Manchete em revista científica anuncia:
fusão antiga de estrelas de nêutrons pode ter banhado nosso sistema solar com ouro.
Corrigindo hora e data a todo instante, vamos ajustando os fatos no fluxo de dados, esse universo que envolve a todos e constitui.
O computador antigo dos índios, nem tão velho assim, caça uma internet possível, como tucano astuto nos galhos. Não esperam mais o branco chegar para dizerem o que querem. Protestam.
Tucano, ave curiosa, tem sangue azul, fica preto quando cozido, saboroso caldo. É um admirável mundo, tudo invade e bica, comunica.
A mesma mão que rema, sacode ou fuma, entre reza e festa na aldeia, também filma. Coloca na rede a cara do índio e sua ideia do mundo. Prescinde homem que somos, livram-se de interesses alheios.
Ser índio com uma cara na tela, livro raro ou revista de banca, não é mais questão de paixão ou nosso interesse. Defende-se, reage, reivindica ele mesmo o mundo que quer, jovem de seu jeito.
Arma linda de índio é um celular na mão, contra a árvore que tomba e mato que queima.
Lembro-me daqueles dois irmãos Piripkura, últimos homens de um povo, atravessando a rua em São Paulo, com seus corpos frágeis, tão fortes diante dos carros que param, a irem para o hospital fazer uma ressonância magnética.
Cabeça de índio, tão vasta como tudo que move.
Ficamos nesse estica e puxa da FUNAI, entre ministério da Agricultura e Justiça, que nem Espanha e Holanda pelos direitos do mar, naquele poema de Leila Diniz: