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Educação

Polícia Militar invadiu Universidade Estadual de Goiás e levou presos professor e estudantes.

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No dia 01 de Novembro, estudantes da Universidade Estadual de Goias decidiram em assembléia ocupar o campus Cora Coralina. A polícia foi chamada e, sem mandado, invadiu a Universidade e prendeu 15 pessoas, entre elas o professor Euzébio Carvalho, que acompanhava a votação (em sua pagina no face ele publicou um relato sobre o que aconteceu naquele dia, veja aqui – Relato da minha prisão). Todos eles foram algemados e presos. No dia 03, mesmo sabendo dos riscos que a polícia militar representava diante das ocupações, os estudantes do campus Eseffego, decidiram em assembléia fazer outra ocupação que resiste até o momento.

Os estudantes da UEG estão ocupando contra a PEC 55 (antiga PEC 241 que define o corte de investimentos nas áreas da saúde e educação por 20 anos), em apoio aos secundaristas que resistem contra a MP da Reforma do Ensino Médio, a qual retirará as matérias de filosofia, história, artes e educação física. Ainda afirmam que lutam por investimentos na própria universidade, pois há muito tempo as verbas foram congeladas pelo Governo Marconi, deixando os campus sucateados, defasando na contratação de novos funcionários públicos e professores.

Em nota, o reitor Haroldo Reimer apenas “lamentou” o “constrangimento sofrido por docentes e discentes no Câmpus Cora Coralina e sobre a ocupação do Câmpus Eseffego garantiu que “buscará priorizar o uso dos meios diplomáticos para a superação dialógica e negocial das questões.”

Vamos esperar, e cobrar do Reitor que cumpra sua palavra e dialogue ao invés de chamar a polícia para invadir a Universidade e prender professores e alunos que lutam pelo não congelamento de investimentos com educação, previsto pela PEC 241 de acontecer pelos próximos por 20 anos.

Aqui a integra da nota da Reitoria da UEG:

A Reitoria da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em face dos eventos relacionados à ocupação de seus prédios, no contexto das manifestações relativas à tramitação da PEC 241/55 e de outras medidas, vem manifestar:

A Reitoria da UEG compreende e reafirma que o ambiente de livre pensamento e de livre manifestação das ideias e dos posicionamentos é um aspecto constitutivo da vida acadêmica. A promoção e a manutenção de debates são mecanismos que garantem o exercício desta pluraridade intrínseca à vida universitária. As formas de manifestação, contudo, devem observar outros direitos também assegurados.

A gestão democrática não é exercida apenas nos processos decisórios, em que toda a comunidade acadêmica tem voz por meio de representantes. Essa gestão democrática deve estar presente, também, na construção de consensos diante das diferenças, com a observância de formas de manifestação conforme o desenvolvimento dos debates.

O diálogo e a negociação são caminhos para a superação de conflitos, pois a coerção e a repressão não alimentam no ambiente da Universidade o seu fortalecimento institucional.

A relação e o diálogo com o mantenedor da UEG, o governo do Estado de Goiás, é fundamental para a consolidação e a trajetória da Universidade, sendo compromisso permanente da Reitoria.

Outros compromissos fundamentais da atual gestão da UEG são a preservação e a garantia da vida acadêmica, com a manutenção das atividades finalísticas conforme planejamento aprovado pelo Conselho Superior Universitário. Os recursos legais serão uma ferramenta utilizada caso as atividades da Instituição sejam comprometidas.

Em relação aos eventos ocorridos no Câmpus Cora Coralina, a Reitoria da UEG lamenta os constrangimentos sofridos por docentes e discentes.

Sobre a ocupação do Câmpus Eseffego, salientamos que essas ações comprometem a regularidade acadêmica da UEG e que a Reitoria buscou e buscará priorizar o uso dos meios diplomáticos para a superação dialógica e negocial das questões.

Anápolis, 4 de novembro de 2016.

