Lula Livre
Sinto medo de falar de meu pai, diz filha de Lula
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7 anos atrásem

Do site da Carta Capital.
Lurian (pronuncia-se Lurián) parece ter aquela notável capacidade das pessoas simples de resistir às piores tragédias. Assim como o pai, Luiz Inácio Lula da Silva, não se deixa consumir pela indignação, o ressentimento ou a desesperança. Segue o jogo, confiante na virada improvável. De pessoa despachada, está agora mais reclusa, “com vontade de ver filmes e ficar com a neta”. Aos 44 anos, é mãe de Beatriz, de 23, e João, de 14. Avó de Analua, de 1 ano e 8 meses, esforça-se como pode para que ela não se esqueça do bisavô, preso há mais de sete meses. Para tanto, recorre a um peso de porta, um Lula de feltro recheado de pedras. Analua segura o boneco nas mãos. No esperanto dos bebês, despacha com o ex-presidente.
Lurian Cordeiro Lula da Silva ficou famosa aos 15 anos. Em 1989, sua mãe, Miriam, apareceu na campanha presidencial de Fernando Collor de Mello a afirmar que Lula “me ofereceu dinheiro para abortar”. Depois do parto, disse, entregou a filha “no colo” dele: “Agora você mata”. Lula perdeu a eleição. O episódio entrou para a história política do País como uma de suas passagens mais deploráveis. “Fui citada como filha bastarda”, diz Lurian. “Que filha bastarda, se o declarante da minha certidão de nascimento era ele?” O episódio é superado entre mãe e filha. Lula nunca mais falou com Miriam Cordeiro.
Jornalista, não chegou a trabalhar em uma grande redação. “Que jornal daria emprego a uma filha do Lula?” Assim como já se disse que o irmão era dono da Friboi, Lurian foi acusada de ser proprietária de uma ONG que teria recebido repasse de 9 milhões de reais do governo Lula. Seria dona, ainda, de uma pioneira fábrica de tomadas de três pinos, motivo pelo qual papai teria mudado o padrão brasileiro. Lurian nunca teve uma ONG. Jamais fabricou tomadas. É assessora da deputada estadual Rosângela Zeidan (PT-RJ) e, desde o ano passado, presidente do PT de Maricá, no Rio de Janeiro.
Na segunda-feira 26, Lula foi novamente denunciado, dessa vez por lavagem de dinheiro em negócio na Guiné Equatorial. “O que se pretende é que Lula morra”, comentou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. No mesmo dia, Lurian sugeriu “uma delicatessen muito boa” em Niterói para a conversa com Carta Capital. Tratava-se, a bem da verdade, de uma conveniência de posto de gasolina, o que talvez tenha deixado este repórter sugestionado com relação à simplicidade de sua interlocutora. Lurian comeu tapioca e misturou o suco com a faca. Fez questão de pagar a conta, para o que recorreu a um conjunto de notas de 2 reais completamente amassadas em sua carteira. Antes, concedeu a seguinte entrevista.
CartaCapital: Como está se sentindo vendo seu pai na cadeia?
Lurian Cordeiro Lula da Silva: Esse processo deixou a gente mais duro em nossas relações. Eu me sinto com menos paciência, mais ansiosa, mais emotiva. Sou pisciana, então choro mesmo. Mas a pancada é tão forte, que você cria um casco. Tudo que acontece depois parece menor. De qualquer jeito, sempre que vou vê-lo saio mais forte.
CC: Ele está bem?
LCLS: Ele não está deprimido, está bem, sim, ainda que muito indignado. A gente sempre vai nas visitas imaginando que ele pode estar triste, que cada dia é um dia, que deve estar se cansando daquilo… Mas, não, ele está persistente, quer a sua inocência, ou alguma prova de culpa. Isso me dá muita força para continuar a defendê-lo. Embora, nas redes sociais, eu acabe bloqueando todo mundo…
CC: Por quê?
LCLS: Porque, desde a reeleição da Dilma, a coisa tomou uma dimensão de ódio. Cresci numa geração de São Bernardo do Campo em que a maioria dos pais dos meus amigos eram malufistas. Mas eu ia na casa deles e perguntavam como estava meu pai. Diziam: “A gente não vota no seu pai, mas a gente gosta dele, a história dele é muito legal”. Tinham respeito e admiração, mesmo que houvesse divergência. Hoje não tem mais isso. Nunca me xingaram na rua, mas nas redes sociais sempre há um comentário babaca.
LULA, MARISA E OS FILHOS. PARA LURIAN, ELA MORREU “VÍTIMA DE ESTRESSE, ABUSO , FALTA DE RESPEITO”
CC: O ódio que se instalou no Brasil é culpa das redes sociais?
LCLS: O vício nas redes está desnorteando as pessoas. Se um famoso termina um relacionamento, vai todo mundo dar pitaco. Se esse famoso começa a namorar outra, as pessoas vão lá agredi-lo. É uma loucura completa. Pelo menos serve para mostrar a cara de muita gente, que ficou à vontade para dizer o que pensa. E, ao negar o politicamente correto, revelaram-se machistas, homofóbicos, fofoqueiros.
CC: A internet promove o grande encontro dos malucos. Se antes o sujeito se achava sozinho, agora ele sabe que muitos pensam como ele.
LCLS: Vejo o ódio muito mais do lado de lá do que do lado de cá. Mas também tem gente do nosso campo que acaba por cometer excessos. Por que invadir a vida pessoal dos outros, sejam fascistas, de direita ou de esquerda? Não interessa quem bebe, quem cheira, quem trai. Interessa que haja educação, desenvolvimento econômico, essas coisas que estavam transformando a vida das pessoas. Agora não tem mais isso e, além do quê, as pessoas acabaram com as relações. Com quantos amigos você brigou? Eu não briguei, mas bloqueei, excluí. O mundo vive uma situação crítica que transcende a política.
CC: Há pouco tempo você devia falar com grande orgulho do seu pai. Hoje é um constrangimento?
LCLS: Não sinto constrangimento, mas medo. A gente vê pessoas agredindo, ofendendo, ameaçando, e fico com receio, inclusive da minha própria reação, porque, dependendo do que digam, sei que vou elevar o tom.
CC: Isso já aconteceu?
LCLS: Graças a Deus, não. Outro dia estava no aeroporto e veio um senhor: “Você é a Lurian?” Contei até dez. “Sou”. Aí era um eleitor do Haddad. Pensei: “Amém, Jesus”.
CC: Alguém da família passou alguma situação mais complicada?
LCLS: Não sei. Eu e meus irmãos somos muito resguardados, não damos entrevistas, até fotos evitamos. Para a gente é importante esse descanso.
CC: Como foi para vocês o momento da prisão do seu pai?
LCLS: Ele tinha consciência de que ia se entregar. Dizia: “Não vou pedir asilo, eles estão me levando porque acham que sou culpado, vão ter de dar prova disso”. Eu e meus filhos dormimos no Sindicato dos Metalúrgicos (em São Bernardo do Campo, para onde Lula foi assim que ficou decretada a sua prisão) durante a vigília. Tínhamos uma mistura de emoções. Não sabíamos o que falar, tentávamos contar uma piada, a gente tentando tranquilizá-lo, ele tentando tranquilizar a gente. Quando tentou sair do sindicato e o povo não deixou, fui até a janela e não sabia se gritava para pararem com aquilo ou para impedirem meu pai de se entregar.
CC: A família teve um momento reservado com ele?
LCLS: Almoçamos juntos antes de ele se entregar. Minha neta de 1 ano fazia graça, meus sobrinhos… Estávamos todos naquele clima de despedida, tentando transformar tudo num almoço de família como qualquer outro. Mas não estava ali o Lula pai, estava o Lula dirigente, focado. Teve dois momentos de grande emoção para nós: a hora que ele saiu do caminhão de som depois da missa para a Marisa, carregado pelo povo, quando até a vizinhança que estava puta se emocionou. E, depois, entre a gente, na despedida final. Foi a única hora que a gente chorou. No fundo, achamos que ia ser tudo muito rápido, nós e ele tínhamos esperança na votação das ADCs (Ações Declaratórias de Constitucionalidade) aquela semana. Estava na pauta. Quando não aconteceu, foi um balde de gelo nas nossas cabeças.
CC: Eu estava no sindicato e vi Lula sobre o caminhão com um olhar perdido, parecia triste ou preocupado.
