“A maior bicha do Brasil” Rogéria morreu nesta segunda

Nesta última segunda-feira (04/09) morreu a Rogéria, nascida Astolfo Barroso Pinto, no Cantagalo — Rio de Janeiro. “Em Cantagalo, nasceu a maior bicha do Brasil – no caso, eu – e o maior macho do Brasil, Euclides da Cunha”.

Rogéria foi maquiadora na extinta TV Rio, foi vedete e atriz. No Carnaval do fatídico e tenebroso ano de 1964, pouco antes do início da ditadura militar, ela venceu um concurso de fantasias. Havia mudado seu nome de Astolfo, “que fazia demais a ‘linha executivo’”, para Rogério. Foi ali que o público, aos gritos de “Rogéria, Rogéria”, cunhou seu nome artístico definitivo. Nos anos 70, saiu pelo mundo: Angola, Moçambique, Estados Unidos e Espanha – onde, para trabalhar, sugeriam que ela fizesse a operação de mudança de sexo, o que ela nunca fez.

Chegou a Paris, virou amiga e dividiu casa com a travesti Chou-Chou, trabalhou na noite parisiense e se tornou definitivamente “très chic”. Mas foi sua mãe, dona Eloah, quem ensinou as lições definitivas da “arte” de ser mulher: “Você vai se vestir de mulher? Então, sabe de uma coisa? Nós somos mais asseadas”. Desde então, se não estivesse de unha feita, Rogéria não saia de sua casa, no Leme, bairro chique do Rio de Janeiro. Em 1979, ela recebeu o Troféu Mambembe de melhor atriz pelo peça “O Desembestado”, com Grande Otelo.

Pela TV, em novelas como “Tieta”, “A Grande Família”, “Malhação”, ou como jurada do programa de calouros do Chacrinha e de Luciano Huck, Rogéria passou a frequentar as casas do brasileiro comum. Com seu jeito divertido e alto astral, ela confundia a cabeça e o coração dos preconceituosos. Se identificava como transformista, mas liberava: “Pode chamar de bicha mesmo”.

Em outubro do ano passado foi lançada sua biografia autorizada “Rogéria – Uma mulher e mais um pouco”. Na mesma época Leandra Leal estava terminando o documentário Divinas Divas, que mostra os bastidores do espetáculo com o mesmo nome e colhe depoimentos de 8 das principais transformistas que na década de 60 se apresentavam no Teatro Rival, no Rio, do avô de Leandra, Américo Leal. “Nos anos de chumbo, não tinha estrela, não tinha vedete, nada… Todo mundo fugiu. Nós, homossexuais, levantamos o show business naquela época. As pessoas gostavam da gente”. Quando foi lançado, em junho deste ano, Rogéria entendeu que o filme vinha num momento oportuno: “Houve um retrocesso terrível na democracia. As pessoas não respeitam professores, as mulheres continuam apanhando. As bichas reclamam, mas as mulheres apanham muito.”

Em entrevista ao El País, em janeiro desse ano, Rogéria afirmou que nunca quis assumir nenhum tipo de militância ou bandeira LGBT: “E eu já não sou a bandeira? Quando me deram o papel de avó na novela, chorei de alegria. Não tinha siglas quando apareci. Consegui fazer meu nome, ser respeitada, ser chamada de senhora….Nasci homossexual, nunca fiquei em armário, não acredito em opção sexual e sempre me posicionei contra qualquer tipo de hipocrisia. Tem gente de movimento gay que não gosta de algumas coisas que digo, mas para esses eu falo que antes deles chegarem já existia Rogéria, meu amor”.

Veja abaixo uma pequena pesquisa que fizemos na internet para você ver um pouco mais da Rogéria:

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