Haroldo Reimer
Reitor da Universidade Estadual de Goiás

Veja abaixo o relato do professor Euzebio Fernandes de Carvalho preso na noite durante a ocupação do campus Cora Coralina:

“Após o término de minhas aulas, às 22h30, me deparei com a movimentação dos estudantes que, de forma legítima, manifestavam-se pacifica e politicamente em defesa da Educação Pública brasileira. Para isto, eles decretaram a ocupação da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Cora Coralina, na Cidade de Goiás.
Percebendo a reação contrariada de alguns funcionárixs do campus com a ocupação, argumentei que precisávamos garantir a integridade física dxs manifestantes; que eles não eram nossxs inimigxs e que eram legítima e justa as suas reivindicações. Lembrei-lhes também que a direção do câmpus estava ciente dosacontecimentos pois já tinha repassado algumas orientações para o segurança do prédio e falado com alguns estudantes da ocupação. Portanto, não cabia a mais ninguém qualquer outro encaminhamento, principalmente, chamar a polícia. Alguns argumentaram que a ocupação prejudicaria a realização do ENEM, no próximo final de semana.
Após xs funcionárixs deixarem o prédio, foi realizada uma assembléia dos manifestantes. Na oportunidade, perguntei sobre a pertinência de minha presença entre eles (já que o movimento era dos estudantes). Ponderaram que a presença de um professor no prédio, principalmente, nas horas iniciais da manifestação, seria importante para aumentar a sensação de segurança além de que isso também favoreceria o movimento.
Decidi ficar e acompanhá-lxs. Antes do fim da assembléia, contudo, chegaram várias viaturas de polícia, fortemente armados e arrombaram o cadeado que xs estudantes tinham colocado no portão principal.
Momentos depois, os policiais impediram a entrada do colega professor da unidade que havia chegado para nos apoiar. Depois desse momento de tensão, em que o professor foi empurrado para fora, o tenente coronel Ronaldo Pereira Soares, que comandava a operação, disse que eu deveria pedir “aos alunos para saírem da unidade porque senão nós vamos conduzir todo mundo para a DP”.
Perguntado sobre o motivo daquela ação, respondeu-me que tinha recebido uma denúncia de invasão do prédio e que, naquele momento se caracterizava o flagrante do crime de esbulho possessório.
Solicitei a apresentação de algum documento que legitimasse suas ações, tanto a de entrar no prédio quebrando o cadeado quanto de nos retirar à força da UEG. Nenhum documento foi apresentado.
Recusando seu chamado para sair do interior da unidade, ele ordenou que eu fosse algemado. Um outro PM, bastante exaltado, puxou meus braços para trás e colocou as algemas. Reclamei que elas estavam me machucando e então ele apertou ainda mais, puxando-me pelo braço rumo à viatura. Disse-lhe várias vezes que estava sentindo dor. Sem qualquer resultado. Também avisei que estava sem meus documentos pessoais e pedi para pegá-los. Sobre ambas as coisas fui totalmente ignorado.
Aleguei que eu era um professor efetivo daquela instituição, um funcionário público estadual, e não um criminoso, e que portanto não se justificava aquele tratamento violento e humilhante.
Além do ódio que pairava no ar, emanado da grande quantidade de soldados que empunhavam suas armas de grosso calibre, havia naqueles policiais a satisfação e o prazer pelo exercício do poder total ao nos tratar como melhor lhes convinha, independente de qualquer bom senso ou direitos constituídos e garantidos no texto da lei.
Fui praticamente jogado num porta-malas de um ‘camburão’ sujo e apertado. Carregaram-me como um pacote de carne que deveria se amassar de um lado para o outro do porta-malas nas curvas fechadas e rápidas da viatura. Tudo era feito para machucar o meu corpo e a minha dignidade.
Chegando na delegacia, demoraram a tirar as algemas, mesmo eu argumentando que já estava dentro da delegacia. Depois de certo tempo, o policial mais graduado (seu colete à prova de balas não continha identificação) me informou que duas pessoas funcionárixs do câmpus denunciaram a invasão do prédio pelos estudantes, pedindo a intervenção da PM (não os nomearei aqui para evitar qualquer exposição desnecessária, mas seus nomes me foram dito, inclusive, perguntou se eu conheci suas funções dentro da UEG).
Logo depois chegaram os 13 estudantes. Todos os homens algemados, inclusive um que não participava da ocupação, mas que apenas filmava, pelo lado de fora, a ação da polícia.
Apreenderam todos os seus celulares. Segundos depois, um outro policial tomou de minhas mãos o celular que eu usava para informar as pessoas sobre o que se passava dentro da delegacia, expondo toda a sua ‘autoridade’ masculinamente repulsiva.
O delegado disse que depois de feito o exame de corpo de delito e registrado o Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) seríamos liberadxs. Por volta das três horas da madrugada do dia de finados, fomos todos liberados com a condição de voltar as nove horas do dia 03 para prestar os depoimentos.
Muito emocionadxs com tudo, ao sair nos deparamos com uma grande quantidade de pessoas nos esperando: amigxs, professorxs, familiares e outrxs apoiadorxs. Muitos abraços e a sensação de que a luta é justa e cada vez mais necessária.
Meus punhos ainda doem e apresentam as marcas das algemas. Minha dignidade ainda está marcada com a injustiça. Mas a minha consciência, confortada pelo abraço do Rei da Justiça, diz que a nossa luta é cada vez mais necessária e correta.
E você? O que você pode fazer diante do meu relato? Da nossa experiência traumática? Procure uma ocupação. Manifeste seu apoio. Conheça os malefícios da PEC do ‘fim do mundo’ (atual 55 e antiga 241) pois ela comprometerá nossos direitos sociais básicos como a educação e a saúde, dentre outros, dificultando ainda mais nossa vida em sociedade e comprometendo a formação com qualidade crítica, reflexiva e propositiva das futuras gerações.
Todo apoio às ocupações! “Nada a TEMER, senão o fugir da luta”. #ocupatudo.”

