A visibilidade que queremos

Hoje, 29 de janeiro, se comemora em todo o Brasil o “Dia da Visibilidade Trans”. Desde o dia 25 estão sendo realizados debates em torno de demandas importantes para a comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans como saúde, educação, mercado de trabalho entre outros. Também estão sendo exibidos filmes e shows artísticos.
No dia 22 foi lançado o vídeo da campanha “Transfobia é uó” e amanhã, dia 30, haverá uma caminhada pela paz que sairá às 14hs do vão do Masp, em SP. Foi a partir da primeira campanha nacional “Travesti e respeito”, em 29 de janeiro de 2004, que foi instituído o dia de luta por visibilidade da comunidade T. Realizada por ativistas da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) em parceria com o Ministério da Saúde, tinha como objetivo o combate às DST-Aids, que, devido às condições históricas de exclusão social, travestis e mulheres transexuais ainda são um segmento bastante vulnerável. A campanha também contou com a exposição de cartazes com fotos de 27 travestis que buscavam promover o respeito e a cidadana da comunidade com o slogan: “Travesti e respeito: está na hora dos dois serem vistos juntos”. Inicialmente chamado “Dia da Visibilidade das Travestis”, passou a ser chamado “Dia da Visibilidade Trans”, em 2005, quando as mulheres transexuais foram agregadas ao movimento político organizado. Em fevereiro do ano passado, os homens trans se filiaram ao Antra, sendo oficialmente agregados, depois da definição de sua identidade política no primeiro ENAHT ( Encontro Nacional de Homens Trans).

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As maiores conquistas da população T estão na área da saúde como a inclusão de travestis e transexuais na “Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde” e o criação do “Processo Transexualizador” no SUS. Outra grande conquista foi o respeito ao nome social em toda a área de Saúde Pública, e em todas as instituições educacionais públicas e privadas. Mas a luta pela aprovação do projeto de lei de identidade de gênero para a mudança definitiva do pronome nos documentos ainda continua. Invisibilidade é a pior forma de exclusão social porque impede a existência do ser político, do indivíduo enquanto cidadão ou cidadã. São negados os direitos básicos como acesso à educação, à saúde, a uma moradia digna e ao mercado de trabalho. Muitas vezes é negado até o direito de ir e vir, porque travestis e transexuais são empurrados para os guetos sociais e não são bem vind@s nos tradicionais espaços de convívio de pessoas cisgêneras. E todos os dias agressores transfóbicos tiram dessa população também o direito à vida. Quantas vezes você, caro leitor, viu uma travesti, uma mulher transexual ou um homem trans no mesmo espaço de lazer que o seu ou na mesma empresa onde você trabalha? Com certeza nunca. Mas quase todos os dias irá encontrar notícias com travestis e pessoas trans envolvidas em situações de agressões e assassinatos.

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O Brasil, de acordo com a ONG Transgender, é o país que mais mata travestis e transexuais do mundo. Geralmente são praticados crimes de ódio com requintes de crueldade como tortura, espancamento ou estupro. Depois, a banalização da vida no descarte do corpo em vias públicas, em terrenos abandonados, meio do mato ou beira de estrada. A notícia é dada sem emoção ou comoção, como se aquelas existências não tivessem nenhum valor, fadadas a não existir física e socialmente. Tanto o conteúdo quanto a forma das reportagens reforçam o estereótipo de que toda travesti ou transexual são marginais perigosos que devem ser evitados, além do escandaloso desrespeito a suas identidades de gênero, tratando no masculino e publicando o nome de registro da vítima. Visibilidade Trans é a luta pela cidadania plena, ocupando todos os espaços sociais, saindo dos guetos para a batalha política nas ruas. Lutar por uma legislação específica e rigorosa que puna os crimes de ódio para parar com o genocídio da nossa população. Acesso não só à saúde, à educação, ao mercado de trabalho e o respeito a todos os nossos direitos civis. Pela despatologização das identidades trans! Chega de travestis, mulheres transexuais e homens trans serem taxados de doentes e criminosos para legitimar a “normalidade” instituída e normatizada. Queremos respeito e dignidade. Essa é a visibilidade que queremos.

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