Conecte-se conosco

Copa do Mundo

OSVALDO ANTÔNIO DOS SANTOS – Morre um herói da nação brasileira, vítima da Covid-19

Publicadoo

em

OSVALDO ANTÔNIO DOS SANTOS – 14/08/1939 – 10/04/2020

OSVALDO ANTÔNIO DOS SANTOS 14/08/1939 – 10/04/2020

Nascido em 14 de Agosto de 1939, na Cidade de Arapuã, MG, Osvaldo Antônio dos Santos era filho de Gaspar Silvério de Oliveira e Maria Antônia dos Santos. Teve uma longa carreira profissional em várias empresas brasileiras e estrangeiras.

Militante da Vanguarda Popular Revolucionária, a VPR, de Carlos Lamarca, Osvaldo “Portuga”, como Osvaldo Antônio dos Santos era conhecido, foi preso em 23 de janeiro de 1969 juntamente com Pedro Lobo de Oliveira, Ismael de Souza e Hermes Camargo em uma chácara nas proximidades de Itapecerica da Serra. No local, os quatro foram surpreendidos pela Polícia Militar de Itapecerica da Serra e levados ao Quartel do II Exército, no Ibirapuera.

Da prisão no quartel, Osvaldo Antônio dos Santos foi transferido para o DEOPS, onde permaneceu até 13 de novembro de 1969 quando, junto com outros detentos, deu entrada no Carandiru onde ficou até 8 de dezembro de 1969. A última escala foi no Presídio Tiradentes, de onde saiu no dia 16 de junho de 1970.

A liberdade, porém, não veio fácil. Em 11 de junho de 1970, enquanto as atenções do país estavam voltadas para a Copa do México, o embaixador da Alemanha Ocidental, Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben, era sequestrado no Rio de Janeiro, numa ação conjunta da Ação Libertadora Nacional (ALN) e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). As organizações guerrilheiras exigiram a libertação de 40 presos políticos, entre os quais estava o “Portuga”, que deveriam ser levados em voo fretado para a Argélia. Um manifesto contra a Ditadura foi divulgado em todas as redes de rádio e TV, furando a rigorosa censura imposta pelos militares.

 

Banido do território nacional, Osvaldo Antônio dos Santos chegou à Argélia e lá residiu por três meses. Posteriormente dirigiu-se a Cuba onde esteve de 1970 a 1971. Morou em Moçambique e na Alemanha. Retornou a Brasil com a Anistia Política. Foi casado com Denise Oliveira Lucena com quem teve dois filhos: Valter Bruno de Oliveira Santos e Renan Oliveira dos Santos.

Seu estado de saúde era delicado, pois teve câncer de próstata e apresentava um quadro de doença de Alzheimer. Faleceu nesta madrugada (10/04) vitimado pelo Covid-19. Estava internado no Hospital de Referência Emílio Ribas.

Não acontecerá o velório devido à letalidade da doença. O corpo de Osvaldo Antônio dos Santos será cremado em Embu das Artes, no Crematório Memorial Parque Paulista.

 

OSVALDO ANTÔNIO DOS SANTOS, PRESENTE!

 

 

 

Continue Lendo
8 Comments

8 Comments

  1. Nilo Sergio Gomes

    10/04/20 at 17:12

    Presente, camarada!!

  2. André Nivaldo Soares Filho

    10/04/20 at 21:00

    Meus respeitos, sua luta não foi em vão. Descanse em paz.

  3. MariaCristina Batalha

    10/04/20 at 22:04

    Osvaldo, presente, sempre !!!

  4. Marly Tavares Rodrigues

    10/04/20 at 22:21

    A gente que luta sabe quanto dói a pobreza e a fome, quanto de amargura há na miséria dos que defendem com honra e trabalho suas famílias dentro do sistema capitalista, quanto é difícil a dor que corrói as almas que sofrem tortura, humilhação e solidão dos que manifestam o ódio à igualdade fraterna a ser alcançada na utopia vivenciada na guerra e no conhecimento. E cada um de nós que parte, que nos deixa deste lado da vida, acende um farol que nos faz ver a única verdade que lembramos como impossível de ser apagada pelos nossos insanos opositores. Os que partem, talvez partam, mas ficam em cada companheiro dessa jornada utópica a que chamamos Liberdade de sermos quem somos! Pêsames sinceros!