professor-ueg

Educação

Há dois meses, uma escola e seus sonhos foram ao chão

Documentário conta a história da Escola Popular Eduardo Galeano

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Por Lucas Bois e Raquel Baster*

A escola popular Eduardo Galeano foi o primeiro local a ser destruído durante despejo violento que começou no dia 12 de agosto deste ano, pela Polícia Militar, e que se seguiu por três dias, no acampamento quilombo Campo Grande, município de Campo do Meio, em Minas Gerais. Após dois meses do despejo, é lançado o curta documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” com depoimentos de educandos, educadores e representantes do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre a situação atual do acampamento.

“Ser analfabeto é a gente ficar no escuro e uma pessoa no escuro, ela não é ninguém”. Essa frase dita no documentário por Adão Assis Reis, explica a importância do acesso à educação contextualizada para alcançar a luz do conhecimento. Aos 59 anos, ele se mostra pronto para voltar à sala de aula assim que a escola for reconstruída. Muitos outros trabalhadores e trabalhadoras rurais poderiam ter a chance de seu Adão, mas os dados vem demonstrando o contrário. Um levantamento de dados do Censo Escolar de 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sobre o número de estabelecimentos de ensino na Educação Básica apontou que, entre 1997 e 2018, foram fechadas quase 80 mil escolas no campo brasileiro. A Escola Popular Eduardo Galeano entra para a estatística não só como mais uma, mas como exemplo de uma política de fechamento de escolas do campo que acontece há anos no país. 

Desenho de uma criança do acampamento Quilombo Campo Grande, ao relembrar o dia do despejo e derrubada da Escola Eduardo Galeano. Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O MST chegou a lançar uma campanha de denúncia em 2011, intitulada “Fechar escola é crime”. E em 2014 foi aprovada a lei (12.960/2013) que obrigou a realização de consulta às comunidades antes do fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Mas parece que não surtiu muito efeito. A própria escola Eduardo Galeano foi fechada pelo governo de Minas Gerais no início de 2019, logo após outra tentativa de desejo no assentamento quilombo Campo Grande em 2018 e reaberta pela resistência do Movimento. “Quando começou o governo de Romeu Zema (Novo) nós recebemos a triste notícia que a Escola seria fechada. E a justificativa era poucos educandos. Eram duas salas aonde chegamos a ter 75 pessoas matriculadas. E, na maioria das vezes, nós mesmos que mantivemos a escola funcionando com nossos recursos porque mesmo sendo uma escola reconhecida, não era garantida pelo Estado”, explica Michelle Capuchinho do setor de Formação do MST.  

Ciranda das crianças do acampamento Quilombo Campo Grande, Campo do Meio (MG).
Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O curta documentário descreve como o despejo e a destruição da Escola impacta diretamente inúmeras famílias, sobretudo crianças e adolescentes. Isso somado a um período onde o isolamento social e medidas de proteção à saúde deveriam ser prerrogativas à gestão estadual no enfrentamento à Covid-19. O MST alega que o despejo foi feito de forma ilegal, já que o processo judicial abrangia 26 hectares inicialmente e depois, sem justificativa e transparência das informações, foi ampliada para 53 hectares no último despacho da Vara Agrária que culminou no despejo de 14 famílias. Cerca de 450 famílias permanecem na área da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996.

