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Florianópolis

Eleições para reitor buscam esquecimento do suicídio de Cancellier

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Em debate promovido pelo Floripa Contra o Estado de Exceção, candidatos serão levados a debater com a comunidade sobre o assunto que virou tabu na UFSC: o suicídio do reitor. Fotos: UFSC à esquerda

Depois de sofrer os ataques da Polícia Federal e assistir aos abusos de poder e difamação moral que levaram ao suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, a Universidade Federal de Santa Catarina se prepara para eleger um novo dirigente no dia 28 de março. Um debate com os três candidatos será realizado nesta terça-feira, 20/3, a partir das 18h30, no Hall da Reitoria, tentando romper com o silêncio em torno da questão que está por trás da tragédia imposta pelos aparatos de repressão de Michel Temer à UFSC: “A luta pela autonomia da universidade no cenário de Estado de Exceção: em defesa dos direitos sociais e da soberania nacional”.

Entre os três candidatos que participam do debate, predominou durante toda a campanha o silêncio e o desconforto para falar de Cancellier (o Cau) numa eleição que só existe porque ele foi eliminado no auge de sua gestão. Ou como disse o desembargador Lédio Rosa de Andrade, foi “assassinado moralmente e politicamente pelo Estado de Exceção”. É para vencer esse pacto do silêncio que o Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção costurou o debate desta terça-feira, que será dividido em três blocos, com regras aprovados por consenso pelos representantes das três candidaturas. Sob a mediação do psicólogo Marcos Ferreira, apresentador e âncora da TV Floripa e professor aposentado da UFSC, a discussão deve durar mais de duas horas. A apresentação do coletivo inicia com uma associação entre o assassinato político e moral do reitor, que continuou a ser caluniado e linchado mesmo depois de morto, ainda no velório, e a chacina da vereadora negra Marielle Franco, que foi abatida a tiros com munição adquirida pela PF. Ambos vítimas de violento processo de difamação pública disseminado e encorajado por autoridades judiciais, parlamentares e policiais.

GALERIA DOS CANDIDATOS A SUCESSOR DO REITOR SUICIDADO

Fotos: Sintufsc

Marcada para o dia 28 de março, a disputa terá segundo turno no dia 11 de abril, caso os votos do primeiro colocado não for superior à soma percentual dos votos de todos os outros. Eis os candidatos e suas posições relativas à tragédia: Edson de Pieri (número 57), do Curso de Engenharia Mecânica, que tem o perfil mais conservador e ostenta como um dos motes de campanha o combate à corrupção na UFSC, faz coro em seus comentários ao processo difamatório do reitor e dos Cursos de Educação à Distância. Sua candidatura é apoiada por setores mais à direita, que defendem a privatização do ensino e também recebe o apoio “por baixo dos panos” de lideranças ligadas à ex-reitora Roselane Neckel, que não lançou candidatura.

Crítico contundente dos ataques da Polícia Federal e da violação da autonomia universitária, o professor e diretor do Centro Socioeconômico da UFSC, o administrador Irineu Manoel de Souza (número 80), representa a candidatura mais à esquerda. No entanto, sofre constrangimento de alguns setores do PSTU e do PT ligados à ex-reitora, que se opõem com veemência à referência do nome de Cancellier como símbolo de uma vítima do Estado de Exceção instaurado pelo governo Temer em consideração ao seu perfil conciliador e a suas “alianças com a direita golpista”.

Por fim, o professor Ubaldo César Balthazar (número 52), ex-diretor do Centro de Ciências Jurídicas, amigo e professor do reitor, que representa a continuidade da administração de centro, também sofre constrangimento da direita e dessa esquerda mais fisiologista. Sempre que homenageia a memória do reitor, ambos os lados o acusam de fazer apelo emocional e de tentar tirar proveito da tragédia.

Cerimônia de homenagem póstuma ao reitor Cancellier. Foto: Henrique Almeida/Agecom

De modo que o gesto político do suicídio tende a perder o seu sentido na medida em que Cau é silenciado pelos agentes de exceção e pelos seus próprios pares. Diante de tantos constrangimentos gerados por interesses político-eleitorais e da reação quase nula da comunidade universitária no episódio da prisão abusiva do reitor e de outros seis professores, em 14 de setembro, pouco ou nenhum espaço sobra para reivindicar justiça e debater com o conjunto de professores, alunos e servidores o sentido da violência que a UFSC e outras universidades sofreram.

