Queremos ir pra Cuba!

Frequentemente os antibolsonaristas escutam um “Vai pra Cubaaaa!”, quando se manifestam contra os desmando e atrocidades cometidas pelo governo Bolsonaro.  Se soubessem a quantas anda a proliferação do coronavírus em Cuba, certamente, até eles, iriam querer estar lá. Como quase não se fala da ilha neste momento tão desafiante para os governos e para a população no mundo todo, devemos compreender tal ignorância.

Por Silmara Conchão* e Eduardo Magalhães Rodrigues**, especial para os Jornalistas Livres

Matéria do jornal O Globo de 13 de maio de 2020, afirma, logo no título, que os casos de coronavírus diminuem, mas mesmo assim o governo cubano intensifica testagem da população. O texto conta que, naquele momento, o país registrava menos de 20 casos por dia. Um mês antes, em abril, eram 50 novos casos registrados diariamente. Em 20 de maio, o Uol divulgou que haviam apenas 13 novos casos, e  uma semana completa sem nenhuma morte. Desde o início do surto, a ilha fechou suas fronteiras para quem não mora no país e obrigou o uso de máscaras fora de casa. Ou seja, estão hoje muito longe da média de 50 casos registrados no início da pandemia.

Segundo o presidente cubano, Miguel Diaz-Canel, o desafio agora está nas grandes filas que se formam nas lojas devido à falta de itens de necessidade básica provocada pelos 62 anos de embargo econômico dos Estados Unidos contra Cuba. Buscando solucionar esse problema, o governo está se organizando para abastecer a população e entregar alimentos e outros gêneros essenciais nas próprias residências.

Medidas tomadas combinaram ações como o fechamento das fronteiras (desde 2 de abril), supressão de todos os transportes públicos nas cidades, vilas e entre as províncias, fechamento de bares, restaurantes e boates, aumento da ação policial nas ruas para evitar as violações das regras, e uma bateria de medidas sanitárias preventivas com investigações maciças, casa por casa, para detectar os doentes – além das políticas de autocontrole e conscientização do povo para que fique em casa e saia apenas para o estritamente necessário.

A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 1 médico para cada mil habitantes, os Estados Unidos, sem sistema público, têm 2,59. Cuba tem nove. São 1.800 especialistas em terapia intensiva e 1.200 epidemiologistas, além de 85 mil enfermeiros e 58 mil técnicos. Cerca de 150 hospitais e 450 policlínicas fazem parte da rede de saúde pública e gratuita, embora  a maior força de Cuba nesta crise seja o serviço de atenção primária extenso e coeso, bem como, sua capacidade de controle social, o que permite chegar praticamente a todas as residências na busca de possíveis doentes.

Em 12 de junho, o site Brasil de Fato nos conta que o país registra baixo número de mortes e de novas infecções, mas ainda não definiu data para retomada das atividades. Ou seja, três meses após os primeiros registros do coronavírus em Cuba, a pandemia é controlada com políticas detalhadas e população empenhada em cumprir medidas para frear o avanço do vírus.

É uma experiência que une atenção primária à saúde séria, solidariedade e cooperação da população e do governo cubano, que não precisou determinar em nenhum momento o lockdown. A atenção primária é forte e comum na ilha. Todos os bairros tem um médico da família, que atende todas as comunidades do país. Estes profissionais agora contam com reforço de dezenas de milhares de colegas e alunos (as) de medicina que percorrem regiões em busca de qualquer sinal do vírus. Todos os dias moradores recebem visitas de equipes da saúde que verificam as condições da família toda. O governo também se empenhou em distribuir remédios naturais para melhorar a imunidade.

Os transportes públicos continuam suspensos, o que aumenta a adesão à quarentena. Atendendo o deslocamento dos trabalhadores (as) essenciais, o governo destacou ônibus específicos com lotação limitada. As escolas estão fechadas, mães e mulheres grávidas foram liberadas do trabalho, sem prejuízo do salário. O cuidado é tanto que o governo já anunciou a suspensão do Carnaval 2021.

Cuba e seu sistema socialista, desenvolve, há décadas, uma estrutura capaz de enfrentar pandemias porque atua fortemente na saúde pública e preventiva, no campo da pesquisa, educação, segurança e organização popular. Cuba tem demonstrado que o mais importante é a vida de sua população.

Enquanto isso, no Brasil,  o governo federal nega a gravidade da pandemia e o poder econômico pressiona os governos locais pelo fim do isolamento social. Negligenciam as desigualdades sociais que se acirram com o desemprego e a ameaça de corte do ínfimo auxílio emergencial. Alegam que o país não pode continuar mantendo a distribuição dos recursos à população para não prejudicar as contas públicas. A contaminação e as mortes se multiplicam diariamente e já passamos dos 60 mil brasileiros mortos pela Covid-19.

Estamos falando de mortes evitáveis. Somos uma nação rica, mas com uma das maiores concentrações de renda do planeta. Não há crise econômica, ela é fabricada para justificar a continuidade da abjeta desigualdade social brasileira. Estamos sendo enganados, a mente dos pobres e miseráveis é manipulada para que acreditem na falência ou incapacidade financeira do Estado. Quando todos estivermos mortos, não haverá economia possível.

Frequentemente o “gado” nos manda para Cuba. Pensando aqui, não seria má ideia, até porque estamos afrouxando o isolamento, dado o sério compromisso dos nossos governantes com o capital, mais do que com a vida. Diferentemente, Cuba está fechada e o presidente afirma a importância de ainda manter as medidas sanitárias e de quarentena, evitando retrocessos.

Apesar do sucesso do papel do Estado no combate à pandemia, autoridades cubanas de saúde disseram que não pretendem flexibilizar a quarentena e que o país provavelmente ficará fechado durante todo o segundo semestre de 2020.

Quem sobreviver ao vírus no Brasil deve aprender a lição: é dever do Estado ser forte com quem mais precisa e não só com os ricos. É dever do Estado responsabilizar-se pela saúde e educação públicas de qualidade e universal. É dever do Estado investir na ciência, garantir direitos sociais e humanos, o que inclui o acesso à uma renda mínima, básica, decente.  Assim é em Cuba. Vamos para Cuba!

*Silmara Conchão

Socióloga, feminista e professora universitária. Mestra em Sociologia pela FFLCH/USP e Doutora em Ciências da Saúde.

**Eduardo Magalhães Rodrigues

                                                   Sociólogo e pesquisador da Universidade Federal do ABC. Mestre em Relações Internacionais e Doutor em Planejamento e Gestão do Território.

 

Veja mais: Mais de um trilhão de reais jogados ao vento pelo governo Bolsonaro

COMENTÁRIOS

4 respostas

  1. Realidade dura sem muita esperança enquanto a mediocridade imperar somos um povo forte e criativo falta ação e aceitar que arrependimento não basta acorda povo o buraco está grande estamos pendurados por um fio parabens pela matéria.

  2. Parabens : Silmara e Eduardo jornalistas livres pelo artigo ,muito bom , vamos usar Cuba como exemplo.

  3. Tenho uma amiga em cuba que diz estar passando fome, isso pode ser verdade?

  4. Pensei seriamente em adotar a postura de Cuba para a minha vida! Vejam só que providencial, quando a população sofre pela carência de itens básicos a culpa é dos EUA mas quando supostamente é encontrada por lá alguma “virtude social” ai é mérito do regime. Rsrs. Imaginem se pudéssemos viver a vida somente com os bônus? Que maravilha seria!

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