Oficial estadunidense condenado por ligação com grupos paramilitares é chamado para ajudar a “restaurar a democracia” na Venezuela

Foto: Guilherme Imbassahy

Publicado originalmente em Independent por Andrew Buncombe

O governo Trump anunciou que Elliot Abrams, condenado no caso Irã-Contras (escândalo da administração de Ronald Reagan que financiou, secretamente, grupos paramilitares na Nicarágua), irá liderar os esforços dos EUA para impor democracia na Venezuela.

O Secretário de Estado, Mike Pompeo, disse que o homem de 71 anos irá supervisionar os esforços de Washington, agora que Trump declarou reconhecer o líder da oposição, Juan Guaido, e não o presidente eleito, Nicolás Maduro, como líder legitimo da Venezuela.

“Elliot será uma ótima ferramenta em nossa missão de ajudar o povo Venezuelano a restaurar a democracia e a prosperidade em seu país,” disse Pompeo, de acordo com a Reuters.
Pompeo disse que Abrams irá acompanhá-lo a uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, no sábado, que tratará do caso venezuelano e no qual Washington tentará forçar outros países a reconhecer Guaido como presidente interino. Até agora Canada, Argentina, Brasil, Reino Unido, Chile, Colômbia, Costa Rica, Paraguai, Peru, Equador, Guatemala e EUA foram os únicos países a fazê-lo.

Rússia, China, El Salvador, México e Turquia disseram que ainda reconhecem Maduro como presidente venezuelano.

A Reuters descreve Abrams como um neoconservador que há anos defende uma participação mais ativa dos Estados Unidos no mundo. Seu último cargo oficial foi no governo de George W Bush, primeiro como um especialista em Oriente Médio para o Conselho Nacional de Segurança, e posteriormente como consultor estratégico de democracia global.
Ele foi assistente do Secretário de Estado durante o governo Reagan e foi condenado duas vezes em 1991 por ocultar informações do Congresso Estadunidense durante o escândalo Irã-Contras. Posteriormente foi perdoado pelo presidente George Bush “pai”.

Para muitos sua imagem é associada à vez em que negou a ocorrência do massacre de El Mozote, em 1982 em El Salvador, no qual centenas de civis foram mortos por militares. Abrams declarou a uma comissão do Senado estadunidense que os relatórios sobre as centenas de mortes em El Mozote “não eram críveis”.

Em 1993, após uma Comissão da Verdade da ONU, que examinou 22 mil atrocidades ocorridas ao longo dos doze anos da guerra civil de El Salvador, atribuiu 85% dos abusos apurados aos militares de direita próximos a Reagan e esquadrões de morte também aliados a ele. Abrams disse “Os números recordes do Governo em El Salvador são uma conquista fabulosa.”

Enquanto isso, na última sexta-feira, os dois homens que reivindicam o cargo de presidente da Venezuela faziam diferentes pedidos de apoio.

Em uma coletiva de imprensa, em Caracas, Guaido convocou seus seguidores para uma próxima manifestação na semana seguinte, reporta a Associated Press.

“Eles podem cortar uma flor, mas não podem impedir a chegada da primavera,” disse Guaido, em referência à famosa frase do poeta chileno Pablo Neruda.

Maduro se dirigiu a uma sala cheia de jornalistas, no palácio presidencial.

“Isso não passa de um Golpe de Estado, encomendado, promovido, financiado e apoiado pelo governo dos Estados Unidos,” disse. “Eles pretendem colocar um governo marionete na Venezuela, destruir o Estado e nos tomar como colônia”.

 

 

*Traduzido por Iolanda Depizzo e Lucas Martins 

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