Passados cinco meses do suicídio, quatro dos seis professores presos junto com o reitor Cancellier por acusação de desvios de verbas do Programa de Educação a Distância continuam banidos da universidade, sem que a “Operação Ouvidos Moucos” tenha apresentado até agora conclusão ou prova contra eles. Apesar de o Tribunal de Contas da União ter dado parecer favorável ao retorno dos professores, alegando que não há motivos para mantê-los afastados da sala de aula e proibidos de circular no campus, o TRF-4 negou em decisão preliminar o pedido de retorno impetrado pelo professor Eduardo Lobo.

Equipe da Corregedoria Geral da União está na UFSC colhendo depoimentos para investigação do Pivô da prisão, difamação e banimento do reitor Cancellier, Rodolfo Hickel do Prado, acusado de truculência, abuso de autoridade, assédio moral e sexual por estudantes, professores e servidores

TESTEMUNHAS PRESTAM DEPOIMENTO EM INVESTIGAÇÃO DO CORREGEDOR

Apesar da impunidade das autoridades abusivas em torno da famigerada operação Ouvidos Moucos, finalmente o ex-corregedor geral da universidade, Rodolfo Hickel do Prado, está sendo investigado pela Corregedoria Geral da União. Pivô de todo o processo de invasão federal da UFSC e de difamação do reitor, Hickel está sendo investigado por diversas denúncias de desvio de conduta, assédio moral, assédio sexual, truculência, abuso de poder e autoridade excessiva. Apesar de ter sido demitido do cargo, mas ainda estar ligado à Corregedoria da UFSC, ele não comparece ao trabalho desde o dia 8/2, quando foi exonerado do cargo de corregedor-chefe pelo reitor pró-tempore, Ubaldo Balthazar.  Mais de duas semanas depois os outros dois corregedores souberam que ele havia prorrogado a licença de saúde.

Diversos professores, estudantes e servidores estão sendo ouvidos pela equipe da CGU desde o dia 5 de março. Já deram depoimento cerca de dez alunos que o acusaram de perseguição e intimidação pessoal com base em comentários de Facebook, assim como o professor do Curso de Administração Gerson Rizzatti, que o processa por tratamento agressivo e persecutório.  No dia 5 de março, a servidora da Coordenação do Curso de Administração, Ana Peres, depôs no inquérito como testemunha do professor Rizzatti na condição de ex-subordinada de Hickel do Prado na corregedoria interna da UFSC. Ela  já havia denunciado Hickel ao gabinete da reitoria por assédio moral antes da morte de Cancellier. Numa assembleia de servidores realizada no Restaurante Universitário logo depois do suicídio, relatou as agressões e intimidações sofridas quando se encontrava em licença de saúde por fratura do pé. Integrante da equipe da ex-reitora Roselane Neckel, antecessora e adversária política de Cau e apoiadora da candidatura de oposição de Irineu Manoel de Souza, Ana Peres é considerada uma testemunha-chave e insuspeitável contra Rodolfo pela distância política que mantinha da administração que ele destruiu.

Se a delegada Érika Mialik Marena foi afastada do foco da operação e “promovida” com o cargo de superintendente Regional da PF do Sergipe depois de um lobby corporativista dos colegas delegados, as informações indicam que Hickel não retornará à UFSC . “Os corregedores responsáveis pelo inquérito nos garantiram que ele não pisa mais aqui pelo volume e gravidade dos depoimentos contra ele”, informou uma fonte da reitoria.  Hickel é responsável pelas denúncias contra Cancellier à delegada, que por sua vez embasaram a ordem de prisão do reitor pela juíza federal Janaína Cassol. A incriminação do reitor por tentativa de interdição do trabalho da polícia, baseada em calúnias e intrigas pessoais não comprovadas, deu sustentação a todos os desmandos e violação de direitos jurídicos  e constitucionais praticados pela PF, Justiça Federal e Ministério Público Federal que induziram o reitor ao suicídio.

As acusações foram tomadas à risca, sem considerar a ficha corrida do corregedor, com vários antecedentes criminais por calúnia e difamação, conforme os Jornalistas Livres apuraram com exclusividade (https://jornalistaslivres.org/2017/10/exclusivo-corregedor-que-denunciou-reitor-a-pf-ja-foi-condenado-por-calunia-e-difamacao/). No caso mais grave, Hickel produziu invasão a domicílio pelo BOPE e PM mediante falso testemunho de ameaça de morte à mão armada contra o professor Flávio Cozzatti. Também foi processado e condenado com trânsito em julgado por calúnia e difamação e abuso de autoridade pelo procurador Ricardo Fernando da Silva, já falecido. Além disso, foi denunciado pelo MPF por crime de trânsito com carteiraço e ameaça à vida da coletividade e respondeu processo por espancamento e tortura psicológica contra duas professoras universitárias, dos quais foi absolvido por falta de provas.

