PERSEGUIÇÃO POLÍTICA SEM CERIMÔNIA!
A repórter Katia Passos, da rede Jornalistas Livres esteve no “Boa Noite Presidente Lula”, uma ação realizada por coletivos que lutam pela liberdade do ex-presidente, sempre às quartas-feiras, 20h. Na ocasião, uma breve carta que denuncia as prisões políticas de lideranças dos movimentos de moradia foi lida na rua. Além disso, informações sobre um apelo feito por parlamentares e advogados, nesta quarta (3), no Tribunal de Justiça do Estado de SP, quanto às prisões, também foram divulgadas. Veja trecho dessa intervenção realizada em nome da rede Jornalistas Livres que continua acompanhando de perto o caminhar desse caso de clara perseguição política e assista, na sequência, a transmissão ao vivo aqui para entender tudo o que rolou no TJ: https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/2383321911945385/
Preta, Angélica, Ednalva e Sidney livres já!
#VidasNegrasImportam
Veja a integra da Carta:
“Na segunda feira, 24 de junho, vimos mais um episódio de perseguição política se repetir no Brasil, desta vez em São Paulo.
Foram presos, em princípio, temporariamente, por cinco dias, as seguintes lideranças de movimentos de moradia: Preta Ferreira, Edinalva Franco, Angélica Lima e Sidney Ferreira. A acusação: denúncias de extorsão.
Detalhe: as denúncias vêm de um número ínfimo de moradores que não pagavam uma taxa legal que é cobrada nas ocupações, registrada e assinada de comum acordo pelos denunciantes, via estatuto, para o investimento e melhoria dos espaços dos prédios ocupados, em um claro cumprimento de uma tarefa que deveria ser de um Estado que não se importa com os pobres, principalmente quando eles são negros. Esse mal pagadores, conforme estatuto, tinham que deixar a ocupação, por isso, denunciaram as lideranças. E não é à toa que todos os presos, agora preventivamente, sem data para sair, são negros, sim, os quatro são trabalhadores negros!
O inquérito policial é uma verdadeira vergonha! Publicado e analisado em matéria recente pela rede Jornalistas Livres, é criminalizador, preconceituoso com raça e classe e ainda por cima, mal escrito, evidenciando a perseguição política e racial daqueles que se revoltam com as atrocidades dos governo de Doria e Bolsonaro e isso deixa muito claro os objetivos dessa narrativa persecutória que não para de ser construída desde o impeachment da presidenta Dilma que culminou na prisão de Lula.
Se Lula está preso sem provas, sem crimes, qual será o destino dos movimentos de moradias, dos movimentos sociais que Bolsonaro prometeu perseguir exteminar já em sua campanha?
Não podemos deixar de denunciar todos os dias todas as prisões políticas de nosso país. Vamos acompanhar dia a dia o desfecho de todos os casos! Nada de respiro para eles!!
Lula Livre Já, Preta, Ednivalva, Angélica e Sidney Livres Já!! Vidas negras Importam!!
Mais de um anos depois de serem mandados para a prisão, terem a liberdade provisória concedida e aguardarem a decisão final, jovens foram considerados inocentes. Na decisão a juíza declarou que “JULGO IMPROCEDENTE a denúncia, para o fim de absolver” os quatro jovens. A história dos quatro jovens do Jd São Jorge é exemplar e a decisão de sua inocência sair em meio explosões de manifestações contra o racismo e violência policial no mundo, por conta do assassinato de George Floyd pela polícia dos Estados Unidos, torna a situação exemplar.
Washington Almeida da Silva, os irmãos Pedro e Fabrício Batista e Leandro Alencar de Lima e Silva foram presos em dezembro de 2018, após terem sido acusados de roubar um Uber na Zona Oeste da cidade de São Paulo. Eles foram para a prisão em seguida. Enquanto estiveram na prisão suas famílias passaram a lutar para provar sua inocência. Depois se organizaram e reuniram provas que demonstraram a inocência dos quatro. Com apoio da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, organizaram atos para mobilizar as pessoas do bairro onde os jovens nascerem e crescerem, Jd São Jorge, na Zona Oeste da cidade.
