Por Marcha Mundial das Mulheres
A segunda discussão do primeiro dia do Seminário Internacional “Resistência e construção de Movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, organizado pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), teve o “Enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal: visões e estratégias de disputa para mudar o modelo de reprodução e consumo” como tema central, na tarde desta segunda-feira (17).
A mesa de debate teve mediação de Tica Moreno, que é da coordenação executiva da MMM no Brasil, e participação de Graça Samo, que é coordenadora do Secretariado Internacional da MMM, sediado em Moçambique, Karin Nansen, que é fundadora e presidente da rede Amigos da Terra – Internacional, que atua com foco em justiça ambiental, social e de gênero, e Wendy Cruz, que é integrante da Via Campesina, articulação que reúne organizações e movimentos camponeses de todo o mundo.
Wendy afirmou que estamos vivendo um desaparecimento do estado como garantidor de direitos e que, em contrapartida, há um falso discurso sobre representatividade que faz algumas mulheres se sentirem parte deste sistema que produz ganância e desesperança. Ela alertou que o capitalismo tem maneiras diversas de se recompor e que nós, que lutamos contra este sistema, temos que forjar novas estratégias para enfrentá-lo.
É preciso, segundo ela, apontar a concretude deste sistema de morte. Os megaprojetos, o agronegócio e a militarização dos corpos e territórios, que são expressões desta organização patriarcal e neoliberal, são atentados contra a vida. Não se pode permitir que estas violências se normalizem. Para ela, as respostas coletivas a esta realidade também têm que ser concretas. Para a Via Campesina, a soberania alimentar e dos povos é esta proposta de resistência. Neste sentido, a economia feminista também é uma aposta de longa data.
Para Karin Nansen, é sob as bases da economia feminista que se deve construir a crítica à crise econômica, cuja causa é o modo de funcionamento do sistema capitalista, onde os bens comuns e o trabalho das mulheres são compreendidos como fontes inesgotáveis de exploração. Romper com este sistema, portanto, é romper com a divisão sexual do trabalho. Se hoje as mulheres são linha de frente nas lutas socioeconômicas, é porque há um compromisso profundo com a transformação do mundo e da vida das mulheres e não por uma conexão natural.
Karin lembra que as mulheres também são protagonistas da luta contra a militarização. Em diversos territórios, a militarização tem estreita conexão com as empresas transnacionais, que utilizam o aparelho repressivo do estado para defender seus interesses corporativos. Para ela, a resistência para tantas violências está na construção do poder popular.
Graça Samo acredita no mesmo. Para ela, é preciso que as mulheres estejam juntas para enfrentar os “gigantes” deste sistema que mata, todos os dias. É a partir das experiências das mulheres que se torna possível pensar em soluções para a espoliação. Graça também defende que o movimento feminista antissistêmico precisa ter agenda própria e valorizar os próprios processos organizativos. De acordo com ela, a cooptação e o ataque às lutas feministas sempre existiram, mas a organização coletiva é capaz de resistir a estes processos.
Para Tica Moreno, do Brasil, a diversidade de experiências e de mulheres que compõe as organizações feministas antissistêmicas deve ser uma fortaleza, ao invés de fonte de fragmentação. São estas organizações que têm a capacidade de fazer uma crítica integral ao sistema capitalista e colocar a defesa da vida como interesse central.
Com estas reflexões, encerrou-se o primeiro dia de Seminário Internacional. A atividade reúne militantes feministas de países das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio e é um espaço de formulação de reflexões estratégicas.