
Antes da mineração tinha amor. Depois da mineração há ilusão. Isso significa para Conceição do Mato Dentro muita gravidez indesejada, principalmente de adolescentes. Os moradores falam que a cidade viveu um “pico do peão”. Hoje, até pela queda no preço do minério, não se vê tantos trabalhadores. Mas dá pra imaginar a expressão “pico do peão”: muito homem atrás de mulher nas ruas. Muitas mulheres foram abandonadas, algumas com filhos. Os peões, na sua maioria, eram casados e voltavam para suas mulheres após o serviço prestado no município.

Antes da mineração, culturas tradicionais eram visíveis. Depois da mineração, a identidade da cidade parece ter se perdido. Não se vê nem as mulheres de Tabuleiro com suas chitas mais. Mas a falta de reconhecimento e pertencimento é bem pior: uma das maiores tradições da cidade, a farinha de mandioca, está ameaçada. Na comunidade do Sapo, por exemplo, que fica no distrito de São Sebastião do Bom Sucesso, plantar o alimento tem sido cada vez mais difícil.
O ar já não é mais o mesmo, e a água, nem tão abundante. (Nos locais onde há mineradora explorando, a água se torna um bem ameaçado, pois é muito utilizada no processo de lavagem do minério).
Antes da mineração as portas em Conceição viviam abertas. Hoje há medo e receio. Agora são milhares de desconhecidos. Contando a zona rural, que é imensa, Conceição do Mato Dentro tem 20 mil habitantes. Uma pequena cidade que carrega algumas características de grandes centros urbanos: além da violência doméstica e do abuso sexual, que são comuns a todo lugar, há guerra no tráfico, homicídios e roubos. Com a chegada de novos moradores, muitos deles passageiros, não é mais possível reconhecer todos os conceicionense, de modo que a vida em comunidade, em que todo mundo é amigo ou parente, não existe mais.

Antes da mineração a vida era simples. Depois da mineração ficou complexa. Pequenos empreendimentos, como a antiga padaria da família de Marina Oliveira, teve de fechar após várias gerações, pois não atendia ao gosto dos novos moradores da cidade.
O município virou refém da mineração, como conta a presidente da Câmara de Vereadores. Hoje a economia não se vê sem a receita dela. É como Mariana, também na região central de Minas, onde uma barragem de rejeitos de minério se rompeu em novembro passado. Essas cidades passam a depender quase que 100% da mineração, que apesar de ficar com as riquezas do lugar, não melhora a qualidade de vida dos moradores, como saúde, educação, lazer, cultura e arte.
O turismo, que sempre existiu no município, também ficou ameaçado. Moradores contam que a empresa, a Anglo Australiana, demorou para construir alojamentos, como prometeu. Os funcionários foram hospedados em hotéis, tirando assim a vaga dos turistas.
Antes da mineração todas as montanhas eram perfeitas. Depois da mineração, algumas já estão completamente lapidadas, e o meio-ambiente, por mais que neguem, está ameaçado.
A secretária de turismo do município afirma que a exploração de minério ocorre do outro lado das comunidades turísticas, como Tabuleiro, onde está a cachoeira com a maior queda d’agua de Minas Gerais. Mas um guia de lá confessou que não tem esperanças de que um dia o impacto não chegue ao local.
Como já dito, o ar em toda a cidade não é mais o mesmo após quase 10 anos de exploração de minério. Os moradores reconhecem que depois da mineração há mais acesso a um “desenvolvimento”, leia-se acesso a bens de consumo. Mas uma rápida conversa com qualquer morador que viveu o “antes e o depois da mineração”, pra saber da triste saudade de uma cidade sem exploração de minério.
Mapa da mineração em Conceição do Mato Dentro