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Estado de Exceção

PM de Santa Catarina quebra perna de mulher que estava rendida

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Via Ponte Jornalismo

Um vídeo chocante viralizou nas redes sociais nesta terça-feira (10), dois dias após o Dia Internacional de Luta das Mulheres (8M).

No vídeo, uma mulher rendida pela PM, no município de Mafra-SC, é brutalmente agredida por um policial. Silvana de Souza teve fratura exposta na perna e sofreu ferimentos no rosto, que ficou ensanguentado. A agressão policial aconteceu no dia 19 de fevereiro deste ano, mas só repercutiu hoje (10), após o vídeo viralizar nas redes sociais. A PM tentou justificar a agressão, mas o vídeo não deixa dúvidas sobre a brutalidade criminosa:

https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/1127978370885805/

 

Por Drika Evarini, para a Ponte Jornalismo

Dois dias e meio no hospital, fratura na fíbula e na tíbia, uma cirurgia, 13 pinos, uma platina, o rosto marcado e machucado e, talvez, mais uma cirurgia no tendão. A costureira Silvana de Souza, 39 anos, nunca mais vai esquecer o dia 19 de fevereiro, quando foi jogada no chão do terreno em frente a sua casa pela Polícia Militar de Santa Catarina. A ação foi filmada por celulares de testemunhas e divulgada nesta terça-feira (10/3), mas o caso aconteceu há quase um mês, em Mafra, no Planalto Norte do estado.

O vídeo mostra o momento em que Silvana está sendo conduzida e, de repente, leva uma rasteira e é jogada no chão. Tatiana de Souza, irmã de Silvana, gravou as imagens que mostram a costureira com o rosto machucado, sangrando e a fratura exposta na perna. “Ele quebrou minha perna”, gritava Silvana.

Silvana hospitalizada

“Eu me senti um nada, um lixo, um zé ninguém para eles, como se eu fosse um animal. Não tinha necessidade de eles fazerem aquilo comigo”, lamenta, em entrevista à Ponte.

A costureira estava em casa com a mãe quando, por volta das 18h30 daquela quarta-feira, policiais passaram em alta velocidade em direção à casa dos fundos. A ação, inicialmente, era uma perseguição ao vizinho de Silvana, que estaria pilotando uma moto com a placa adulterada.

A movimentação incomum no bairro Novo Horizonte, na zona rural do município, chamou a atenção da vizinhança que foi tratada com truculência. Tatiana conta que os policiais logo partiram pra cima dos moradores, inclusive da sua família, com gás pimenta. Ao questionar a ação, o marido foi ameaçado de prisão.

“Entraram na minha casa, com arma apontada, espirrando gás pimenta até nas crianças, com arma apontada. O meu menor, de quatro anos, não pode escutar uma sirene e já pergunta se é sirene, se é polícia, está traumatizado”, conta.

Foi neste momento que Silvana, que mora ao lado com a mãe, chegou para saber o que estava acontecendo. “Vi um monte de PM, as crianças com os olhos vermelhos, minha irmã, meu cunhado e fui perguntar. Já fui abordada por um policial com spray de pimenta. Eu comecei a discutir com o policial porque achei abuso de autoridade. A ocorrência não tinha nada a ver com a gente e já entraram no nosso terreno com violência, apontando arma pra todo mundo”, conta.

A costureira ressalta que não houve nenhuma agressão ou ameaça dos moradores, como afirma a polícia, mas admite que a família xingou os policiais por conta da truculência. Ela recebeu voz de prisão ainda dentro do terreno e foi conduzida. Pelo menos seis policiais participaram da ação.

Enquanto a irmã filmava toda a ação, Silvana foi derrubada com violência. Instantaneamente o rosto começou a sangrar e a fratura na perna foi exposta. Tatiana também foi derrubada enquanto tentava ajudar a costureira e filmava. Ela conta que teve arranhões leves, mas que o celular foi recolhido pela PM. Ela só conseguiu reaver o aparelho oito dias depois.

“Foi muito revoltante, até nisso a gente mostra que não é violento, eu fui filmando e falando com eles, acabei xingando. Mas em momento nenhum tentei agredir. Se fôssemos violentos teríamos tentado agredir. Quando eu tentei chegar perto, não deixaram e me derrubaram para pegar meu celular”, lembra.

