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Educação

FU(A)TURE-SE ou EMPREENDA-SE

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Por:
Márcio Alves de Oliveira
Professor do Instituto Federal de São Paulo

Após o estrangulamento orçamentário das instituições de ensino federais vem aí o FUTURE-SE… Modelo para todas as instituições públicas de ensino que, anunciando no seu programa a “permanente limitação de recursos”, propagandeia o financiamento via mercado. Efetivamente, contudo, criará apenas pequenas ilhas financiadas por critérios duvidosos no meio de um mar de lama de ensino, pesquisa e extensão; padrão predatório do mercado que Vale também para a educação mercantilizada em contraposição à pública.

A mensagem subliminar diz EMPREENDA-SE no seu futuro individualista sem se preocupar com o futuro coletivo e solidário; e em detrimento deste, aceite o neoliberal “não há alternativas” que resume a negação abstrata da situação precarizada de todo trabalhador a reforçar, paradoxalmente, a lógica exploratória do assalariamento; mas que também resume a negação abstrata da situação corrupta de um estado público não servidor do público a reforçar, paradoxalmente, os corruptos privilégios privados de alguns privando, assim, os direitos públicos de todos.

Mas o FU(A)TURE-SE é mais subliminar do que parece. A anunciada gestão compartilhada com OSs não é a mera repetição dos inúmeros escândalos de corrupção das últimas décadas enquanto falsa alternativa mercadológica ao próprio estrangulamento mercadológico dos recursos públicos. As diretrizes inteiramente baseadas no risco corporativo e na permanente limitação de recursos, segundo palavras do próprio plano apresentado, coloca o próprio mercado financeiro no coração das instituições muito além de simplesmente coloca-las nele. O mar de lama financeiro que soterra um setor produtivo em crise estrutural também soterra o próprio mito do setor produtivo que investe em pesquisa. O preço oferecido para não resistir à asfixia imediata e completa de tudo que é público por um governo corrupto é asfixiar-se a médio prazo através de uma gestão totalmente mercantilizada; nesta, fere-se de morte não só a autonomia financeira e pedagógica, prevendo-se até interferir em planos de ensino, mas toda parte organizacional por então rigidamente controlada, sempre segundo o plano anunciado, por critérios financeiros de negócios de alto risco; controle que se estende inclusive a obrigatoriedade do comitê gestor, segundo o item 9 do EMPREENDA-SE, subitem IV: “definir o critério para aceitação das certificações, para fins de participação no processo eleitoral dos reitores”.

Haverá a dilapidação do patrimônio público através de OSs selecionadas sem chamamento público, como diz o próprio plano, e obviamente ligadas a empresas privadas do setor educacional como a máquina de moer educação pública que é a Cróton, com quem Paulo Guedes mantém relações lucrativas. A administração privada será através de fundos públicos capitalizados por bens dessas instituições públicas que serão transferidos diretamente para a União visando tal fim, a qual poderá, num ato de institucionalização da corrupção, doá-los para as OSs, assim como a própria rentabilidade de suas cotas e, inclusive, recursos suplementares diretos da própria União. Nesse modelo claramente descrito no plano apresentado, e que servirá para outros setores como a saúde, os fundos públicos sujeitos ao mercado financeiro de alto risco primeiro engolirão os recursos públicos, conforme o corrupto projeto político maior, produzindo lucrativamente, assim, a redução quantitativa e qualitativa do tamanho das instituições públicas, seja no ensino, na pesquisa ou na extensão; produzirão também, consequentemente, um estrangulamento salarial sem precedentes entre servidores públicos, último setor da classe trabalhadora ainda não completamente precarizado, ao mesmo tempo que os demitirão em massa e/ou os substituirão por trabalhadores altamente precarizados.

