Precisamos falar sobre democratização da mídia

Foto: Lucas Martins / Jornalistas Livres

Se você mora na cidade de São Paulo e, ontem, por volta das 17h ou 18h, circulou pelas regiões atendidas pela av. 23 de Maio, você com certeza enfrentou um trânsito fora do comum, mesmo para os padrões congestionadíssimos da grande Metrópole. Muito provavelmente, você não sabe por que ficou parado um tempão a mais no trânsito. Já abrimos o spoiler: o que congestionou mais ainda a cidade foi a greve dos servidores municipais. “Como?” Olha aí… você nem sabia que os servidores estavam em greve.

Mas o que isso tem com mídia? Bom, se você não é servidor ou muito próximo de um, mesmo que seja atendido quase diariamente por eles, direta ou indiretamente, você está sem saber da greve porque o movimento dos funcionários públicos municipais tem sido apagado de toda a grande mídia. Desde o dia 4 de fevereiro, várias categorias (professores municipais, servidores da saúde, serviço funerário, etc. pararam o trabalho. Trata-se de um protesto contra a Reforma da Previdência que o prefeito Bruno Covas quer impor goela abaixo dos funcionários.

Agora responda: quantas vezes isso apareceu em algum grande jornal impresso, ou no jornal matinal e noturno que você vê, ou no rádio que te informa sobre o trânsito?

Ontem, alguns milhares de servidores saíram da Prefeitura e passaram mais de duas horas em caminhada, saindo da Praça do Patriarca, passando pela 23 de Maio e terminando na av. Paulista. As multidões em movimento mereceriam pelo menos alguns takes de um Globocop. Quem sabe você tenha ouvido algum rápido comentário, meio atrapalho e balbuciado, mas nada que passasse de parcos segundos. Sem imagens, com certeza.

Como pode isso? Existe um conceito que pode nos ajudar a entender. Trata-se da “Agenda Setting”, ou “agendamento”, que é o estabelecimento de uma agenda temática e discursiva comum entre diferentes veículos da imprensa.

Opa! Opa! Pera lá… Isso só pode ser teoria desses esquerdistas conspiracionistas, dirá o leitor desconfiado. Como podem os vários veículos, que competem entre si, montarem um cartel editorial e, em conjunto, evitar ou trabalhar uma mesma pauta?” É uma pergunta muito justa… Vamos enfrentá-la.

As grandes empresas de jornalismo, que hoje são conglomerados, são poucas. As marcas, os nomes que usam, podem até dar a impressão de que não é tão reduzido assim, mas olhem o exemplo: só as Organizações Globo detêm algumas emissoras de rádio, com nomes diferentes, mas pertencentes à mesma empresa. As Organizações Globo têm TVs, têm jornais, têm revistas, têm internet, financiam filmes e peças de teatro. Todos esses “negócios” obedecendo ao mesmo grupo de acionistas. Há, no Brasil, poucos grupos de acionistas que controlam a mídia toda… A Editora Abril, Folha de S.Paulo, Estadão, TV do Bispo Edir Macedo, de Silvio Santos, a Band e o grupo RBS, para ficar nos mais importantes. Poucas empresas para um país de dimensões continentais, como é o Brasil.

Um dos maiores estudiosos de mídia, Francisco Fonseca, aponta em seu clássico “O Consenso Forjado: A grande Imprensa e a Formação da agenda ultraliberal no Brasil” que as empresas de mídia são, antes de tudo, empresas.

“Impressiona a ausência de vozes discordantes nos jornais, seja nas coberturas seja sobretudo nos argumentos que a opinião editorial esgrima (quanto a esta, representa a síntese de um periódico, pois orienta e influencia toda a cobertura jornalística e poderia, no mínimo, discutir os diversos argumentos disponíveis). Tudo se passa como se a grande imprensa estivesse invariavelmente do ‘lado certo’, da ‘verdade’.”

A discussão entorno da Reforma da Previdência, como temos visto, tem uma única narrativa veiculada em todos os grandes jornais brasileiros: ela é emergencial! Se não for feita imediatamente, o País vai à falência! A Reforma da Previdência é o caminho da Modernidade! E por aí vai.

Tudo mentira. Como grandes empresas que são as empresas de comunicação, em geral devedoras da previdência, essa reforma lhes interessa. Isso explica, por exemplo, o silêncio sepulcral sobre a greve dos servidores, que luta contra a reforma da previdência municipal.

