Conecte-se conosco

Artigo

Wellington Fagundes e a tática de interdição do PT em MT

Publicadoo

em

Por: Edna Sampaio *

Fotos: Francisco Alves

Em Mato Grosso, o baronato do agronegócio possui três opções de candidaturas: Pedro Taques, Wellington Fagundes e Mauro Mendes. São três palanques garantidos para Alckmin.

Taques amarga o abandono de seus aliados, pois, o uso abusivo dos recursos jurídico-policiais como instrumento de poder para constranger aliados e adversários o deslegitimou como representante do grupo. Mesmo sendo fiel aos interesses dos milionários do agronegócio, revelou severos limites de confiabilidade para o campo político, cujas regras para obtenção do poder não incluem o constrangimento ou chantagem geral.

Política é jogo coletivo, não individual. Por essa razão, o poder no campo político impõe restrições de uso de instrumentos do campo Jurídico e de suas práticas autocráticas.

O ex-prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes, que sustentou o palanque e o governo de Taques, assim como todas as figuras que agora se aglutinam em torno de sua candidatura, é o nome do grupo e procura manter a aparência de novidade e o legado da administração da Capital.
Wellington Fagundes, atual Senador da República, se destaca pela atuação no processo de impeachment da Presidenta Dilma e, de sustentação do Governo Temer, com atuação importante na aprovação da agenda de reformas que retiram direitos dos trabalhadores e garantem a agenda dos barões do agro, como a legalização da grilagem de terras por fazendeiros e a liberação indiscriminada do uso de agrotóxico, dentre outros.

A disputa real é dentro do mesmo grupo, entre os candidatos Pedro Taques e Mauro Mendes. O baronato do agro precisa derrotar Taques e, de preferência, que isso não custe tanto! A chamada “grampolândia” não deixa dúvida sobre o desmedido uso de poder de fogo de Taques para acossar aliados e adversários, utilizando a máquina do Poder Executivo e Judiciário. Derrotá-lo é fundamental para normalizar as disputas e interesses do grupo uma vez que, do ponto de vista político, Taques revelou-se uma aposta indigesta.

O cálculo para derrotar o Governador com segurança e “baixo” custo é manter a disputa entre os dois candidatos. Entretanto, há um problema: a liderança de intenções votos em Lula (PT) em Mato Grosso e, por outro lado, a estagnação da candidatura de Alckmin, que é candidato de Taques (PSDB), de Mauro Mendes (DEM) e de Wellington Fagundes (PR). Se o capital econômico pode alavancar a vitória de Mendes, o capital político de Lula pode alterar a lógica do jogo, tornando-o imprevisível.

A análise da pesquisa do Instituto Mark, publicada na semana passada, indica a posição de Wellington Fagundes na disputa e, considerando o cenário, os prognósticos não são nada animadores à sua candidatura. Numa eleição em que o eleitorado claramente aponta para o desejo de mudanças, é o candidato mais identificado com a velha política e, sua participação ativa no golpe e na sustentação do governo Temer, pode explicar a razão de ser o segundo candidato mais rejeitado. Essa rejeição tende a aumentar, à medida de sua exposição.

Militância do partido denuncia a posição política de Wellington Fagundes – Foto: Francisco Alves

Fagundes foi o primeiro a se colocar como pré-candidato e, desde então o que vimos foi um importante movimento de partidos que primeiro se aglutinaram em torno de seu nome para depois migrarem para a base de Mendes. Graças a Wellington partidos grandes como PSD e MDB foram se deslocando de modo a se conformarem ao espaço previamente delimitado a eles.

Numa chapa enfraquecida, restou ao PR, o PTB, PP e PCdoB. Fagundes enuncia, nessa condição, constituir um campo centro-esquerda sem Lula em Mato Grosso. Claramente uma retórica sedutora para manter o PCdoB e atrair o PT, tentando aplacar o vigor de sua militância.

