Já fui um adolescente anti-estadunidense, ainda acho deploravel quem tem Miami como marco cultural ou civilizatório, contudo aos poucos descobri Walt Whitman, Jack London, Dylan Thomas e a geração beat, esses caras, mais o combo jazz e blues, me fizeram mudar de opinião sobre os EUA, não sobre o monstro imperialista, mas sobre a possibilidade de vida inteligente naquele país sem nome.
A cobertura do golpe que sofremos em 2016 feita por veículos como New York Post, Washington Herald e outros também me fizeram pensar bastante, principalmente quando algumas vezes os rabujos bolsonaristas passaram a chamar essas publicações de panfletos comunistas.
Faz um tempo tenho vivido para tragar contradições, concordar com Reinaldo Azevedo foi uma dessas, posteriormente com youtubers como Felipe Neto, as doses de omeprazol inclusive aumentaram. O inicio desse pesadelo kafkiano, lembro muito bem, foi concordar com Arnaldo Jabor sobre a inanição moral e intelectual de Bolsonaro, depois disso, doei minha TV, tive até pesadelo me tornando um senhorzinho de meia idade com cardigan preto, óculos de vinil e que dizia:
”- Fui comunista na juventude.”
Mas qual a razão de dizer isso hoje? Expor minha pueril experiência anti-estadunidense, meu pavor em concordar com Arnaldo Jabor sobre o Bolsonarismo ou com Reinaldo Azevedo sobre o total desrespeito ao devido processo legal que representa essa opera-bufa chamada lava-jato.
Qual a razão disso?
Essa segunda-feira (02/09), depois de um dia de trabalho, cheguei em casa e ao tentar assistir Roda-Viva, o que assisti foram duas aulas paralelas. Uma de como deve ser um jornalista e o professor foi o entrevistado, um estadunidense, Glenn Greenwald. A outra aula ficou por conta dos entrevistadores, boa parte na folha de pagamento de jornalões, essa doeu mais, a matéria ali exposta consistia em como fazer o não-jornalismo.
Estou envelhecendo mesmo, as vezes sinto que nada faz sentido. Me pego pensando como reagiria se viajasse no tempo e pudesse dizer ao Igor de 2011 que em 2019, aplaudiríamos um jornalista estadunidense.
Estou bem, respiro sem ajuda de aparelhos.
”Um tango argentino me vai bem melhor que um blues”
Igor Santos – Jornalista, Cearense e morador de Santo André