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Quem compraria o Banco do Brasil?

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O governo interino agrupou ministros e executivos com interesses fortemente enraizados no setor privado. O discurso retorna 20 anos no tempo, quando predominava a defesa da redução do tamanho do Estado pela via da privatização de empresas. Quem é prejudicado e quem ganha com essa guinada na política econômica?

Para começar essa discussão, vamos pensar as atividades dos bancos públicos e privados?

O que faz um banco? Bem, sua atividade básica é captar dinheiro da população, das nossas contas correntes e das nossas contas de poupança para, em seguida, emprestar para outras pessoas ou empresas. Qual é o principal interesse dos bancos privados? Obter o maior lucro. Tomar dinheiro emprestado do modo mais barato possível e emprestar, com melhor relação taxa/risco possível. Ou seja emprestar para aquelas atividades que promovam o maior resultado, o maior retorno financeiro para o banco, com o menor risco possível.

Qual é o objetivo de um banco público? O banco público busca lucro da mesma forma, mas tem outros interesses. O banco público busca injetar dinheiro para financiar atividades que sejam importantes para a economia e, ao mesmo tempo, que sejam importantes para o desenvolvimento social do país. Atividades, que muitas vezes têm mais risco ou que não têm a mesma rentabilidade, são deixadas de lado pelos bancos privados. O banco público busca o lucro financeiro, mas busca também o lucro social, o ganho que uma atividade promove para a sociedade como um todo.

O Banco do Brasil

O Banco do Brasil, por exemplo, tem um papel crucial no financiamento da agricultura. Ele é o principal financiador dos agricultores do Brasil. Financia grandes, médios e pequenos agricultores. Emprestar dinheiro para os agricultores é uma atividade que não atrai os bancos privados porque tem risco, porque o banco precisa estar em todas pequenas cidades do país, porque precisa de especialização, enfim há uma série de fatores que fazem com que a grande maioria dos bancos privados fiquem fora do financiamento da agricultura. E essa é justamente a principal tradição do Banco do Brasil, há mais de cem anos.

O que acontecerá se o Banco do Brasil passar às mãos de um banco privado? O financiamento da agricultura ficará menor e mais caro, especialmente para os pequenos e médios agricultores com menor poder de barganha.

A Caixa Econômica Federal

Vamos ao exemplo da Caixa Econômica Federal no financiamento da compra da casa própria? De cada três casas financiadas, duas o são pela Caixa. Seu objetivo é obter lucro, mas tem, ao mesmo tempo o objetivo de financiar uma atividade que traz lucro social: a construção de casas é importante para quem conquista a casa própria, mas também é muito importante para a sociedade e para a economia. Essa é a principal diferença entre um banco privado e um banco público. Um está interessado no seu ganho, enquanto que o outro está interessado em seu ganho e no ganho social.

O que acontece se privatizamos a Caixa? Os financiamentos da casa própria ficarão mais caros e diminuirão. Menos dinheiro será direcionado para construção de casas, a atividade diminuirá: perderá quem quem comprar uma casa, mas perderá principalmente a economia brasileira.

Em outros países

Nos EUA, o financiamento imóveis era feito, especialmente por três empresas públicas. Com o tempo decidiram privatizá-las, mas mantendo o mesmo foco no ganho financeiro e no ganho social. Com a crise dos imóveis de 1998, essas empresas tiveram seríssimas perdas e voltaram para o controle do governo. Especialmente por que julgaram que a economia estadounidense não poderia ficar sem esse motor que é a construção e o financiamento de casas.

Quando todos os bancos são privados o país perde o poder de direcionar recursos, de mandar dinheiro para atividades importantes para o desenvolvimento do país. Todos os bancos passam a emprestar somente para aquelas atividades que lhes o maior lucro.

Quase todos os países desenvolvidos tem os chamados Eximbanks, que são bancos que financiam a exportação dos países. A exportação é uma atividade que também tem lucro social porque faz a economia crescer, gera empregos, ou seja a exportação promove lucros sociais além dos lucros financeiros. Os Eximbanks sõa bancos públicos que promovem o desenvolvimento o crescimento das exportações do país.

Por que querem privatizar tudo o que for possível?

O objetivo da política econômica neoliberal, que prega a privatização entre outras coissas, é a diminuição do tamanho do Estado. Os economistas que apóiam o neoliberalismo afirmam que o Estado é ineficiente e que se deve passar para as mãos da iniciativa privada tudo o que for possível. Mas, diversos estudos têm mostrado que essas políticas agravam a desigualdade e que, o prórpio aumento da desigualdade, acaba prejudicando o crescimento econômico.

Nessa semana saiu um estudo de três economistas do FMI que afirma exatamente que as políticas neoliberais, que prometiam maior crescimento e mais eficiência, terminam com maior desigualdade sem maior crescimento. O estudo orienta que “aqueles que fazem as políticas econômicas públicas e as instituições, como o FMI que os aconselha, não devem ser guiados pela fé, mas pela evidência do que funcionou”.

Os partidários dessa política não revelam os altos custos, no curto prazo, que diminuem o bem-estar da população, pelo desemprego e pela menor produção: “além disso, como tanto a abertura [da economia a fluxos financeiros] quanto a austeridade [nas contas públicas] são associadas com aumento da desigualdade de renda, esse efeito distributivo retroalimenta o círculo vicioso. O aumento da desigualdade gerado pela abertura financeira e pela austeridade podem, por si mesmos, reduzir o crescimento, que é exatamente aquilo que a agenda neoliberal tenta expandir. Há, agora, forte evidência que a desigualdade pode baixar significativamente o nível e a duração do crescimento” (Ostry, Berg e Tsangarides, 2014).

Então, sob a justificativa de aumentar a eficiência da economia e promover o crescimento, as políticas de abertura financeira e de austeridade com diminuição do Estado aumentam a desigualdade de renda. E a própria desigualdade de renda prejudica o crescimento. Quem ganha com essas políticas? Quem compraria o Banco do Brasil?

Nota

  1. Para ver o texto dos economistas do FMI: http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2016/06/ostry.htm

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2 Comments

2 Comments

  1. Pingback: Quem compraria o Banco do Brasil? | Jornalistas Livres | BRASIL S.A

  2. dijalmasantos@uol.com.br

    05/06/16 at 12:43

    O texto é muito prolixo, resume apenas a dizer que em um sistema capitalista, trata-se de estado mínimo, mas que vai contra a correnteza em pensar em privatizar, sendo esta sendo a primeira no ranking que dá mais lucros, média de 15 bilhões, além de fomentar o progresso ao país.

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#EleNão

Moradores da Maré são bailarinos em espetáculo com temporada na Suiça

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Foto: Andi Gantenbein, de Zurique, Suíça, para os Jornalistas Livres

Denúncias sobre os atuais tempos de antidemocracia, assassinatos da população preta, pobre e periférica e o da vereadora Marielle Franco aparecem em cartazes erguidos pelos bailarinos de “Fúria”, espetáculo de Lia Rodrigues, considerada uma das maiores coreógrafas brasileiras da atualidade e uma das mais engajadas na realidade política do país.

A foto é da noite deste sábado (16), durante apresentação do grupo brasileiro no ‘Zürcher Theaterspektakel’, em Zurique, Suíça.

No Brasil, Fúria estreou em Abril, no Festival de Curitiba. A montagem evidencia, de maneira crítica, relações de poder, desigualdades, e as interligações entre racismo e capitalismo.

O espetáculo foi concebido no Centro de Artes da Maré, na Maré, RJ. O local foi inaugurado em 2009, e o projeto nasceu do encontro de Lia Rodrigues Companhia de Danças com a Redes da Maré. Os bailarinos são moradores da favela e de periferias do RJ.

Fruto dessa mesma parceria é a Escola Livre de Dança da Maré que resiste, em meio ao caos do governo violento de Witzel contra as favelas do RJ.

 

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Temer/Kassab preparam ataque ao seu direito à Internet

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O método Temer de solapar direitos dos cidadãos brasileiros tem novo alvo: a Internet. Sem qualquer discussão prévia, os golpistas querem mudar a composição do Comitê Gestor da Internet.

A consulta pública determinada pelo governo, sem diálogo prévio com os membros do Comitê e com apenas 30 dias de duração, certamente pretende aumentar o poder e servir apenas aos interesses das empresas privadas. As operadoras de telefonia têm todo o interesse do mundo em abafar as vozes de técnicos, acadêmicos e ativistas que lutam pela neutralidade da rede, por uma Internet livre, plural e aberta.

