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Por que a inflação foi 10,67% em 2015

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Parece que virou moda comunicar-se por carta em Brasília. Você viu a carta que Alexandre Tombini, presidente do Banco Central (BC), mandou para Nelson Barbosa, ministro da fazenda?

caro ministro

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Bem, mas nesse caso não é bem assim.

É que o regime de “metas para a Inflação”, implantado no Brasil em 1999, estabelece que a missão do BC é executar políticas para cumprir a meta estabelecida, especialmente administrando as taxas de juros no país. E nesse ato, o presidente do BC fica também responsável por explicar as razões do descumprimento, a cada vez que a meta não é atingida.

A meta atual para a inflação anual é de 4,5% com tolerância de mais ou menos dois pontos percentuais. O que é o mesmo que dizer que o alvo, que o BC deve mirar, é uma faixa entre 2,5% e 6,5% de inflação, medida pelo IPCA, ao ano. Quando a inflação fica dentro dessa faixa, o presidente do BC não precisa fazer nada. Como a inflação ficou em 10,67% em 2015, ele teve de explicar, em carta aberta, ao ministro da Fazenda as razões do estouro. O que faz com que essa carta seja menos “Temerária”, digamos.

Causas do descumprimento da meta

O texto de Tombini começa pelas causas do descumprimento da meta:

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Oops, calma Tombini, você está indo muito depressa. O que são preços administrados? E preços livres? O que é processo de realinhamento de preços? O que é realinhar preços domésticos com os internacionais?

Bem, preços administrados são aqueles que o governo federal tem o poder de regular (telefonia, derivados de petróleo, eletricidade e planos de saúde) ou aqueles que os governos estaduais ou municipais regulam (água, IPVA e transporte público). Os preços livres são todos os outros incluídos no cálculo do IPCA, ou seja, aqueles outros preços que não têm ingerências dos governos. Os preços administrados têm um peso próximo de 1/4 do IPCA e os livres de 3/4 do índice. Veja na Tabela 1, que está na carta de Tombini, como vêm variando preços livres e administrados desde 2014. Repare bem no que aconteceu com os preços administrados no 1o trimestre de 2015.

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Veja que, em 2014, os preços livres ganharam a corrida, 6,72% de aumento no ano, contra 5,32% dos administrados. No entanto, conforme se nota os administrados aceleraram rapidamente no início de 2015 e se mantiveram subindo com velocidade durante todo o ano. Até que no final de 2015 se percebeu que os preços administrados subiram 18,07%.

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Como é possível que os preços administrados tenham subido mais de 18% se a inflação de 2015 foi abaixo de 11%?  Bem, a razão é que os administrados representam perto de 25% dos preços e os livres, que representam os outros 75%, subiram bem menos, 8,51%.

Um resumo do que aconteceu com a inflação em 2015 é que o governo tomou a decisão de recompor, de realinhar os preços que administra. Esses preços vinham aumentando menos do que os preços livres. O governo reajustou fortemente, por exemplo, a eletricidade e os derivados de petróleo. Salientemos que eletricidade e derivados de petróleo entram no custo de quase tudo o que é produzido. O que quer dizer que os aumentos na eletricidade e nos combustíveis provocaram mais aumentos nos preços livres.

Além dessa ação deliberada do governo, houve a subida do dólar, era a isso que Tombini se referia quando falou do realinhamento dos preços domésticos em relação aos preços internacionais. Nós sabemos que a cotação do dólar influencia inúmeros preços aqui no Brasil. Um caminho para essa influência são os produtos importados e os componentes importados de produtos feitos aqui. Um carro importado sobe de preço diretamente com a subida do dólar, mas o carro nacional que tem componentes importados também sobe de preço, já que o custo de produzir o carro aumenta.

Mesmo no caso de produtos que exportamos existe influência da alta do dólar. Digamos que você produza açúcar no Brasil e vende aqui mesmo por RS 50 a saca de 50 quilos. Digamos que o preço equivalente no exterior seja US$ 20. Se o dólar sai de R$ 2,50 e vai para R$ 4,00, você tem a chance de vender no exterior a R$ 80 a saca, que é o resultado dos 20 dólares vezes os 4 reais por dólar. Minha pergunta é: você continuará a vender o açúcar aqui no Brasil por R$ 50? O resultado é que o preço daqui sobe para se alinhar com o preço internacional, mesmo que nada tenha mudado na produção de açúcar aqui dentro do país. Depois do preço do açúcar ter caído um pouco em 2014, o preço no varejo em 2015, de fato, subiu mais de 30%.

Repare então no que fez o dólar em 2014 e 2105. Esse Gráfico 3 também faz parte da carta de Tombini. A taxa de câmbio começou o ano a R$ 2,70 por dólar, subiu até R$ 3,26 no final de março, voltou um pouco e fechou o ano em R$ 3,90. Esse aumento de mais de 40% na cotação do dólar pressionou a inflação de 2015. Seu efeito sobre a inflação foi bem menor do que os reajustes nos preços administrados, mas foi relevante.

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Nesse último dia 20 o Comitê de Política Monetária do Banco Central resolveu manter a taxa de juros em 14,25%. Será que os componentes do Comitê estão antevendo uma inflação mais comportada? Vamos acompanhar.

texto_final

 Ilustrações por Joana Brasileiro

Nota: a íntegra da carta está em http://www.bcb.gov.br/htms/relinf/carta2016.pdf

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#EleNão

Moradores da Maré são bailarinos em espetáculo com temporada na Suiça

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Foto: Andi Gantenbein, de Zurique, Suíça, para os Jornalistas Livres

Denúncias sobre os atuais tempos de antidemocracia, assassinatos da população preta, pobre e periférica e o da vereadora Marielle Franco aparecem em cartazes erguidos pelos bailarinos de “Fúria”, espetáculo de Lia Rodrigues, considerada uma das maiores coreógrafas brasileiras da atualidade e uma das mais engajadas na realidade política do país.

A foto é da noite deste sábado (16), durante apresentação do grupo brasileiro no ‘Zürcher Theaterspektakel’, em Zurique, Suíça.

No Brasil, Fúria estreou em Abril, no Festival de Curitiba. A montagem evidencia, de maneira crítica, relações de poder, desigualdades, e as interligações entre racismo e capitalismo.

O espetáculo foi concebido no Centro de Artes da Maré, na Maré, RJ. O local foi inaugurado em 2009, e o projeto nasceu do encontro de Lia Rodrigues Companhia de Danças com a Redes da Maré. Os bailarinos são moradores da favela e de periferias do RJ.

Fruto dessa mesma parceria é a Escola Livre de Dança da Maré que resiste, em meio ao caos do governo violento de Witzel contra as favelas do RJ.

 

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Temer/Kassab preparam ataque ao seu direito à Internet

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O método Temer de solapar direitos dos cidadãos brasileiros tem novo alvo: a Internet. Sem qualquer discussão prévia, os golpistas querem mudar a composição do Comitê Gestor da Internet.

A consulta pública determinada pelo governo, sem diálogo prévio com os membros do Comitê e com apenas 30 dias de duração, certamente pretende aumentar o poder e servir apenas aos interesses das empresas privadas. As operadoras de telefonia têm todo o interesse do mundo em abafar as vozes de técnicos, acadêmicos e ativistas que lutam pela neutralidade da rede, por uma Internet livre, plural e aberta.

Veja, abaixo, a nota de repúdio ao atropelo antidemocrático da consulta pública determinada por Temer/Kassab. A nota é da Coalizão Direitos na Rede que exige o cancelamento imediato desta consulta.

Nota de repúdio

Contra os ataques do governo Temer ao Comitê Gestor da Internet no Brasil

A Coalizão Direitos na Rede vem a público repudiar e denunciar a mais recente medida da gestão Temer contra os direitos dos internautas no Brasil. De forma unilateral, o Governo Federal publicou nesta terça-feira, 8 de agosto, no Diário Oficial da União (D.O.U.), uma consulta pública visando alterações na composição, no processo de eleição e nas atribuições do Comitê Gestor da Internet (CGI.br).