Silvana conta que tentou levantar e não conseguiu e foi nesse momento que percebeu que havia quebrado a perna. Ela lembra ainda que ficou por cerca de uma hora no chão enquanto a ambulância dos bombeiros era acionada, trabalho que ficou a cargo dos vizinhos. “Eles [policiais] não prestaram atendimento nenhum”, ressalta.

Silvana mostra cicatrizes | Foto: arquivo pessoal

A costureira lembra ainda que o policial tentou se esquivar da responsabilidade afirmando aos socorristas e também no hospital que ela tinha “escorregado”. “Ele disse que eu caí sozinha, que eu reagi e que quando ele caiu por cima de mim, o material de trabalho dele fraturou a minha perna”, diz.

Durante os dois dias e meio no hospital, a costureira passou pelo procedimento cirúrgico para corrigir a fratura na perna, o que a tem impossibilitado de trabalhar. O retorno ao médico para avaliar a necessidade de nova cirurgia será no dia 25 de março.

“É uma situação muito complicada, não tinha nada a ver conosco e eles falam como se nós fôssemos bandidos, falam de violência e não foi assim. É constrangedor, não posso trabalhar, tenho filhos para sustentar e agora, nos sentimos ameaçados né, porque querendo ou não, eles têm poder”, relata.

Ela conta ainda que o mesmo policial que a agrediu, colheu o depoimento para gerar a ocorrência ainda no hospital. Silvana só foi liberada do hospital para casa porque a irmã pagou a fiança.

Outro lado

Em nota, a Polícia Militar de Santa Catarina afirmou que os moradores teriam se aproximado, iniciado a discussão e ameaçado os policiais, inclusive com um facão, o que teria motivado a utilização de gás lacrimogêneo. A PM declarou ainda que Silvana teria continuado a desacatar os policiais e demonstrado resistência no momento da prisão “razão pela qual o policial fez uso da força, derrubando-a no chão”.

A nota ressalta ainda que os agentes “são treinados a fazer o uso progressivo da força, bem como, observarem os protocolos operacionais padrão”. A PM afirma que um Inquérito Policial Militar será instaurado.

Ministério Público apura ação da PM

O promotor Filipe Costa Brenner determinou, dois dias após a ação, a juntada de gravações, reportagens, do auto de prisão em flagrante e das imagens das câmeras policiais. A partir desses elementos, a promotoria deve avaliar se há elementos suficientes para instauração de procedimento e possível encaminhamento à Promotoria Especializada, em Florianópolis, para investigar possíveis abusos na ação militar.

“Os fatos têm potencial para ensejar providências do controle externo da atividade policial e, inclusive, na seara criminal”, resumiu no despacho.

Além disso, a família de Silvana contratou advogados que, em nota, dizem que estão aguardando a apuração do Ministério Público e do comando da PMSC. “Após a conclusão desses trabalhos, serão ajuizadas as medidas judiciais cabíveis”, afirmam.

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25 Comments

25 Comments

  1. Gilberto Barros

    10/03/20 at 21:48

    O cidadão teme a polícia militar, tanto quanto o delinquente. Existe muitos bons polícias, mas a PM está cheio de bandidos fardados.

  2. Maria José Tordin

    10/03/20 at 22:04

    Que absurdo estamos vivendo!
    Abuso de autoridade, uma vergonha!!!
    Que país é esse?
    Onde estão os direitos dos cidadãos de bem, que pagam impostos?
    Coitada dessa moça que além de tudo precisa estar sadia para costurar, tocar a vida…
    Lamentável!
    Espero que haja justiça! Que os policiais respondam por esses atos de vandalismo e truculência sobre a população.
    Que sejam afastados de seus cargos e respondam na justiça comum.
    Não servem para defender o povo.

  3. Tancris

    10/03/20 at 22:16

    Que vergonha, aposto que esses safados ainda vao trabalhar fazendo pior com outras pessoas, so queria sabed onde eles tem duvidas do excesso de poder e de violencia contra uma mãe de familia que a vida nunca ssra a mesma pessoa, aposto que ela numca tinha nem ao menos sido abordada por policias, imagina apanhado de um vagabundo dssse que se diz a lei, tinha que ser expulso e pagar o salario dela ate ela ficar 100%
    ….

  4. marina Santos Cristo

    10/03/20 at 22:16

    Abuso de poder é crime !!!

  5. Feh

    10/03/20 at 22:48

    Não tinha necessidade da rasteira, a mulher já estava algemada, ela não ia fazer nada contra os policiais, esse animal deve ser punido, expulso da PMSC.

