Alunos que ocuparam a E.E. Maria José, na Bela Vista, São Paulo, estiveram na Conexão Cultural, evento realizado ontem, no aniversário da cidade e que teve como objetivo, integrar a população paulistana com a cultura de povos refugiados através da arte. Ao final do evento, eles escreveram para os Jornalistas Livres. Confira o relato.
Hoje é aniversário de São Paulo e nada pode ser mais “desconstrutivo” do que lembrar que a cidade é um dos lugares que mais recebe imigrantes e apresenta-se como alternativa para muitas pessoas em busca de refúgio e melhores condições de vida.
Cruzamos com essas pessoas diariamente, que saíram por inúmeras necessidades do lugar de onde nasceram e viveram por muitos anos e vieram para um lugar tendo que enfrentar dificuldades com o idíoma, costumes, diversos preconceitos, discriminação e claro, marginalização.
Mas a necessidade é unica: sobreviver.
No evento “Conexão Cultural” que aconteceu no Museu da Imagem e do Som, na capital, nessa segunda de feriado, o objetivo era a conexão dessas culturas quase invisíveis com São Paulo, reunindo feira de gastronomia, música, artesanato e exposições compostas com artistas refugiados de países árabes (Síria e Palestina) e africanos (Congo, Haiti, Senegal).
Vimos que essa “conexão” foi prejudicada e se tornou uma mera apropriação cultural, pelo localização onde foi realizado o evento: um bairro nobre da cidade frequentado por pessoas da elite branca.
Vimos a senhora moradora do bairro que usara aquele único dia do ano para dizer que se importa com a refugiada do Congo, comprando seu turbante, pagando caro, mas sem saber o real valor daquele acessório, do trabalho manual, do tecido usado e o símbolo de resistência. A consciência da importância daquele simbolo não foi tomada, foi apenas a determinação da indústria capitalista de que aquele acessório era bonito e de consumo.
Vimos a senhora moradora do bairro que usara aquele único dia do ano para dizer que se importa com a refugiada do Congo, comprando seu turbante, pagando caro, mas sem saber o real valor daquele acessório, do trabalho manual, do tecido usado e o símbolo de resistência. A consciência da importância daquele simbolo não foi tomada, foi apenas a determinação da indústria capitalista de que aquele acessório era bonito e de consumo.
Vivemos num mundo onde há séculos a cultura dominante é a europeia, branca, ocidental, e a maioria das pessoas que estavam no evento eram assim e demonstravam interesse nos objetos, como produtos comuns do capital que sentiam vontade de consumir, mas não sem qualquer reflexão consciente da importância daquele “produto”, e menos ainda, das necessidades dos refugiados e da história deles.
Conversamos com Dady Simon, um refugiado do Haiti, morando atualmente em Foz do Iguaçu. Ele pintava quadros que contavam a história do seu país e as belezas escondidas de uma maneira especial. Ele relatou fatos sobre sua chegada aqui e ressaltou que há uma relação com os estudantes secundaristas das escolas ocupadas e os militantes de luta por moradia nas ocupações espalhadas pela cidade:
“A princípio cheguei a pensar que não era correto o que eu estava fazendo, pois me chamaram de invasor muitas vezes. Eu só quero sobreviver.” Durante algumas apresentações musicais os povos refugiados sempre falavam com bravura ao microfone :”Obrigada São Paulo, cidade acolhedora!”
É importante a reflexão sobre os motivos pelos quais essas pessoas escolheram sair de seus países. Não cabe nos Direitos Humanos trata-los como seres invisíveis, tanto a sua história de vida, como pela história de seu país e os motivos que o levaram a sair de lá. É preciso se importar com os refugiados.
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