A Justiça é mãe dos ricos e algoz dos pobres

No fim da manhã de hoje (30/6), o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o tucano Aecio Neves a retomar seu mandato como senador pelo Estado de Minas Gerais, ao mesmo tempo em que negou o pedido de prisão preventiva feito pelo Procurador Geral de Justiça (PGR), Rodrigo Janot, contra o mesmo Aecio.

Aecio estava proibido de exercer as funções de senador desde o dia 18/5 pelo ministro do STF Edson Fachin e foi denunciado pela PGR no último dia 2. As acusações são graves: corrupção passiva e obstrução de Justiça. Motivos não faltaram.

Aécio e sua irmã Andrea Neves passaram a ser investigados a partir da delação premiada de executivos da JBS. Eles pediram R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS. O diálogo em que Aécio pede o dinheiro a Joesley foi gravado secretamente pelo empresário, que fechou acordo de delação premiada.

A Polícia Federal rastreou o valor e constatou que parte dele foi entregue por um executivo da JBS ao primo de Aécio Frederico Pacheco de Medeiros, que repassou o dinheiro a Mendherson de Souza Lima, na época assessor do senador Zezé Perrella, o homem do helicóptero capturado com meia tonelada de pasta base de cocaína.

Para Aecio, valem todas as garantias individuais…

Marco Aurélio Mello considerou que o senador tucano não poderia ser preso senão em flagrante. O ministro do Supremo também achou que a prisão preventiva não seria apropriada, porque Aecio não fugiria nem obstruiria a Justiça, apesar de o senador, por meio de uma série de contatos com o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, ter deixado “clara a sua intenção de interferir” para que a investigação sobre irregularidades na licitação da Cidade Administrativa de Minas Gerais ficasse com “um delegado específico” na corporação.

Marco Aurélio errou ao livrar a cara de Aecio dessa maneira?

Não errou. Essas garantias deveriam ser asseguradas a todos os cidadãos brasileiros, independentemente de origem, raça, classe social ou status.

Moinho resiste: enterro de Leandro Souza Santos, no cemitério da Vila Formosa (zona leste)

O revoltante é que o acesso à Justiça, como se sabe, está vedado aos pobres.

Veja o caso do menino Leandro Souza Santos, de 19 anos, morador da favela do Moinho, na região central de São Paulo. Negro, usuário de drogas, pobre, carroceiro, o rapaz foi perseguido por policiais da Rota, a tropa de elite da PM estadual. Toda a favela viu Leandro fugindo desesperado pelas ruas de terra da comunidade, às 9h30 da terça-feira (27/6), se esconder no casebre de outra moradora, e ser trancafiado na residência, até a execução final, por três tiros disparados pelos policiais.

O comandante da PM disse que a ação visava a coibir o tráfico de drogas na região central da cidade. Sei…

Se Leandro transportasse 500 quilos de cocaína, como aconteceu com o senador Zezé Perrella, provavelmente estaria a salvo dos braços da lei. Zezé, como se sabe, está livre leve e solto, porque é capaz de contratar grandes escritórios de advocacia, influenciar aliados, comprar lealdades.

A mesma lógica é a que leva Aecio a se safar sempre…

Como Leandro era um menino paupérrimo, nem acesso à Primeira Instância da Justiça ele teve. As balas da PM condenaram-no, liminarmente e de forma irrecorrível, à morte. Agora, seu corpo jaz numa cova rasa no cemitério da Vila Formosa.

E tem quem chame isso de Justiça.

POSTS RELACIONADOS

Cultura não é perfumaria

Cultura não é vagabundagem

No extinto Reino de Internetlândia, então dividido em castas, gente fazedora de arte e tratadas como vagabundas, decidem entrar em greve.