Defensoria e Ministério Público abrem Ação Civil contra a reorganização do Ensino de Alckmin

Larissa Gould, do Barão de Itararé, Especial para os Jornalistas Livres. Fotos: Eviton Araújo

A Defensoria Pública (DP)e o Ministério Público (MP) ajuizaram, na tarde dessa terça-feira (03), ação conjunta contra a reorganização do Governo do Estado. A Ação Civil Pública (ACP) pede a suspensão da reorganização do ensino, a garantia de permanência dos alunos nas atuais escolas no próximo ano, a manutenção de ciclos e turnos existentes, novas matrícula de alunos em 2016 (nas escolas com vagas) e o compromisso do não fechamento de escolas da rede.

A justificativa para a abertura a ACP foi o anúncio repentino da reorganização por parte do governo, que ignorou as pessoas diretamente envolvidas — estudantes, pais e professores — e deixou de lado etapas de consultas e debates públicos fundamentais para a decisão. A DP e MP relataram que receberam inúmeras reclamações e abaixo-assinados, denunciando o fechamento de escolas, superlotação de salas de aulas e separação de irmãos em unidades distintas e transferência obrigatória de turno, que prejudicariam as rotinas das famílias.

Os órgãos também declararam a ausência de estudos que comprovam a real efetividade da mudança para a melhoria do ensino “Eles alegam que foram feitos estudos comprovando a efetividade dos ciclos, mas isso não é comprovado em nenhum momento”, declarou a Defensoras Pública Mara Renata da Mota Ferreira.

Defensoria Pública e Ministério Público informaram ainda que pediram essas e outras informações à Secretaria Estadual de Educação, mas que as respostas chegaram tardiamente (no fim de novembro) e incompletas, o que dificultou a análise do projeto da reorganização.

Suspensão da reorganização do ensino

A Ação, de acordo com a defensora Mara, não pede a revogação, mas sim a suspenção para o próximo ano e a garantia de debate com a sociedade. “Ao fim dessas discussões a reorganização pode ou não acontecer, ou pode ser feita de uma outra maneira”, defendeu. A também defensora, Daniela Skromov de Albuquerque, que também tem feito a defesa dos estudantes em outras ações, no entanto, reafirma: “Dialogo tem que ser uma via de mão dupla”.

A ACP foi assinada pela Defensoria Pública, representadas pelas Defensoras Mara Renata da Mota Ferreira (Coordenadora do Núcleo de Infância e Juventude e de Cidadania) e Daniela Skromov de Albuquerque (Coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos) e pelos Promotores de Justiça João Paulo Faustinoni e Silva (Grupo Especial de Educação), Eduardo Dias de Souza Ferreira (Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Difusos) e Patrícia Salles Seguro (Núcleo de Políticas Públicas).

A ação foi distribuída para a 5ª Vara da Fazenda Pública, sob a responsabilidade do Juiz Luis Felipe Ferrari Bedendi, mesmo juiz que concedeu no início de novembro liminar ao Estado para reintegração de posse das escolas estaduais Fernão Dias Paes e Salvador Allende e que após audiência de conciliação, revogou as liminares.

Em nota Maria Izabel Azevedo Noronha, Presidenta da APEOESP, declarou: “Com a iniciativa do Ministério Público, espera-se que Tribunal de Justiça mantenha o mesmo entendimento, fazendo suspender este processo de ‘reorganização’ em todo o Estado, para que prevaleça a democracia e a participação da comunidade escolar e da sociedade nas definições sobre uma das principais políticas públicas, que é a educação”.

Para o promotor João Paulo Faustinoni, essas mobilizações têm sim caráter político, mas não partidário: “Também seria um ato político se o Ministério Público se omitisse. O Ministério não irá se omitir”.

Abuso de poder e repressão violenta

A ação trata apenas da reorganização, não abordando as denúncias de violência da Polícia Militar contra os estudantes. É competência do Ministério Público apurar, responsabilizar e condenar esses casos. De acordo com o promotor João Paulo Faustinoni e Silva as denúncias estão sendo apuradas.

Pedro, repórter do Saboia News e estudante da E.E. Padre Sabóia de Medeiros, questionou “Hoje então, depois dessa Ação, eu tenho a garantia e a segurança de que posso voltar para a minha Escola e que não sofreremos nenhum tido de violência?”

Tropa de choque atua durante manifestação de estudantes nessa quarta-feira (02). Foto: Fernando Sato.

“Essa garantia não existe. Ou melhor, a garantia legal existe, mas não prática”. Foi a resposta da defensora Daniela Skromov. Ela também informou que a defensoria está fazendo o possível para acompanhar todos os casos denunciados, mas que “faltam pernas” pois são muitas as repressões violentas, e orienta os estudantes a gravarem os abusos e encaminharem a defensoria e ao MP.

Para Daniela, as ações violentas da PM fazem parte de uma estratégia de tentativa de desmobilização por parte do governo do Estado, sob a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB).

Defensoria Pública, os Estudantes e o Coletivo

Daniela também explica que as duas frentes da Defensoria devem ser vistas separadamente: “A defensoria tem dois papéis: ode defender os hipossuficientes e outro de falar por ela própria, em defesa do coletivo. Nesse momento, ao abrirmos essa ação estamos defendendo o todo, o coletivo”.

Daniela foi a defensora responsável por representar os estudantes durante o julgamento da liminar ao Estado para reintegração, em novembro.

A Ação Civil pública, defende o “todo” sob a perspectiva que a educação é um direito social básico e deve ser garantido principalmente às crianças e adolescentes, conforme a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A legislação também garante que a gestão das escolas públicas deve seguir o princípio da gestão democrática, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que criou os Conselhos de Escola e os Conselhos Municipais e Regionais de Educação. O Plano Nacional de Educação, que rege as diretrizes da educação para os próximos 10 anos, também assegura esse princípio.

Daniela também informou que entidades e associações podem entrar conjuntamente ao MP e DP na ação contra o Estado.

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. se as modificações fossem boas com certeza não as fariam na calada da noite. escolas nao se fecham. ao menos quando se trata de governantes, sao asnos! asnosporque so fazem asneiras.o sr padilha tambem, faz parte estudou mas parece que nao aprendeu nada maquiavel era um anjo perto do que estao fazendo com o povo do brasil.

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