Depurado o mito empreendedor da pesquisa via setor produtivo, as tais ilhas de financiamento tendem de fato a se transformar num instrumento exponencial de corrupção interna do próprio sentido público das instituições subfinanciadas. Operação, aliás, estratégica para o projeto político maior de destruição do sentido efetivamente público, pois se efetiva num espaço universalizador do sentido vivenciado contraditoriamente pela sociabilidade moderna. Apesar de todas as limitações estruturais que faz passar ideologicamente mudanças conjunturais por estruturais, a educação em geral ainda permite atuar nas brechas ambíguas da retórica liberal clássica, apesar de si, que ordena ideologicamente as relações sociais no capitalismo e que atualmente afunda na lama do neoliberalismo e sua crise civilizacional; permite estabelecer diálogos políticos estrito senso, os quais estando em permanente disputa visam, mesmo que limitadamente, uma construção do bem comum. Processo de esvaziamento simultaneamente objetivo e subjetivo que complementa a atual reforma do ensino médio que ameaça destruir seu sentido público e mesmo educacional, assim como em geral os demais processos em vertiginosa e violenta implantação em todas as esferas da vida social brasileira, e mesmo mundial, como o desmonte estrutural da legislação trabalhista e previdenciária ora em curso. 

Mais especificamente, o foco central na captação de recursos educacionais subfinanciados segue inteiramente as restrições do mercado às atividades fins, eminentemente públicas, inclusive deixando grande parte destas simplesmente não cumpridas e desmontadas pela sua falta de apelo mercadológico; com isso se cria a inusitada carreira pública de supercaptador, uma espécie de lobista concursado atuando na zona cinzenta e inconciliável entre servidor público e servidor dos interesses do Capital. Para tanto, o FATURE-SE obriga o servidor apenas a cumprir as obrigações de aula podendo todo o resto de sua jornada remunerada ser cumprida de modo generalizadamente desvirtuado, captando recursos supostamente em nome do bem público. Prometendo até o enriquecimento dos servidores públicos supercaptadores atuantes na corrupta zona cinzenta que drena recursos do público para o privado fingindo fazer o contrário, a cantilena ideológica neoliberal segue na toada esquizofrenicamente infantilizadora de que trabalhadores e estudantes virarão todos “empresários de si mesmos” (?), enquanto prepara a precarização extrema das suas condições de trabalho. A exponencialização do trabalho abstrato alimenta, diante da crise estrutural do mundo do trabalho e da organização estatal das relações sociais com o que é público, a autoilusão de uma oportunidade individualista ou de tirar o seu quinhão ou de simplesmente sobreviver a qualquer custo, conforme a oscilação ditada pela barbárie que se espalha objetiva e subjetivamente entre nós.

Contraposto à meia dúzia de supercaptadores que enriquecerão corruptamente, os demais trabalhadores serão enquadrados pela destruição em curso da carreira de servidor público, já em estágio avançado no Congresso Nacional. No item 9 do projeto FATURE-SE, subitem V, se diz claramente que o comitê gestor, que inclui as OSs e segue necessariamente as diretrizes mercadológicas de governança estabelecidas pelo governo, deve: “garantir a estrita observância dos limites de gasto com pessoal”.

É evidente o caminho para a demissão em massa de servidores públicos através de um desempenho insatisfatório segundo os critérios de governança mercadológica do projeto. Isso se faz absolutamente necessário e já foi anunciado com o congelamento de gastos públicos por 20 anos logo no início do sui generis golpe de Estado neoliberal que atualmente enfrentamos como tarefa histórica que vai muito além de um mero golpe de Estado. Serviço e, consequentemente, servidor público simplesmente não entram na conta. Uma vez desmistificado o financiamento via mercado e compreendido o subfinanciamento que drena exponencialmente recursos públicos de modo corrupto para o mercado mal aparentando o contrário, é de se compreender também que a médio prazo o processo se completa pela produção de dívidas públicas impagáveis. Reengenharia financeira complexa, equivalente ao dreno da Capitalização na Previdência pública que mais cedo ou mais tarde voltará à pauta pois é parte central do projeto maior; reengenharia do velho esquema de drenagem corrupta das riquezas públicas segundo a lógica que atualmente pauta a relação público-privado e que ameaça escravizar os trabalhadores anulando todo e qualquer sentido público, sempre solidário, das relações sociais necessariamente públicas. Aliás, a Capitalização que acaba com a Previdência em nome de um investimento de alto risco é o corolário natural na transformação ideológica do trabalhador em “empresário de si mesmo” (?) que reside mal disfarçado no espírito empreendedor; enquanto ela não chega, a atual reforma já inviabiliza a aposentadoria ao aumentar exponencialmente, entre tantos ataques, as já atualmente penosas exigências de idade avançada e tempos de contribuição, criando todo tipo de travas para se receber o que se teria direito e reduzindo drasticamente os valores na aposentadoria quando superadas as impossibilidades intencionalmente criadas de recebê-los e pelo menor tempo possível de vida. 

