Sobre pandemias e alienígenas, Por Dirce Waltrick do Amarante*

Merda de Artista, Piero Manzoni,1961.

Por Dirce Waltrick do Amarante*

 

Bem no ápice de uma crise de pandemia, e como se não faltasse mais nada, a Terra foi invadida por alienígenas.

Aterrissaram justo no meio da Times Square, em Nova York.

(Não sei por que, mas os alienígenas sentem-se atraídos pelos Estados Unidos da América; não me lembro nunca de eles terem descido em Cuba ou na Coreia do Norte.)

Desceram de suas naves redondas e iluminadas, mas não encontraram ninguém ali. Passaram pelas lojas, teatros, bares… Tudo fechado, nenhum terráqueo nas ruas.

Levantaram voo e, de repente, do outro lado da ponte do Brooklin, avistaram no Walmart um entra e sai de gente. Pousaram no teto do supermercado, mas ninguém parece tê-los visto.

O povo saía apressado, com carrinhos lotados de pacotes de papel higiênico. Um dos alienígenas resolveu entrar no estabelecimento para recolher amostras dos produtos que aquele povo levava com tanta sofreguidão.

Ele entrou, caminhou pelos corredores do supermercado. Ninguém parecia intrigado com a sua presença.

No corredor onde estavam os produtos de higiene ele foi finalmente notado. Aproximou-se, contudo, de uma das prateleiras e agarrou um pacote de papel higiênico. Foi a última coisa que fez na Terra.

Seu corpo foi doado para a Nasa; já o pacote, devolvido à população

 

*Em quarentena.

 

 

 

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