Composto por representantes do governo, do setor privado, da sociedade civil e por especialistas técnicos e acadêmicos, o CGI.br é, desde sua criação, em 1995, responsável por estabelecer as normas e procedimentos para o uso e desenvolvimento da rede no Brasil.

Referência internacional de governança multissetorial da Internet,

o Comitê teve seu papel fortalecido após a

promulgação do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014)

e de seu decreto regulamentador, que estabelece que cabe ao órgão definir as diretrizes para todos os temas relacionados ao setor. A partir de então, o CGI.br passou a ser alvo de disputa e grande interesse do setor privado.

Ao publicar uma consulta para alterar significativamente o modelo do Comitê Gestor de forma unilateral e sem qualquer diálogo prévio no interior do próprio CGI.br, o Governo passa por cima da lei e quebra com a multissetorialidade que marca os debates sobre a Internet e sua governança no Brasil.

A consulta não foi pauta da última reunião do CGI.br, realizada em maio, e nesta segunda-feira, véspera da publicação no D.O.U., o coordenador do Comitê, Maximiliano Martinhão, apenas enviou um e-mail à lista dos conselheiros relatando que o Governo Federal pretendia debater a questão – sem, no entanto, informar que tudo já estava pronto, em vias de publicação oficial. Vale registrar que, no próximo dia 18 de agosto, ocorre a primeira reunião da nova gestão do CGI.br, e o governo poderia ter aguardado para pautar o tema de forma democrática com os conselheiros/as.

Porém, preferiu agir de forma autocrática.

Desde sua posse à frente do CGI.br, no ano passado, Martinhão – que também é Secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – tem feito declarações públicas defendendo alterações no Comitê Gestor da Internet. Já em junho de 2016, na primeira reunião que presidiu no CGI.br, após a troca no comando do Governo Federal, ele declarou que estava “recebendo demandas de pequenos provedores, de provedores de conteúdos e de investidores” para alterar a composição do órgão.

A pressão para rever a força da sociedade civil no Comitê cresceu,

principalmente por parte das operadoras de telecomunicações,

apoiadoras do governo.

Em dezembro, durante o Fórum de Governança da Internet no México, organizado pelas Nações Unidas, um conjunto de entidades da sociedade civil de mais de 20 países manifestou preocupação e denunciou as tentativas de enfraquecimento do CGI.br por parte da gestão Temer. No primeiro semestre de 2017, o Governo manobrou para impor uma paralisação de atividades em nome de uma questionável “economia de recursos”.

Martinhão e outros integrantes da gestão Kassab/Temer também têm defendido publicamente que sejam revistas conquistas obtidas no Marco Civil da Internet, propondo a flexibilização da neutralidade de rede e criticando a necessidade de consentimento dos usuários para o tratamento de seus dados pessoais. Neste contexto, a composição multissetorial do CGI.br tem sido fundamental para a defesa dos postulados do MCI e de princípios basilares para a garantia de uma internet livre, aberta e plural.

Por isso, esta Coalizão – articulação que reúne pesquisadores, acadêmicos, desenvolvedores, ativistas e entidades de defesa do consumidor e da liberdade de expressão – lançou, durante o último processo eleitoral do CGI, uma plataforma pública que clamava pelo “fortalecimento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, preservando suas atribuições e seu caráter multissetorial, como garantia da governança multiparticipativa e democrática da Internet” no país. Afinal, mudar o CGI é estratégico para os setores que querem alterar os rumos das políticas de internet até então em curso no país.

Nesse sentido, considerando o que estabelece o Marco Civil da Internet, o caráter multissetorial do CGI e também o momento político que o país atravessa – de um governo interino, de legitimidade questionável para empreender tais mudanças –

a Coalizão Direitos na Rede exige o cancelamento imediato desta consulta.