  6. Dinei Rinaldi

    10/03/20 at 22:48

    A PM brasileira não é outra coisa se não milícia, Dops, como no tempo da ditadura militar.. A PM tem que ser extinguida, é um perigo de morte para a população..

  7. Débora Contreira

    10/03/20 at 23:10

    Isso NÃO são policias ,são BANDIDOS E como TAL devem SER TRATADOS, eu vi o vídeo e esse COVARDE DANDO UM CHUTE NA PERNA DELA, E JÁ ESTAVA COM O ROSTO SANGRANDO. A SOCIEDADE BRASILEIRA ESPERA PUNIÇÃO SEVERA, COM EXPULSÃO E PRISÃO POR AGRESSÃO A UMA MULHER ALGEMADA, QUE VERGONHA UM homem que usa a farda fazer o que ESSE VERME FEZ CONTRA uma MULHER RENDIDA, ESPERO QUE ESSE CASO TENHA PROPORÇÕES INTERNACIONAIS POR ABUSO DE PODER E AGRESSÃO FÍSICA A MULHER! NÃO PAGAMOS SALÁRIO PRA ESSA PM BATER EM MULHER MAS SIM AS PROTEGER!

  8. Lucas Bouças

    10/03/20 at 23:41

    Já virou procedimento padrão da polícia cometer todo tipo de abuso e irregularidades. Quero ver quando começarem a revidar essa violência na mesma proporção o que essa cambada de covardes vai dizer. Se o povo se unir não sobra um militar pra contar a história.

  9. Ana

    11/03/20 at 0:39

    Isso exige providências imediatas e esse descontrolado punido

  10. Sil San

    11/03/20 at 1:33

    Horrível Tatinha eu não estou acreditando em o q estou vendo
    😔

  11. Isaque José da Silva Souza

    11/03/20 at 1:50

    Isso tomara que perde. A farda entra com processo contra esses vagabundos de farda sua perna. Nunca mais será a mesma me deu uma revolta meu deus melhoras pra vc que Deus te abençoe e proteja desses bandidos de fardas

  12. Matheus

    11/03/20 at 2:55

    O destino deste caso no terreno institucional é certo: a conclusão da farsa que será a investigação adiada até a poeira baixar, o perdão e possível promoção do policial e nada para a sua vítima. Não é um caso extraordinário, mas um exemplo do funcionamento normal e cotidiano da polícia militar. A única solução para o problema da violência policial é a dissolução da PM e demais polícias e a organização da auto-defesa armada da população.

  13. Marcello Zacharias

    11/03/20 at 4:10

    Cambada de FDP, em SP mataram 9 jovens de Paraisópolis, quem será o próximo? Eu? Você?

  14. P F M S

    11/03/20 at 7:07

    Essa milícia é composta de bandidos psicopatas da espécie mais perigosa.

  15. Guimara Silva Santos

    11/03/20 at 7:12

    Abuso de autoridade, sim! não era com eles a ocorrência. tem de ser punido, sim, ela tem o vídeo e eu TB assisti. em momento algum, vi falta de respeito com os PM e nem vi facão algum na filmagem. eles querem tirar o deles da reta, sim, e eu sou contra! a mulher é trabalhadeira como qualquer outro cidadão. pq não vão atrás de bandidos grandes?

  16. Iara Teixeira

    11/03/20 at 7:33

    isso não pode continuar assim. esses policiais tem que ser julgados e afastados de seus serviços para serem exemplos para outros.

  17. Cleide Silva

    11/03/20 at 8:47

    ISO é de indignar seja ela quem for uma mulher merece respeito é um absurdo acontecer iso eses políciais tem que ser punidos que falta de preparo deses polícias não é ESA a segurança que precisamos no Brasil precisamos de policiais preparados não pode deixar assim 😠😠

  18. Sérgio

    11/03/20 at 9:03

    Mais uma ação desastrosa de meia dúzia de policiais que ainda acham que podem fazer tudo que nada acontece, enquanto a polícia tenta mostrar e ter a população de seu lado , alguns apenas afastam o povo de bem da corporação , que está para ajudar , mas ao mesmo tempo com atitudes como essas mostram o quanto não se lixam e não estão nem aí para o cidadão

  19. Marcos

    11/03/20 at 9:06

    Esses sao filhos da puta,respeito o verdadeiro policial, mas esses COVARDES so se acham machos dentro de uma farda…VAGABUNDOS…esses que agrediram a mulher sao lixos..

