SALÁRIOS, TROÇAS E FULHARIAS

Por Chicão*

É incrível a desfaçatez de grande parte dos políticos e dos agentes públicos deste vilipendiado Brasil; a irresponsabilidade e a cara de pau de integrantes dos Poderes Executivo e Judiciário são marcas registradas daqueles pretensiosos messias, que se colocam acima das leis e dos interesses da nação.

Some-se a essa postura saqueadora de sonhos e recursos uma indescritível apatia social quando se trata de defender direitos. Por onde anda o pato que ninguém deveria pagar? Será que o ensandecido rufar das panelas, outrora insuflado pela mídia conservadora, foi silenciado pelos atropelos da seletiva Justiça (?) brasileira, materializada na direcionada Lava Jato?

Provavelmente o pato foi para as panelas dos cidadãos mais abastados deste país, enquanto que o fantasma da fome volta a frequentar o imaginário popular e reavivar o ronco das barrigas vazias. Mas o Brasil não voltaria para os trilhos? A Reforma Trabalhista não catapultaria a nossa economia a níveis mais elevados? Infelizmente somente os empregos e os salários é que foram para o espaço. Acorda povo!

No apagar das luzes do atual (des) governo mais um vergonhoso golpe atinge a combalida governança brasileira, trata-se da concessão de aumento salarial de 16,38% para os juízes, cujos vencimentos passarão de R$33.700,00 para R$39.200,00, nada mal para um país com quase trinta milhões de desempregados sem mencionar o número de trabalhadores informais e explorados.

O que mais chama a atenção é que neste país as leis se aplicam somente para os mais fracos, quase sempre os mais injustiçados e carentes.

Como pode o Executivo e os ministros do STF atropelarem a Lei da Responsabilidade Fiscal que restringe a contratação de servidores e aumentos salariais em ano de eleição? Os 930 milhões de reais, a serem gastos somente com os salários dos juízes, é fruto da negociada extinção do auxílio moradia bradam os inatingíveis do Olimpo brasiliense.

Estes mal remunerados trabalhadores, talvez por interesses outros ou pura incompetência, esqueceram-se de que todos os servidores do Executivo, algo em torno de 23 carreiras, cujos rendimentos estão atrelados ao teto do Supremo Tribunal Federal serão beneficiados em um futuro muito próximo. Ou seja, a conta ficará ainda maior, as panelas mais vazias e o pato mais gordo.

Outra questão que demonstra claramente o descontrole, a irresponsabilidade e a capacidade de aplicar troças no povo brasileiro é esta troca de reajustes salariais e benefícios por investimentos. Trata-se de mais uma chacota daqueles que se sentem protegidos pelo escudo legalista da impunidade e que, em nenhum momento, se preocupam em eliminar as distorções de uma máquina pública que a muito tempo deixou de servir aos cidadãos.

As Leis? Ora as Leis. Nunca neste país se falou tanto, debateu e combateu a aplicação do arcabouço legal em todas as suas instâncias e esferas, sem dúvida isto é salutar para a Democracia, mas o produto final destas discussões tem sido benéfico para o nosso povo? Creio que não. Vide as fulharias levadas a cabo durante o jogo democrático dos debates; conceitos distorcidos, pareceres complexos e descolados da Constituição Federal, interpretações monocráticas e subjetivas solapam todos os dias a desidratada Justiça (?) brasileira. Quem vai pagar este pato? Alguém se dispõe a bater as panelas?

Dia 07 de outubro temos mais uma oportunidade de manifestar nosso repúdio a atual configuração do sistema político brasileiro. É preciso repensar o papel dos nossos políticos, é preciso reavaliar a quantidade de deputados e senadores por Estado, é preciso estabelecer metas e padrões mínimos de eficiência da administração pública. Acima de tudo é preciso resgatar o compromisso com o povo e com o país. Chega dos discursos populistas e engabeladores dos políticos parasitas beneficiários do atual sistema político obscuro e elitista que perpetua a pobreza e enfraquece a cidadania.

*Chicão é eletricitário e presidente licenciado do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo

Edição Marina Azambuja 

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