Até a presente data a chapa de Fagundes é a única indefinida e, sobre o PT pesa o seu assédio de todos os lados. Mas, talvez o que mais pese seja a descrença no PT por alguns membros de sua direção. Parece muito estranho que Lula tenha 34% das intenções de votos em Mato Grosso e nenhum palanque certo até o momento; enquanto Alckmin com 4% tem três palanques garantidos!

Em vários momentos do encontro do partido no sábado, 28, os ânimos ficaram exaltados –
Foto: Francisco Alves

Segundo as abordagens do Senador Wellington aos petistas, ele aguarda que a sigla escolha sua posição na chapa: vice ou senado. Com a garantia de quatro ou cinco nomes para as candidaturas proporcionais à Assembleia Legislativa numa chapa dos sonhos: leve e, com nomes de outros partidos que podem ajudar no coeficiente eleitoral para eleger os nossos deputados. Parece irrecusável!

Mas, no mundo real, não há almoço grátis. Qual o preço Wellington está cobrando do PT para lhe entregar o “melhor dos mundos”?? À esta altura está muito óbvio: o preço é rifar o palanque de Lula em Mato Grosso e impedir o protagonismo do PT.

Uma candidatura do PT, com a unidade da direção e a militância do partido, num momento tão favorável à candidatura própria, quando 27% do eleitorado diz querer votar num candidato ou candidata de Lula ao Governo de Mato Grosso, pode alterar o jogo e, inclusive, alterar o segundo turno.

Em todo caso, transforma o PT em jogador, não em peça do jogo. Dá à Lula um palanque, não um puxadinho no palanque de Alckmin!!

Uma pergunta razoável é: Wellington Fagundes quer captar os votos de Lula em Mato Grosso? A resposta é não! Ele sabe que não pode fazer isso porque seu nome representa a velha política, o golpe e a destruição da qualidade de vida das pessoas que sentem o arrocho, a carestia e seus direitos destruídos. Não é à toa que a pesquisa do Instituto Mark demonstra que seu nome é o segundo mais rejeitado em Cuiabá, município que concentra cerca de 30% do eleitorado.

A candidatura de Wellington Fagundes é, portanto, uma estratégia política para tirar o PT do jogo. Os votos de Lula para o Governo do Estado, na ausência do PT, beneficiam Mauro Mendes, pois, das três candidaturas postas, a menos desgastada e menos identificada com o golpe é a do empresário e, apesar de pertencer ao mesmo grupo e, ter na sua chapa todos os que construíram e sustentaram o palanque e o governo de Taques (inclusive o seu vice, Fávaro), Mendes se beneficia por ter se mantido afastado no período mais crítico da crise política, produzindo um apagamento de sua vinculação político-ideológica no imaginário do eleitor.

Nesse sentido, é difícil imaginar que um Senador que tem ainda 04 anos no Senado da República e, que há 32 anos exerce mandatos no Congresso Nacional, se aventure num jogo sem chances de vitória. Então, é preciso identificar qual jogo estão jogando e, o que querem ganhar. Não se trata de ganhar um ou outro mandato de deputado ou governo, mas de derrotar Pedro Taques e impedir o crescimento do PT.

Assim, a chapa de Fagundes segue em aberto até que, finalmente, o PT seja seduzido. Só não cumpriu essa tarefa, porque o partido conta com uma enorme e apaixonada militância que se apresenta com a tese de candidatura própria, colocando uma cunha nesse jogo que quer evitar o palanque de Lula no estado e o crescimento do PT, num momento fortemente favorável à sigla.

Nesta semana, ao findar o prazo para as convenções, esperamos que o PT saia ainda mais fortalecido e unido em torno de um projeto para o Brasil e para Mato Grosso, com a garantia do palanque para Lula e uma candidatura que represente os interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras do estado.

*Edna L. A. Sampaio – Mestre em Ciência Política, Doutora em Ciências Sociais. É Professora da UNEMAT e Gestora Governamental. Sindicalista, militante histórica do PT e Pré-candidata ao Governo de Mato Grosso.