  5. Antonio

    12/04/20 at 6:33

    Que bela história você deixou para o seu povo, luta e dignidade. Obrigado Oswaldo!

  6. Rosane flores da costa

    12/04/20 at 19:27

    QUEM SOBREVIVEU A TORTURAS,É UM HERÓI NACIONAL.lutar por justiça social,igualdade,salarios justos,liberdade de expressao e democracia ; somente pessoas altamente esclarecidas e iluminadas para se sacrificar pelo povo.

  7. Pingback: PSOL monta chapa com Boulos e Erundina de olho no eleitorado petista

  8. Pingback: PSOL monta chapa com Boulos e Erundina de olho no eleitorado petista | Ponto E

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Censura

Estado de Exceção avança com condenação de 23 manifestantes no Rio

Publicadoo

em

Por Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá, da www.mediaquatro.com, para os Jornalistas Livres

O juiz federal Flavio Itabaiana condenou em primeira instância a penas entre 5 e 7 anos de regime fechado, 23 pessoas que participaram de manifestações entre 2013 e 2014. Entre eles não está nenhum apoiador do regime militar, ninguém que fez apologia a torturadores, nenhum político que votou pelo impeachment contra a corrupção ou flagrado combinando propinas e assassinato de parentes.

Manifestantes pedem a volta da ditadura na reedição da Marcha com Deus e a Família. 15/03/2014. Foto: www.mediaquatro.com

Mas há estudantes, professores, profissionais liberais, pessoas que tiveram a vida destruída por uma imagem de “black bloc” construída pela imprensa e até uma advogada que adotou um jovem durante esse processo. Há também dois jovens que estouraram um rojão numa manifestação matando um jornalista, mas que respondem a esse crime em outro processo e obviamente foram colocados nesse processo para qualificar todos como “quadrilha armada”, quando de fato nem se conheciam.

Black Blocs pixam fachada da Rede Globo em São Paulo. Junho de 2013. foto: www.mediaquatro.com

Entre junho de 2013 (veja aqui uma cronologia das principais manifestações daquele mês) e o agosto de 2014, milhões de jovens e nem tanto foram às ruas lutar, primeiro, por transportes dignos e, depois, por mais direitos, melhor educação, saúde, segurança pública, etc. As reivindicações iniciais eram TODAS de esquerda. 

Até o dia 13 de junho de 2013, a pauta única das manifestações era a diminuição das tarifas do transporte público e, invariavelmente, reprimidas com força excessiva pela PM. Avenida Paulista 13/06/2013. Foto: www.mediaquatro.com

Mas a direita, hábil e com apoio monumental da mídia hegemônica, transformou as manifestações em uma luta contra uma corrupção vaga que seria responsabilidade exclusiva da esquerda e especialmente do PT. Não faltaram declarações de que bastava tirar o PT do poder e voltaríamos ao paraíso da moralidade.

Em 17 de junho de 2013, a maior manifestação em décadas, mudou a pauta das reivindicações. Foto www.mediaquatro.com

A falta de senso de ridículo e pautas de direita como a redução nos impostos (o que inviabiliza as políticas públicas de educação e saúde, por exemplo) ganham as ruas. 17/06/2013. Foto: www.mediaquatro.com

Muitos petistas e aliados, por sua vez, passaram a ver nas manifestações uma luta contra o governo e não foram poucos os que apoiaram a repressão que, já em 2014 mas principalmente a partir de 2015, iria recair exatamente sobre as manifestações de corte à esquerda, enquanto as “sem partido”, as que exaltavam a ditadura militar etc passavam a ter selfies com a polícia ao invés de cassetetes e gás lacrimogêneo.

Manifestação pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Av. Paulista 13/04/2015

Com a efetivação do golpe em 2016, a direita sumiu das ruas e a esquerda foi massacrada em atos como os contrários à PEC do Teto dos Gastos (veja aqui e aqui ).


