Veja abaixo a íntegra da carta:
CARTA ABERTA LBL NACIONAL
A Liga Brasileira de Lésbicas – LBL é uma articulação política de lésbicas e mulheres bissexuais pela garantia efetiva da livre orientação e expressão afetivosexual. Tendo como princípios: o pluralismo, a autonomia, autodeterminação e liberdade, a democracia, a solidariedade; a transparência; a horizontalidade; a defesa do Estado laico; a defesa dos princípios feministas e suas bandeiras; a visibilidade lésbica e bissexual; a luta antirracista e anticapitalista e de combate às mais diversas formas de LGBTfobia – pautas e princípios esses que o presidente eleito Jair Bolsonaro, seus ministérios e respectivos representantes não apenas se opõem como publicamente propõem extermínio e cerceamento.
Somos uma rede que em seus 15 anos de existência atuou com posicionamentos independentes, de autonomia política e que nunca se esquivou do debate ético, crítico e coerente em prol da coletividade e da democracia. Desta forma, não acreditamos ser possível aliança com aqueles que pretendem nos exterminar.
Acreditamos que o controle social tem como função evitar a barganha das pautas inegociáveis de uma sociedade democrática, não sendo possível barganhar direitos LGBTQI+ com um governo que expressa publicamente seu desejo em eliminar a oposição e criminalizar os movimentos sociais. Consideramos impossível ter diálogo enquanto as populações indígenas, comunidades de terreiros, quilombolas e outras organizações e movimentos estão sendo ainda mais dizimadas. Diante do genocídio da juventude negra e do cruel encarceramento em massa que tem cor e classe, não acreditamos ser possível participar de espaços que fomentam a violência estatal e que legitimam as ações da polícia que mata diariamente em nome da segurança pública.
É irreconciliável negociar garantia de direitos e enfrentamentos a violências específicas de nossa população, como por exemplo, o estupro corretivo, com um Ministério que declara como meta resgatar o “Bolsa Estupro”, um projeto de lei que fere profundamente a dignidade de mulheres, lésbicas e homens trans, visto que é uma vivência que também perpassa nossos corpos. Assim como não é possível conciliar diálogo com defensores da existência da chamada “ideologia de gênero”, e o cerceamento dos debates avançados e dos direitos duramente conquistados pelos movimentos sociais. Sabemos que as instituições democráticas estão fragilizadas e não há garantia de respeito aos princípios democráticos e a laicidade do Estado.
Acima de tudo, não acreditamos em articulação com governos que apoiaram o golpe institucional misógino, que pretende instaurar uma agenda neoliberal de privatizações destruindo mais de 16 anos de avanços na luta contra a pobreza. A LBL se mantém como oposição política a este governo e faremos o controle social sem nos afastar de todas as lutas feministas, antirracistas e antifascistas, e não coadunamos com a cooptação dos movimentos e de todas as lutas emancipatórias e libertárias. Um governo que propõe extermínio e cerceamento de direitos não “pensa diferente”, mas nos violenta.
Não nos contentamos apenas com o fato de não retroceder, queremos AVANÇAR!
Indivíduos do movimento que visam a autopromoção e a busca por ocupação de espaços aliados a um governo fascista, racista e misógino não nos representam e nem legitimam as nossas pautas e buscas por políticas públicas.
Lésbicas e mulheres bissexuais querem existir com dignidade!
Liga Brasileira de Lésbicas – LBL – 2018