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Geopolítica

Leia o relato de Maryia, uma jovem afegã

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Na primeira fotos vemos as mulheres depois de 1979, momento no qual o grupo Terrorista Talibã já havia tomado o poder, enquanto na segunda vemos a situação feminina antes do Talibã, no governo democrático

 

Maryia é uma jovem afegã que trabalha na secretaria especial da presidência de seu país, mais precisamente na pasta sobre a Rússia. É formada em direito e ciências políticas, representou o Afeganistão diversas vezes em eventos internacionais, como o World Festival of Youth and Students (2017), na Rússia. É fluente em russo, inglês, e sua língua natal, árabe. Representa seu país na plataforma Future Team, criada pelo governo russo. Ela escreveu esse relato como parte do grupo Born as Many, Grown as One. Como trabalha para o governo preferiu ocultar seu sobrenome, por uma questão de sobrevivência. A tradução do relato foi realizada por Laís Vitória Cunha de Aguiar, repórter dos Jornalistas Livres. Leia o relato, na íntegra, abaixo.

Meu nome é Mariya do Afeganistão e eu vivo em Kabul.

Eu era uma garota pequena quando a guerra começou no Afeganistão, assim que o governo entrou em colapso e o presidente da República Democrática do Afeganistão, Dr. Najibullah, foi morto pelo Taliban. Assim a guerra continuou até que a NATO (North Atlantic Treaty Organization) intervisse. Mas a guerra continuou da mesma forma, e prossegue até hoje.

Meu pai estava trabalhando para o governo Democrático como presidente do Partido Democrático na minha província, Parwan, por isso ele não pôde voltar para o Afeganistão, pois era possível que ele fosse morto como comunista ou apoiador do regime. Nós vivemos como refugiados em Moscou por dois anos, e depois fomos para o Tajakistão, onde eu, minha irmã e irmão terminamos o Ensino Médio em uma escola russa em Dushanbe. Após muito tempo vivendo fora de meu país, meu pai decidiu voltar a nossa terra natal, em 2008 e nós voltamos para Kabul.

Hamid Karzi era o presidente da República Islâmica do Afeganistão e tudo havia mudado com esse regime: pessoas, ideologias e o país. Tudo mudou negativamente. Nós começamos a viver e estudar em Kabul e no início foi muito difícil para uma garota que cresceu fora do país. Tudo era muito assustador, especialmente o comportamento das pessoas. Quando eu saía para compras, escola ou para ir ao escritório, me tratavam mal e especialmente outras mulheres. Vi homens que não respeitavam mulheres ou garotas vivendo normalmente, indo ao escritório ou estudar na universidade.

Então eu comecei indo a escola e assistindo 12 aulas de formação para que pudesse ter o certificado da escola afegã, e entrar na universidade com documentos afegãos.

Infelizmente não consegui passar pelos testes governamentais para estudar Direito e Ciência Política na Universidade de Kabul, que era a graduação que eu mais queria, para me tornar uma advogada ou pelo menos, algo para conseguir trabalhar no governo.

Quando não consegui passar no mais complicado teste, percebi que era impossível alcançar meu desejo. Muitos jovens que desejam realizar a graduação em um país estrangeiro, têm facilidades para realizá-lo, graças aos governos desses países, que às vezes disponibilizam facilidades, mas o governo afegão fez o sistema educacional muito complicado, e muitos estudantes são reprovados ou não sabem para qual faculdade serão selecionados, o que mata a fé dos estudantes esforçados de se tornarem, no future, alguém que gostariam de ser.

Depois fui para uma universidade privada começar a graduação em Direito e Ciência Política. Não era melhor que a Universidade de Kabul, mas eu precisava completar minha educação.

Eu estudei nessa faculdade, porém ainda encontrei muitas dificuldades, como má qualidade do ensino, má organização das aulas, administração da universidade ou atenção apenas ao dinheiro.

Por eu falar em alto e bom tom sobre a qualidade do ensino, os administradores da universidade pegaram meus documentos e me expulsaram. Dói muito pensar nisso e foi terrível porque eu era a liderança de todos os estudantes que queriam lutar por seus direitos. Meus amigos ficaram ao meu lado e não permitiram que a administração da universidade me expulsasse definitivamente.

Depois de enfrentar todos esses problemas, finalmente terminei a graduação e estava me preparando para conquistar um trabalho no Ministério de Relações Exteriores.