A autoilusão empreendora do trabalhador superexplorado faz parecer que a exploração extenuante é autoimposta por si, supostamente para enriquecer, e não pelo sistema que continua a enriquecer os mesmos de sempre, seja através do trabalho assalariado formal seja por outras lógicas de assalariamento aparentemente não salariais. O acesso público à riqueza pública pelas lutas coletivas dos explorados sustentou precariamente por um século um salário indireto no capitalismo avançado, inclusive por leis trabalhistas e previdenciárias atualmente sobre ataque de morte, e o fez apenas porque havia no horizonte uma superação da tendência maior de proletarização do trabalhador.

Contudo, a fragilidade atual dessa contratendência expõe atualmente toda a violência do assalariamento de quase todos, condicionado que é pela taxa de lucro exponencial de poucos condicionada, por sua vez, pelo trabalho abstrato de todo proletário superexplorado a que tende inclusive a classe média cada vez mais empobrecida. A exponencialização da taxa de lucro pela ruptura da formalidade salarial sem se romper com a lógica do assalariamento é, assim, lastreada necessariamente num trabalho abstrato que opera exponencialmente através de uma psicologia de massas, inclusive, e sobretudo, na naturalização de uma situação social de extrema exploração, a qual contradiz frontalmente toda expectativa inclusiva ideologicamente criada ambiguamente numa sociedade de massas. Lastro ideológico que, funcionando como índice de percepção extremamente alienado da realidade, permite deslocar esquizofrenicamente o discurso neoliberal da direita para uma extrema-direita fascista como a que atualmente governa o Brasil. Campo ideológico necessário para se atacar direitos como se fossem privilégios com o intuito de melhor defender os verdadeiros privilegiados, incluso aí o direito coletivo ao que é público.

Assim como as instituições públicas mercantilizadas, também o trabalhador pobre “empresário de si mesmo” (?) só pode significar VIRE-SE como pode, sem direitos, em cada farol de cada esquina ou coisa que o valha. Dos 23,8 milhões que “trabalham por conta própria” no Brasil (eufemismo do IBGE), mais da metade ganha 1 salário mínimo, que mal dá para o mínimo, e algo como 2/3 não chega a 2 SM, fora os direitos trabalhistas aqui obviamente negados; somando-se com o trabalho informal (obviamente ilegal, lei ora lei num estado pseudopúblico), em torno de 11,5 milhões, supera-se desde 2017 o trabalho formal (carteira assinada) que está por volta de 33 milhões; e se somarmos os domésticos, que ganham por volta de 1 SM, essa superação acontece desde 2015. Mas dos trabalhadores formais, a maioria ganha até 1 SM (sendo obviamente ilegal ganhar menos, lei ora lei num estado pseudopúblico) e a enorme maioria não chega a 2 SM, em condições cada vez mais precarizadas diante da reforma trabalhista de 2017 que iniciou um processo de fim das leis trabalhistas do qual estamos vendo apenas o começo, e que será acelerado com a MP 881/2019 da “Liberdade econômica”, acrescente-se, para uma minoria explorar sem senões a maioria, e também por outras minirreformas, como a já anunciada carteira verde-amarela. Aliás, já atualmente, por volta de 8 milhões dos formais estão subocupados, como os intermitentes, e, portanto, ainda mais precarizados. Processo de precarização do trabalho fundamental para o crescimento exponencial direto da taxa de lucro em crise, mas também indireto através da expropriação dos fundos públicos, o que se completa duplamente com a destruição do serviço e do trabalhador do setor público, anunciados como prioridade desse governo e para o qual o EMPREENDA-SE serve de modelo em muitos sentidos. 