LCLS: Acho que olhava e se perguntava: “O que está acontecendo, o que eu fiz?” Havia indignação e tristeza, claro, porque era a missa da dona Marisa e a forma como ela morreu foi muito trágica. Também tem a tristeza por tudo o que acontece com aquilo que ele construiu, com o que estão tentando fazer com a história dele. Mas isso é também o que deixa seus adversários mais indignados: fazem de tudo, mas sua história só se fortalece. Hoje pode não haver mais de 3 mil ou 4 mil pessoas no acampamento, em frente à PF, em Curitiba, mas tem sempre 150 pessoas, vai ter caravana para as noites de Natal e Ano-Novo.
“Na despedida final, foi a única hora que a gente chorou. Mas, no fundo, pensamos que a prisão ia ser rápida.”
CC: Ele pode sair da cadeia antes disso.
LCLS: Poder, pode. Mas quem não tem expectativa não se frustra. E não acredito nisso, então não quero levar mais ansiedade e sofrimento para ele, nem quero ficar mal. Só observo.
CC: Para Lula, qual a importância da vigília em frente à PF, onde está preso?
LCLS: Fundamental. A gente ouve tudo lá de dentro. É uma demonstração de carinho, lealdade, companheirismo. No Natal e no Réveillon, como são feriados, ele não vai receber visita. Por isso estão combinando de celebrar na vigília, para que se sinta abraçado. A não ser que haja um milagre e ele saia antes do dia 23. Podia, né? Tadinho… Vou montar uma árvore e fazer este pedido para o Papai Noel.
CC: Sobre dona Marisa, que você citou a missa no sindicato: ela foi vítima da perseguição ao seu pai?
LCLS: Eu, meu pai, todos nós sentimos que ela morreu por causa disso, lógico. Foi vítima de estresse, violência, abuso, falta de respeito. Teve o AVC e meia dúzia de malucos foram para a porta do hospital torcer por sua morte.
CC: Em seu último depoimento, Lula parecia mais magro e envelhecido. Há uma degradação física ou psicológica do seu pai na cadeia?
LCLS: De maneira alguma. Aquele dia, ele realmente pareceu abatido. Mas houve momentos ali que, pelo amor de Deus… Entendo que tem de haver um tratamento mais formal da Justiça, mas ele é um senhor de 73 anos, respondendo por um crime que não cometeu, não é um bandido. Houve falta de respeito com ele e com a família. Ele está sendo privado do convívio com filhos, netos, bisneta. Se o soltarem amanhã, não apaga esse dano porque o tempo dessa convivência não volta.
CC: Como tem sido isso para as crianças?
CC: Seu filho de 14 anos já tem uma compreensão melhor do que acontece?
LCLS: O João é muito fechado, e vai somatizando. A escola dele foi legal, mas a gente percebe que está mais fechado ainda, mergulhado no videogame. Foi a fuga dele, e talvez não estivesse tão enraizado nisso se a situação fosse outra.
CC: Nesses mais de sete meses de prisão, você percebeu em seu pai algum momento de fraqueza? Ele disse para o Haddad que tem dia que não está legal.
LCLS: Só fiquei preocupada mesmo com ele no dia desse último depoimento. Estava irritado, triste, tudo. E constrangido pela forma como ela (a juíza Gabriela Hardt) o tratava. Nem sei se a palavra é constrangido. Estava indignado e surpreso. Triste por ver a capacidade de um ser humano, uma mulher jovem, tratar um senhor de 73 anos daquela maneira. Quando o (advogado José Roberto) Batochio fala que precisava ir embora e meu pai diz “me leva com você”, ele parecia um cachorrinho… Cachorrinho, não. Uma criança pedindo colo.
CC: Você ficou com pena?
LCLS: É… Parecia aquela brincadeira com um fundo de verdade. Meu pai transforma dor em humor de um jeito muito fácil. Ele não precisa de médico nem psicólogo, mas ninguém está bem ali dentro, né? Sabe que isso vai acabar uma hora, só não sabe quando. A gente não tem o direito de passar para ele qualquer sentimento de pena, temos de levar as melhores notícias.
COM O PAI E A FILHA, EM 1998, NA MISSA CELEBRADA POR OCASIÃO DO DIA DO TRABALHADOR
CC: Como Lula recebeu a derrota nas eleições?
LCLS: A gente não fala muito de política. Uma coisa é você sentir nas ruas o que está acontecendo, outra é ver isso apenas pela televisão, como é o seu caso. Acho que ele não tem noção, por exemplo, do ódio que se disseminou. A gente fala e ele fica olhando meio assim… Não consegue assimilar que isso existe.
