Opositores de Maduro incendeiam casa em memória de Robert Serra na Venezuela

Casa Robert Serra foi incendiada em Caracas

Por Igor Santos e Cecilia Bacha

Desde a última terça-feira, 22, acontece uma nova jornada de protestos contra o presidente Nicolás Maduro, na Venezuela. Articulada pelos partidos opositores, as manifestações têm sido respeitadas pelo governo, já que é um direito universal. O primeiro vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, inclusive dialogou com o chefe do parlamento, auto proclamado presidente, Juan Guaidó. Contudo, grupos mascarados vêm aterrorizando as ruas da capital com violência.

O ataques dos grupos opositores vêm sendo registradas e publicadas no twitter, mas timidamente já que o alto nível de violência utilizada nas ‘guarimbas’ do ano passado surtiram um efeito negativo na população quando mais de 100 pessoas morreram. O resultado foi a vitória do presidente Maduro nas urnas, e a derrota daqueles que empregaram o terrorismo para demonstrar seu descontentamento.

Todas as noites, jovens encapuzados saem caminhando em grupo pelas ruas da capital provocando incêndios e montando barreiras. Um dos alvos chamou atenção: a Casa Robert Serra, na periferia de Caracas, incendiada com coquetéis molotov, na madrugada de terça-feira (22). Mas quem foi Robert Serra e por que é tão sintomático o incêndio de um espaço dedicado à sua memória?

Robert Serra

 

Robert Serra foi um jovem militante do PSUV (partido fundado por Hugo Chavez), vindo dos setores mais pobres da sociedade venezuelana, uma aposta do PSUV para a política. Serra foi assassinado no dia 01 de outubro de 2014, as investigações do caso recaem sobre opositores milicianos chavistas em uma manobra sinistra semelhante com a que acorreu com a vereadora Marielle, no Rio de Janeiro.

Ao incendiarem a Casa Robert Serra, os opositores de Maduro deixam claro ao que vieram, tão claro quando dois candidatos do PSL retiraram e quebraram uma placa em memória da vereadora Marielle Franco (PSOL) no Rio de Janeiro. A ação foi defendida pelo senador eleito Flávio Bolsonaro  que hoje se sabe também tem ligações próximas a milicianos que atuam na zona Oeste carioca.

Numa situação onde parte da sociedade venezuelana está descontente com a situação de seu país, fruto da política de desvalorização do barril do petróleo e sabotagens a distribuição e produção de insumos alimentares, a violência que a oposição a Maduro direciona aos bairros pobres é um sinal que não é sobre democracia, e sim sobre petróleo e interesses estrangeiros. Vale lembrar que o território venezuelano está assentado numa das maiores bacias petrolíferas, parte dos valores produzidos pela PDVSA (empresa estatal de extração de petróleo) eram revertidos em programas de acesso à educação, saúde, construção de universidades, escolas e incentivo a agricultura familiar.

Tudo o que ocorre na Venezuela de hoje, é fruto direto de grupos que tentaram um golpe jurídico-militar em 2002, quando sequestraram Chávez por três dias, mas fracassaram após militares fiéis a constituição venezuelana recuperarem Chávez – para quem não acredita recomendamos os seguintes documentários: Ao Sul da Fronteira (Oliver Stone) e A revolução não será televisionada (uma produção da tv cultura da Irlanda). Os mesmos grupos que estão financiando desde Miami os protestos “pacíficos” contra Maduro, são exatamente os mesmos grupos que financiaram o golpe de Caracas em 2002. De lá financiam protestos “pacíficos” que atacam e incendeiam casas em bairros habitacionais.

Na tarde desta quinta-feira, Peru, Colômbia, Canadá e Brasil, anunciaram que reconhecem como autoridade executiva, o atual presidente da assembleia nacional Juan Guaído, no que pode ser interpretado como um grave acinte a democracia venezuelana. Interessante frisar que já era final de tarde em Caracas quando o ministério público venezuelano comunicou investigação sobre Guaído por tentar assumir de maneira arbitrária os poderes do executivo.

Os generais das principais províncias declararam fidelidade a Maduro e a constituição durante todo o dia, numa semana que ainda não acabou mas já está marcada por protestos de ambos os lados. A Venezuela está dividida, uma parte em Miami e outra defendendo a democracia e o respeito à soberania nacional.

Quando a “esquerda” brasileira acena com desaprovação a visita de Gleisi Hoffmann a posse de Maduro, fico pensando se sabem de fatos como esse que aconteceu essa madrugada, pois se sabem e permanecem inertes ou possuem déficit de caráter ou são apenas imbecis teleguiados. Quando a oposição venezuelana ateia fogo numa casa em memória a um militante jovem e periférico, quando ateiam fogo em casas de um bairro popular, acredito que fica notório de que lado se deve estar, não é mesmo?

Assista aqui o momento do incêndio https://twitter.com/dejanirasilveir/status/1087686561611812865

  • Colaborou Flavio Pereira, representante internacional do Movimento Socialista da Venezuela

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