É repudiável que um processo diretamente relacionado à governança da Internet seja travestido de consulta pública sem que as linhas orientadoras para sua revisão tenham sido debatidas antes, internamente, pelo próprio CGI.br. É mais um exemplo do modus operandi da gestão que ocupa o Palácio do Planalto e que tem pouco apreço por processos democráticos.

Seguiremos denunciando tais ataques e buscando apoio de diferentes setores,

dentro e fora do Brasil,

contra o desmonte do Comitê Gestor da Internet.

 

8 de agosto de 2017, Coalizão Direitos na Rede

 

Notas

1 A Coalizão Direitos na Rede é uma rede independente de organizações da sociedade civil, ativistas e acadêmicos em defesa da Internet livre e aberta no Brasil. Formada em julho de 2016, busca contribuir para a conscientização sobre o direito ao acesso à Internet, a privacidade e a liberdade de expressão de maneira ampla. O coletivo atua em diferentes frentes por meio de suas organizações, de modo horizontal e colaborativo. A nota está em https://direitosnarede.org.br/c/governo-temer-ataca-CGI/ .

2 Para ouvir a entrevista, à Rádio Brasil Atual, de Flávia Lefévre, conselheira da Proteste e representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet, que afirma que as mudanças visam a atender interesses do setor privado e ferem caráter multiparticipativo do Comitê: https://soundcloud.com/redebrasilatual/1008-enrevista-flavia-lefevre

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FRAGMENTO E SÍNTESE

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Ligar a tv logo cedo num pequeno quarto de hotel no interior do país é desentender-se dos fatos nos telejornais matutinos. Abre-se a janela e uma menina vai à escola à beira do rio, um menino faz gol de bicicleta entre guris e o homem ergue a parede de sua casa.  Tudo tão distinto das ruas em alvoroço de protestos urbanos ou políticos insanos.  No rincão o que se busca é continuar vivo entre chuvas e trovões, sem não ou talvez. Tudo é certo. Sem modernidades calam ou arremedam nossa urbanidade, gente que se defende com pimentas e ervas, oração e vizinhança. Voz sem boca, boca sem voz, essa gente não é parte nas notícias selvagens dos jornais distantes.  Se resolvem entre cozidos, arte, bola e santos. No país de tantos cantos, muitos voam fora da asa e sem golpes entre si vão tocando suas mazelas e graça.

Mas vivemos tempos obscuros, a noite persiste em nossos avançados quinhentos e tantos anos e muitos santos. Dizem que burro velho é difícil se corrigir nos hábitos. Em manhã chuvosa na grande São Paulo, ligo a tv e o notbook, as janelas se abrem antes que a cortina deixe entrar o novo dia. Surpreendente ver na tv o deputado Jair Bolsonaro afirmando em um clube israelita na cidade do Rio, que se presidente for, não teremos mais terras indígenas no país. Ao mesmo tempo o computador expõe na rede social a opinião de meu amigo Ianuculá Kaiabi Suiá, jovem liderança do Parque Indígena do Xingu, onde leio ao som do deputado que ladra:

Jair Bolsonaro, obrigado por você existir. Graças a você, hoje, temos noção de quanto a população brasileira carece de conhecimento, decência, consciência, juízo, amor e que carrega um imenso sentimento de ódio sem saber o porque. Sim, sim, não sabem. Um exemplo? Veja a bandeira de quem te aplaude, é de um povo que, assim como nós, sofreu as piores atrocidades cometidas pelas pessoas que pensavam como você. Enfim, eu não sei se essa parcela do povo brasileiro pode ser curada, mas vou pedir para um pajé fumar um charuto sagrado e revelar se o espírito maligno que se apossou da tua alma pode ser desfeita com uma grande pajelança.

Ianuculá sabe o que diz, sabe de todo martírio vivido pelos povos originários, e mesmo assim se propõe a consultar o mundo dos espíritos.

 

É deus e diabo na terra do sol, a mesma terra que ofende também abriga e anuncia uma mostra de cinema indígena nos próximos dias. Terra de etnias e corpos na terra, a cidade maravilhosa do Rio não se calará diante do fascismo desses tempos sombrios, acompanhe.

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