Primeiramente comecei um trabalho como uma estagiária, aprendi a trabalhar no escritório, mas infelizmente isso continuou por dois anos: fiquei sem salário por dois anos. O chefe não me ajudou em nenhum momento para conseguir trabalhar oficialmente no Ministério das Relações Exteriores. Trabalhar lá inicialmente foi interessante, pensei que lá estavam as pessoas mais bem educadas, com muitos valores e experiências no trabalho diplomático.

Pensei que por estarem exercendo uma tarefa for a do país, saberiam respeitar mulheres e seus direitos.

Mas muitos desses diplomatas eram homem que chegaram ao poder de uma forma muito fácil, como sendo parentes ou amigos de alguém que era chefe em algum departamento do ministério. Esse tipo de conexão no Ministério de Relações Exteriores fez com que eu perdesse a esperança, porque não conhecia ninguém e sabia que merecia trabalhar ali, já que sei russo, inglês, estudei Direito e Ciências Políticas.

Apesar da minha falta de esperança, continuei a trabalhar, e então comecei a ouvir algumas falas sobre como algumas mulheres e garotas fariam sexo com os chefes dos departamentos, para se tornarem oficiais do Ministério de Relações Exteriores, futuras diplomatas.

Algumas mulheres fizeram e provavelmente continuam a fazer porque ali, essa é a única maneira de trabalhar fora do país e conseguir salários mais altos, altas posições, alcançar poder e se tornar conhecida no Ministério de Relações Exteriores.

Fiquei chocada quando soube que muitos homens do ministério usavam as mulheres para seu benefício sexual: abusam e forçam garotas que querem ser bem sucedidas a fazerem sexo com eles. Se você quer sucesso, dinheiro, e trabalho fora do país essa é a única forma de alcançá-lo, a não ser que você tenha algum parente ou amigo bem posicionado na instituição A realidade é um risco muito grande para mulheres afegãs, especialmente para mulheres muçulmanas, mas mesmo assim elas se submetem a isso.

Quando comecei a testemunhar esse dilema, cheguei a conclusão de que o governo criado pelos EUA e pela NATO trouxeram a maior instabilidade econômica, corrupção, produção de drogas, a pior segurança possível em uma guerra sem fim, e sendo assim nunca iremos nos desenvolver ou encontrar um caminho próprio.

Homens matam jovem de 19 anos a pedrada após ter sido considerada culpada por adultério. (Foto por: RFE/RL’s Radio Free Afghanistan)

As mulheres são orgulho mundial, heroínas que defenderam nossa pátria no período de guerra com o Reino Unido, e até hoje, essas mulheres são as heroínas que trabalham quando seus maridos morrem na guerra, que protegem e criam seus filhos sozinhas, com pouquíssimo ou nenhum dinheiro. Eu vejo como o governo e como os homens dessa sociedade as humilham e insistem em fazer com que as mulheres façam o que não querem.

As mulheres eram obrigadas a se manter totalmente cobertas durante o regime do Talibã. Em 23 de fevereiro de 2007, quando a foto foi tirada, o conflito ainda perseverava. (Foto por Ahmad Masood/Reuters)

 

Deixei o Ministério de Relações Exteriores e fui encontrar trabalho na Representação Especial do Presidente, porque eles precisavam de alguém que soubesse russo, então consegui o trabalho, sem ser amiga ou parente de alguém.

Sou a única mulher no escritório e me sinto confortável aqui, tenho colegas legais, todos estudaram na Federação Russa e me respeitam. O escritório é parte da Administração Presidencial. O que acontece em outras partes da Administração e como as mulheres são tratadas, eu não sei. Mas tenho certeza que não deve ser muito diferente, há corrupção em todas as instâncias administrativas de meu país e mulheres podem enfrentar sérias dificuldades como as que narrei.

Agora eu vivo em um país como o Afeganistão, onde um dia, foi parecido com um paraíso da Ásia Central, por causa da sua natureza, cultura, segurança e economia baseada na agricultura.

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Foto de 1972, antes que o presidente fosse morto e o Talibã tomasse o poder. (Foto por: Amnesty.org)

Mas oportunidades são pequenas. Éramos uma nação feliz. Meus avós eram felizes por serem afegãos, mas agora, minha pátria mudou e eu não estou orgulhosa. Sou simplesmente uma garota afegã tentando sobreviver em um país atroz.

 

Não estou feliz com as mulheres sendo forçadas a seguirem um caminho que não merecem. Nunca terei orgulho disso. Sou uma garota afegã.

 

Geopolítica

Dan Kovalik – No More War

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O advogado e especialista em Direitos Humanos Daniel Kovalik, professor na Escola de Direito da Universidade de Pittsburgh, realizou um webinar no último dia 14 de julho onde comentou as mais recentes denúncias sobre violações e assassinatos de mulheres ocorridas em bases norteamericanas pelo mundo.