Dezenas de feridos pela PM tiveram de ser carregados pelos manifestantes para longe das bombas de gás e cassetetes. Brasília, dezembro 2016. Foto: www.mediaquatro.com

Poucos resistiram até o fim, quando o mesmo número de deputados que derrubaram a Presidenta eleita aprovaram a PEC do Teto dos Gastos . Brasília, dezembro 2016. Foto: www.mediaquatro.com

Se ainda se faz necessária a autocrítica da esquerda sobre o governo de uma ex-guerrilheira que aprovou uma lei antiterrorismo num país sem terrorismo dentro de uma política de conciliação que nasce na campanha de Lula em 2002, também é fundamental repudiar a destruição do Estado de Direito. Aceitar a sentença surreal do juiz Itabaiana (disponível aqui ) é aceitar o Estado de Exceção que permitiu a prisão até hoje de Rafael Braga por portar desinfetante. E também a prisão de Lula por “ato de ofício indeterminado”. Aceitar essa condenação é permitir que QUALQUER UM DE NÓS seja o próximo preso político do Brasil.

Para alguns dos condenados, aliás, o pronunciamento da sentença nesse momento é um recado das forças conservadoras para que não se faça novas manifestações políticas às vésperas das eleições como, por exemplo, pela libertação do ex-presidente Lula e sua possibilidade de concorrer a um novo mandato. Por isso, 12 dos 23 condenados por Itabaiana divulgaram hoje uma Nota de Repúdio e Chamamento à Luta contra quem pretende criminalizar as manifestações populares e reinstalar a censura no país e encher novamente as prisões de presos políticos.

#EstadoDeExceção

#EuApoioOs23

#NãoÀsPrisõesPolíticas

 

Liberdade para Lula. Liberdade para Rafael. Liberdade para os 23!

NOTAS DOS ATIVISTAS CONDENADOS POR CONTA DAS MANIFESTAÇÕES DE 2013/2014

Continue Lendo

América Latina e Mundo

Futebol e colonização simbólica

Publicadoo

em

Hoje jogam duas seleções europeias, das ex-metrópoles França e Bélgica, contra duas seleções sulamericanas, das ex-colônias Uruguai e Brasil. Será que superamos o colonialismo mental? Por: Liana de Paula, Professora de Sociologia da Unifesp
Tenho acompanhado a mídia esportiva e, por estar ainda finalizando um pós-doc na Inglaterra, lendo/vendo bastante coisa publicada por jornalistas ingleses e franceses. E me chama a atenção a cuidadosa construção de heróis e anti-heróis da Copa e sua relação com uma reiteração de lugares simbólicos de colonizados e colonizadores.
Primeiramente, campeonato de futebol não é uma academia de boas maneiras em que só os moralmente louváveis ganham o presente do Papai Noel (aquele senhor moralista) de levarem a taça por serem ‘bons meninos’. Assim fosse, nem precisa de campeonato. Uruguai seria campeão desta Copa.
Mas, evidentemente, a mídia esportiva inglesa – e francesa – não está a tecer loas para a equipe uruguaia por sua moral. O negócio é valorizar o produto europeu.
E, assim, a mídia esportiva inglesa apresenta Harry Kane como um dos grandes heróis: ele é o moço branco, inglês e londrino (um feito de fato, considerando a quantidade de imigrantes em Londres), ele é pai de família (segundo filho nasceu ou nascendo), e ele é o capitão do time. Percebem a associação simbólica? A mídia esportiva inglesa joga o tempo todo com essa imagem do craque inglês bom moço.
Já Lukaku e Mbappé são figuras heroicas menos óbvias e bem mais complexas por serem negros, de famílias vindas de ex-colônias africanas e pela delicada construção de identidade que representam. Mas a mídia esportiva inglesa e francesa os simplifica brutalmente e tenta apresentá-los como a possibilidade de redenção das ex-metrópoles, como se o drama da colonização pudesse ser resolvido a partir do bom desempenho deles nos gramados. Lukaku sabe disso, e já declarou que, quando joga bem, é belga, quando joga mal, é belga de origem congolesa.
Enfim, não podemos ter uma vida maniqueísta sem anti-herói e o escolhido do momento é o brasileiro Neymar. Neymar é pintado, na mídia esportiva inglesa e francesa, como o símbolo do ‘selvagem’ que justifica a colonização. É o colonizado mau caráter que simula sua dor, que tenta enganar para levar vantagem.
E assim, em pleno século XXI, temos recolocado em um campeonato de futebol toda a força da ideologia colonial, que quer impor a primazia do europeu dentro e fora do campo. Se o Brasil ganhar, sua vitória será diminuida pela construção de uma imagem colonizadora do mito do mau-Neymar.

PS: Neymar não é santo, longe disso. Kane, Lukaku e Mbappé também não são. E nenhum deles está ali buscando a beatificação. Minha crítica volta-se para a mídia esportiva, e seus moralismos coloniais.