Esse é um exemplo de como a concentração midiática gera, como tem sido o caso desta greve, casos de censura velada. O silêncio, por parte da imprensa é uma forma de auto-censura, para que não seja discutida a pauta colocada em vias públicas, pelos grevistas. O papel social da comunicação é o de trazer e aprofundar as discussões sobre assuntos que explodem na epiderme social. E como pode um silêncio desse, quando milhares de pessoas param uma das principais avenidas da cidade? É a defesa do próprio interesse desses grandes conglomerados de mídia.

Mas podemos entrar em vários aspectos de como esse cartel midiático molda o debate público.

Um dos casos mais batidos, e não menos importante: o jovem e o traficante. Quantas manchetes já não vimos falando sobre um indivíduo que foi preso na posse de alguma quantidade de droga. Se é um jovem negro e pobre, a manchete grita “Traficante”. Mas, se o implicado for um jovem branco, morador de um bairro rico, o texto o designará apenas como “Usuário”.

São alguns exemplos. Mas, chegamos aos finalmentes, o que isso tem com democratização da mídia? Esse esses vícios jornalísticos se constituíram em um ambiente de concentração entre veículos; poucos são os que tem alcance nacional. A internet nos trouxe algum alento. Surgiram essas que são as mídias independentes… “Opa! Essas mídias independentes são panfletárias, têm pouca credibilidade, são todas militantes!”, dirá um leitor apaixonado pela velha mídia.

Sobre a acusação de militante: as mídias independentes não vacilam ao se assumir como defensoras de um lado da disputa narrativa. O problema é esse verniz da imparcialidade que a grande mídia tenta lançar sobre si, quando seu papel como militante político é total. Suas escolhas e o próprio jornalismo que temos hoje no país são construídos de acordo com uma fórmula padrão que visa a esconder a natureza política da comunicação e do próprio jornalismo. Essas escolhas de pautas, histórias, entrevistados, vocábulos têm um fundo político. Mas envernizado.

Nos resta, menos do que mudar esse jornalismo padrão (que tem sua importância) fortalecer as mídias independentes. Que o melhor ganhe. O jornalismo abertamente politizado ou o dissimulado.

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Lucas, amei o texto.
    Eu moro em São Paulo e tiver um despertar espiritual, ops, político e de cidadania no ano passado, no período da eleições.
    Tenho sempre procurado ficar atenta às manifestações e protestos mas a de demarcação de terras dos indígenas eu fiquei sabendo em cima da hora e larguei tudo pra ir, filmar, fotografar… Enfim, eu fico pensando que a esquerda pelo menso podia se unir pra isso. Quando postei um vídeo de 15 minutos no Face da manifestação muita gente me falou que neão ficou sabendo. Clara que saiu em alguma mídia… mas tenho que ficar com o computador apitando o dia inteiro porque cada canal noticia somente o que lhe interessa, é claro. Esse é um momento muito importante que unamos nossas forças para alcançarmos e ajudar a acordar os adormecidos, como eu era. Gostaria de fazer alguma coisa efetiva…

  2. CRIME ORGANIZADO (MÁFIA) DAS CONCESSÕES PÚBLICAS DE RADIODIFUSÃO

    ATENÇÃO: Estou denunciando o USO ILEGAL DE CONCESSÃO PÚBLICA DE RADIODIFUSÃO (TV ABERTA). Não estou tratando de TV PAGA (SISTEMA FECHADO).

    Exemplo (denunciado 2014~2015):

    Aqui no Brasil, não existe uma diferenciação clara entre “CONTEÚDO EDITORIAL” vs “EXPLORAÇÃO COMERCIAL”. No mais, as CONCESSIONÁRIAS (Record, Rede TV, SBT, Bandeirantes, Globo e outras emissoras de TV ABERTA em mãos de RELIGIOSOS) não tem SAC (Central de Atendimento ao Consumidor + Protocolo).

    EXISTE UMA CENSURA IMPOSTA POR PATROCINADORES/ANUNCIANTES. Reportagens negativas envolvendo PATROCINADORES/ANUNCIANTES são apagadas e seus nomes não são pronunciados.

    Assim na DENÚNCIA ARQUIVADA (“autoridades” alegam não existir “irregularidades”) propus algumas ideias de legislação.