DEBATE É TENTATIVA DE ROMPER O SILENCIAMENTO DO REITOR

Durante pelo menos duas horas, os candidatos devem debater as relações da UFSC com a sociedade, os movimentos comunitários e as frentes de lutas na Grande Florianópolis e no Estado de Santa Catarina. “O objetivo maior das entidades e movimentos sociais promotores é debater e refletir sobre o papel da UFSC no contexto das lutas em curso, em defesa dos direitos sociais, da soberania nacional, do Estado Democrático de Direito e muito especialmente em defesa da Autonomia e pelo fortalecimento das universidades públicas do país”, explica um dos integrantes do coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção, Samuel Lima.

Formado no dia seguinte ao suicídio, o Coletivo Floripa contra o Estado de Exceção reúne dezenas de estudantes, técnicos-administrativos, docentes, profissionais e lideranças de movimentos sociais egressos da UFSC, na luta solitária pela defesa da autonomia da universidade e contra o Estado de Exceção, que culminou com a morte do reitor. Enfrenta a oposição da direita da UFSC, que faz o discurso despolitizado do combate à corrupção e desconsidera a denúncia aos abusos de autoridade cometidos contra o reitor e contra a UFSC. Mas sua luta também sofre boicote por parte da esquerda ligada à gestão anterior, que faz oposição à defesa de Cancellier por suas aproximações com a direita. Na apresentação do coletivo, o arquiteto e militante social Loureci Ribeiro, vai associar a morte de Cancellier a outros assassinatos políticos e fazer alusão a outras vítimas do Estado de exceção, como a militante negra Marielle Franco, o ex-presidente Lula e sua esposa Marisa.

Essa oposição interna não encontra, contudo, guarida nos quadros de direção do PT em nível local e nacional. A senadora Regina Souza, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, a ex-senadora Ideli Salvatti, os deputados federais Arlindo Chinaglia e Pedro Uczai, os deputados estaduais Dirceu Dresch, Padre Pedro Baldissera, Paula de Lima e Luciane Carminatti e o vereador Lino Peres, entre muitos outros, já manifestaram rigorosa solidariedade e apoio à luta por justiça para o reitor. Ao participar no dia 12/3 da convenção estadual ampliada do partido para preparação da Caravana Lula em Florianópolis, o vice-presidente do PT nacional, Márcio Macedo, respondeu com firmeza a um filiado que alegava as posições políticas conciliadoras do reitor morto para desmerecer a sua defesa. “Não importa o que o reitor foi ou deixou de ser ou que posição política assumiu. Nós devemos denunciar esse crime. Ele foi assassinado pelo Estado de Exceção e isso é tudo”, afirmou durante o evento na sede da Federação dos Comerciários de Santa Catarina.

DINÂMICA DO DEBATE

BLOCO I

[Abertura: Coletivo Floripa contra o Estado de Exceção]
– Homenagem à Marielle Franco [5 minutos]
– Composição da Mesa (Mediador e Candidatos)
– Leitura e Apresentação da Carta das Entidades e Movimentos Sociais – Síntese Geral das Questões Norteadoras do Debate (Padre. Vilson Groh) – 10 minutos
– Fala dos Candidatos [5 minutos para cada]: Apresentação e Comentários sobre as questões apontadas na Carta das Entidades e Movimentos Sociais
[Tempo Estimado: 35 minutos]

BLOCO II
[Perguntas por escrito do público: representantes de entidades, movimentos e público em geral] – Serão lidas e/ou apresentadas oralmente em 4 blocos de 3 questões e respondidas, em ordem alternada por todos os candidatos (seguindo sempre o sorteio original – Fala de Apresentação), que terão 5min para responder em cada bloco, a saber:

– Questões apresentadas verbalmente por entidades promotoras do evento (MST/SC, UFECO e Fórum de Luta em Defesa de Direitos)
– Perguntas por escrito que serão lidas pelo moderador.
[Tempo Estimado: 1h20min]

BLOCO III (Considerações Finais dos Candidatos)
– Segue a ordem das falas

(Cada candidato terá 5 minutos para suas considerações finais).
[Tempo Estimado: 20 minutos]

#EleNão

PF arromba fábricas de fake news e expõe cúmplices de Bolsonaro

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Extrema direita dissemina fake news contra membros do STF

A Polícia Federal está cumprindo nesta manhã de quarta-feira (27) 29 mandados de busca e apreensão no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura produção de fake news e de ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal. Entre os alvos estão o ex-deputado federal Roberto Jefferson, o empresário Luciano Hang, o deputado e os blogueiro Allan dos Santos e Winston Lima. Todos são parceiros e amigões do peito do presidente Jair Bolsonaro.

As ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, e estão sendo executadas no Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina. A investigação corre em sigilo.

 

Alguns dos alvos dos mandados contra as fake news são:

  • Luciano Hang, da Havan (SC)
  • Roberto Jefferson, ex-deputado federal (RJ), envolvido em todas as falcatruas dos últimos 30 anos
  • Allan dos Santos, do Terça Livre (DF)
  • Sara Winter, pró-armas (DF)
  • Winston Lima, militar reformado, Movimento Brasil (DF)
  • Edgard Corona, CEO das redes de academias Bio Ritmo e Smart Fit (SP)
  • Edson Pires Salomão, assessor do deputado Douglas Garcia, do PSL (SP)
  • Enzo Leonardo Suzi (SP)
  • Marcos Belizzia (SP)
  • Otavio Fakhouri, investidor em imóveis (SP)
  • Rafael Moreno (SP)
  • Rodrigo Barbosa Ribeiro (SP)

Deputados que serão ouvidos na apuração contra fake news

O ministro Moraes determinou ainda que deputados deverão ser ouvidos no inquérito nos próximos dias. Eles não foram alvos de mandados nesta quarta. São eles:

Deputados federais

  • Bia Kicis (PSL-DF)
  • Carla Zambelli (PSL-SP)
  • Daniel Lúcio (PSL-RJ)
  • Filipe Barros (PSL-PR)
  • Junio Amaral (PSL-MG)
  • Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL-SP)

Deputados estaduais

  • Douglas Garcia (PSL-SP)
  • Gil Diniz, o “Carteiro Reaça” (PSL-SP)

As buscas com relação a Jefferson e Hang foram realizadas nas casas deles, no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, respectivamente.

As buscas sobre Allan dos Santos ocorreram na casa dele, em uma área nobre de Brasília.

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Entrevista

Zé Dirceu percorre Brasil para lançar memórias e estratégias de resistência

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Entrevista exclusiva a Nícolas Horácio/EstopimColetivo

“O povo brasileiro não é como Bolsonaro. Dos 55% de votos que ele teve, seguramente, o núcleo duro dele é de 15 a 20 milhões de votos. Esse é o eleitorado que abraça as teses de violência pra resolver o problema da segurança, de preconceito, de racismo, de desqualificação da mulher, de desprezo pela democracia, pela liberdade de expressão, a visão pró norte-americana e esse abraço de urso ao neoliberalismo de mercado, que é, na verdade, entregar o país ao capital financeiro, na nossa opinião, evidentemente. Acho que nós temos que fazer essa disputa também com o eleitorado dele. O eleitorado não vai ficar com ele” (José Dirceu)

Ele esteve no centro do poder no governo Lula e foi cogitado para a sucessão presidencial depois de chefiar a Casa Civil, um dos mais estratégicos ministérios do país. Condenado a mais de 30 anos de prisão, teve a trajetória política interrompida e, no estilo Graciliano Ramos, escreveu um livro de memórias no período do cárcere. Fundador do PT, ex-militante do PCB e da luta armada, José Dirceu responde os processos em liberdade como um dos mais polêmicos personagens da política brasileira na atualidade. Por fora do tabuleiro político, continua atuando como um importante intelectual para a militância do PT, através de sua força e influência.

Em Florianópolis desde o dia 15 de novembro, foi recepcionado pela amiga e ex-ministra Ideli Salvatti, conversou com lideranças de outros partidos da esquerda, como PSOL e PCdoB, com militantes da juventude do PT e dos partidos aliados. Na segunda-feira (19/11), realizou sessão de autógrafos do livro “Zé Dirceu – Memórias Volume 1”, no qual narra momentos importantes da história brasileira e deixa seu ponto de vista sobre a conquista do poder pelo Partido dos Trabalhadores, o legado dos seus dois governos e a análise do processo intervencionista que culminou com a violação da democracia.

Em entrevista ao Estopim Coletivo, de Florianópolis, Dirceu conta detalhes do livro que será lançado em pelo menos 25 capitais brasileiras e indica como o PT, agora na oposição, deve se comportar nos próximos anos.

A Entrevista

No lançamento do seu livro em Brasília, você disse que o PT está em uma defensiva e precisa de estratégia política. Qual deve ser essa estratégia? E qual a sua participação nela?

Zé Dirceu: Minha participação vai ser como filiado. Eu não pretendo, nem devo voltar para a direção do PT e muito menos participar diretamente do partido.

