Por Pedro Lovisi e Pedro Spinelli
Andar nas ruas de Belo Horizonte já pode ser inseguro e preocupante, mas se você é negro e pobre, as chances de alguma tragédia acontecer são três vezes maior, afinal, a cada quatro jovens mortos em BH, três são negros.
O número ainda piora: a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no país. Assim identificou o relatório parcial da Comissão Especial de Estudo sobre o Homicídio de Jovens Negros e Pobres da Câmara Municipal de Belo Horizonte.
A iniciativa liderada pela vereadora negra Áurea Carolina (PSOL) e o vereador Arnaldo Godoy (PT) teve início em fevereiro de 2017, quando o Plenário da Câmara Municipal aprovou a criação da comissão. A partir daí, foram realizadas várias reuniões para se discutir o assunto e definir seus procederes, como pesquisas, análise de dados e debates entre autoridades e sociedade civil. Além disso, o estudo contou com a colaboração do professor Doutor da Faculdade de Educação da UFMG, Rodrigo Ednilson de Jesus.
Dentre os pontos abordados pelo relatório, a arma de fogo é a principal causa das mortes de jovens negros e pobres em BH, que fazem com que Belo Horizonte seja a 11º capital que mais mata estas pessoas. De acordo com a pesquisa baseada em dados do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade do SUS), o número de homicídios de jovens aumentou drasticamente quando comparado com 30 anos atrás. Enquanto em toda a sociedade – sem levar em consideração idade, sexo e cor – o crescimento foi de 593%, o aumento envolvendo apenas jovens foi de praticamente 700%.
Além disso, para corroborar a tese de que é o negro a principal vítima das armas de fogo, o relatório identifica que, mesmo com o grande crescimento de homicídios, o número de casos envolvendo pessoas brancas diminuiu em 26%, já os mesmos envolvendo a população negra, aumentou 47%.
Outro tópico chocante que o relatório aponta é a diferença entre a taxa de homicídios nas variadas regiões de Belo Horizonte. Se analisarmos simplesmente os números organizados pelo IVJ- BH* (Índice de Vulnerabilidade Juvenil de Belo Horizonte), as regionais Leste e Norte foram as que apresentaram as maiores médias; por outro lado, as menores são da Pampulha e Centro- Sul. Porém, o que mais assusta é a discrepância destes números dentro das próprias regiões.
Enquanto em bairros como Sagrada Família, Horto, Santa Tereza e Floresta, o índice é de 22,5, em territórios consideravelmente pertos como Taquaril e Alto Vera Cruz, o número chega a 72,9. Esse contraste também é evidente na regional Centro – Sul. Ao mesmo tempo em que Cidade Jardim, Santo Antônio, Luxemburgo e Vila Paris são taxados com 7,8, locais com menos de 500m de distância como a Vila Estrela e a Barragem Santa Lúcia apresentam 57,6.
Embora o relatório tenha como foco evidenciar e comprovar a existência de uma cultura genocida contra a população negra no Brasil e, principalmente, em Belo Horizonte, ele não se limita em análise de dados.
Ao final, são feitas propostas ao Executivo Municipal para a resolução desse problema. Dentre elas, estão a criação de políticas sociais contra o racismo; um novo modelo de segurança pública; promover e facilitar o acesso da população negra e pobre à Justiça e proporcionar espaços públicos em regiões mais necessitadas da cidade.
*O IVJ-BH seguiu a metodologia utilizada pelo IVJ-MG, replicando o modelo de análise fatorial adotado.
A análise fatorial é uma técnica estatística sofisticada que busca, através da avaliação de um conjunto de variáveis, a identificação de dimensões de variabilidade comuns existentes em um conjunto de fenômenos com o intuito de definir a estrutura das inter-relações entre as variáveis em análise.
Uma resposta
Companheir@s,
preciso saber com adquirir uma copia do relatorio sobre o genocidio da população negra de BH.
Saudações Quilombolas,
Pedro Cavalcante