Tal mudança estrutural só é possível a partir de autoilusões introjectadas por uma psicologia de massas surgida no esteio da urgência desesperada de integração social, nunca completada, que caracteriza os infernais processos capitalistas. Nesse contexto, uma proletarização vertiginosa de quem já mal se sustentava com os anteparos sociais tende a caracterizações caricaturais dos menos precarizados como privilegiados. Ameaçando o próprio ideal de direitos universais baseados na solidariedade, isso permite precisamente que o sistema capitalista de reprodução de desigualdades exponencie os privilégios indecentes dos mais ricos que produzem de modo inversamente proporcional a miséria da grande maioria, tudo isso diante da mesa farta posta que é a da grande riqueza coletiva atual. Os números mostram claramente que, assim como a empobrecida classe média europeia e estadunidense, aliás, de todo mundo, também a brasileira vive o pesadelo de ter que ou encarar-se como trabalhador explorado que sempre foi e não a pequena burguesia que se achava, com a consequente compreensão e ação de quem está inescapavelmente numa luta de classes agudizada pela crise estrutural capitalista que ameaça a sobrevivência do trabalhador exponencialmente proletarizado, do próprio planeta e mesmo do sentido do público nas relações sociais, ou então se autoiludir de modo exponencial, esquizofrenicamente, até os limites da barbárie sistemática contra si e o outro.

Educação

Há dois meses, uma escola e seus sonhos foram ao chão

Documentário conta a história da Escola Popular Eduardo Galeano

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Por Lucas Bois e Raquel Baster*

A escola popular Eduardo Galeano foi o primeiro local a ser destruído durante despejo violento que começou no dia 12 de agosto deste ano, pela Polícia Militar, e que se seguiu por três dias, no acampamento quilombo Campo Grande, município de Campo do Meio, em Minas Gerais. Após dois meses do despejo, é lançado o curta documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” com depoimentos de educandos, educadores e representantes do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre a situação atual do acampamento.

“Ser analfabeto é a gente ficar no escuro e uma pessoa no escuro, ela não é ninguém”. Essa frase dita no documentário por Adão Assis Reis, explica a importância do acesso à educação contextualizada para alcançar a luz do conhecimento. Aos 59 anos, ele se mostra pronto para voltar à sala de aula assim que a escola for reconstruída. Muitos outros trabalhadores e trabalhadoras rurais poderiam ter a chance de seu Adão, mas os dados vem demonstrando o contrário. Um levantamento de dados do Censo Escolar de 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sobre o número de estabelecimentos de ensino na Educação Básica apontou que, entre 1997 e 2018, foram fechadas quase 80 mil escolas no campo brasileiro. A Escola Popular Eduardo Galeano entra para a estatística não só como mais uma, mas como exemplo de uma política de fechamento de escolas do campo que acontece há anos no país. 

Desenho de uma criança do acampamento Quilombo Campo Grande, ao relembrar o dia do despejo e derrubada da Escola Eduardo Galeano. Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O MST chegou a lançar uma campanha de denúncia em 2011, intitulada “Fechar escola é crime”. E em 2014 foi aprovada a lei (12.960/2013) que obrigou a realização de consulta às comunidades antes do fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Mas parece que não surtiu muito efeito. A própria escola Eduardo Galeano foi fechada pelo governo de Minas Gerais no início de 2019, logo após outra tentativa de desejo no assentamento quilombo Campo Grande em 2018 e reaberta pela resistência do Movimento. “Quando começou o governo de Romeu Zema (Novo) nós recebemos a triste notícia que a Escola seria fechada. E a justificativa era poucos educandos. Eram duas salas aonde chegamos a ter 75 pessoas matriculadas. E, na maioria das vezes, nós mesmos que mantivemos a escola funcionando com nossos recursos porque mesmo sendo uma escola reconhecida, não era garantida pelo Estado”, explica Michelle Capuchinho do setor de Formação do MST.  

Ciranda das crianças do acampamento Quilombo Campo Grande, Campo do Meio (MG).
Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O curta documentário descreve como o despejo e a destruição da Escola impacta diretamente inúmeras famílias, sobretudo crianças e adolescentes. Isso somado a um período onde o isolamento social e medidas de proteção à saúde deveriam ser prerrogativas à gestão estadual no enfrentamento à Covid-19. O MST alega que o despejo foi feito de forma ilegal, já que o processo judicial abrangia 26 hectares inicialmente e depois, sem justificativa e transparência das informações, foi ampliada para 53 hectares no último despacho da Vara Agrária que culminou no despejo de 14 famílias. Cerca de 450 famílias permanecem na área da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996.