Eu quero andar pelo Brasil, lançar meu livro, fazer palestras e participar de seminários. Quero estar com os movimentos, com a CUT, o MST, os partidos aliados. Eu tenho diálogo com PCdoB, com PSB e quero estar com a juventude. Eu tenho priorizado esses três eixos.

Quando eu digo que estamos em uma defensiva, não é só o PT.

Essa coalizão que elegeu Bolsonaro não é só uma coalizão religiosa, com os setores militares e partidos. Ela tem uma cabeça que é o capital financeiro internacional e tem uma política que é pró Estados Unidos.

É uma coalizão que pretende fazer grandes mudanças no Brasil, basta olhar a pauta dele. Começa pela política externa, que ele vai virar totalmente, não só a nossa política externa, como a dos tucanos também. Por isso que pelo menos alguns tucanos estão contra.

Nós temos força, mas nós viemos sofrendo derrotas desde 2013.

Você se refere às grandes manifestações de 2013?

Zé Dirceu: Sim, porque eram manifestações contra o aumento das tarifas em São Paulo e foram capturadas, com papel muito forte da Rede Globo e dos setores que financiaram aquela mobilização, para um movimento contra o governo da Dilma, o PT e que com a Lava Jato fez uma escalada de criminalização do PT e do próprio Lula, levando ao impeachment da Dilma e a prisão do Lula, que culmina com a eleição do Bolsonaro.

Nesse sentido, nós temos que reconhecer a derrota, ao mesmo conhecer as nossas forças e a necessidade de repensar o que vamos fazer nos próximos anos.

Temos algumas tarefas óbvias: a liberdade do Lula; a oposição a pautas como Escola sem Partido que, na verdade, é escola com partido, o deles.

Por outro lado, o governo vai anunciar uma série de medidas, nós temos que apontar alternativas. Não podemos apenas ficar contra. Se ele vai fazer uma Reforma Tributária, temos que apresentar nossa visão e para a Reforma na Previdência, a mesma coisa.

Você vem articulando essas conversas nos estados?

Zé Dirceu: Não. Eu não articulo. Eu Tenho relações, porque desde 1965 eu sou militante político e eu participei dos principais eventos do país a partir de 1979.

Participei da clandestinidade, da luta armada, participei da geração de 1968, fui do PCB, depois, fui um dos fundadores do PT, então tenho muitas relações.

Procuro, sou procurado e converso, exponho a minha opinião e tentando ajudar nesse sentido, nessa linha.

Mas exerce influência, certo?

Zé Dirceu: É. Influência eu exerço, mas não significa que eu vá participar de direções do PT, disputar mandatos ou participar de governos. Eu nem posso, porque estou inelegível.

Aqui em Santa Catarina você fez algumas conversas com militantes de outros partidos. Sentiu possibilidade de unificação da esquerda aqui? Há caminhos pra isso?

Lançamento e palavra de resistência em Florianópolis

Zé Dirceu: Eu acredito que há sim, na base. Temos que começar pelas lutas concretas em cada cidade, em cada estado, pelas agendas que estão colocadas.

Acho que a Reforma da Previdência é uma questão fundamental, a Escola sem Partido é outra, a defesa da liberdade de manifestação, esses ataques ao MST, ao MTST, ao João Pedro Stédile e ao Guilherme Boulos, nós não podemos aceitar.

A agenda da anulação da condenação do Lula é importante e nós devemos construir uma agenda a partir dos sindicatos e da juventude, da luta das mulheres.

Nós devemos construir uma agenda de oposição, porque temos legitimidade e fomos para oposição por decisão do eleitorado. Nós temos 47 milhões de brasileiros e brasileiras para representar e, no caso do PT, um mínimo de 30 milhões, que foi a votação do Haddad no 1° turno em aliança com PCdoB e com o PROS.

Então, nós temos obrigação de exercer essa oposição, essa fiscalização, apresentando propostas e alternativas e temos que resolver nossos problemas, como a debilidade na área das redes.

Quais redes? As redes sociais?

Zé Dirceu: Isso. Elas são importantes desde 2008, na eleição de Obama, depois na eleição do Trump, que gerou uma crise internacional, e quando chega a eleição aqui nós não estamos preparados?! Alguma coisa tá errada.

Mesma coisa a nossa presença nos bairros, na luta do dia a dia do povo trabalhador no bairro. Temos que analisar e tomar medidas com relação a isso.

Você acha que faltou ser mais presente nas redes sociais para ganhar o público?