    “…
    Nos conteúdos ao público fica proibido o uso do merchandising, inserts e outras técnicas comerciais de cessão onerosa de espaço tais como: descaracterizar cenários ou vinhetas, dingos ou temas; fugindo do tema do conteúdo os comentários, reportagens, documentários, sorteios, promoções, ou qualquer outro novo tipo de inserção com finalidade comercial de anúncio ou publicidade.

    Sem regras claras, as concessionárias de TV ABERTA substituem cada vez mais as finalidades educativos, culturais, informativa e de entretenimento da RADIODIFUSÃO, por uma finalidade exclusivamente comercial e do lucro. De início, guiados apenas pela ética, respeito e o bom censo, a exploração comercial era limitada ao intervalo comercial, enquanto que a publicidade nos conteúdos se limitava a um agradecimento ao patrocinador no final do programa. Agora a publicidade está tão invasiva que chega a substituir os conteúdos, como a cessão de espaço a terceiros que ocorre com ULTRAFARMA, JEQUITI, RELIGIOSOS, JOGATINA DE AZAR e vários outros programas “terceirizados pelos terceirizados” com características puramente comercial. Enquanto que as reais finalidades da RADIODIFUSÃO, ficam relegada apenas como um subterfúgio para expor a população a uma intensa quantidade de publicidade. Apresentadores, jornalistas e artistas que sem nenhuma ética, respeito, responsabilidade social e sem conhecimento de sua função como um EDUCADOR, deseducam o povo fazendo uso do seu nome e do nome da concessão pública, a consumirem produtos e serviços sem a devida educação do qual é seu dever EDUCAR e direito do povo ser EDUCADO. Impunemente vejo a população sendo ludibriada por publicidade enganosa tendo seus prejuízos, enquanto estes traidores e terroristas lucram com a deseducação e miséria que imputam no povo.

    O espaço cedido à concessionária para a exploração PRIVADA com finalidade comercial e do lucro como praxe é o INTERVALO COMERCIAL. Enquanto que os CONTEÚDOS jornalístico, ou de variedades, ou de entretenimento, etc., é o espaço PÚBLICO ou ainda, a prestação de serviço público à população que como manda a legislação, são de finalidade educativa, cultural e informativa. De acordo com o MERCHANVIEW DO IBOPE, o merchandising tem um faturamento de R$ 6 bilhões anuais. Essa cifra bilionária é fruto da prevaricação e peculato da administração pública que age em desacordo com os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, ao se omitir das ilegalidades praticadas pela Record, Rede TV, SBT, Bandeirantes, Globo e outras emissoras de TV ABERTA.

    Aqui em Santa Luzia – Minas Gerais, o canal “Rede Super” que é uma concessão de dois canais ao mesmo grupo religioso, o 21 e 32 transmitindo a mesma programação. Assistindo ao infantil “Tio Uli” por volta das 09:00, que conta com a presença de crianças no cenário, é apresentado dentro do programa uma intensa publicidade dos brinquedos da “RiHappy”, ao ponto de participar no cenário do programa infantil o mascote “Solsinho” da empresa fabricante de brinquedos e aparentemente o principal patrocinador do programa como é dito várias vezes pelo próprio “Tio Uli” que repete “RiHappy” umas 5 vezes por minuto, enquanto as crianças desenham livremente sobre qualquer tema escolhidos por cada uma delas. Pode parecer estúpido à primeira vista para a maioria dos cidadãos comuns este fato que muito me incomoda, “A PUBLICIDADE DISFARÇADA DE, OU NOS CONTEÚDOS” como neste caso onde todas as crianças, apesar do tema livre, acabam por desenhar um Sol. Será que por causa da presença no programa e não no intervalo comercial do mascote do patrocinador e anunciante que remete ao Sol? É algo que me faz perceber claramente que algo está muito errado com as concessões públicas de RADIODIFUSÃO, um instrumento público, que deveria estar educando, levando cultura e informando a milhões de cidadãos, que no entanto está sendo usada para “educar” futuros consumidores sem nenhuma educação e informação.