O filme completo está disponível no YouTube: https://youtu.be/iT1kP7jTO0E

Ficha técnica
Curta-documentário: “Sonhos no chão, sementes da educação”
Imagens e edição: Lucas Bois
Roteiro: Raquel Baster e Lucas Bois
Duração: 22 minutos
Ano: 2020

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Educação

Volta às aulas é proibida pela Justiça em Colégio Militar de Belo Horizonte

Funcionários e inúmeros pais de alunos são contrários à retomada das aulas na instituição do Exército

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Aloísio Morais

A Justiça Federal deu um chega-pra-lá nos militares do Colégio Militar de Belo Horizonte e proibiu o retorno às aulas presenciais a partir da próxima segunda-feira, 21, a exemplo do que outras instituições do Exército pretendem fazer no país. A instituição tem cerca de 750 alunos, 42% do sexo feminino. Dezenas de pais de alunos são contrários à volta às aulas, mesmo com uma série de protocolos a serem adotados. Durante a ditadura, as instalações da escola abrigaram presos políticos, que foram vítimas de tortura no local.

A retomada das atividades escolares na unidade do Exército provocou discussões tanto na Prefeitura de Belo Horizonte quanto no Ministério Público Federal e, como medida de segurança, o Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal (Sindsep-MG) entrou na Justiça com um pedido em tutela de urgência para continuidade do regime remoto de aulas, o que foi acatado com a fixação de uma multa de R$ 5 mil por dia, caso ocorra descumprimento da determinação.

Colégio do bairro Pampulha foi usado para abrigar presos políticos durante a ditadura

Sem prejuízo

Na quarta-feira, 16, a direção do Colégio Militar encaminhou às famílias um comunicado informando sobre o retorno obrigatório às aulas na unidade, exceto para os alunos que comprovassem pertencer a grupos de risco para o novo coronavírus. Porém, para o sindicato, o retorno não é necessário, uma vez que os alunos não estariam sendo prejudicados pelo sistema de aulas on-line. Pela avaliação dos professores, os estudantes estão respondendo bem às aulas.

“Nós estamos conversando com os professores há mais de um mês, logo que eles perceberam que seriam convocados para um planejamento presencial das atividades e que incluía desde então o retorno às aulas na própria escola. Nós entendemos que não é necessário um retorno presencial quando tudo pode ser feito remotamente. Sabemos que a cidade está em processo de reabertura, mas achamos que não há necessidade de colocar mais pessoas nos ônibus e nas ruas se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas. As aulas estão tendo qualidade”, ressaltou a diretora do Sindicato, Jussara Griffo, ao jornal O Tempo.

Segundo Jussara, o Colégio Militar tinha determinado que retornariam apenas aqueles funcionários que não compõem grupos de risco para a pandemia do novo coronavírus, mantendo em regime remoto, portanto, aqueles com idades superiores a 60 anos e portadores de comorbidades. “Se algumas pessoas permaneceriam em casa, entendemos que o trabalho pode ser mantido remotamente, então não há necessidade de retornar também os outros. Para quê colocar alunos em risco, famílias e professores? Se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas, podemos mantê-las”, declarou.

O comunicado feito pelo colégio indicava que haveria um revezamento entre turmas e a adoção de medidas sanitárias relacionadas à Covid-19 para garantir a segurança de estudantes, funcionários e familiares. O retorno contradiz as políticas municipal e estadual que ainda mantêm as aulas suspensas nas redes pública e particular de Minas Gerais. Autoridades da Prefeitura de Belo Horizonte declararam nessa sexta-feira, 18, que poderia procurar a Justiça para pedir a proibição da retomada do ano na unidade militar. Em uma mesma direção, o Ministério Público Federal determinou que o diretor do colégio, o coronel Marco José dos Santos, explicasse à Justiça com um prazo máximo de 24 horas quais estudos técnicos e protocolos de segurança justificariam o retorno às aulas presenciais.

Barbacena


Desde o dia 26 de maio mais de 200 alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) em Barbacena, no Campo das Vertentes, em Minas, testaram positivo para Covid-19. No dia 22 de junho, o Ministério Público Federal emitiu recomendação ao diretor de Ensino da Aeronáutica, major-brigadeiro do Ar Marcos Vinícius Rezende Murad, e ao comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, brigadeiro do Ar Paulo Ricardo da Silva Mendes, para suspender imediatamente todas as aulas e demais atividades acadêmicas presenciais.
A Epcar é uma escola de ensino militar sediada em Barbacena que admite alunos de idade entre 14 e 18 anos por meio de concurso público. No local, estudantes de várias cidades de todo o Brasil vivem em regime de internato e, por isso, dormem em alojamentos e têm aulas em horário integral.