Dan Kovalik é autor de vários livros críticos à política externa dos EUA sendo o último deles “No more war”. Quase todos os títulos podem ser encontrados no formato e-book ou encomendados pela Amazon.

Transcrição, tradução e legendas: Juliana Medeiros
Revisão: Maria José Campos


Deixe-me começar com alguns eventos mais recentes.

Eu hoje li algo sobre uma servidora da marinha, Thae Ohu – eu acredito que ela seja uma vietnamita-americana e militar – que foi sexualmente abusada por seus colegas de marinha. Quando ela reclamou com seus oficiais superiores foi colocada na prisão militar, onde continua presa.

O desenrolar de outra história tem obtido também muita atenção, a de Vanessa Gillen, uma soldado que aparentemente foi morta e desmembrada por um colega soldado [em uma base] nos EUA.

Então, por que estou trazendo esses casos? Em grande parte por conta do que vemos com frequência aqui, na grande mídia dos EUA (NPR, NYT..). Eles dizem: “Hey, os EUA não podem deixar lugares como o Afeganistão, porque precisamos estar lá para proteger as mulheres afegãs”. Certo? Bom, vamos encarar o fato de que o governo dos EUA sequer pode proteger seus próprios soldados, as mulheres soldados mas alguns homens também, dos seus próprios companheiros.

Um em cada 30, pelo menos 1 em 30 – e esses números são os “oficiais”, portanto provavelmente são mais altos – 1 em cada 30 mulheres em relatórios militares já foram sexualmente violentadas por seus colegas soldados. Esse é um problema gigantesco! E de novo, se os militares só podem lidar com esse tipo de problema colocando pessoas na prisão por reclamarem de terem sido sexualmente violentadas, como eles poderiam proteger mulheres em outros países? E esse é um fato que nós já sabemos: eles não podem.

Então, por exemplo, no Afeganistão nós temos gente como [o jornalista] Scott Simon na [rádio] NPR dizendo: “nós não podemos deixar o Afeganistão e deixar as mulheres nas mãos do Talibã, elas serão abusadas”.

Vejam, o Talibã não é bom e eles são cruéis com as mulheres, sim. Mas agora mesmo, com soldados norte-americanos em solo lá [no Afeganistão] e eles já estão [na região] nos últimos 19 anos, indo para o 20º, o Afeganistão segue sendo o pior país no mundo, segundo a ONU, para os direitos das mulheres. O pior!

Então, voltamos à pergunta: o que os EUA estão fazendo para proteger as mulheres no Afeganistão? O que eles fizeram nos últimos 50 anos?

Os EUA em 1979 apoiaram [fundamentalistas islâmicos] Mujahedin, incluindo um de seus principais líderes, Osama Bin Laden, a iniciar atividades terroristas no Afeganistão contra o governo socialista que havia lá (e que protegia os direitos das mulheres) para derrubar a presença da URSS no Afeganistão. Nós sabemos disso, a partir do Relatório de Segurança Nacional do ex-Conselheiro Zbigniew Brzezinski do [ex-presidente] Jimmy Carter. Ele admitiu isso: que os EUA apoiaram o Mujahedin não para lutar contra as tropas soviéticas no Afeganistão, mas para tirá-los de lá. E foi exatamente o que aconteceu.

Os EUA vêm dando apoio a esse jihadismo de direita e anti-feminista no Afeganistão desde 1979. E agora nós ouvimos que os EUA não podem sair do Afeganistão para não deixar as mulheres à sua própria sorte? Isso não faz nenhum sentido!

Eu gostaria de ler algumas passagens do meu livro para dar-lhes uma ideia sobre esses temas.

O capítulo 9 cujo título é: “As forças armadas dos EUA não são uma organização feminista”. De cara, você poderia dizer “eu nunca pensei que pudesse ser uma organização feminista”. E de novo, de várias maneiras, somos levados a acreditar nisso. Então, aqui está uma parte desse capítulo:

“É sabido que durante a guerra dos EUA no Vietnã, por exemplo, o estupro era, de acordo com o testemunho dos próprios soldados dos EUA: um “procedimento de operação padrão” e os homens que serviram e mataram no Vietnã eram considerados por seus companheiros como “veteranos em dobro” se eles estuprassem mulheres e meninas vietnamitas, e também todos que fossem considerados inimigos ou ainda “alvos justos de estupro”.