PPS: Por tudo isso, achei ainda mais vergonhosa a fala do Osorio, técnico do México, reiterando para a mídia esportiva internacional que Neymar é um mau exemplo para as crianças. Juan Carlos Osorio foi o colonizado útil/subserviente nessa fala.

Continue Lendo

Artigo

Copa do Mundo e festa de caboclos na Bahia

Publicadoo

em

Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na UFBA, com ilustração de Cau Gomez

Tolos são os que rejeitam a Copa do Mundo, reivindicando para si alguma austeridade, como se negar um evento que mobiliza milhões de pessoas pudesse servir como signo de distinção.

Como a tolice é democrática, os tolos estão por todos os lados, à esquerda e à direita, passando pelo centro.

Num país como o Brasil, onde o futebol é a coisa mais importante entre as coisas mais importantes, a Copa do Mundo representa uma possibilidade única de encontro.  É isso! No Brasil, Copa do Mundo é encontro.

Escrevo, hoje, a crônica de um encontro, crônica de Copa.

Aconteceu na Bahia, em Salvador, num bar do Pelourinho. Era segunda-feira, 2 de julho, dia de jogo da Seleção.

Tenho o hábito de assistir jogos de futebol em mesa de bar, sejam jogos do Flamengo ou da Seleção. Confesso, sem nenhum pudor, que gosto mais do Flamengo do que da Seleção. Gosto da Seleção também.

Gosto mesmo é de bar que tem cerveja gelada e samba. Se é quase certeza que todo bar tem cerveja gelada, pois do contrário não seria bar coisa nenhuma, o mesmo não pode ser dito para o samba.

Não é todo bar que tem samba. Acho criminoso o bar que não tem samba.

Fato é que o bar que escolhi pra assistir o jogo tinha cerveja gelada e samba. O samba começou forte e parou um pouco antes do apito inicial, quando os jogadores se perfilavam para cantarem seus respectivos hinos nacionais. Essa é a parte do jogo que menos gosto. Acho cafona, lembra quartel, escola. Passa rápido. Dá pra aguentar.

O bar tava cheio de gente vestindo o já tradicional verde e amarelo. Mas tinham muitos de vermelho também. Vermelho no jogo da seleção? Pra explicar, preciso falar um pouco sobre a Bahia.

Começo pelo 2 de Julho, feriado importante no calendário baiano.

É a “independência da Bahia”, que dizem os baianos ter acontecido antes da independência do Brasil. Tipo, primeiro ficou livre a Bahia e depois o restante da nação, que nem nação era ainda. Eu, que de bobo não tenho nada, não vou teimar com os baianos.

A Bahia ficou independente antes do Brasil e ponto final!

Feriado de 2 de julho é dia de festa religiosa. As imagens de um casal de caboclos são carregadas pela cidade.

As pessoas tocam nos caboclos, choram no pé da cabocla.

Já virou até gracejo aqui na Bahia. Quando o sujeito, ou a sujeita, reclamam muito da vida, o povo diz “Vai lá chorar no pé da cabocla”. Seria uma versão baiana pro “Não me encha a paciência com teus problemas”.

Eu não fazia a menor ideia por que um casal de caboclos é carregado num desfile cívico, de comemoração da independência. Mas como sou bom ouvinte, aprendi rápido: os tais caboclos representam os de baixo, os pobres que lutaram pela independência.

No cortejo dos caboclos tem de tudo: tem índio, milicos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, crente segurando a bíblia e querendo exorcizar os índios, manifestação política e por aí vai.

Por isso, no bar, o da cerveja gelada e do samba, tinha um monte de gente vestindo vermelho, com foto do Lula desenhada na camisa. A galera participou do cortejo dos caboclos e depois foi pro bar, assistir jogo e beber cerveja. Justo, coerente.

É que ser lulista na Bahia não é vergonha nenhuma. No Rio de Janeiro é diferente.

No Rio de Janeiro, Lula é rejeitado tanto por uma direita desavergonhada e decadente como por uma esquerda que se convenceu de que o Brasil se resume ao território compreendido entre o Leblon e a Tijuca.

Aqui na Bahia, não!

O povo veste vermelho, estampa a foto do Lula na camisa e vai assistir jogo da Seleção.

