O homem de ferro do PSDB destrói o sonho de mais de 700 famílias do MTST

Por Katia Passos e Iolanda Depizzol Jornalistas Livres

Como é sabido, vivemos tempos sombrios. Terça (17), foi mais um dia de trevas para o povo pobre. Foram 700 famílias despejadas não só em meio a chuva forte que caia do céu paulistano, como também, por jatos de água vigorosos que saíram dos caveirões da Tropa de Choque. Aquela “água” trazia um recado claro: cortar, ferir e dizimar os sonhos de 700 famílias. O remetente do recado tem nome: Geraldo Alckmin.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) amanheceu com mais de 3.500 pessoas chorando e clamando por justiça. Para esse povo, o mesmo Estado Democrático de Direito que funciona para a turma de Alckmin e Dória não se fez presente hoje em São Mateus. Para eles, sobraram bombas de gás e balas de borracha desferidas pela Tropa de Choque que curiosamente, sempre está pronta para assumir exatamente a persona a que se propõem a combater, os “baderneiros mascarados”.

A mídia cega e convencional cumpriu seu papel numa narrativa pouco expressiva. Eles olharam aquele terreno e viram um terreno e mais nada.
Absolutamente nada foi visto para além dos olhos dos desabrigados do Jardim Colonial, região de São Mateus, na Zona Leste de SP. Seres humanos e histórias ficaram invisíveis. Para os jornalões, tudo não passou de uma demolição de barracos instalados em um terreno particular.


Já pelos olhos das famílias desabrigadas, pobres e lutadoras por uma moradia que traga esperança de uma vida melhor, caem lágrimas de sangue. A comunidade era também formada por crianças, que muito embora, pareçam “sofrer menos” do que a maioria dos adultos, possuem em sua essência infantil, a mais perfeita consciência do recomeço, elas só não tem ideia de como isso será possível. As mulheres que moram sozinhas com seus filhos, trabalhavam o dia todo e voltavam felizes para São Mateus, por ter um lar consolidado, mas que agora, a grande maioria, muito provavelmente, ficará na rua com seus filhos. Isto é, caso o novo prefeito João Dória e sua política higienista permitam.

Pela voz dos moradores do local ouvimos muitas frases que nos fazem refletir sobre o real papel desses locais abandonados e que depois de ocupados, viram alvo de especulação imobiliária. “Não tinha nada, tava tudo abandonado. Agora que a gente arrumou água e luz, eles querem o terreno de volta”.
“Aqui tem B.O. de estupro, de assassinato, carro roubado jogado aqui, e agora, depois de todo esse tempo eles querem tirar a gente?” ”Essa é uma é área destinada à habitação, não pode construir fábrica, e tudo mais, porque aqui é área destinada à moradia”.

 

 

 

Uma gestante, preocupada com a segurança de seus outros dois filhos pequenos, pediu para uma vizinha do local abrigá-los durante a reintegração de posse.

E é com essa solidariedade que os moradores contam. Pessoas de outra ocupação por moradia levaram pão e café com leite para os que estavam sendo reintegrados. “A gente sabe como é, nessa hora ninguém para para tomar café, então viemos ajudar” conta Rosecleir.

Fotos Iolanda Depizzol

A Tropa de Choque trouxe, como sempre, terror. Rechaçou todos que estavam na rua, passando por cima das barricadas de fogo, com sua receita já tradicionalmente conhecida: bombas de gás + bala de borracha e jatos de água. Os policiais entraram no terreno promovendo um verdadeiro massacre a todas as pessoas que ali moravam, não importando se eram idosas, crianças ou cadeirantes.

Do lado de dentro, lama e muitas bombas, do lado de fora muito choro e desespero por não saber do paradeiro de suas mães, irmãos, filhas, gatos, galinhas, cachorros, e por qualquer vida que ali habitasse.
Qualquer momento de respiro trazia alegria para aquele povo. Uma moradora sorriu quando reencontrou seu cachorro que muitos conheciam e adoravam.

Mas, Alckmin, o homem de ferro, também mostrou sua “generosidade”. Ele mandou 50 caminhões para os moradores transportarem suas coisas, desde que não seja para a próxima moradia mais evidente para aquele cenário, neste caso, a rua, claro.
Para quem não tem local diferente da rua para seguir, tudo o que fora conquistado será jogado dentro de um galpão, em algum canto da cidade por tempo determinado, depois o destino desses pertences nunca mais é sabido. Famílias na chuva choravam por não terem ideia para onde ir.

 

A construção de uma casa, não é só formada apenas de estruturas de concreto, madeira ou ferro, rejunte, arame, lona ou qualquer coisa física coisa que una materiais e forme um teto. O que faz um terreno ser uma comunidade? Não importa sua localização, extensão ou valor financeiro.
O que caracteriza uma casa ou uma comunidade são as pessoas que ali habitam. Há de se deixar a vida gerar, brotar, crescer, se movimentar e se transformar.
Quantos sonhos de vida foram hoje destruídos pelas mãos dos que dão valor apenas a construções e terrenos?

Perderam-se casas, perdeu-se mais uma comunidade.

Fotos Iolanda Depizzol

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