E de novo: “companheiros, co-membros da mesma unidade militar também foram violentados em cenários de combate.

Um estudo preliminar de mulheres veteranas no Vietnã estima que tenha sido mais de 29% das mulheres militares norte-americanas que serviram no Vietnã, as vítimas de tentativas ou violações sexuais completas pelos próprios colegas militares dos EUA.

Agora, você poderia dizer: “e o que dizer da Segunda Guerra Mundial? Nós éramos os caras bonzinhos!”. Bom, o Vietnã não foi a única vítima desse procedimento, nem mesmo considerando na que chamamos “Guerra do Bem” [II Guerra Mundial], segue mais um trecho do livro:

“As forças aliadas, incluindo as forças dos EUA, se envolveram em estupros inclusive de “cidadãos de países aliados”. Por exemplo, como um artigo do Duke Law Journal explica, “o estupro de mulheres francesas por soldados norte-americanos na Segunda Guerra Mundial foi suficientemente perverso para provocar uma diretiva do quartel-general do General Eisenhower em dezembro de 1944 para o Comando das Forças Armadas dos EUA anunciando que o General estava gravemente preocupado e instruindo que rápidas e apropriadas punições fossem administradas”. Isso porque aparentemente, os estupros cresceram 260% depois do “Dia D”! E nesse caso agora, porque as tropas americanas estavam usando largamente suas armas (apontando mesmo) para cometer estupro contra mulheres aliadas, mulheres francesas [na ocupação] na França.

Jean Bricmon em seu livro “Imperialismo Humanitário” diz que quando você vai para uma guerra o resultado é a tortura. Inevitavelmente. Apesar de todas as regras que temos sobre guerras, de proibir torturas, de proibir civis como alvos, de cuidar para que civis sejam protegidos, os que invadem outros países sempre torturam essas pessoas nesses países.

E eu adicionaria a isso, e não estou sozinho, que muitos estudos apoiam a afirmação de que também as guerras agressivas [não defensivas] significam sempre estupros. Quando nossos soldados vão para a guerra no Iraque, no Afeganistão, eles estupram. Então, essa noção de que os EUA estão nesses países para proteger as mulheres é inacreditável.

Tem esse outro grande livro.. estou tentando lembrar o nome do autor agora, eu o citei no meu livro, ele fala sobre a complexidade das bases norte-americanas ao redor do mundo.. David Vine, creio que é esse o nome.

Nós temos mais de 800 bases militares pelo mundo e em todas as bases militares dos EUA, nas mais de 800 delas, sempre houve funcionários civis em serviço nessas bases. Nossos soldados, adicionalmente a estuprarem suas próprias companheiras [militares] tem abusado de mulheres [civis] em todas essas bases. Isso é excepcionalmente bem aceito, ninguém se assusta com isso.

Sabe, nós falamos sobre como o Japão abusou de mulheres da Coreia durante a Segunda Guerra Mundial e a Coreia continua reclamando sobre isso e o Japão jamais se desculpou. E [achamos que] isso é legítimo. Mas e sobre as mulheres que os soldados americanos abusaram todos esses anos e continuam fazendo?

Esse é o grande ponto que eu tentei trazer no meu livro. Essa ideia de que os EUA e o Ocidente estão saindo pelo mundo para proteger os direitos humanos e protegendo pessoas de genocídios é uma fantasia. Mas é uma fantasia com um propósito. Nós nos convencemos de que isso é verdade para justificar o contínuo gasto de mais de um trilhão de dólares por ano atualmente e as contínuas guerras agressivas ao redor do mundo.

Um grande exemplo disso é a invasão da Líbia em 2011. E por que esse tão enigmático exemplo? Primeiro, pelo lado americano, ela foi liderada por Barack Obama e por três conselheiras que realmente empurraram os EUA a participar desse ataque da OTAN na Libia. E essas foram Samantha Power, Susan Rice e Hillary Clinton. Elas pressionaram para que ele entrasse nessa “incursão humanitária”. Mas nós sabemos agora, como muitos de nós já sabíamos então, que essa intervenção humanitária era uma mentira.

Houve três principais mentiras para justificar o ataque da OTAN na Líbia:

Número UM e a mais ultrajante de todas – que a Hillary Clinton gostava muito de promover – de que Muammar Gadafi estava distribuindo Viagra às suas tropas para praticar estupros em massa na Líbia; a Anistia Internacional mais tarde derrubou essa acusação, ninguém conseguiu encontrar qualquer evidência disso.