Zé Dirceu: Sem dúvida nenhuma. A rede social é um potencializador e quando você tá ausente também lá no bairro, o potencial aumenta, porque você não tem como contraditar e responder. Se você não responde nas redes, não responde nas casas, na igreja, na lotérica, no açougue, no cabeleireiro, no supermercado.

Depois que nós saímos na rua com o Vira Voto, nós crescemos muito. Porque é sempre importante o contato pessoal, o diálogo, o olho no olho, o debate, a reunião, a experiência de vida em comum. Eu aposto muito também na juventude nesse sentido. Acho que ela pode e dever ter um papel importante.

Você disse recentemente que o PT perdeu a eleição ideologicamente. O povo brasileiro é como o Bolsonaro?

Zé Dirceu: O povo, não é como Bolsonaro. Dos 55% de votos que ele teve, seguramente, o núcleo duro dele é 15 a 20 milhões de votos. Esse é o eleitorado que abraça as teses de violência pra resolver o problema da segurança, de preconceito, de racismo, de desqualificação da mulher, de desprezo pela democracia, pela liberdade de expressão, a visão pró norte-americana e esse abraço de urso ao neoliberalismo de mercado, que é, na verdade, entregar o país ao capital financeiro, na nossa opinião, evidentemente.

Acho que nós temos que fazer essa disputa também com o eleitorado dele. O eleitorado não vai ficar com ele. Essa questão dos médicos cubanos, que é uma coisa totalmente estúpida que ele fez, porque os médicos nunca se envolveram em política no Brasil, nunca participaram de nenhuma atividade que não fosse trabalho médico, ele não pensou nos 30 milhões de brasileiros, brasileiras, as famílias, as mães, os idosos, as crianças que são atendidos por esses médicos.

Essa história de que os médicos cubanos foram nomeados no lugar dos brasileiros, todo mundo sabe que não é verdade, porque os médicos não querem ir para essas cidades.

Dois terços [dos recursos] vão para o governo, mas os filhos deles estudam em escolas públicas até o ensino universitário. Eles têm hospitais públicos fantásticos. Em Cuba tem atendimento, o país não tem violência. O país tem segurança e um bem estar básico.

As dificuldades e a escassez ocorrem em parte por causa do bloqueio e por uma série de questões que os cubanos estão procurando resolver agora.

Poucos sabem que os cubanos estão fazendo uma Constituinte, agora, que se discute em todos os bairros, fábricas, escritórios, lojas, no campo. Milhões e milhões de cubanos estão discutindo a Constituição do país. Poucos sabem disso.

O que o Brasil vai descobrir no seu livro? O que há de novo nele, por exemplo, em relação ao seu processo?

Zé Dirceu: Eu procuro contar a história do Brasil, contando a minha história e da minha geração, que lutou contra a ditadura e foi pra clandestinidade, participou de ações armadas de resistência.

Depois as vitórias do MDB, o que foram os governos militares, particularmente, o governo Geisel e, depois, o que foi o surgimento da luta contra a carestia, das pastorais, das comunidades eclesiásticas de base, do sindicalismo autêntico, do PT, da CUT.

O livro passa pelas Diretas, o Collor e o impeachment dele e conta a trajetória das eleições até o Lula ser presidente. Eu procuro sempre mostrar como o Brasil era no cinema, no teatro, na música, como eram os meios de comunicação.

Existe algum fato na sua biografia que ninguém sabia ainda?

Zé Dirceu: Tem fatos que eu relato pela primeira vez, como o dia em que eu pedi demissão e eu conto como foi a reunião. Chorei naquele momento e explico o que significava aquilo para mim. Foi uma reunião com Lula feita para concretizar minha demissão.

O depoimento do Carlos Cachoeira, que mostra toda a operação Valdomiro Diniz, CPI dos correios, mensalão, hotel Naoum, foram tudo escutas telefônicas dirigidas contra o PT negociadas com a direção da Veja, o Policarpo Jr. com o Cachoeira, com os Arapongas, com escutas ilegais para montar fatos políticos negativos pra fazer matérias contra os adversários deles.

Veja passou impune. A CPI não teve condições de convocar o Roberto Civita. O Policarpo Jr. nunca respondeu perante a justiça sobre isso.

Contando o que vivi, busco contar a história do Brasil, tentando tirar lições disso. Conto, por exemplo, como foi possível lutar e derrotar uma ditadura e de onde surgiu a luta.

Nós vamos enfrentar esse problema agora. Como lutar? De que forma lutar? Com quem lutar? Eu procuro, na verdade, transmitir para as novas gerações a minha experiência, com erros, acertos e a experiência do PT, da esquerda, inclusive recontando a experiência do Brasil com relação à esquerda, o papel do PCB.