    Os cidadãos tem o DIREITO de saber que estão assistindo a uma PUBLICIDADE. Os cidadãos tem o direito de poder escolher assistir ou não a publicidade, por isso defendo a PUBLICIDADE APENAS NOS INTERVALOS COMERCIAIS PREVIAMENTE AVISADOS como manda o CDC art. 6 e 36, como já faz o “Plim-Plim” da Globo, sendo de conhecimento público e notório.
    …”

    Exemplo (JORNAL NACIONAL 17/10/2014):

    “…
    EXPLORAÇÃO COMERCIAL ALÉM DOS 25% PERMITIDOS POR LEI. (em duas ou três denúncias no MC)

    O noticioso “Jornal Nacional” explora comercialmente a TV ABERTA em 58%, de acordo com nota da própria Rede Globo.

    A NOTA: “A Globo comunica que, embora os candidatos tenham concordado em ser entrevistados pelo Jornal Nacional nos dias 20 e 21 de outubro, foram feitos pedidos quanto ao tempo e formato das entrevistas: postulava-se que a duração da entrevista excluísse o tempo das perguntas. Não foi possível se chegar a um acordo porque o tempo de produção do telejornal (excluídos os anúncios comerciais), com o horário eleitoral obrigatório, é, em média, de 21 minutos. Sendo assim, as entrevistas não se realizarão.”

    Fontes: globo.com; folha.uol; terra.com,. // ainda online em 09/07/2015

    A grade de programação, divulgado publicamente pela emissora na época das eleições;

    20:00 Jornal nacional // 30 minutos
    20:30 Propaganda eleitoral
    20:50 Jornal nacional // 20 minutos
    21:10 Império

    fonte: jornal Estado de Minas 2ª edição Nº26.548, caderno Cultura, 17/10/2014; globo.com (itapetininga); globo.com (sul-de-minas); tvsquare // todos ainda online em 09/07/2015; noticiasdatvbrasileira; // estava online em 06/06/2015

    A MATEMÁTICA vs A LEI: … dos 50 minutos de JORNAL NACIONAL (programação), 29min (58%) é EXPLORAÇÃO COMERCIAL e os restantes 21min (42%) é o JORNAL NACIONAL.
    Por Lei e Decreto federal Federal o máximo de EXPLORAÇÃO COMERCIAL permitido é 25% (1/4) da programação.
    ESTELIONATO + ENRIQUECIMENTO ILÍCITO: O “jornalismo” roubou da população em geral 16,5min (33%) de seu DIREITO HUMANO À INFORMAÇÃO E EXPRESSÃO…

    Quais ações o MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES tomou na época? Prevaricação e peculato usando o silêncio.
    …”

    O QUE PRECISA SER FEITO A RESPEITO DAS CONCESSÕES PÚBLICAS DE RADIODIFUSÃO

    “…
    REGULAMENTAR A RADIODIFUSÃO SEPARANDO A FINALIDADE PRIVADO DA FINALIDADE PÚBLICA:
    a) Limitar em no máximo 20% (vinte por cento) pelo horário da sua programação, o tempo destinado à publicidade comercial
    b) Tempo máximo do intervalo comercial
    c) Tempo mínimo do bloco destinado ao público (conteúdos)
    d) Proibição nos conteúdos de merchandising, inserts, reportagens, documentários, e outras técnicas comerciais anunciando produtos ou serviços de terceiros
    e) Proibição das tecnologias restritivas de acesso (DRM, CINAVIA, MACROVISION, HDCP, etc.) e uso de tecnologias proprietárias incompatíveis com os padronizados na transmissão e recepção da TV ABERTA DIGITAL
    f) Criar e fazer publicidade de canais de contato do cidadão com autoridade fiscalizadora (SAC, Ouvidoria, Fale Conosco, etc.)
    g) Obrigar à criação nas concessionárias de canais de contato do cidadão (SAC, Ouvidoria, Fale Conosco, etc.) sendo obrigado a protocolação dos contatos e não exigência de cadastro do cidadão no sistema da concessionária.
    h) Que a RADIODIFUSÃO seja baseado na ética, respeito e dignidade dos cidadãos, lembrando sempre se tratar de prestação de serviço público concedido, com finalidades culturais, educativas e informativas, não do lucro. Lugar de publicidade é no intervalo comercial.
    i) A corrupção, monopólio, prevaricação e o peculato no setor de RADIODIFUSÃO precisa ser discutido e investigado por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para punir corruptos (concessionárias e autoridades) e corruptores (anunciantes e patrocinadores) e regulamentar o setor.
    …”

    SEI! Pesquisa Processual 53900.048579/2015-07

    DanAQ
    Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte – Minas Gerais
    sábado, 16 de fevereiro (02) de 2019

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