DOIS, a denúncia – de novo, levada por Samantha Power, Hillary Clinton e Susan Rice – de que Gadaffi estava a ponto de cometer um genocídio em Benghazi; mas se olhamos os e-mails internos particularmente da equipe de Hillary Clinton [e, lembrando, eles também estão no meu livro] nós vemos a equipe de Hillary comentando entre eles que, quando a missão OTAN/Obama na Líbia começou, não havia qualquer preocupação com a questão dos direitos humanos em Benghazi. Que tudo já havia acabado e a oposição havia tomado conta de Benghazi e não havia qualquer risco [aos direitos humanos] naquele momento.

A TERCEIRA e pior leviandade, foi a de que “mercenários negros” estavam sendo usados por Muammar Gaddafi para impor essa guerra contra seu próprio povo. Alguns grupos de direitos humanos e própria Anistia Internacional, inicialmente, apoiaram essa acusação. Embora a Anistia Internacional tenha, tarde demais, derrubado essa acusação. O que eles acabaram dizendo foi: “Não. Desculpem, não eram mercenários, eram trabalhadores estrangeiros, da África Subsaariana”. E, a propósito, a mídia na época até dizia que se podia identificar os mercenários negros, porque eles usavam capacetes amarelos. Claro, porque eles eram trabalhadores da construção!

Então, essa mentira, não apenas pavimentou o caminho para essa intervenção na Líbia, a outra coisa que essa mentira fez foi criar um genocídio na Líbia. Porque os jihadistas, apoiados pela OTAN para derrubarem Gaddafi, começaram a atacar qualquer um com a pele negra, baseados nessas mentiras.

Eles exterminaram cidades e localidades inteiras com população negra africana, mataram negros africanos, aprisionaram em massa, e até hoje ninguém fala disso! E os negros subsaarianos continuam sendo colocados nas ruas da Líbia e vendidos, como escravos! 

Esse é o resultado da “intervenção humanitária” na Líbia, a que quase ninguém nos EUA jamais se opôs. Até mesmo [o programa de jornalismo independente] “Democracy Now” foi um veículo de apoio para essa invasão. E até hoje, não só Democracy Now, NPR [National Public Radio] mas muitos outros se recusam a rever os fatos sobre essa invasão, em ser honestos com suas visões em apoiar isso. E para ser franco, muito poucos se opuseram ao envolvimento dos EUA na Líbia.

E você sabem, esse tipo de coisa foi o que me motivou a escrever esse livro. A guerra, a guerra imperialista é uma imensa parte do problema dos EUA.

Eu vou lhes dar outro exemplo disso, recentemente Trump anunciou que queria remover 900 tropas da Alemanha. E queria começar a remover também as tropas do Afeganistão e trazê-las para casa. E nós vemos agora os Democratas, particularmente os que deram ouvidos a Liynn Chenney [Republicana], a mulher de Dick Chenney, que tentou aprovar a legislação para prevenir Trump de remover essas tropas. E se nós olhamos para os Democratas e os Liberais, eles na verdade estão atacando à direita de Trump em relação a esse tipo de problema. E acho que precisamos ser honestos sobre isso, com as cores que isso tem.

Porque votar em Joe Binden em novembro? É, eu provavelmente vou, eu acho que ele também está entre as pessoas mais cruéis, mas eu também sei que as pessoas podem lutar contra Binden cada centímetro para evitar que ele continue essas guerras intermináveis no mundo.

Outro exemplo, é esse outro novo inimigo amargo de Trump, John Bolton, que foi seu Conselheiro de Segurança Nacional, ele foi tanto um propagador de guerras, que Trump chegou a dizer: “eu tenho o melhor cara, ele pode ir comigo a qualquer lugar”. E Trump estava muito certo sobre isso.

Então, Bolton escreveu esse livro com coisas sobre Trump que estão “bem descritas”, sabe como é, mas Bolton se tornou um herói para muitos liberais [esquerda] nos EUA porque ele estava “atacando Trump”. Só que ele estava [no livro] atacando Trump à direita, por exemplo, dizendo: “se Trump for reeleito ele vai encontrar-se com o Presidente Nicolás Maduro da Venezuela”. O que a propósito eu acho que seria uma coisa boa, eu gostaria que um presidente dos EUA fizesse isso. Mas porque foi Trump quem teria ganhado para fazer isso, os liberais estão dizendo: “ah, isso é ruim, ele é mau, é um ditador etc”.

Então, nós temos que ter nossos princípios nessas questões, o primeiro é o princípio antiimperialista. Não importa quem esteja no comando, eu espero que possa ser Joe Binden, mas se é Joe Binden, nós tampouco vamos poder dormir. Temos que continuar pressionando nossos governos para encerrar essas guerras intermináveis.