  20. Estêvão Lee

    11/03/20 at 9:25

    Como sempre, os milicos negam tudo! E ainda querem respeito! Aaaaaah, vtnC!

  21. Silvia

    11/03/20 at 9:46

    Quero ver baterem em macho, policias covardes 👊😡

  22. Valdilaine

    11/03/20 at 14:38

    Esse é o futuro das nossa crianças??? Ter más medo de policía que de bandidos??? Esses São os verdadeiros criminais que sujam a reputação do corpo de policía. ABSURDO

  23. Marisa Monteiro Silveira

    11/03/20 at 21:45

    Essa policia militar mostra ultimamente muito despreparo.São uns animais e não policiais.

  24. Carlos Alberto

    13/03/20 at 16:57

    Que barbaridade e despreparo… Pegar o bandido esses “puliças” não querem, agora arrochar dona de casa , trabalhador e crianças eles sabem… Cambada de ridículos. Mas não esqueçam, nessa terra nada se faz sem retorno!

  25. Leticia

    15/05/20 at 21:29

    Monstros! Precisam ser afastados imediatamente como forma punitiva. Ninguém que está armado e em grupo, precisa derrubar e quebrar alguém para algemar. Criminosos!!!

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Censura

Militares fazem o que sabem de melhor: esconder os mortos

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Imagine uma epidemia que se alastra rapidamente e mata entre 10% e 20% dos infectados. Imagine que essa epidemia mata principalmente crianças e em especial as da periferia, com menor acesso ao saneamento básico e à saúde. Agora, imagine que por três anos os meios de comunicação sejam censurados nas reportagens sobre a epidemia, que os médicos sejam proibidos de dar entrevistas e que o Ministério da Saúde, controlado por militares, não divulgue os números corretos sobre a doença e as mortes. Isso já aconteceu no Brasil, e não faz tanto tempo assim.

Entre 1971 e 1974, pelo menos 60 mil pessoas de sete estados brasileiros (40 mil só em São Paulo, o epicentro da epidemia) foram infectadas pela bactéria causadora da meningite. Até hoje é impossível precisar quantos morreram. Mas para impedir o que achavam ser uma histeria dos médicos, os militares decidiram esconder esses fatos, e os mortos, da população. Centenas, talvez milhares de crianças, aliás, foram enterradas na mesma vala comum clandestina do cemitério de Perus, na capital paulista, onde eram jogados os corpos de dissidentes políticos torturados e mortos pelo Doi Codi.

Um ótimo vídeo curto sobre a epidemia de meningite e a maquiagem de dados da ditadura militar está disponível no canal Meteoro.doc. Ontem, o canal publicou um novo vídeo, tratando especificamente da atual maquiagem de dados e da disputa de narrativas entre o novo governo militar, que teoricamente ainda não é uma ditadura, e os meios de comunicação para se informar ou desinformar a população.

O tratamento governamental da epidemia de meningite dos anos 1970 só vai mudar em 1974, com um novo general no poder e a aquisição pelo governo de 80 milhões de doses da vacina. Sim, já havia vacina para a meningite e o governo sabia que se tivesse feito uma campanha de vacinação anos antes, teria poupado milhares de vidas. Mas pra que admitir um genocídio se podia dizer que havia um “milagre econômico”? É como disse a ex-secretária da Cultura, Regina SemArte: é muito peso carregar essa fileira de mortos.

Telegrama da Polícia Federal ordenando a censura nos dados sobre a epidemia de meningite. Fonte: Twitter do historiador Lucas Pedretti @lpedret. Como os telegramas não tinham pontuação, usavam a sigla VG para vírgula e PT para ponto final.

Assim, em julho de 1974, com a admissão oficial de que havia uma epidemia, o jornalista Clovis Rossi, então trabalhando no jornal O Estado de São Paulo, preparou uma grande reportagem de capa, intitulada Epidemia de Silêncio, na qual dizia: “Desde que, há dois anos aproximadamente, começaram a aumentar em ritmo alarmante os casos de meningite em São Paulo, as autoridades cuidaram de ocultar fatos, negar informações, reduzir os números referentes à doença a proporções incompatíveis com a realidade — ou seja, levando, deliberadamente, a desinformação à população e abrindo caminho para que boatos ocupassem rapidamente o lugar que deveria ser preenchido per fatos. Fatos que as autoridades tinham a obrigação, por todos os títulos de esclarecer ampla e totalmente”. Leia a matéria completa aqui.