CC: O que você espera que aconteça com seu pai daqui para a frente?
LCLS: Não sei o que esperar deles. A gente só quer justiça, justiça, justiça. Que soltem uma pessoa que é inocente. Já está provado que o triplex e o sítio não são dele. Insistem em dizer que as doações que o instituto recebeu eram propinas, mas as mesmas empresas doaram para o Instituto Fernando Henrique Cardoso. Por que só para ele é propina?
CC: Muita gente diz que os filhos de Lula ficaram ricos.
LCLS: Até hoje aparece gente dizendo que fui dona de uma ONG em Santa Catarina que recebeu 9 milhões do governo federal, quando meu pai era presidente. Nunca tive ONG, não saberia nem contar 9 milhões. É uma coisa bizarra. E muito criativa. Imagine que dizem também que meu pai mudou o padrão das tomadas porque eu seria a dona da fábrica das novas tomadas de três pinos. Pegam um vídeo de gente que nunca vimos na vida e dizem que são meus irmãos num iate de luxo cheio de mulheres.
“É uma prisão silenciosa, a mais cruel de todas. A justiça não está só cega, mas surda e muda.”
CC: Uma nota na Veja disse que seu irmão Luiz estaria deprimido. É verdade?
LCLS: Cada um de nós enfrenta o problema do seu jeito. Na época, a gente brincou com ele: “Está deprimido, Luiz Cláudio, vem para cá”. Mas não tem nada disso, nem é um quadro clínico nem uma tristeza, está do jeito que sempre foi.
CC: Os bloqueios das contas de Lula afetaram a vida financeira de vocês?
LCLS: Eu trabalho, todos nós somos independentes. Um dos meus irmãos, que eu não gostaria de citar o nome, é o único que neste momento está desempregado. Quem tem colhão para dar emprego a um filho de Lula?
CC: Isso é um motivo de sofrimento para o seu pai?
LCLS: (Silêncio) Ele é incapaz de pedir para que alguém empregue o filho. Não pede nada a ninguém. Na cabeça dele, eu apenas acho, passa o seguinte: “Pô, eu não precisava ajudar, mas também não precisava atrapalhar”. E não é culpa dele. É culpa da crueldade das pessoas. Primeiro, sempre acharam que a gente é rico. Teve uma época que fiquei desempregada, e as pessoas convidavam para ir a lugares, jantar e tal. Dizia que estava sem grana, então falavam: “Mas você não é filha do Lula?”
CC: Na prisão, a comida é um problema para Lula?
LCLS: Quem já passou fome não tem isso. A vida foi muito dura com ele. Em 1982, já diziam que ele tinha uma mansão no Morumbi. Depois, todo aquele episódio com o Collor envolvendo minha mãe. Ele não se queixa de absolutamente nada. A única coisa que a gente percebe é a tristeza pela injustiça que estão fazendo com ele.
CC: Já chorou com vocês?
LCLS: (Silêncio.) Na primeira visita, a gente é que quase chorou. Mas ele mesmo não chora. Com toda dor que possa sentir, tem uma espiritualidade do bem em volta dele. Muita gente reza e pede por ele, emanando uma energia positiva.
CC: Ele está mais espiritualizado?
LCLS: Sempre foi religioso, mas a política não permitia tanto tempo de reflexão. Hoje tem lido muito, incluindo livros religiosos, espíritas e até evangélicos.
CC: Te amedronta saber que vem aí um governo Bolsonaro e uma PF sob a guarda de Sérgio Moro, enquanto Lula está preso?
LCLS: O mundo está de olho na Polícia Federal. Eu acho, né? Se houver qualquer ideia… Me preocupa mais a morosidade. Alguém que diga: “Deixa ele lá”. Com meu pai nas ruas, teríamos uma reorganização social, outro debate, outro enfrentamento. É uma liderança que eles temem.
CC: Sinceramente, ainda acredita na Justiça no caso do seu pai?
LCLS: Fico me perguntando se essas pessoas dormem. Não sei. É como matar um inocente. Depois você vai beber no bar da esquina? Não, você vai remoer aquilo para o resto da sua vida. Sei que meu pai deita e dorme tranquilo, ora mais aflito, ora menos, mas apenas esperando o dia da liberdade dele chegar.
CC: Já pensou na possibilidade de ele morrer na cadeia?