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Cotas

Única vereadora preta de Natal celebra cota do fundo eleitoral para candidaturas negras

Divaneide Basílio (PT) acredita que a decisão do Tribunal Superior de Eleitoral, que determina distribuição proporcional do fundo eleitoral e partidário para candidaturas negras vai incentivar a participação de mais negros e negras na política

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Da agência Saiba Mais

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a partir de 2022 os fundos partidário e eleitoral terão que ser usados de forma proporcional para as candidaturas negras. A decisão é estendida também para o uso do tempo no rádio e na TV das campanhas.

O posicionamento do TSE é fruto de uma consulta feita pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que solicitou a destinação de 50% da verba para candidaturas negras, uma vez que conforme dados do IBGE o Brasil tem 55% da população nesse recorte.

A medida foi anunciada pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e tem a intenção de reduzir o desequilíbrio na participação eleitoral e no financiamento de campanhas das candidaturas de negras e negros. Essa deliberação se soma à determinação de 2018, que obriga o repasse de percentual fixo de 30% do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres.

A subrepresentação das mulheres nos espaços de poder do Brasil, e em especial das mulheres pretas, é uma realidade. As mulheres são 51% da população brasileira, mas governam apenas 12% das prefeituras. Já as mulheres pretas administram apenas 3% dos municípios mesmo representando um contingente de 27% da sociedade.

E mesmo as cidades governadas por mulheres são proporcionalmente menores do que aquelas que contam com homens na chefia do Executivo. Apenas 7% da população no país moram em municípios administrados por mulheres, brancas ou pretas. Do total de prefeituras governadas por mulheres, 91% são de municípios com até 50 mil habitantes

Os dados estão disponíveis para consulta pública e foram divulgados pelo Instituto Alzira, organização que desenvolve ferramentas para contribuir com o aumento na participação das mulheres na política.

O parlamento de Natal é um exemplo desse desequilíbrio e subrepresentação. Das 28 cadeiras, apenas uma é ocupada por uma mulher preta. Não bastasse ser a única, a cientista social Divaneide Basílio (PT) também é a primeira vereadora negra da história da Câmara Municipal de Natal.

Para ela, a decisão do TSE deve garantir maior representatividade nos parlamentos:

– Acompanhamos com lupa esse debate, esse tema é algo para nós muito significativo porque vai garantir a ampliação da representatividade. Uma parlamentar como a Benedita da Silva (PT-RJ) provocando esse debate só reforça que a representatividade importa e que nós podemos disputar em condições de igualdade. Porque essa é uma pauta de todo o país. Eu sou a única negra em Natal, mas na maioria dos estados também é assim”, destaca.

Divaneide comemora e compara a decisão do TSE válida para 2022 com a obrigatoriedade do repasse de 30% para as candidaturas femininas.

– O processo, apesar de lento, já representa para as mulheres um avanço. Uma mudança de postura, com isso mais mulheres estão percebendo que poderiam se candidatar, tem melhores condições pra isso. Não é fácil conciliar a vida doméstica com o trabalho. E é uma mudança que nós, no PT, já iniciamos com o projeto Elas por Elas, garantindo formação. Lançamos esse projeto dm 2018 e hoje já é uma realidade e tem ajudado a nos fortalecer. No Rio Grande do Norte o Elas por Elas ajudou na capacitação das mulheres, contribuiu com o planejamento da campanha e aumento o nível de debate”, disse.

Além da questão financeira, a parlamentar que tentará a reeleição em 2020 acredita que a decisão do TSE estimula o envolvimento da população negra do debate político. O próprio Instituto Alzira reconheceu o avanço já notado em 2018 embora a subrepresentação seja latente.

Divaneide não acredita que haverá uma disputa por mais espaço entre candidatos negros e candidatas negras. A pauta antirracista, segundo ela, vai unir o candidatos.

– Vai ser bom pra todo povo negro. A pauta antirracista é de todo mundo, negro e negra. Nós mulheres negras estamos fazendo um debate para aprimorar o gênero de classe e raça. Vamos fazer um Elas por Elas com recorte de mulheres negras. Essas interfaces não são para colocar um grupo em superioridade, mas para mostrar que aquele grupo representa mais de uma identidade”,

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