O filme completo está disponível no YouTube: https://youtu.be/iT1kP7jTO0E

Ficha técnica
Curta-documentário: “Sonhos no chão, sementes da educação”
Imagens e edição: Lucas Bois
Roteiro: Raquel Baster e Lucas Bois
Duração: 22 minutos
Ano: 2020

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Educação

Volta às aulas é proibida pela Justiça em Colégio Militar de Belo Horizonte

Funcionários e inúmeros pais de alunos são contrários à retomada das aulas na instituição do Exército

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Aloísio Morais

A Justiça Federal deu um chega-pra-lá nos militares do Colégio Militar de Belo Horizonte e proibiu o retorno às aulas presenciais a partir da próxima segunda-feira, 21, a exemplo do que outras instituições do Exército pretendem fazer no país. A instituição tem cerca de 750 alunos, 42% do sexo feminino. Dezenas de pais de alunos são contrários à volta às aulas, mesmo com uma série de protocolos a serem adotados. Durante a ditadura, as instalações da escola abrigaram presos políticos, que foram vítimas de tortura no local.

A retomada das atividades escolares na unidade do Exército provocou discussões tanto na Prefeitura de Belo Horizonte quanto no Ministério Público Federal e, como medida de segurança, o Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal (Sindsep-MG) entrou na Justiça com um pedido em tutela de urgência para continuidade do regime remoto de aulas, o que foi acatado com a fixação de uma multa de R$ 5 mil por dia, caso ocorra descumprimento da determinação.

Colégio do bairro Pampulha foi usado para abrigar presos políticos durante a ditadura

Sem prejuízo

Na quarta-feira, 16, a direção do Colégio Militar encaminhou às famílias um comunicado informando sobre o retorno obrigatório às aulas na unidade, exceto para os alunos que comprovassem pertencer a grupos de risco para o novo coronavírus. Porém, para o sindicato, o retorno não é necessário, uma vez que os alunos não estariam sendo prejudicados pelo sistema de aulas on-line. Pela avaliação dos professores, os estudantes estão respondendo bem às aulas.

“Nós estamos conversando com os professores há mais de um mês, logo que eles perceberam que seriam convocados para um planejamento presencial das atividades e que incluía desde então o retorno às aulas na própria escola. Nós entendemos que não é necessário um retorno presencial quando tudo pode ser feito remotamente. Sabemos que a cidade está em processo de reabertura, mas achamos que não há necessidade de colocar mais pessoas nos ônibus e nas ruas se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas. As aulas estão tendo qualidade”, ressaltou a diretora do Sindicato, Jussara Griffo, ao jornal O Tempo.

Segundo Jussara, o Colégio Militar tinha determinado que retornariam apenas aqueles funcionários que não compõem grupos de risco para a pandemia do novo coronavírus, mantendo em regime remoto, portanto, aqueles com idades superiores a 60 anos e portadores de comorbidades. “Se algumas pessoas permaneceriam em casa, entendemos que o trabalho pode ser mantido remotamente, então não há necessidade de retornar também os outros. Para quê colocar alunos em risco, famílias e professores? Se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas, podemos mantê-las”, declarou.

O comunicado feito pelo colégio indicava que haveria um revezamento entre turmas e a adoção de medidas sanitárias relacionadas à Covid-19 para garantir a segurança de estudantes, funcionários e familiares. O retorno contradiz as políticas municipal e estadual que ainda mantêm as aulas suspensas nas redes pública e particular de Minas Gerais. Autoridades da Prefeitura de Belo Horizonte declararam nessa sexta-feira, 18, que poderia procurar a Justiça para pedir a proibição da retomada do ano na unidade militar. Em uma mesma direção, o Ministério Público Federal determinou que o diretor do colégio, o coronel Marco José dos Santos, explicasse à Justiça com um prazo máximo de 24 horas quais estudos técnicos e protocolos de segurança justificariam o retorno às aulas presenciais.

Barbacena


Desde o dia 26 de maio mais de 200 alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) em Barbacena, no Campo das Vertentes, em Minas, testaram positivo para Covid-19. No dia 22 de junho, o Ministério Público Federal emitiu recomendação ao diretor de Ensino da Aeronáutica, major-brigadeiro do Ar Marcos Vinícius Rezende Murad, e ao comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, brigadeiro do Ar Paulo Ricardo da Silva Mendes, para suspender imediatamente todas as aulas e demais atividades acadêmicas presenciais.
A Epcar é uma escola de ensino militar sediada em Barbacena que admite alunos de idade entre 14 e 18 anos por meio de concurso público. No local, estudantes de várias cidades de todo o Brasil vivem em regime de internato e, por isso, dormem em alojamentos e têm aulas em horário integral.