Ok, então esses são meus marcos principais. A propósito eu estou ao vivo no meu Facebook com meu celular e estou ao mesmo tempo no Zoom com meu computador, então é meio difícil ler todos os comentários e peço desculpas por isso. E eu nem sei que horas são. Vocês, amigos, tem comentários, perguntas, considerações, eu estou a postos para responde-los.

Ok, obrigado Paul. Para o pessoal que está ao vivo no Facebook, eu quero dizer que vou responder agora uma pergunta do Reverendo Paul Dordal, ex-congressista, e ativista pela paz de Pittsburgh, que está no Zoom, vá em frente Paul.

Claro Paul, bom ele me pediu mais exemplos sobre essas falsas alegações de “intervenções humanitárias” dos EUA. A propósito, Paul serviu como Capelão Militar durante a invasão do Iraque, tá certo Paul? Certo.

Bom, há muitos exemplos, eu poderia voltar à outra história do meu livro no que eu acredito que foi nossa primeira “intervenção humanitária” e essa foi a “intervenção humanitária” do Rei Leopoldo II, da Bélgica, no Congo. Que teve início no final do século 19.

Vocês provavelmente já aprenderam um bocado sobre isso porque durante os recentes protestos do BLM [Black Lives Matter] uma estátua do Rei Leopoldo II foi derrubada na Bélgica e a razão para isso é que o Rei Leopoldo decidiu pessoalmente invadir o Congo, por seus próprios interesses, especialmente para obter benefícios com o roubo de marfim. Mas o Rei Leopoldo, assim como muitos líderes, era muito esperto e sabia que a maioria dos países não iria apoiar que ele controlasse um país africano só para retirar seus recursos naturais. Então, ele apareceu com esse plano – e ele já tinha enviado emissários para o Congo e para o mundo, incluindo os EUA – para alegar que ele estava indo ao Congo para proteger as mulheres congolesas. E em particular, dos mercadores de escravos árabes que ainda existiam nessa região. Mas ele não estava interessado em proteger ninguém, era só uma justificativa e ele foi muito eficaz nisso. Ele conseguiu convencer muitas pessoas e governos – e os EUA foram os primeiros a reconhecer seus interesses no Congo – de que essa seria uma “intervenção humanitária” e inclusive conseguiu que pessoas lhe dessem dinheiro para sua aventura “humanitária” no Congo.

Bem, o que aconteceu é que Leopoldo, ele mesmo, escravizou milhares de congoleses para apoiar sua extração de madeira, para construir rodovias, para facilitar sua retirada de recursos do país através dos rios [do Congo] para fora do país e para retirar o marfim. Ele escravizou milhares de congoleses e os torturou, se os congoleses não eram submissos a ele, ou ao trabalho que precisava ser feito, suas mãos eram cortadas, isso é bastante conhecido, às vezes seus genitais eram cortados, e no final como resultado do seu brutal tratamento, houve ainda mais de 10 milhões de pessoas no Congo que foram mortas durante essa incursão.

E claro que essa incursão se encerrou por conta de pessoas honestas no Ocidente. Alguns deles não existem mais hoje em dia, mas naquela época tínhamos pessoas como [os escritores] Mark Twain, por exemplo, ou Arthur Conan Doyle – que descreveu isso inclusive em suas histórias de Sherlock Holmes – sobre o que o Rei Leopoldo estava fazendo. E essas pessoas, com pressão e organização, conseguiram que a comunidade internacional terminasse com essa incursão do Rei Leopoldo no Congo.

E eu discuto isso no meu livro, o que o Rei Leopoldo fez no Congo foi “em nome dos Direitos Humanos” e o que o Ocidente continua fazendo em todo o mundo também é “em nome dos Direitos Humanos”. Só que agora de uma maneira mais sofisticada, claro, e pior. Mas no final é o mesmo jogo incluindo, a propósito, no Congo.

Muitas pessoas não se dão conta de que sob Bill Clinton, começando em 1996, a administração Clinton apoiou os governos de Ruanda e Uganda a invadirem o Congo. De novo, sob o pretexto de “parar o que seria um genocídio” que estaria ocorrendo lá e era por isso que Ruanda queria entrar no Congo. Mas o resultado foi que essas forças de Ruanda e Uganda apoiadas por Bill Clinton mataram 6 milhões de pessoas no Congo, a maioria delas congoleses. E nós nos damos conta disso, eu procuro detalhar isso no meu livro, a partir da leitura da mídia hegemônica. A maioria das maiores empresas de mineração dos EUA, no final, a maioria delas conseguiu imensos lucros e benefícios nessa incursão no Congo. E através dessas invasões, as primeiras a ganharem com isso foram justamente as de Hope, no Arkansas, que são empresas muito próximas a Bill Clinton, como sabemos.

E depois de Clinton, algumas pessoas gostam de se referir ao primeiro presidente negro [Obama], com Hillary trabalhando com ele, mas ele prosseguiu com esse massacre de 6 milhões de congoleses, em nome dos Direitos Humanos, e isso era uma completa mentira. E nós podemos ir além, mas enfim, essa é a mais comum das armadilhas, a ideia de que os EUA estariam apoiando a prevenção de genocídios sob o princípio dos Direitos Humanos, quando na verdade é o Ocidente e os EUA que tem cometido genocídios pelo mundo.

Bom, tem alguém que gostaria de fazer alguma pergunta ou podemos encerrar aqui? Eu acho que às vezes, menos é mais. E nessas circunstâncias, vejo meu amigo John sorrindo, eu acho que provavelmente é verdade. Então porque não terminamos aqui? Acho que é um bom ponto para encerrar. Eu quero agradecer a todos por acompanharem e de novo esse é meu livro e você pode conseguir em qualquer lugar, na Amazon ou encomendar na sua livraria. Eu realmente estou grato por vocês estarem aí, eu acho que é um período duro para estar atrás de livros como esse, mas acho que tem uma boa mensagem aí e algo que podemos aprender. Obrigado a todos que estão conectados, isso realmente significa o mundo para mim. Nós estamos vivendo tempos muito difíceis e estamos todos atravessando um enorme desafio com essa pandemia e ver vocês disponíveis aí para me ouvir, significa tudo para mim. Vocês foram muito pacientes e muito gentis. Eu desejo a todos, boa tarde, boa noite e boa sorte. Obrigado!

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Dados e Política: Por Dentro da Indústria da Influência

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Prestes a entrar em uma disputa eleitoral cujo resultado é extremamente significativo o resultado deve atender à vontade da soberania popular e fortalecimento da democracia a equipe da Casa Hacker sempre atuando em pró da democracia e direitos humanos tem buscado através da inclusão digital e tecnológica dos cidadãos trazer ferramentas e informações que promovam a equidade e a democracia.
Os interesses de grupos colocam em xeque a democracia se utilizando do voto
A indústria das campanhas políticas tem se tornado um grande negócio lucrativo e fortemente influenciada por dados pessoais. Esses dados se estendem por muito além dos registros eleitorais: tudo pode alimentar a base de dados coletados, desde os itens do seu carrinho de compras à pontuação dos seus posts e testes aleatórios do Facebook, ao bar que você visita numa sexta à noite, pode ser usado por partidos e políticos para descobrir quem é você e te influenciar.
Experiências passadas e resultados manipulados
Em 2018 explode nos meios de comunicação o escândalo dos dados de usuários do facebook, não era a primeira vez que o Facebook se envolvia em uma polêmica relacionada à “manipulação de opinião pública durante a eleição presidencial americana”. Assim como a eleição de Donald Trump para presidente dos EUA, a campanha marcante para que o Reino Unido deixasse a União Europeia usou ilegalmente dos dados privativos pessoais.
Os 50 milhões de usuários do facebook foram vítimas de uma coleta de dados realizada pela Cambridge Analytic por meio do próprio facebook através de um teste como tantos outros que vemos na rede social.

Casa Hacker combatendo a manipulação por meio da informação 

A Casa Hacker junto à Tactical Tech lançam o Guia do Eleitor e a vídeo galeria “Dados Pessoais: Persuasão Política — O que está a venda?” em formato digital e de acesso gratuito que explicam, em termos e linguagem acessível, onde as campanhas políticas pesquisam por dados pessoais, que tipos de dados elas coletam, e como elas usam isso para tornar alvos e persuadir eleitores. O guia detalha as técnicas de campanhas como “escuta digital”, “micro-segmentação” e “testes A/B”, e oferece aos eleitores brasileiros 7 dicas essenciais para desintoxicar seus dados pessoais e deixar as campanhas eleitorais e políticos longe de seus dados pessoais.
O Guia do Eleitor aborda 7 dicas (e contextualiza com exemplos reais):
DICA #1: Mude sua Rotina;
DICA #2: Mude suas Preferências nas Redes Sociais;
DICA #3: Bloqueie seu Celular e Navegadores de Desktop;
DICA #4: Mantenha-se Informado;
DICA #5: Limite Quem Sabe Onde Você Está;
DICA #6: Fale;
DICA #7: Conte à sua Comunidade.