Mas, claro, militares não gostam que digam quais são suas obrigações e publiquem que estão desinformando a população. Assim, a matéria de Rossi foi censurada e em seu lugar o Estadão publicou um trecho do poema Os Lusíadas, de Luís de Camões.

Por causa da Lei da Anistia, de 1979, os militares jamais foram responsabilizados criminalmente pelas mortes na pandemia e nem pelas torturas, mortes, desaparecimentos e ocultação de cadáveres de dissidentes políticos. Mas talvez a história não se repita com a pandemia de coronavírus. Ontem, o Supremo Tribunal Federal, atendendo a uma ação dos partidos Psol, PCdoB e Rede Sustentabilidade, determinou a divulgação diária das informações sobre os dados de Covid-19 até às 19h30, pelo Ministério da Saúde. E também ontem, o Tribunal Penal Internacional de Haia, na Holanda, decidiu analisar a denúncia do PDT de genocídio promovido pelo Governo Bolsonaro. Esse é um caso raro, já que normalmente o TPI só julga ex-governantes acusados de crimes contra a humanidade.

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Brasília

Manifestações mostram que Bolsonaro desliza sem volta para o precipício

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Manifestações em todo o Brasil comprovam que o povo está farto da necropolítica do miliciano no Poder - Foto: Felipe Corvello

Por Ricardo Melo*

Que me perdoe Dacio Malta, um dos mais destacados jornalistas do país e produto de uma linhagem que vem de Octavio Malta, co-fundador da Última Hora e um dos mais brilhantes profissionais da grande imprensa quando ela podia ser chamada deste nome.
Mas o último artigo de Dacio aqui publicado, sobre o impeachment de Bolsonaro, ficou no meio do caminho.

Ele tem toda razão ao afirmar que Bolsonaro merece o impeachment diante da atitude do genocida, expulso do exército como terrorista, frente à Covid-19. Mas oscila quando diz que seus outros crimes foram “absolvidos” porque foi eleito em 2018.

Ora, Bolsonaro não foi eleito sob regras democráticas. Primeiro, beneficiou-se do impeachment irregular de uma presidenta legitimamente eleita. Depois, contou com o apoio sórdido de uma ação judicial conduzida contra Lula pelo seu futuro ministro, hoje “desafeto”, o infecto Sérgio Moro. Qualquer dúvida a respeito desaparece quando se consultam os diálogos trazidos a público pelo “The Intercept Brasil”. Lá se revela o caráter criminoso e parcial com que o Marreco de Curitiba manipulou o processo. Não bastasse isso, Bolsonaro beneficiou-se de uma máquina milionária de mentiras, orientada por assessores americanos e financiada por empresários brasileiros para espalhar fake news contra seus adversários.

Não fosse tudo isso, Lula teria ganho as eleições com folga ainda no primeiro turno. Até a rampa do Planalto sabe disso.

Bolsonaro é um presidente fraudulento, ilegítimo, com ou sem covid-19. Um usurpador. Sua trajetória neofascista, misógina, homicida, armamentista, desenvolvida durante 30 anos no Congresso, só se tornou “maioria nominal” graças a expedientes liberticidas e, sobretudo, porque contou com o apoio da elite apodrecida que prefere qualquer coisa, menos governos com algum viés social.

Sim, estes traços tenebrosos ganham tintas mais carregadas quando ele age como homicida assumido diante de uma pandemia devastadora. Transformou o Ministério da Saúde dirigido por militares desqualificados em um esconderijo de cadáveres.

Mas isso é apenas o ápice da trajetória de um desequilibrado a serviço do grande capital e seus asseclas na grande mídia, nas Forças Armadas, no Judiciário e no Legislativo. Bando de acólitos anti-Brasil. O conjunto da obra já é mais do que suficiente para expulsar Bolsonaro e sua gangue do poder que ele e sua turma de milicianos tomaram de assalto, pisoteando meios democráticos elementares.

Paradoxalmente, esse alucinado só está de pé por causa do isolamento que ele tanto ironiza. Estivesse segura de sair às ruas sem colocar em risco a própria vida, a população já teria dado cabo deste excremento. Isto já começou a mudar como mostraram as manifestações de domingo.   

Este será o curso inevitável dos próximos momentos.