LCLS: Nunca. Ele tem 73 anos, mas é extremamente saudável, lúcido. Li um texto até bem-intencionado (de Marcelo Reis Garcia, ex-assessor do PSDB e do DEM) dizendo que só vê meu pai saindo da cadeia no caixão. Tão pesado dizer uma coisa dessa… Poxa, meu pai tem família, tem irmãos mais velhos que ele.
CC: Como eles estão?
LCLS: Muito tristes, muito mesmo. Já viveram isso com a prisão do Frei Chico, depois a do meu pai durante a ditadura. Mas essa, agora, é uma prisão silenciosa, a mais cruel de todas. Não maltratam, mas também não tem trato. Acham que estão fazendo justiça, sabendo que estão cometendo uma injustiça. Se calam. A Justiça não está só cega, mas surda e muda. Se o advogado dele fosse o papa, seguiria preso. O papa não foi crucificado porque mandou um terço para ele? Que cristãos são esses? Enquanto Cristo acolhia a todos, apontam o dedo e julgam. Crucificam mulheres, homossexuais… Se Jesus voltasse hoje, diriam: “Soltem Barrabás, esse Jesus é comunista!” É um mundo surreal.
LULA COM O NETO JOÃO, FILHO DE LURIAN. “SUA FUGA FOI O VIDEOGAME”
CC: Nesse processo todo, chegou a questionar sua fé?
LCLS: Na semana que meu pai foi preso, fiz várias promessas. Entre elas, uma novena do Anjo Gabriel. Comprei uma vela e uma imagem. Menino, uma hora entro no banheiro e tinha pegado fogo na asa do anjo. “Tá feia a coisa”, pensei. Persisti, comprei outro, só não bati tambor porque não tenho ritmo. E nada… Será que é para questionar a fé da gente? A resposta ouvi dentro de mim: “Ei, eu matei meu filho para libertar vocês, seu pai não está morto ainda”. Depois disso, não vou questionar mais nada. E se tudo o que ele está passando não o preservou de um atentado? Ainda que doa para a gente, ele está num lugar protegido de qualquer agressão, e vai sair de lá ainda mais forte.
CC: Acredita mesmo nisso?
LCLS: Não digo que sairá mais forte politicamente. Sobre isso, já demonstrou sua força. Sairá mais forte como homem. Na maioria dos dias, é ele com ele mesmo. Isso traz muito autoconhecimento. Até os momentos com a família agora são diferentes. A gente se ouve mais, tem mais saudade, troca mais afetos, entende melhor os olhares, se respeita mais. Estamos pegando a dor e fazendo disso algum aprendizado. Uma pessoa presa e sua família tornam-se muito honestas uma com a outra. Não há mais nada a perder.

LURIAN E O PAI. SE ELA ESTAVA SEM DINHEIRO, OUVIA: “MAS VOCÊ NÃO É FILHA DO LULA?”
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O Amor vai vencer o Ódio – Lula no Encontro Nacional do PT
Publicadoo
6 anos atrásem
23/11/19
Durante 580 dias fui isolado da família, dos amigos e companheiros, apartado do povo, mesmo tendo o direito constitucional de recorrer em liberdade contra a sentença injusta e fraudulenta de um juiz parcial. Um direito que somente agora foi proclamado pelo Supremo Tribunal Federal, para todos, sem exceção.
um ex-juiz que atuou fora da lei, grampeou advogados, mentiu ao país e aos tribunais, antes de desnudar seus objetivos políticos. Lutarei para que seja anulada a sentença e me deem o julgamento justo que não tive.
Desde que foi criado, há quase 40 anos, o PT disputou dentro da lei e pacificamente todas as eleições neste país. Quando perdemos, aceitamos o resultado e fizemos oposição, como determinaram as urnas. Quando vencemos, governamos com diálogo social, participação popular e respeito às instituições.
Aos que criticam ou temem a polarização, temos que ter a coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para ficar em cima do muro ou no meio do caminho: somos e seremos oposição a esse governo de extrema-direita que gera desemprego e exige que os desempregados paguem a conta.
Andam negando essa verdade científica, mas a Terra é redonda e nós estamos, sim, em polos opostos: enquanto eles semeiam o ódio, nós vamos mostrar a eles o que o amor é capaz de fazer por este país.
Para o mercado decidir quem pode e quem não pode se aposentar, quanto vai custar o gás de cozinha, o combustível, a energia elétrica, visando somente o lucro, o Brasil não precisaria do PT.