Os tenentes, qual foi o papel dos tenentes? O que foram as Forças Armadas da República até a Constituição de 1988? Elas sempre foram uma força determinante na disputa política brasileira.

A revolução de 1930 foi uma revolução militar e civil. Toda a luta dos tenentes, a Coluna Prestes também é, 1935 é, 1932 é, 1937 é, 1946 é.

Em 1950 e 1955 eles tentam dar o golpe. Em 1961, eles tentam dar o golpe e a resistência popular armada impede e, em 1964 eles dão, governam o país até 1985 e voltam agora a exercer um papel moderador no país.

Transmissão em Porto Alegre (SC): https://www.facebook.com/blogdozedirceu/videos/335362210574885

Transmissão da palestra de lançamento do livro em Florianópolis (SC)

https://www.facebook.com/PTdeSantaCatarina/videos/333184410568854/

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Fake News

FAKE NEWS CRIMINOSA: Bolsonaristas ameaçam vida de jovens inocentes nas redes sociais

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Fake News produzida e compartilhada pelo bolsonarista Alfredo José Assumpção alcançou 46 mil compartilhamentos

Dois estudantes de Florianópolis, sem qualquer relação com o ataque a Bolsonaro (PSL), inclusive uma adolescente de 17 anos, estão sendo expostos à violência nas redes sociais e incriminados gratuitamente na agressão. Eles sofrem ameaças de morte e linchamento moral com insultos de baixíssimo calão promovidos por seguidores do político. Não há limites de fraude nem de violação da lei para os bolsonaristas tentarem forjar na marra um vínculo entre o atentado sofrido pelo candidato e o Partido dos Trabalhadores. Homens e mulheres eleitores do candidato passaram o feriadão inundando a internet com Fake News criminosas que colocam em grande risco a vida e a integridade dos dois jovens, cuja inocência é comprovada pela comparação física absurda com o criminoso e sua falsa comparsa e pela distância de 1,5 mil KM em que se encontravam do local do crime, ocorrido no dia 6/9, em Juiz de Fora (MG). Ambos já estão sendo assessorados por advogados e vão processar os difamadores por crime de calúnia e difamação, além de exposição de adolescentes à situação humilhante, perigosa e vexatória.

O primeiro post incriminando a adolescente como comparsa de Adélio foi produzido e postado pelo bolsonarista Alfredo José Assumpção, às 12h7 do dia 7 de setembro, em sua página no Facebook, que alcançou 46 mil compartilhamentos. O enunciado não deixava dúvidas: “Essa é a mulher que carregou a faca na mochila e que passou a um segundo e a que a fez chegar às mãos do terceiro bandido que esfaqueou Bolsonaro (…)”. Natural do Rio de Janeiro e morador de São Paulo, Alfredo é sócio-fundador da empresa Fesap Group. Segundo seu currículo no Face, estudou Desenvolvimento de Recursos Humanos na Fundação Getúlio Vargas, estudou na Faculdade de Economia e Finanças do Rio de Janeiro e “andou” na escola Western University State of Colorado Denver, nos Estados Unidos. Sua página é uma fábrica de Fake News grosseiras, como a fotomontagem de Lula em comício, ao lado da imagem do agressor de Bolsonaro, toscamente recortada e colada em cima de um eleitor negro do ex-presidente. Ele também produziu postagens falsas incriminando a jovem Clara Ribeiro, de Juiz de Fora, apontada por essa rede de caluniadores como “o cérebro do atentado”, vítima de incontáveis ameaças de morte e xingamentos. Consta ainda de sua página a foto da presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, em selfie com um rapaz falsamente identificado como o agressor, produzida no dia 7 de setembro, às 23h15, por MaryTheresa Barbosa, outra contumaz caluniadora.

Encorajadas por figuras públicas de extrema-direita, como o líder do MBL Kim Kataguiri e pela jornalista Joice Hasselmann, filiada ao PSL, ex-Revista Veja e hoje radialista da Jovem Pan em São Paulo, as fotos são curtidas, endossadas e compartilhadas cegamente por muitos milhares de homens e mulheres seguidores do líder fascista. Todas vêm acompanhadas de pesados xingamento, palavrões, ofensas morais, promessas e ameaças de morte por linchamento. Muito nervosos, principalmente a menina, os dois jovenzinhos, que estudam em escolas da Capital, se identificaram para os Jornalistas Livres, mas sua identidade será protegida até que eles se sintam seguros e formalizem ação contra os responsáveis. A advogada de um deles, Rosângela de Souza, do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores, estuda solicitar proteção policial pelas ameaças de linchamento sofridas pelos dois. Somente um dos posts tinha cerca de 50 mil compartilhamentos pouco antes desta publicação.