Veja, abaixo, a nota de repúdio ao atropelo antidemocrático da consulta pública determinada por Temer/Kassab. A nota é da Coalizão Direitos na Rede que exige o cancelamento imediato desta consulta.

Nota de repúdio

Contra os ataques do governo Temer ao Comitê Gestor da Internet no Brasil

A Coalizão Direitos na Rede vem a público repudiar e denunciar a mais recente medida da gestão Temer contra os direitos dos internautas no Brasil. De forma unilateral, o Governo Federal publicou nesta terça-feira, 8 de agosto, no Diário Oficial da União (D.O.U.), uma consulta pública visando alterações na composição, no processo de eleição e nas atribuições do Comitê Gestor da Internet (CGI.br).

Composto por representantes do governo, do setor privado, da sociedade civil e por especialistas técnicos e acadêmicos, o CGI.br é, desde sua criação, em 1995, responsável por estabelecer as normas e procedimentos para o uso e desenvolvimento da rede no Brasil.

Referência internacional de governança multissetorial da Internet,

o Comitê teve seu papel fortalecido após a

promulgação do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014)

e de seu decreto regulamentador, que estabelece que cabe ao órgão definir as diretrizes para todos os temas relacionados ao setor. A partir de então, o CGI.br passou a ser alvo de disputa e grande interesse do setor privado.

Ao publicar uma consulta para alterar significativamente o modelo do Comitê Gestor de forma unilateral e sem qualquer diálogo prévio no interior do próprio CGI.br, o Governo passa por cima da lei e quebra com a multissetorialidade que marca os debates sobre a Internet e sua governança no Brasil.

A consulta não foi pauta da última reunião do CGI.br, realizada em maio, e nesta segunda-feira, véspera da publicação no D.O.U., o coordenador do Comitê, Maximiliano Martinhão, apenas enviou um e-mail à lista dos conselheiros relatando que o Governo Federal pretendia debater a questão – sem, no entanto, informar que tudo já estava pronto, em vias de publicação oficial. Vale registrar que, no próximo dia 18 de agosto, ocorre a primeira reunião da nova gestão do CGI.br, e o governo poderia ter aguardado para pautar o tema de forma democrática com os conselheiros/as.

Porém, preferiu agir de forma autocrática.

Desde sua posse à frente do CGI.br, no ano passado, Martinhão – que também é Secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – tem feito declarações públicas defendendo alterações no Comitê Gestor da Internet. Já em junho de 2016, na primeira reunião que presidiu no CGI.br, após a troca no comando do Governo Federal, ele declarou que estava “recebendo demandas de pequenos provedores, de provedores de conteúdos e de investidores” para alterar a composição do órgão.

A pressão para rever a força da sociedade civil no Comitê cresceu,

principalmente por parte das operadoras de telecomunicações,

apoiadoras do governo.

Em dezembro, durante o Fórum de Governança da Internet no México, organizado pelas Nações Unidas, um conjunto de entidades da sociedade civil de mais de 20 países manifestou preocupação e denunciou as tentativas de enfraquecimento do CGI.br por parte da gestão Temer. No primeiro semestre de 2017, o Governo manobrou para impor uma paralisação de atividades em nome de uma questionável “economia de recursos”.

Martinhão e outros integrantes da gestão Kassab/Temer também têm defendido publicamente que sejam revistas conquistas obtidas no Marco Civil da Internet, propondo a flexibilização da neutralidade de rede e criticando a necessidade de consentimento dos usuários para o tratamento de seus dados pessoais. Neste contexto, a composição multissetorial do CGI.br tem sido fundamental para a defesa dos postulados do MCI e de princípios basilares para a garantia de uma internet livre, aberta e plural.

Por isso, esta Coalizão – articulação que reúne pesquisadores, acadêmicos, desenvolvedores, ativistas e entidades de defesa do consumidor e da liberdade de expressão – lançou, durante o último processo eleitoral do CGI, uma plataforma pública que clamava pelo “fortalecimento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, preservando suas atribuições e seu caráter multissetorial, como garantia da governança multiparticipativa e democrática da Internet” no país. Afinal, mudar o CGI é estratégico para os setores que querem alterar os rumos das políticas de internet até então em curso no país.