“Aqui tem um monte de gente do PT, né?”, disse pra mim, quase num sussurro, uma mulher que parecia beirar uns 60 anos. O tom foi meio cauteloso, como quem pisa leve em terreno desconhecido. Ela tava querendo saber qual era a minha, o que eu achava daquela vermelhada toda.

Respondi de bate-pronto, como se estivesse chutando uma bola: “Graças a Deus!”.

A mulher sorriu com ar de cumplicidade e respondeu mais ou menos assim: 

“Vou te contar uma coisa: eu também sou PT. Votei no Lula, votei na Dilma e vou votar no Lula de novo. Ele roubou, mas melhorou nossa vida. Antes do Lula davam leite pra gente, uma farinha pra misturar na comida dos meninos. Agora, com o Bolsa Família, a gente pode comprar um gás, um danone.”

Tem tanto sentido nessas palavras, tantas possibilidades de interpretação do Brasil, que pra não me perder nas ideias, organizo a reflexão em partes:

1º) A histeria anticorrupção que até aqui foi o fundamento semântico da crise parece não ecoar tanto na base da sociedade. O povo pobre, que vive de salário mínimo, está preocupado com a própria sobrevivência e disposto a votar em quem se mostrar mais favorável à garantia dessa sobrevivência. Nesse aspecto, Lula é imbatível. O povo tem inteligência prática, tem boa memória.

Na hora, até tentei dizer para a companheira que Lula não tinha roubado, que não existiam provas. Ela deu de ombros e continuou dizendo que não queria saber, que votaria nele assim mesmo. A moral é mais frouxa quando o estômago está vazio. Justo, coerente.

2°) O Bolsa Família foi a maior revolução social que este país já viu. Não que o Bolsa Família tenha inaugurado a assistência social aos mais pobres. Não mesmo!

Assistência social para os pobres existe desde que existe a pobreza.

A Igreja, o Coronel, o Estado, sempre tem alguém dando uma “ajudinha” aos mais pobres, seja por caridade cristã, penitência ou cálculo político.

Com o Bolsa Família é diferente e a minha amiga entendeu isso perfeitamente.

O Bolsa Família não é a farinha nutritiva, muito usada para combater a mortalidade infantil. O Bolsa Família é o dinheiro na mão do pobre, auxílio que chega pelo banco, através de política pública. Com o Bolsa Família, o pobre está empoderado, nem que seja um pouquinho, para escolher, para “comprar um gás, um danone”.

Com o Bolsa Família, pobre não depende da generosidade de pessoa física.

Por isso que parte das elites brasileiras, em sua maioria pessoas cristãs, caridosas, rejeita tanto o Bolsa Família. O Bolsa Família dispensa a caridade e gente tão ruim precisa, desesperadamente, do exercício da caridade para ingressar no paraíso cristão. Que queimem no inferno!

3°) Em nenhum momento minha amiga cogitou a possibilidade de não votar em Lula. O tempo inteiro, ela dizia: “Se Deus quiser, Lula vai voltar e ajudar a gente de novo”, numa espécie de sebastianismo preventivo, que se dá antes mesmo do desaparecimento total do salvador.

É claro que eu, pragmático por natureza, insisti, dizendo “talvez não dê pra votar nele, precisamos ficar atentos em quem ele vai indicar”. Outra vez, ela não deu muita bola, e continuou o mantra “Deus vai ajudar o Lula e ele vai voltar”.

É bonito, me emocionou. Com alguma ajuda das cervejas que já se acumulavam na minha corrente sanguínea, cheguei a marejar os olhos. Quando bebo fico mais sensível.

Confesso que também fiquei preocupado. Todos nós que acompanhamos a crônica política nacional, sabemos que a homologação da candidatura de Lula pelo TSE é quase impossível. A resistência da minha amiga em discutir uma alternativa, em pensar em outro nome, ainda que seja um nome chancelado por Lula, me deixou muito apreensivo.

A preocupação passou num instante, foi-se embora no mesmo pé em que tinha vindo. Eu tava ocupado demais pra pensar nos problemas.

Era início de tarde e os caboclos estavam animados, em festa.

Na Rússia, os caboclos chutavam bola com perícia de artista, dando uma aula de futebol. Nas ruas do Pelourinho, o casal de Caboclos passava, semeando a esperança no coração de gente tão sofrida. E no bar, ao meu lado, bem pertinho, a cabocla, com sua inteligência política prática, me ensinava a acreditar no improvável.

 

Continue Lendo

Trending