São gigantes os homens que vejo

O sol beija a manhã em seu céu azul, verde é a grama e muitos são os pés que pisam, de tão longe, tão firmes.

 

 

Fico pensando se Glauber estivesse vivo e nesse momento, Rocha, portasse meu celular. O que veria nessa terra em transe pelo olho da linha, numa transmissão ao vivo?

 

Ai de ti, Brasília. Era uma terça-feira de abril, 24, onde todos querem uma resposta.

 

Chego.

 

Nesse momento há aeronave no ar. Há uma invasão? Vejo uma pororoca no espaço, indígenas avançam, há forte demonstração de forças. Dão o nome de Tiradentes a toda essa ação das forças de segurança. Quase uma heresia ao mártir, nosso pescoço de herói, onde o comandante sisudo se explica: estava tudo previsto!

 

Será Tupã quem guia. São gigantes os homens que vejo e me veem. As mulheres, maiores ainda, levantam o braço da força que redime. 

 

A presença do ministro Sérgio Moro e toda tropa e armas possíveis, na chamada Operação Tiradentes, diante de vários exércitos de tantos povos, guerreiros armados com arcos, paus, bordunas e flechas, deixa tudo muito evidente.

Com canto e encanto, força bruta, espanta-se meu coração naquele momento. A grande batalha chegou?

É o XV  Acampamento Terra Livre, a articulação dos povos indígenas numa mobilização nacional. No peito dos índios, bate aeronave que vigia em todo dia. Não é ameaça que os índios trazem, é resistência.

 

Temem.

 

Temer jamais, sempre souberam disso. Digam aos povos que avancem, diz o brado no ar. Em tantos momentos, gritam Lula livre, pois não temem a liberdade de ninguém, de nenhum ser ou grão de areia. Afirmam que tudo tem dono, seus espíritos , a ordem das coisas.

 

Há pajés por todo espaço a cantar pela guarda, guerreiros, chefias. Há paz, há tensão, profundo apreço. Há ciência.

 

Guardam a memória, entendo bem agora, sabem de onde vem e para onde irão. Além da liberdade não se enganam.

Conduziram os líderes, entre tanta diversidade, à casa do povo, sob forte segurança.

 

Via as tropas, via os povos e seus exércitos. E tudo era canto, dança, ordem absoluta no caos das coisas e suas línguas que lambem fogo.

Aqueles que não temem, delicadeza ou ventura, vieram em breve visita.

 

Está cheia de ratos nossa bandeira, sangue de índio.

É a multidão que avança, originária, em sua própria terra. É fato, nada para, cura desenganados.

 

 

Há uma eternidade em quem caminha, coisa desses povos que transitam, possuem e não desistem.

Como Karajá e suas lindas asas na cabeça diante do Itamaraty, rio das pedras pequenas na consciência que não se apruma ou desiste, demarco.

Livre a alma e a mancha em nosso ser. A boca das águas, curvas de rio.

 

Resistiremos, custe o que custar, afirmam todos.

*imagens por Helio Carlos Mello©, Jornalistas Livres.

 

 

 

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