As famílias reunidas Foto: Lucas Martins / Jornalistas Livres (Abril de 2019)
Em março do ano passado a juíza Cynthia Torres Cristofaro, da 23ª Vara Criminal, concedeu liberdade provisória para os quatro. Desde então os jovens apresentaram as provas que as famílias e o advogado Luiz Toledo Piza juntaram ao longo do processo e aguardaram a decisão da juíza. Na última quinta feira, 4, veio então a decisão.
Nela a juíza Cristofaro, depois de retomar os pontos do processo, afirma que “ao exame da prova dos autos persiste dúvida insuperável quanto à hipótese acusatória, mal esclarecida” e lembra que “em relação à identificação dos réus não foi possível tomar da vítima”, sendo que esta não compareceu nas audiências. E conclui com a absolvição dos quatro.
Para o advogado o caso se faz exemplar uma vez que a “realidade mais uma vez traz à tona, o despreparo da nossa polícia e a falta de interesse do Estado em investigar os reais fatos de uma malfadada acusação contra inocentes” e recomenda “que as autoridades tomem maiores cuidados, mais cautela e promovam investigações mais profundas, antes de atirarem pessoas inocentes nos calabouços da prisão”.
No dia 10 de dezembro de 2018, os jovens foram abordados por Policiais Militares que haviam encontrado um carro de um Uber, roubado numa rua próxima. Os quatro alegaram inocência ao serem presos pelo roubo. Mas mesmo assim foram mandados para a prisão.
Além de organizar atos pela comunidade a família juntou provas para demonstrar a inocência dos quatro, como:
Uma testemunha que afirma ter visto os rapazes ali até por volta das 23:40h, enquanto o roubo estaria acontecendo (no B.O. a ocorrência está registrada como iniciada às 23:45h).
As roupas que a vítima descreveu não combinavam com as dos quatro na noite do crime.
Nenhum dos jovens estava com os itens roubados, o reconhecimento da vítima ter sido realizado de forma avessa ao código penal.
E um roubo muito parecido ter ocorrido pouco tempo depois, próximo do local.
Respeitando as regras de distanciamento social, os manifestantes se reuniram às 13h em frente ao Palácio da Justiça e saíram em passeata até as “Torres Gêmeas”, onde Miguel morreu. De maneira pacífica, gritaram palavras de ordem e pediam a responsabilização de Sari Gaspar Corte-Real, a patroa que negligenciou Miguel.
“Esse horror que é a morte do menino Miguel é a história com mais símbolos de que eu tenho lembrança:
A empregada que trabalha durante a pandemia;
A empregada, mãe solo, que não tem com quem deixar o filho;
A empregada é negra;
A patroa é loura;
A patroa é casada com um prefeito;
O prefeito tem uma residência em outro município, que não é o que governa;
A patroa tem um cachorro, mas não leva ele pra passear, delega;
A patroa está fazendo as unhas em plena pandemia, expondo outra trabalhadora;
A patroa despacha sem remorso o menino no elevador;
O menino se chama Miguel, nome de anjo;
O sobrenome da patroa é Corte Real;
A empregada pegou Covid com o patrão;
A empregada consta como funcionária da Prefeitura de Tamandaré;
Tudo isso acontece nas torres gêmeas, ícone do processo e verticalização desenfreada, especulação imobiliária e segregação da cidade do Recife;
Tudo isso acontece em meio aos protestos Vidas Negras Importam;
Tudo isso acontece no dia em que se completaram cinco anos da sanção da lei que regulamentou o trabalho doméstico no Brasil;
É muita coisa, muito símbolo.”
Texto por Joana Rozowykwiat (@joanagr) (@JoanaRozowyk)