Porque o maior inimigo do Brasil hoje e desde sempre é a desigualdade, esse vergonhoso fosso em que 1% da população detém 30% da renda nacional e para a metade mais pobre sobram 17%, as migalhas de um banquete indecente.
O peso da injustiça recai hoje sobre os motoristas de aplicativos, os jovens que perdem a saúde e arriscam a vida fazendo entregas em motos, bicicletas, ou mesmo a pé. Os que não têm a quem recorrer por seus direitos, porque a única relação de trabalho que conhecem não é a carteira profissional, mas um telefone celular que ele precisa recarregar desesperadamente.
O maior erro que nós cometemos foi não ter feito mais e melhor, de uma forma tão contundente que jamais fosse possível esse país voltar a ser governado contra o povo, contra os interesses nacionais, contra a liberdade e a democracia, como está sendo hoje.
Também tínhamos de ter trabalhado muito mais para democratizar o acesso à informação e aos meios de comunicação, apoiado mais as rádios comunitárias, fortalecido mais a televisão pública, a imprensa regional, o jornalismo independente na internet.
Entendo que democratizar a comunicação não é fechar uma TV, é abrir muitas. É fazer a regulação constitucional que está parada há 31 anos, à espera de um momento de coragem do Congresso Nacional. É fazer cumprir a lei do direito de resposta. E é principalmente abrir mais escolas e universidades, levar mais informação e consciência para que as pessoas se libertem do monopólio.
A autocrítica que o Brasil espera é a dos que apoiaram, nos últimos três anos, a implantação do projeto neoliberal que não deu certo em lugar nenhum do mundo, que vai destruir a previdência pública e que ao invés de gerar os empregos que o povo precisa está implantando novas formas de exploração.
Que ética é essa que condena 2 milhões de trabalhadores, sem apelação, destruindo empresas para salvar os patrões acusados de corrupção?
Temos muito o que falar sobre ética, sobre combate à corrupção e à impunidade. Mas acima de tudo temos que falar a verdade.
Os indicadores econômicos do Brasil pioraram: a balança comercial em queda, a economia paralisada, setores da indústria destruídos, o investimento público e privado inexistente, o rombo nas contas aumentado irresponsavelmente por razões políticas. O custo de vida dos pobres aumentou e as pessoas voltaram a cozinhar com lenha porque não podem comprar um botijão de gás.
O Brasil só não está passando por uma convulsão social extrema por causa da herança dos governos do PT. Porque não conseguiram acabar com o Bolsa Família, último recurso de milhões de deserdados. Porque milhões de famílias ainda produzem no campo, para onde levamos água, energia, tecnologia e recursos em nosso governo. E também porque não conseguiram destruir ainda os sistemas públicos de saúde, educação e segurança, mas fatalmente isso irá ocorrer pela criminosa política de cortes do investimento público.
Fiquem alertas os que estão se aproveitando dessa farra de entreguismo e privatização predatória, porque não vai durar para sempre. O povo brasileiro há de encontrar os meios de recuperar aquilo que lhe pertence. E saberá cobrar os crimes dos que estão traindo, entregando e destruindo o país.
Um país que não garante educação pública de qualidade a todas as suas crianças, adolescentes e jovens não se prepara para o futuro.
O Brasil precisa embarcar de volta para o futuro. E não tem ninguém melhor para pilotar essa máquina do tempo do que a juventude desse país. Porque essa juventude, seja ela branca, negra ou indígena, ela quer ensino de qualidade, quer adquirir conhecimento, quer de volta as oportunidades de trabalho digno, sem alienação e sem humilhações.
Luiz Inácio Lula da Silva
Os Jornalistas Livres também fizemos a transmissão ao vivo que pode ser assistida em https://www.youtube.com/watch?v=XJTUbyFB5II&feature=youtu.be

Por Ricardo Melo*, especial para os Jornalistas Livres
Pode soar incrível. Saíram da boca do usurpador Bolsonaro duas palavras úteis além de bravatas escatológicas de padrão fascista: Lula está “momentaneamente solto”.
Mais do que despeito diante do revés imposto aos golpistas, a definição guarda significado estratégico. O grande capital e seus associados na mídia, judiciário, executivo e legislativo insistem no objetivo de eliminar Lula e o que ele representa. A decisão do Supremo é sintomática: cederam-se alguns anéis para tentar outro bote para recuperá-los (com lucro) mais à frente. Sobretudo mantiveram-se os dedos que apertam gatilhos simbólica e literalmente, como aconteceu com Marielle/Anderson.
Os elogios derramados ao presidente do STF pelo voto de minerva mal abafaram o constrangimento. Nem bem terminou a sessão, Toffoli saiu a dizer que o Congresso pode mudar o decidido pouco antes. “Basta uma emenda”. Quanta hipocrisia. Nenhuma das chamadas cláusulas pétreas pode ser modificada exceto por outra Assembleia Constituinte. Nenhuma. Entre elas, as relativas a direitos e garantias individuais, como a do direito à defesa até o último recurso ser julgado. A Constituição é inequívoca a respeito –assim como inequívoco é o percurso tortuoso de Toffoli nos tribunais.

Ato em São Bernardo, para receber Lula – Foto de Bacellar
É indiferente então que Lula tenha saído da solitária? Nem um tolo pensaria isto. Trata-se de uma vitória tática da maior importância. Deixe-se em papelada o raciocínio malabarista de que Lula fora da cadeia favorece a direita, disposta a se reaglutinar com receio do fantasma petista. Pensamento tão razoável quanto imaginar que o inimigo solto, mesmo momentaneamente, é mais seguro do que preso!
Dúvida? Com a palavra Steve Bannon, um dos gurus da extrema direita, conselheiro de todas horas da famiglia Bolsonaro e ex-queridinho de Donald Trump: “Lula é uma figura trágica […] ele é alguém que foi corrompido por dinheiro e poder. É evidente e, para mim, isso agora vai causar uma enorme perturbação política no Brasil”.
Bannon sabe do que fala. Já para o povo pobre do Brasil, para os democratas de verdade, o alcance da liberdade provisória de Lula ficou expresso nas demonstrações incontidas de alegria, satisfação e esperança. Impossível para quem deseja um país decente ficar imóvel diante da recepção a Lula tanto em Curitiba como em São Bernardo. Se Lula ainda não está livre das acusações que pesam sobre ele, é fato que o recuo imposto aos golpistas tornou-se um combustível pronto a incendiar-se diante de um governo interventor.
Agenda de ruínas
Lições da história demonstram que o Brasil reúne as chamadas condições objetivas para entrar nos trilhos da democracia. Os de baixo não podem mais viver como agora. A miséria se alastra a toda velocidade; direitos trabalhistas e previdenciários viraram pó; o setor público vem sendo desmantelado impiedosamente; a soberania nacional sofre ataques sucessivos; estatais são vendidas na bacia das almas; os parcos ganhos salariais dos anos pré-golpe começam a ser revertidos. E o desemprego permanece nas alturas, mesmo com as maquiagens estatísticas de “informalidade”, “intermitência” e outros eufemismos abjetos. O esmagamento das liberdades e das minorias, a entrega do poder a milicianos e o desprezo pelo povo equivalem à expressão política necessária para o êxito da agenda de ruínas.
Só que no topo da pirâmide o ambiente está longe de ser tranquilo. Mesmo o mais cínico dos extremistas de direita sabe que a “vitória” de Bolsonaro emergiu da fraude e da manipulação descaradas, a começar pelo banimento de Lula das eleições. O capitão medíocre foi o que restou aos tubarões assustados com o desmoronamento das candidaturas de direita tidas como “civilizadas”. Há, porém, um desconforto inquietante nessa esfera em face da brutalidade da gangue aboletada no Planalto. Também medo de que a implosão do PSL exponha mazelas muito maiores e fétidas além da fronteira do partido.
A divergência não é de fundo, claro. Preocupa esta “gente limpinha”, alinhada desde sempre com os golpistas, que a desfaçatez bolsonarista multiplique a oposição às contrarreformas, cuja aprovação é objetivo maior da elite apodrecida. O pano de fundo internacional não ajuda, com as grandes potências travando uma batalha encarniçada para assegurar fatias crescentes do mercado. Isto num momento em que os próprios teóricos neo-liberais do FMI, Banco Mundial e Cia. admitem que a economia mundial patina e o horizonte se torna mais e mais sombrio.