 

*Ricardo Melo, jornalista, foi editor-executivo do Diário de S. Paulo, chefe de redação do Jornal da Tarde (quando ganhou o Prêmio Esso de criação gráfica) e editor da revista Brasil Investe do jornal Valor Econômico, além de repórter especial da Revista Exame e colunista do jornal Folha de S. Paulo. Na televisão, trabalhou como chefe de redação do SBT e como diretor-executivo do Jornal da Band (Rede Bandeirantes) e editor-chefe do Jornal da Globo (Rede Globo). Presidiu a EBC por indicação da presidenta Dilma Rousseff.

Leia mais Ricardo Melo em:

 

Pandemia: 1% mais rico do País não está nem aí para as mortes dos pobres

 

RICARDO MELO: BRASIL À DERIVA, SALVE-SE QUEM PUDER!

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#EleNão

Os camisas negras de Bolsonaro

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Mais de 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens foram submetidos ao assassinato e à tortura de forma programada pelos nazistas com o objetivo de exterminar judeus e outras minorias. Nos primórdios da Itália fascista, os camisas negras – milícias paramilitares de Mussolini – espancavam grevistas, intelectuais, integrantes das ligas camponesas, homossexuais, judeus. Quando a ditadura fascista se estabeleceu, dez anos antes da nazista, Mussolini impôs seu partido como único, instaurou a censura e criou um tribunal para julgar crimes de segurança nacional; sua polícia secreta torturou e matou milhares de pessoas. Em 1938, Mussolini deportou 7 mil judeus para os campos de concentração nazista. Sua aliança com Hitler na 2ª Guerra matou mais de 400 mil italianos.

Perdoem-me relembrar fatos tão conhecidos, ao alcance de qualquer estudante, mas parece necessário falar do óbvio quando ser antifascista se tornou sinônimo de terrorista para Jair Bolsonaro. Os direitos universais à vida, à liberdade, à democracia, à integridade física, à livre expressão, conceitos antifascistas por definição, pareciam consenso entre nós, mas isso se rompeu com a eleição de Bolsonaro. O desprezo por esses valores agora se explicita em manifestações, abraçadas pelo presidente, que vão de faixas pelo AI-5 – o nosso ato fascista – ao cortejo funesto das tochas e seus símbolos totalitários, aqueles que aprendemos com a história a repudiar. Jornalistas espancados pelos atuais “camisas negras” estão entre as cenas dessa trajetória.

A patética lista que circulou depois que o deputado estadual Douglas Garcia(PSL-SP) pediu que seus seguidores no Twitter denunciassem antifascistas mostra que o risco é mais do que simbólico. Depois do selo para proteger racistas criado pela Fundação Palmares, e das barbaridades ditas pelo seu presidente em um momento em que o mundo se manifesta contra o racismo, e que lhe valeram uma investigação da PGR, essa talvez seja a maior inversão de valores promovida pelos bolsonaristas até aqui.

A ameaça contida na fala presidencial e na iniciativa do deputado, que supera a lista macartista pois não persegue apenas os comunistas, tem o objetivo óbvio de assustar os manifestantes contra o governo e de açular as milícias contra supostos militantes antifas, dos quais foram divulgados nome, foto, endereço e local de trabalho.

É a junção dos “camisas negras” com a Polícia Militar, que já se mostrou favorável aos bolsonaristas contra os manifestantes pela democracia no domingo passado em São Paulo e no Rio de Janeiro. E que vem praticando o genocídio contra negros impunemente no país desde sua criação, na ditadura militar, muitas vezes com a cumplicidade da Justiça, igualmente racista.

Como disse Mirtes Renata, a mãe de Miguel, o menino negro de 5 anos que foi abandonado no elevador pela patroa branca de sua mãe, mulher de um prefeito, liberada depois de pagar fiança de R$ 20 mil reais, “se fosse eu, a essa hora já estava lá no Bom Pastor [Colônia penal feminina em Pernambuco] apanhando das presas por ter sido irresponsável com uma criança”. Irresponsável. Note a generosidade de Mirtes com quem facilitou a queda de seu filho do 9º andar.

Neste próximo domingo, os antifas vão pras ruas. Espero não ouvir à noite, na TV, que a culpa da violência, que está prestes a acontecer novamente, é dos que resistem como podem ao autoritarismo violento. Quem quer armar seus militantes, e politizar forças de segurança pública, está no Palácio do Planalto. É ele quem precisa desembarcar. De preferência de uma forma mais pacífica do que planejam os fascistas para mantê-lo no poder.

Por: Marina Amaral, codiretora da Agência Pública

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