Com a ajuda dessas dicas práticas, eleitores podem votar com o conhecimento de como e quando essas técnicas digitais estão sendo usadas, e, inclusive, o que podem fazer para barrá-las.
A vídeo galeria “Dados Pessoais: Persuasão Política — O que está a venda?” é o resultado de uma pesquisa extensa no mundo todo conduzida pela Tactical Tech e parceiros globais onde encontramos mais de 300 empresas em todo o mundo que usam dados para fornecer informações aos partidos políticos sobre quem são os eleitores, o que eles querem ouvir e como persuadi-los. Ao mergulhar fundo em seus sites, encontramos várias empresas, consultorias, agências e firmas de marketing, desde startups locais a estrategistas globais, visando partidos que abrangem o espectro político. Essa galeria visual e virtual captura as promessas dessas empresas, oferecendo uma janela única para os serviços que elas promovem e a linguagem atraente que usam, frases como “fortalecemos a democracia”, “emoções impulsionadas pelos dados”, “mudando o mundo, um pixel de cada vez” e “vencer eleições com inteligência social”. Principalmente empresas com fins lucrativos, com o objetivo principal de gerar, manter e aumentar os lucros, é importante perguntar: quais são as implicações de permitir que a política seja amplamente influenciada pelas organizações de tecnologia orientadas a dados?
O “Guia do Eleitor” e a vídeo galeria “Dados Pessoais: Persuasão Política – O que está a venda?” estão disponíveis gratuitamente no site da Casa Hacker.

Sobre a Casa Hacker

A Casa Hacker é um espaço hacker sem fins lucrativos e 100% dedicada a colocar comunidades locais no controle de suas experiências digitais e a moldarem o futuro da tecnologia da informação e comunicação para o bem público. Desenvolvemos programas e projetos de educação e cultura digital em comunidades periféricas e defendemos direitos digitais junto à Coalizão Direitos na Rede.

Sobre a Tactical Tech

A Tactical Tech é uma organização sem fins lucrativos alemã que trabalha na intersecção entre tecnologia, direitos humanos e liberdades civis. Eles fornecem treinamentos, conduzem pesquisas e criam intervenções culturais que contribuem para o debate sócio-político mais amplo sobre segurança digital, privacidade e ética dos dados.

 

 

 

https://vimeo.com/323661112

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Geopolítica

Venezuela frustra ataque de mercenários

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Um grupo de mercenários que partiu da Colômbia tentou invadir a Venezuela na manhã deste domingo por via marítima, mas foi surpreendido e rechaçado pelas forças venezuelanas. Vários deles foram mortos ou detidos em Macuto, no estado de La Guaira, segundo o ministro do Interior e Justiça Néstor Reverol. Ele explicou que a tentativa de entrar no país foi através das costas do estado de La Guaira, no norte da Venezuela, por meio de lanchas. Reverol informou que vários dos “terroristas” foram mortos na operação e outros capturados, e um arsenal de rifles de assalto foi apreendido.

A tentativa de agressão à Venezuela ocorre quase exatamente um ano após a frustrada tentativa de golpe liderada pelo deputado da oposição Juan Guaidó, em Caracas, acompanhado pelo líder de direita Leopoldo López.

“Um grupo de mercenários terroristas da Colômbia tentou realizar uma invasão marítima com o objetivo de cometer atos terroristas no país, perpetrando assassinatos de líderes do governo revolucionário e aumentando a espiral de violência e, com isso, levar a uma nova tentativa de golpe. Parece que as tentativas imperiais frustradas de derrubar o governo legitimamente constituído, liderado pelo presidente Nicolás Maduro, os levaram a formular ações excessivas”, afirmou Reverol hoje, depois de declarar um estado de “resistência permanente e alerta” no país sul-americano.

Conforme foi detalhado pelos militares venezuelanos, o ataque foi detectado “graças ao trabalho profissional e científico das agências de inteligência e contra-inteligência, bem como à execução permanente da operação militar e policial ‘Escudo Bolivariano‘, que garante a vigilância contínua do espaço. geográfica da nação“.

O homem à direita de Juan Guaidó teria sido morto durante o ataque

Vídeos que circulam nas redes sociais relataram o sobrevoo de helicópteros e detonações ocorridas na área de Macuto nas primeiras horas da manhã. Mais tarde, usando barcos, mergulhadores tentaram recuperar parte do armamento que estava com os invasores.

 

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