A fumaça branca dos inocentes

Líderes indígenas Guarani Mbya, Ñandeva e Avá Guarani, das aldeias da cidade de São Paulo e entorno, assopram a fumaça branca do petyngua, o cachimbo tradicional, sobre os papéis entregues à Procuradoria Regional da República, uma representação contra o ato do presidente da república, Jair Bolsonaro, sobre os direitos indígenas.

Conclamam os espíritos para guiar a representação contra o infeliz presidente que, desinformado ou mal intencionado, desmembrou a Fundação Nacional do Índio, e propõem soluções estapafúrdias para os diversos povos originários e suas terras espalhadas pelo território da nação.

 

Curioso observar o ato, o gesto, o ritual indígena presente na tarde de chuva na grande cidade dos homens. Tudo tão equilibrado diante do imenso bloco de concreto da Procuradoria Regional da República.

 

 

 

 

Índios em movimento, de fato, são distintos da gente na atitude cortês em ato; dançam, cantam, distribuem alimento, água, misturam as crianças no exercício político da vida, falam baixo e firmes.

Nossa frágil herança mostra-me toda vitalidade na tarde quente da metrópole, numa luta antes da luta, antes da chuva intensa, representando contra um governo insano que anuncia esquizofrenias.

Sou índio nessa tarde, tantos são.

Mesmo brasileiro, mais triste estou que índio, pois envergonhado assisto assinaturas contra meu Ocidente tão burro, nefasto, árduo. Já nem sei se durmo, se calo, se subo no Cristo e grito pare.

 

*fotografias por Helio Carlos Mello©, ilustração de Jean-Baptiste Debret

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