Mais informações sobre a disputa interna do PT em Mato Grosso? Veja essa entrevista exclusiva da pré-candidata aos Jornalistas Livres https://www.youtube.com/watch?v=bAuLTNQZeqM&feature=youtu.be

 

 

Artigo

LUTA ANTIRRACISTA PRECISA ACERTAR A ‘CABECINHA’ DE WILSON WITZEL

Publicadoo

em

Há anos a tática sobre segurança pública no Rio se concentra em operações espetaculares que resultam, de tempos em tempos, em um derramamento de sangue, com direito a traficantes, moradores de comunidades e policiais mortos.

O roteiro todos já conhecem. Unem-se policiais de diversos batalhões, eles invadem determinada localidade com poder de fogo muito superior, e terminam matando principalmente a ponta da cadeia do tráfico, a base da estrutura das facções, enquanto seus líderes comandam tudo de longe ou de dentro dos presídios, e no dia seguinte um novo comando paralelo se instala no mesmo lugar.

É uma máquina de moer gente. Mata-se loucamente, e no dia seguinte é como se nada tivesse mudado.

A situação é esta porque em certos locais do Rio a única chance de um jovem criado em situação de miséria comprar um tênis da moda é segurando uma arma que ele não sabe atirar direito. A parcela da população favelada que sobra do espaço da cidadania, por motivos que vão desde abandono familiar, déficit educacional ou imposição de terceiros, é seduzida por uma rede comércio ilegal que promete dignidade no contexto da extrema exclusão e sacrifica a vida destas pessoas como copos descartáveis.

São quase sempre jovens negros, no tráfico, na polícia ou nas casas vizinhas ao confronto entre eles. E suas mortes não comovem nem de perto tanto quanto o cãozinho morto na porta do Carrefour.

É assim desde que a abolição foi seguida pela recusa em absorver os negros no mercado formal de trabalho e a imigração de estrangeiros brancos para substituí-los. A pobreza se perpetuou a partir da negligência em gerar oportunidades e condições de vida saudável, e nela a criminalidade floresceu desde sempre.

Se soubesse da história do Rio, Wilson Witzel, o novo governador eleito no estado, que repete a palavra matar o tempo todo para agradar os ouvidos de uma classe média tanto preocupada com roubos quanto é racista, adepta de praias segregadas, odienta do funk, do samba e de pagode, faria algo para interromper a espiral macabra que corrói sua sociedade por dentro.

Alteraria o atraso social com políticas públicas inteligentes de ensino integral, cooperativas de trabalho, reforma do sistema penitenciário, investimento em tecnologia da informação e preparo de suas polícias. Enfrentaria o racismo com mais educação e cultura, e não faria coro com privilegiados que gostam de se remeter aos negros com termos tipicamente usados para animais, como “abate”.

Em 2010, o Rio viu Sérgio Cabral vencer Fernando Gabeira aproveitando-se, em parte, da crença de que o adversário era veado e maconheiro. Dali seguiu-se uma bandalheira que resultou, nos últimos anos, no colapso total das contas públicas. Já não há mais espaço de tempo para novos demagogos. E nem a população suporta mais mentiras no lugar de competência. Algo melhor que matar precisa vir à cabeça do novo governador. E eu sugiro que superar o seu racismo entranhado seja o melhor começo.

Por: Rodrigo Veloso – Colaborador dos Jornalistas Livres morador do Rio do Janeiro formado em Relações Internações

Continue Lendo

Artigo

OS BACHARÉIS DA RESISTÊNCIA

Publicadoo

em

 

Artigo de Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História da Universidade Federal da Bahia, com ilustração de Duke

 

O ano de 2005 é chave para a compreensão da crise brasileira contemporânea. Foi aí, no chamado “mensalão”, que se desenhou pela primeira vez aquela que, na minha percepção, é a característica mais importante da crise: o ativismo político dos profissionais da lei.

