Globo “erra” novamente ao anunciar desvio de R$ 500 milhões na UFSC

Senhores gostaria telespectadores, “uma correção”:

Ao anunciar a batida da Operação “Torre de Marfim” na manhã o dia 7/12 em seus veículos, novamente a empresa comete um gravíssimo “engano”.  O apresentador divulga o valor total de verbas repassadas aos projetos de pesquisa da UFSC num período de sete anos – R$ 500 milhões -, como se fosse o valor sob suspeita de desvio, que sequer foi apurado ainda. Depois do estardalhaço do roubo milionário e das reputações arruinadas, tudo se resolve com “uma correção”. Parece que a lição de irresponsabilidade da grande mídia na cobertura da “Operação  Ouvidos Moucos”, que ajudou  a enterrar o reitor  da UFSC, Luiz Carlos Cancellier, não ensinou nada à rede Globo.

O texto da matéria no G1 também aborda a operação na UFSC de modo incriminador e toma o ponto de vista da PF como absoluto, sem ouvir a universidade. No entanto, a informação contradiz o próprio anúncio da rede na televisão: “São analisados contratos no valor total de R$ 500 milhões. A PF esclareceu que nem todo esse dinheiro pode ter sido desviado, mas é objeto da investigação.”

https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/pf-faz-operacao-contra-desvios-em-fundacoes-de-apoio-da-ufsc.ghtml

O que há por trás desse repetido “engano”? É um erro idêntico ao que incitou o linchamento público do reitor Cancellier e levou-o ao suicídio no dia 2 de outubro. Cau foi cunhado pela Globo, diante da opinião pública, como “chefe de uma quadrilha criminosa, que desviou 80 milhões” que,  na verdade, correspondia ao total de recursos transferidos ao Programa Universidade Aberta no período de dez anos. A errata levou torturantes 48 horas para ser colocada no ar, tempo suficiente para o reitor, que sequer era citado nas investigações, cair na “boca do povo” como chefe de uma quadrilha.

Amatéria também não explicava que os desvios sob suspeitas haviam ocorrido em período anterior a sua administração. Como carro chefe da programação, a Globo errou no conteúdo da denúncia,  pela qual Cancellier era acusado de tentativa de atrapalhar os trabalhos de investigação, não de participar dos desvios, o que não confere motivo de prisão, mas apenas pagamento de multa. Finalmente a emissora errou por nunca questionar a  PF pela prisão ilegal do reitor.

Erros fatais na divulgação da campanha da PF parece que não modificaram o descuido com a informação na Globo e suas concessionárias

Até agora não comprovada, a acusação de interferir na apuração foi apresentada pelo corregedor geral da UFSC, Rodolfo Hickel do Prado, um desafeto político do reitor, já processado por calúnia e difamação e por levantar falsas denúncias que resultaram em operações policiais igualmente violentas e espetaculares, conforme  dossiê investigativo dos Jornalistas Livres publicado em 30 de outubro.

https://jornalistaslivres.org/2017/10/exclusivo-corregedor-que-denunciou-reitor-a-pf-ja-foi-condenado-por-calunia-e-difamacao/

Exemplo do efeito dos “erros” na divulgação das operações da Polícia Federal

Fica também evidente por trás dessas operações de nomes publicitários, como “Ouvidos Moucos” e “Torre de Marfim”, o preconceito contra as universidades que domina as corporações policiais. Com a grande mídia atuando como uma espécie de relações públicas, essas investidas espetacularizadas da PF concorrem para incutir na opinião média o estigma de que as instituições públicas de ensino são “antros de corrupção” e que seus professores, servidores e estudantes são “um bando de criminosos”.

Na operação “Ouvidos Moucos”, o site oficial da PF também divulgou o valor total das verbas repassadas ao Programa de Educação à Distância como se fosse o volume do desvios. Grande mídia continuou repetindo o “erro” mesmo depois do suicídio do reitor

Nota da Administração Central da UFSC sobre a nova Operação da PF

A Administração Central da UFSC, por meio da presente nota, torna público seu posicionamento diante de operação policial que promoveu conduções coercitivas de servidores e busca e apreensão em locais do campus Trindade na manhã desta quinta feira, 07 de dezembro.
1. Não houve, de parte das autoridades envolvidas, qualquer comunicado à instituição quanto à ação levada a cabo na data de hoje, na UFSC e em outros locais;
2. Não houve, até o presente momento, qualquer notificação formal à instituição, a respeito do objeto das investigações, das pessoas investigadas ou dos motivos da operação;
3. As menções de que as denúncias teriam sido encaminhadas pela administração da UFSC, conforme consta de algumas notícias veiculadas pela mídia, não se referem oficialmente a nenhuma ação que a atual gestão tenha praticado;
4. As conduções coercitivas de servidores mostraram-se, como as prisões e outras conduções ocorridas em setembro, desnecessárias, considerando, ao que tudo indica, que não haveria resistência ou negativas em prestar todos os esclarecimentos às autoridades por parte dos envolvidos.

Assim, manifestamos novamente nossa surpresa diante de outra operação policial, com ampla cobertura midiática, afetando diretamente a comunidade universitária sem que tenha sido respeitada a relação institucional entre os responsáveis pela operação e a Universidade Federal de Santa Catarina.

Reafirmamos, por fim, nossa convicção de que todo e qualquer ato que configure irregularidade deva ser rigorosamente apurado, desde que seguidos os princípios da presunção de inocência, do direito à ampla defesa e ao contraditório, com base no devido processo legal, rejeitando qualquer ação apenas espetaculosa e midiática, a exemplo do que vivemos recentemente e cujo trágico desfecho é de conhecimento de toda a sociedade.

Administração Central da UFSC
07 de dezembro de 2017

 

 

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. Não vi nada demais na notícia dada pelo G1. Diz :
    ” São analisados contratos no valor total de R$ 500 milhões. A PF esclareceu que nem todo esse dinheiro pode ter sido desviado, mas é objeto da investigação. ” Fica claro.
    E diz:
    ” Segundo a PF, esta investigação não é relacionada à Operação Ouvidos Moucos.”.
    E diz:
    ” Dois dos servidores investigados teriam movimentado cerca de R$ 300 milhões em contratos na coordenação de projetos e convênios entre os anos de 2010 a 2017″, informou a PF.
    Ainda segundo a PF, alguns servidores investigados têm patrimônio incompatível com salário. Um dos exemplos dados pela Polícia Federal foi um servidor com média salarial de R$ 17 mil e patrimônio de cerca de R$ 7 milhões.”.
    Não vi qualquer erro ou maldade.
    Não é citado o nome cancellier, nem que todo os 500 milhoes são investigados ou foram desviados e que a investigação não é relacionada a operação ouvidos moucos. Onde está o erro ?

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