A PONTE ENTRE BELO MONTE E O COBRE DA RESERVA

 

Em dezembro de 2011 centenas de jovens bloquearam a avenida Paulista, deitando-se no asfalto, simbolizando o que morreria com a construção da hidrelétrica de Belo Monte.  O ovo do belo monstro, em alegoria ideal, fora botado às margens do rio Xingu em 1972 pela promiscuidade militar e os negócios amazônicos, os desejos do país do futuro. O ovo não gorou e a choca percorreu muitos governos, no ninho quente das polêmicas.

Em 2005 deu-se os primeiros trincos na casca do ovo da serpente com o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) nº 1.785/05 aprovado pela Câmara, em julho e posteriormente no Senado, sendo denominado PDS nº 343/05. Sua construção começou em 2010 envolvendo os municípios de Vitória do Xingu, Senador José Porfírio e Altamira, no estado do Pará. Muitos foram os protestos dos povos indígenas e movimentos sociais. Várias disputas judiciais ao longo do processo e conjunturas políticas e econômicas marcaram a gestação e trajetória de Belo Monte, até sua inauguração pela presidente Dilma Rousseff em 5 de maio de 2016.

Os rios da Amazônia, a vastidão sagrada de suas águas e solidão. O século tem sede e os monstros tem fome.

A cobra está solta, Belo Monte nasceu e tem fome. O novo marco da mineração, a privatização da Eletrobrás e a extinção da Reserva Nacional de Cobre e Associadas (RENCA) são apenas alguns pratos oferecidos ao cardápio dos monstros em gênese para a Amazônia.

Jonh Dennis Cadman, engenheiro canadense, foi quem percebeu a possibilidade de Belo Monte na década de 70. Hoje, 45 anos após, muitas empresas canadenses também exploram minérios no Brasil, inclusive a Belo Sun Mining, que pertence ao grupo canadense Forbes ß Manhattan Inc.

A novidade agora, no país que queremos, seria uma revolução energética no país das hidrelétricas. A novidade seria a criançada se alimentar de luz, como cantava Chico Buarque, iluminando. Mas nesses tempos escuros a novidade é outra.

Kararaô foi um grito de guerra em 1989, hoje o belo mascara e dissimula cicatrizes sem diretrizes. Não há segredo ou haverá festa. Sem mistério a Amazônia se revela e encaixa o quebra-cabeças secular. Água e veneno. Mexem com fogo e dão uma de bobo. Do Jaraguá ao Amapá novas receitas se anunciam. O século XXI se instala no país.

Jurou-se mentiras, traiu-se o rito, soltaram o bicho e a Amazônia teme. Temer não se importa com bichos nem os seus, guardando nos atos toda animalidade. Seguimos no risco, na ponte, na serpente. Recolham as crianças, há águia no céu.

Aqui vale citar Lorena Fleury e Jalcione Almeida, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lembrando que

desde a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente o conceito de desenvolvimento vem sendo rediscutido no sentido de aumentar o papel das comunidades locais nas suas definições, no contexto atual brasileiro, vinte anos após, essa inclusão na prática ainda está distante de ser exercitada. Enquanto premissa de melhorias na qualidade de vida, o desenvolvimento é visto como unanimidade, no entanto, sabe-se que, como modelo geral de modernização, não são todos os que cabem como beneficiários do processo. Na disputa pela redefinição dos critérios de interpretação do desenvolvimento, a cultura e a natureza – não como entidades abstratas a serem conservadas, mas como possibilidade de existência das comunidades, terra a ser plantada e frutos do trabalho – são mobilizadas pelas comunidades locais para se confrontar o uso de critérios como geração de energia e crescimento. Contudo, essas demandas por definição de critérios não ressoam na decisão sobre políticas públicas, que em muitos dos casos, mais do que desenvolvimento geram conflitos.

 

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