Desde 2005 que juízes, desembargadores, ministros dos tribunais superiores e procuradores são personagens recorrentes na crônica política. Depois de 2014, a Operação Lava Jato se tornou palco para a fama desses profissionais. Mais do que nunca, o Brasil é a República dos Bacharéis.

Os marqueteiros da Operação Lava Jato afirmam que pela primeira vez na história do Brasil os empresários milionários sentiram na pele o peso da lei. É uma meia verdade. Se é meia verdade, por consequência lógica, é meia mentira também.

Os empresários presos atuavam no ramo da construção civil e de obras de infraestrutura. Os agentes econômicos envolvidos com atividades financeiras e especulativas não foram incomodados. Somente os mais ingênuos são capazes de acreditar que Marcelo Odebrecht ou Léo Pinheiro são mais corruptos que os executivos do Itaú ou do Santander, que também financiavam campanhas eleitorais, que também estabeleciam relações nada republicanas com a classe política.

Por que uns foram presos, enquanto os outros estão aí, lucrando bilhões todos os anos?

A seletividade da Operação Lava Jato é óbvia e salta aos olhos de qualquer um que queira enxergar a realidade. A narrativa do combate à corrupção está sendo utilizada como pretexto para o desmanche do Estado e dos investimentos públicos em infraestrutura, o que favorece os interesses ligados ao capital financeiro nacional e internacional. A comunidade jurídica brasileira colaborou com esse projeto, ajudou a desmontar parques industriais, levando empresas nacionais à falência, sempre com o pretexto do “combate à corrupção”.

Como bem disse Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça, a Justiça brasileira “prometeu acabar com os cupins, mas acabou ateando fogo à casa”.

Porém, seria um erro dizer que a comunidade jurídica é um bloco homogêneo, que todos os seus integrantes se movem na mesma direção. Alguns momentos na cronologia da crise mostram que o cenário não é tão simples, que há bacharéis dispostos a confrontar a hegemonia daqueles que entregaram seus serviços aos interesses do capital financeiro internacional.

Destaco aqui três nomes: Rodrigo Janot, Rogério Favreto e Marco Aurélio de Mello.

Em algum momento da crise, os três contrariaram interesses hegemônicos. Meu objetivo aqui é relembrar esses episódios e sugerir que a resistência democrática não pode abrir mão da institucionalidade. Ir às ruas e disputar o imaginário das pessoas não significa deixar de operar por dentro das instituições burguesas, explorando suas contradições. Uma coisa não exclui a outra. Uma coisa complementa a outra.

 

Rodrigo Janot

Rodrigo Janot foi empossado pela presidenta Dilma Rousseff como procurador geral da República em 2013, sendo reconduzido ao cargo, também por Dilma, em 2015. Janot foi personagem protagonista em alguns dos momentos mais agudos da crise brasileira, no período que compreendeu a derrubada de Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer.

Sinceramente, não sou capaz de definir a identidade ideológica de Rodrigo Janot, de dizer se ele é de esquerda ou de direita. Talvez ele não pense a realidade nesses termos. Antes de se tornar procurador geral da República, Janot tinha atuação engajada na defesa dos direitos da população carcerária. No segundo turno das eleições presidenciais de 2018, Janot se manifestou a favor da candidatura de Fernando Haddad.

26 de agosto de 2015. Sabatina de recondução de Janot à chefia da Procuradoria Geral da República. Senado Federal. A crise institucional se aprofundava e começava a se desenhar no horizonte o golpe parlamentar que meses depois derrubaria Dilma Rousseff.

A oposição, liderada por senadores do PSDB e do DEM, colocou Janot contra a parede. Ana Amélia, Aécio Neves, Aloísio Nunes, Antonio Anastasia exigiam que a PGR denunciasse a presidenta Dilma Rousseff. Foram quase 12 horas de uma sabatina tensa e atravessada pelo partidarismo político. Por inúmeras vezes, Janot disse que não havia indícios suficientes para fundamentar uma denúncia contra a presidenta da República.

Janot não denunciou Dilma enquanto ela estava no exercício do mandato.

Já com Temer, o comportamento de Rodrigo Janot foi completamente diferente. Foram duas denúncias, em pleno exercício do mandato. A primeira denúncia foi apresentada em junho de 2017. A segunda veio três meses depois, em setembro.

Michel Temer precisou acionar suas bases na Câmara dos Deputados para barrar as duas denúncias. Precisou liberar verbas para os deputados aliados. Precisou gastar capital político. Acabou lhe faltando fôlego político para aprovar a Reforma da Previdência, que era a grande agenda do seu governo. Capital político tem limite, igual a peça de queijo: diminui um pouco a cada fatia retirada.

Se Temer não conseguiu aprovar a Reforma da Previdência, parte da derrota pode ser explicada pelas flechas disparadas por Rodrigo Janot, que acabou colaborando para defender os direitos previdenciários dos trabalhadores brasileiros do ataque do capital especulativo.

Qual era o seu objetivo? Comprometimento com uma agenda social-democrata? Um republicanismo genuíno que parte do princípio de que não pode existir seletividade na aplicação da lei? As duas coisas juntas?

Não dá pra saber. Fato mesmo é que ao desestabilizar Michel Temer, Janot contrariou os interesses do rentismo.

 

Rogério Favreto

Quem acompanha a trama da crise brasileira lembra bem do dia 8 de julho de 2018. Era manhã de domingo e o país foi sacudido pela notícia que dividiu a sociedade, deixando metade da população em estado de graça e a outra metade babando de ódio.

“Lula vai ser solto!”. Assim, estampado em letras garrafais em todos os veículos da imprensa.

Rogério Favreto, desembargador do Tribunal da 4° Região em diálogo direto com lideranças petistas, autorizou um habeas corpus de urgência, determinando a soltura imediata de Lula.

Todos os envolvidos sabiam que Lula não seria solto. Lula nem fez as malas. O objetivo ali era tático: levar as instituições burguesas a extrapolar os limites da própria legalidade.

Sérgio Moro despachou estando de férias e negou o habeas corpus, o que ele não poderia fazer. Moro contrariou a ordem de um superior, subvertendo a hierarquia do Poder Judiciário.

Thompson Flores, presidente do Tribunal da 4° Região, cassou a decisão de Favreto, o que somente poderia ser feito pelo colegiado dos desembargadores.

Em um ato de resistência, Rogério Favreto deixou claro para o mundo que Lula é um preso político que a todo momento inspira atos de exceção.

 

Marco Aurélio Mello

Marco Aurélio Mello, tendo mais coragem que juízo, vem sendo a voz da resistência no Supremo Tribunal Federal. Eu poderia dar vários exemplos de ações de Marco Aurélio em defesa da Constituição, da legalidade democrática e da soberania nacional. Fico apenas com dois.

1°) Em 19 de dezembro de 2018, na véspera do recesso do Judiciário, Marco Aurélio soltou um bomba: em decisão autocrática determinou que a Constituição fosse respeitada, ordenando a libertação de todos os presos condenados em segunda instância, o que beneficiaria o presidente Lula.

É que a Constituição é clara. Só pode prender depois do trânsito em julgado. Se está errado ou não é outra discussão. Constituição não se questiona, a não ser para fazer outra Constituição.

Liminar pra cá, liminar pra lá. Procuradores da Lava Jato convocando entrevista coletiva para dizer como STF deveria agir. Mais uma vez a sociedade dividida. Novamente, Lula nem fez as malas, pois experimentado que é, sabia muito bem que não seria solto.

Dias Toffoli, presidente do STF, derrubou a decisão de Marco Aurélio, contrariando o regimento interno da Casa, que diz que somente a plenária do colegiado é legítima para anular ato autocrático de um ministro.

Se Lula não estivesse preso, o regimento seria respeitado. Lula não é um preso comum.

2°) Na última semana, vimos outro embate entre Marco Aurélio e Dias Toffoli. Dessa vez, o motivo foi a venda dos ativos da Petrobras. Marco Aurélio, outra vez em decisão autocrática, proibiu a venda, num ato de defesa da soberania nacional. Dias Toffoli autorizou a venda, se alinhando aos interesses privados e internacionais.

