste ano, a atriz Letícia Sabatella também teve o seu perfil de facebook suspenso após se manifestar pela manutenção do mandato de Dilma Rousseff. O mesmo aconteceu com o escritor Fernando Morais, exatamente no dia da votação da admissibilidade do impeachment na câmara dos deputados, 17 de Abril.
É a segunda vez que Maria Clara tem um perfil de facebook desativado. Em 2014, ela foi vítima de uma perseguição virtual semelhante quando questionou comentários machistas publicados por seu então professor no curso de direito da UFRJ, Bernardo Santoro. O caso ganhou corpo na internet e ela chegou a ser atacada pelo ex-blogueiro da revista Veja Rodrigo Constantino. Naquela oportunidade os ataques virtuais também resultaram na desativação do seu perfil.
Assim como naquela oportunidade, Maria Clara voltou às redes e seguiu divulgando sua militância. No mesmo dia da desativação, ela criou um novo perfil e já começou a recuperar seu público. O livro de mensagens de apoio ao mandato de Dilma Roussef já está sendo impresso, uma edição de 1500 páginas que deverá ser entregue à presidenta em Brasília ainda na semana que vem.
ATUALIZAÇÃO: Pouco tempo depois da publicação desta matéria, o Facebook restituiu o perfil de Maria Clara Bubna, mediante comprovação de sua identidade.
2 respostas
Que decepção, pensei que face era neutro, e o Brasil ta voltando aos pouco a ditadura, que horror!
Não foi só o perfil dela que desativaram, essa semana eles fizeram uma verdadeira limpa derrubando perfis e páginas. E o pior? Não há suporte!