Por Dacio Malta*
Bolsonaro, acostumado a criar uma crise por dia, se sente um tsunami.
Na verdade, ele virou um bumerangue.
As pessoas que o cercam nunca foram flor que se cheirasse.
No dia da demissão do ex-ministro Sergio Moro, o capitão lamentou: “Eu sempre abri o coração para ele. Já duvido de que ele tenha sempre aberto o coração para mim.”
Azar o dele.
Ou o capitão não sabia como Moro trabalhava?
Agora surgiu o “empresário” Paulo Marinho. As aspas para o empresário são necessárias, pois não se sabe o que Marinho tenha empreendido até hoje – com o seu dinheiro. Ele é um lobista. E dos bons.
Seu faro político é extraordinário. Na campanha para prefeito em 2016, ele aproximou-se de Marcelo Crivella, e o convenceu – pasmem! – que o Rio de Janeiro não deveria ter uma secretaria de Turismo. Criou-se então um conselho. Conselho de amigos obviamente: Ricardo Amaral, José Bonifácio (o Boni) e Paulo Manoel Protásio.
Paulo Marinho é esperto o suficiente para nomear as pessoas e permanecer na sombra. Assim ele enriquece.
A roda gigante do Porto Maravilha, no Rio, é um bom exemplo. A concorrência foi ganha por um grupo gaúcho, ligado politicamente a Crivella e, consequentemente, à Igreja Universal. O perdedor, Paulo Marinho, pressionou o prefeito, e hoje detém 50% do empreendimento sem tirar nada do bolso.
A ele, Bolsonaro também abriu seu coração.
Marinho, sabendo com quem estava lidando, abriu as portas do seu casarão no Jardim Botânico, no Rio, para servir de QG do capitão durante a campanha presidencial. Lá ele recebia apoiadores e gravava as inserções televisivas. Esperto, Marinho cuidou de anotar tudo o que se passava ao redor.
Para a repórter Monica Bergamo, resolveu revelar parte dessas anotações, indicando personagens, datas, locais e horários. Quem sabe tenha até gravações.
No QG não havia apenas o estúdio, mas também uma redação, de onde, desconfia-se, partiram algumas das fakes news que alimentaram a campanha de Bolsonaro.
Carluxo, o 02, nunca gostou dele, o que o absolve – até certo ponto – de ter abrigado o gabinete do ódio.
“Irmão” de Gustavo Bebianno, responsável pelo aluguel da sigla do PSL, acabou por ser indicado primeiro suplente do senador Flavio Bolsonaro.
Mas no dia da posse do presidente, a famiglia já o havia sido esquecido. Tanto que não foi convidado para a cerimônia em Brasília.
Na casa de Paulo Marinho, seu filho André foi de grande utilidade.
Eleito presidente, foi André quem serviu de intérprete entre Bolsonaro e Trump, quando o presidente dos EUA ligou para cumprimentá-lo pela vitória.
André Marinho imita com perfeição a voz de Bolsonaro. E nessa condição recebia telefonemas de políticos no bunker da campanha, e conversava como se o capitão fosse. Anotava pedidos, fazia promessas e agradava os interlocutores que pensavam estar conversando com o candidato.
Como sempre atuou nas sombras, mais de 95% da população do Rio de Janeiro nunca ouviu falar de Paulo Marinho. Agora boa parte sabe que ele trabalhou para Bolsonaro, está entre os arrependidos e é candidato a prefeito da cidade. Sem dúvida, o lançamento da candidatura foi um sucesso.
Mas ao mesmo tempo, ele entrou na mira da boiada presidencial e, principalmente, daqueles mais íntimos do presidente.
Eles sabem que o depoimento do “empresário” é apenas um grão de areia do que ele viu, ouviu e anotou durante a campanha.
Além disso, como “irmão” de Bebianno, Marinho herdou a memória do ex-ministro, morto no último dia 14 de março.
Com certeza ele sabe onde está o telefone com as mensagens de WhastApp trocadas entre o presidente e o ex-ministro, e tem a sua degravação.
Bolsonaro não é burro, mas é tolo.
Primeiro por confiar em Marinho. Depois por pedir que ele sugerisse o nome de um advogado para defendê-lo das trapalhadas comandadas por Fabrício Queiroz.
Hoje, Bolsonaro só confia nos filhos. E nos seus poucos capachos.
Mas boa parte deles trabalha com o mesmo figurino.
O ministro Ônix pode ser um bom exemplo.
Experimente demiti-lo…
*Dacio Malta trabalhou nos três principais jornais do Rio – O Globo, Jornal do Brasil e O Dia – e na revista Veja.
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