Apresentei três exemplos, de três profissionais da lei que em algum momento da crise contrariaram os interesses que hoje ditam os rumos da política brasileira. Não existiu nenhuma articulação entre eles. Os exemplos mostram apenas que as instituições burguesas não são homogêneas, que existem contradições que devem ser exploradas.

A resistência democrática, portanto, precisa se equilibrar sobre dois pés. Um nas ruas, agitando e apresentando soluções para o nosso povo, que já vai começar a sentir na pele as consequências de um governo ultraliberal, autoritário e entreguista. O outro pé deve estar bem fincado nos corredores palacianos, onde se desenrolam as tramas institucionais.

Precisamos, sim, de líderes populares, de líderes que saibam falar ao coração do povo, que entendam as angústias da nossa gente. Precisamos também de articuladores, de conhecedores da lei e dos regimentos, de lideranças versadas no jogo jogado nos bastidores. Resistência democrática é trabalho de equipe.

 

Continue Lendo

Artigo

Armai-vos uns aos outros

Publicadoo

em

Por José Barbosa Junior
O presidente da República Fundamentalista de Vera Cruz (antigo Brasil – porque agora nada pode ser vermelho), decretou nesta terça-feira algumas flexibilizações na Lei que regulamentava a posse de armas, o que, na prática, significa que ele liberou geral. A proposta anterior, de no máximo duas armas por cidadão, passou para quatro armas, sendo liberadas outras mais, conforme a necessidade apresentada pelo futuro portador.
Em resumo, a barbárie está liberada oficialmente em nosso país. “Cidadãos de bem” agora vão poder, finalmente, matar os bandidos que lhe atormentam a vida. Por bandidos leia-se pobres, pretos, pardos e párias, que de já tão coisificados, tornaram-se sem valor e pessoalidade em sua existência.
O que mais me choca, porém, é que Bolsonaro foi eleito e é apoiado, inclusive e principalmente nesta questão, por gente que se afirma cristã. Isso mesmo! Gente que diz seguir aquele nazareno marginal que afirmou que “bem-aventurados são os pacificadores, pois eles serão chamados filhos de Deus”, aliás o mesmo que afirmou que “quem vive pela espada, morrerá pela espada”.
Parece estranho. E é.
Mais estranho ainda porque em toda a campanha do atual presidente, ele fez questão de repetir o versículo que diz “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
A verdade é que a liberação de armas só gerará mais violência num país que respira violência.
A verdade é que mais mulheres serão vítimas de feminicídio, já que seus maridos machões agora poderão ter suas armas para suprirem seus outros fracassos.
A verdade é que mais LGBT’s morrerão nas mãos de homofóbicos que disfarçam seus preconceitos em discursos machistas e religiosos.
A verdade é que agora fica mais fácil planejar o suicídio, endêmico numa sociedade cada vez mais doente e adoecedora, refém de um sistema que empurra pessoas à depressão (sem contar as depressões que independem de fatores externos) e num país onde adolescentes cada vez mais se matam por conta de bullying e outras coisas mais. Ah! E sem falar no alto índice de suicídio entre pastores, tema cada vez mais recorrente nos últimos anos.
A verdade é que as brigas de trânsito, de bares, de baladas agora serão resolvidas na base do “quem saca primeiro”, porque com essa liberação a ideia de que o outro possa estar armado será sempre evidente e, entre ele e eu, é melhor que eu saque antes dele.
A verdade é que temos um governo violento, que ampara e incita à violência, que não esconde o prazer na tortura e na morte dos inimigos. Isso legitima e legitimará a barbárie!
Em nome da verdade… no governo mais mentiroso que já temos! E eu aguardo o dia da liberdade! Ela virá… mais cedo ou mais tarde!

*Teólogo e Pastor da Comunidade Batista do Caminho em Belo Horizonte.

Continue Lendo

Trending