Em seu Twitter, Kataguiri e Joice publicaram as fotos da secundarista, de 17 anos, ao lado do estudante universitário, de 19, que faz parte da Juventude do PT, vestidos de camiseta vermelha com a estampa Lula Livre e portando uma bandeira lilás com o símbolo da União Nacional dos Estudantes, que os boateiros espalharam como se fosse do partido. A foto, postada na página do agressor, foi tirada numa manifestação ocorrida no Largo da Catedral, em Florianópolis, em junho passado. Trata-se, segundo o universitário, de um protesto convocado pela CUT durante a greve dos caminhoneiros contra o aumento do preço da gasolina e em defesa da Petrobrás. Acima da foto, Kim e Joice publicam um texto muito parecido, ironizando o fato de que a Globo News, ao reproduzir os argumentos da Polícia Federal, afirmou que o acusado não tinha partido nem ideologia definida, já que defendia posições radicalmente díspares e seus comentários políticos eram contraditórios e confusos. Em entrevista por áudio, o jovem deu o seguinte depoimento:

Estudante – Eu não lembro de ter visto esse cara, nem de ele ter batido a foto; eu não posaria para um desconhecido. Lembro de ter me deixado fotografar por alguém conhecido do movimento que deve ter publicado em sua página. O Adélio Bispo Oliveira pegou a foto e postou no seu perfil do Facebook.
Jornalistas Livres – Você acha que houve aproveitamento político da imagem?
Estudante – Como a única coisa que liga o acusado ao PT e ao Lula é essa foto com a nossa camiseta, começaram a espalhar a imagem dizendo que eu era o Adélio.
Jornalistas Livres – Você ficou preocupado?
Estudante – Num primeiro momento, eu fiquei muito preocupado, mas ao mesmo tempo ele já estava preso; então os riscos de linchamento nas ruas de uma pessoa presa não existiria. O problema foi no dia seguinte à agressão, quando começaram a divulgar a foto ao lado da minha colega e a afirmar que ela era a comparsa do Adélio que passou a faca para ele. Na própria quinta-feira, fiz um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia contra a calúnia e comprovando que eu estava aqui em Florianópolis no dia do crime, ocorrido em Minas Gerais.

Fake News que identifica eleitor da candidata com o agressor de Bolsonaro, apesar da gritante diferença entre ambos

O mais revelador da fúria coletiva da rede de bolsonaristas é que o estudante, 20 anos mais jovem que Adélio, não guarda a menor semelhança com o acusado, que tem 40 anos, é bem mais moreno, estampa muitas rugas na testa e em torno da boca. Isso não bastou para impedir a horda insana de incriminar a secundarista, que foi identificada, através de flechas amarelas à imagem de uma mulher de óculos escuros visivelmente mais gorda e mais velha, apontada como suspeita pelos próprios bolsonaristas, de ter alcançado a faca para o agressor golpear o líder fascista. A única semelhança entre as duas é o cabelo liso e negro. Estarrecedor que nos comentários, alguns dos internautas questionam a veracidade dos posts, uma jovem avisa que está printando a ameaça de morte e vai denunciar, mas raros param para ponderar ou se dar conta de que as associações são absurdas. Uma pessoa indaga por que a esquerda não precisa de provas, só a direita e afirma que as provas já estão dadas. Os bolsonaristas xingam os comunistas, esquerdopatas, petralhas, pedem a prisão preventiva dos garotos, prisão perpétua, expulsão do país, atacam a moral da menina, divulgam até o telefone de uma mulher de codinome Aryane Petista como se fosse dela.

Enquanto sites ligados ao candidato Jair Bolsonaro divulgam fotos obscuras de suspeitos de participar do atentado ao político na quinta-feira (6/9), um turbilhão de Fake News criminosas continua a levantar calúnias perigosas contra pessoas que nada têm a ver com a agressão. No Youtube, as produções escarificando os dois estudantes com paralelos entre suas fotos, a do agressor e de pessoas que estavam em torno da manifestação onde ele foi esfaqueado se avolumam com a mesma rapidez que milícias fascistas tomaram conta da Itália sob a égide de Mussolini. Em nome do líder ferido, o exército de internautas adoradores do político busca fazer justiça com as próprias mãos, jogando aos leões os que eles apontam e propondo a eliminação dos que chamam de comunistas, petralhas e esquerdopatas.

 

COMENTÁRIOS NAS REDES SOCIAIS COM LINCHAMENTO

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