Nesse sentido, considerando o que estabelece o Marco Civil da Internet, o caráter multissetorial do CGI e também o momento político que o país atravessa – de um governo interino, de legitimidade questionável para empreender tais mudanças –

a Coalizão Direitos na Rede exige o cancelamento imediato desta consulta.

É repudiável que um processo diretamente relacionado à governança da Internet seja travestido de consulta pública sem que as linhas orientadoras para sua revisão tenham sido debatidas antes, internamente, pelo próprio CGI.br. É mais um exemplo do modus operandi da gestão que ocupa o Palácio do Planalto e que tem pouco apreço por processos democráticos.

Seguiremos denunciando tais ataques e buscando apoio de diferentes setores,

dentro e fora do Brasil,

contra o desmonte do Comitê Gestor da Internet.

 

8 de agosto de 2017, Coalizão Direitos na Rede

 

Notas

1 A Coalizão Direitos na Rede é uma rede independente de organizações da sociedade civil, ativistas e acadêmicos em defesa da Internet livre e aberta no Brasil. Formada em julho de 2016, busca contribuir para a conscientização sobre o direito ao acesso à Internet, a privacidade e a liberdade de expressão de maneira ampla. O coletivo atua em diferentes frentes por meio de suas organizações, de modo horizontal e colaborativo. A nota está em https://direitosnarede.org.br/c/governo-temer-ataca-CGI/ .

2 Para ouvir a entrevista, à Rádio Brasil Atual, de Flávia Lefévre, conselheira da Proteste e representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet, que afirma que as mudanças visam a atender interesses do setor privado e ferem caráter multiparticipativo do Comitê: https://soundcloud.com/redebrasilatual/1008-enrevista-flavia-lefevre

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Artigo

FRAGMENTO E SÍNTESE

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Ligar a tv logo cedo num pequeno quarto de hotel no interior do país é desentender-se dos fatos nos telejornais matutinos. Abre-se a janela e uma menina vai à escola à beira do rio, um menino faz gol de bicicleta entre guris e o homem ergue a parede de sua casa.  Tudo tão distinto das ruas em alvoroço de protestos urbanos ou políticos insanos.  No rincão o que se busca é continuar vivo entre chuvas e trovões, sem não ou talvez. Tudo é certo. Sem modernidades calam ou arremedam nossa urbanidade, gente que se defende com pimentas e ervas, oração e vizinhança. Voz sem boca, boca sem voz, essa gente não é parte nas notícias selvagens dos jornais distantes.  Se resolvem entre cozidos, arte, bola e santos. No país de tantos cantos, muitos voam fora da asa e sem golpes entre si vão tocando suas mazelas e graça.

Mas vivemos tempos obscuros, a noite persiste em nossos avançados quinhentos e tantos anos e muitos santos. Dizem que burro velho é difícil se corrigir nos hábitos. Em manhã chuvosa na grande São Paulo, ligo a tv e o notbook, as janelas se abrem antes que a cortina deixe entrar o novo dia. Surpreendente ver na tv o deputado Jair Bolsonaro afirmando em um clube israelita na cidade do Rio, que se presidente for, não teremos mais terras indígenas no país. Ao mesmo tempo o computador expõe na rede social a opinião de meu amigo Ianuculá Kaiabi Suiá, jovem liderança do Parque Indígena do Xingu, onde leio ao som do deputado que ladra:

Jair Bolsonaro, obrigado por você existir. Graças a você, hoje, temos noção de quanto a população brasileira carece de conhecimento, decência, consciência, juízo, amor e que carrega um imenso sentimento de ódio sem saber o porque. Sim, sim, não sabem. Um exemplo? Veja a bandeira de quem te aplaude, é de um povo que, assim como nós, sofreu as piores atrocidades cometidas pelas pessoas que pensavam como você. Enfim, eu não sei se essa parcela do povo brasileiro pode ser curada, mas vou pedir para um pajé fumar um charuto sagrado e revelar se o espírito maligno que se apossou da tua alma pode ser desfeita com uma grande pajelança.

Ianuculá sabe o que diz, sabe de todo martírio vivido pelos povos originários, e mesmo assim se propõe a consultar o mundo dos espíritos.

 

É deus e diabo na terra do sol, a mesma terra que ofende também abriga e anuncia uma mostra de cinema indígena nos próximos dias. Terra de etnias e corpos na terra, a cidade maravilhosa do Rio não se calará diante do fascismo desses tempos sombrios, acompanhe.

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