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Cotas

Única vereadora preta de Natal celebra cota do fundo eleitoral para candidaturas negras

Divaneide Basílio (PT) acredita que a decisão do Tribunal Superior de Eleitoral, que determina distribuição proporcional do fundo eleitoral e partidário para candidaturas negras vai incentivar a participação de mais negros e negras na política

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Da agência Saiba Mais

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a partir de 2022 os fundos partidário e eleitoral terão que ser usados de forma proporcional para as candidaturas negras. A decisão é estendida também para o uso do tempo no rádio e na TV das campanhas.

O posicionamento do TSE é fruto de uma consulta feita pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que solicitou a destinação de 50% da verba para candidaturas negras, uma vez que conforme dados do IBGE o Brasil tem 55% da população nesse recorte.

A medida foi anunciada pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e tem a intenção de reduzir o desequilíbrio na participação eleitoral e no financiamento de campanhas das candidaturas de negras e negros. Essa deliberação se soma à determinação de 2018, que obriga o repasse de percentual fixo de 30% do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres.

A subrepresentação das mulheres nos espaços de poder do Brasil, e em especial das mulheres pretas, é uma realidade. As mulheres são 51% da população brasileira, mas governam apenas 12% das prefeituras. Já as mulheres pretas administram apenas 3% dos municípios mesmo representando um contingente de 27% da sociedade.

E mesmo as cidades governadas por mulheres são proporcionalmente menores do que aquelas que contam com homens na chefia do Executivo. Apenas 7% da população no país moram em municípios administrados por mulheres, brancas ou pretas. Do total de prefeituras governadas por mulheres, 91% são de municípios com até 50 mil habitantes

Os dados estão disponíveis para consulta pública e foram divulgados pelo Instituto Alzira, organização que desenvolve ferramentas para contribuir com o aumento na participação das mulheres na política.

O parlamento de Natal é um exemplo desse desequilíbrio e subrepresentação. Das 28 cadeiras, apenas uma é ocupada por uma mulher preta. Não bastasse ser a única, a cientista social Divaneide Basílio (PT) também é a primeira vereadora negra da história da Câmara Municipal de Natal.

Para ela, a decisão do TSE deve garantir maior representatividade nos parlamentos:

– Acompanhamos com lupa esse debate, esse tema é algo para nós muito significativo porque vai garantir a ampliação da representatividade. Uma parlamentar como a Benedita da Silva (PT-RJ) provocando esse debate só reforça que a representatividade importa e que nós podemos disputar em condições de igualdade. Porque essa é uma pauta de todo o país. Eu sou a única negra em Natal, mas na maioria dos estados também é assim”, destaca.

Divaneide comemora e compara a decisão do TSE válida para 2022 com a obrigatoriedade do repasse de 30% para as candidaturas femininas.

– O processo, apesar de lento, já representa para as mulheres um avanço. Uma mudança de postura, com isso mais mulheres estão percebendo que poderiam se candidatar, tem melhores condições pra isso. Não é fácil conciliar a vida doméstica com o trabalho. E é uma mudança que nós, no PT, já iniciamos com o projeto Elas por Elas, garantindo formação. Lançamos esse projeto dm 2018 e hoje já é uma realidade e tem ajudado a nos fortalecer. No Rio Grande do Norte o Elas por Elas ajudou na capacitação das mulheres, contribuiu com o planejamento da campanha e aumento o nível de debate”, disse.

Além da questão financeira, a parlamentar que tentará a reeleição em 2020 acredita que a decisão do TSE estimula o envolvimento da população negra do debate político. O próprio Instituto Alzira reconheceu o avanço já notado em 2018 embora a subrepresentação seja latente.

Divaneide não acredita que haverá uma disputa por mais espaço entre candidatos negros e candidatas negras. A pauta antirracista, segundo ela, vai unir o candidatos.

– Vai ser bom pra todo povo negro. A pauta antirracista é de todo mundo, negro e negra. Nós mulheres negras estamos fazendo um debate para aprimorar o gênero de classe e raça. Vamos fazer um Elas por Elas com recorte de mulheres negras. Essas interfaces não são para colocar um grupo em superioridade, mas para mostrar que aquele grupo representa mais de uma identidade”,

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