Não à toa Trump faz gato e sapato do “grande aliado” Bolsonaro, transformado o Brasil em chacota mundial. As multinacionais esnobam Guedes e seus asseclas nos leilões de petróleo e exigem benefícios ainda mais indecentes. Em resposta, Guedes providencia mais contrarreformas para chilenizar o Brasil a toque de caixa antes que aventureiros de outros países o façam. O golpe na Bolívia que derrubou Evo Morales –responsável por um dos maiores índices de crescimento e inclusão social em seus governos– prova que o grande capital não está para brincadeira. Ele compreende muito bem a origem da onda de revoltas espalhadas mundo afora.
Ninguém se engane: neste cenário, a artilharia contra Lula de forma alguma arrefeceu. Seu nome está associado à ideia de conquistas sociais, de liberdade, democracia, menos desigualdade e limites à exploração desenfreada. Tudo o que contradiz a cartilha do grande capital. Obrigados a recuar um pouco, os donos do dinheiro já anunciam nova ofensiva em todas as instâncias. Provocadores esparramados em redes sociais também não pensarão duas vezes em passar das palavras à ação. Contam com a mesma impunidade que cerca, por exemplo, a famiglia Bolsonaro, os assassinos de Marielle/Anderson e o poder miliciano infiltrado no Estado. O reforço da segurança do ex-presidente Lula é questão de honra para o movimento popular, assim como a anulação de todos os processos mentirosos abertos contra ele.
A melhor defesa é o ataque. Como bem disse Lula, o combate imediato é contra a agenda de destruição do Brasil colocada em prática desde a derrubada de Dilma Rousseff. Algo muito maior que uma guerra de palavras parlamentar ou batalha de twitters. A disputa, mais do que nunca, ocorre na ação: nas ruas, nos bairros, nas escolas, nas empresas, nas estatais, no comércio, nos movimentos sociais, nos agrupamentos de desempregados, nas caravanas pelo Brasil –na recusa permanente a todos os atos, leis e decretos que atentam contra a dignidade, sobrevivência e livre manifestação.
Lula é insubstituível como alavanca dessa contraofensiva progressista. Instrumento necessário para organizar os pobres e democratas, tanto quanto para construir uma frente política à altura das urgências do Brasil. O sucesso ou fracasso desse confronto cotidiano vai ditar o prazo de validade de Bolsonaro no poder.
*Ricardo Melo é jornalista, ex-presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) e apresentador do programa ‘Contraponto’ na rádio Trianon de S.Paulo (AM 740)

Ato em São Bernardo, para receber Luiz Inácio Lula da Silva, depois de 580 dias de prisão na sede da Polícia Federal de Curitiba – Foto de Ricardo Stuckert

Por Ivan Hegenberg para o Jornalistas Livres.
Lula é o novo Mandela e não pode haver receio ou hesitação na celebração de sua liberdade. Na Lava Jato foi cobrado do ex-presidente algo que em um Estado de Direito jamais se pode exigir, que é uma prova de inocência irrefutável. Poucas lideranças políticas de grande envergadura poderiam ter suas contas devassadas como as do ex-presidente sem apresentar uma prova material comprometedora. Mesmo partindo em desvantagem, a defesa técnica tem muito o que dizer sobre as perícias solicitadas, sobre o fato de o triplex ter sido penhorado pela OAS e pode contrapor as delações acusatórias com muitas delações que absolveriam o réu.
Dallagnol e Moro ficaram frustrados por não conseguirem nada além de ilações e delações duvidosas, mas tiveram sucesso na intensificação de questionamentos sobre a ética lulista. Em aliança com a mídia, conseguiram criar em grande parte da população o sentimento de que para deter Lula seria aceitável inverter o ônus da prova.
A ideia de se forçar uma condenação exemplar sem as impressões digitais do ex-presidente é uma farsa jurídica insustentável, e precisa ser vista como uma usurpação da vontade popular. Pode-se desaprovar as escolhas políticas feitas ao longo dos anos petistas, mas não houve legitimidade na criminalização de suas ações. Apenas a imolação de um bode expiatório para todo um sistema que seria corrupto com ou sem Lula.
E como se trata de um julgamento político, não há maior prova de inocência para Lula do que o bolsonarismo. Nada demonstra de maneira mais cristalina que a perseguição ao PT não tinha como devir o combate à corrupção, e que o antipetismo oficial sempre significou um projeto de poder retrógrado e criminoso. Projeto do qual fazem parte muitos corruptos da grande imprensa, do judiciário e do empresariado.
Lula livre é luta nossa! É hora de celebrar e união contra os retrocessos.
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