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Desigualdade

“Olhos que Condenam” e o mito do homem negro estuprador nos EUA

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*Henrique Oliveira, especial para o Jornalistas Livres 

A minisérie “Olhos que condenam” (When They See Us), dirigida por Ava Duvernay, a mesma diretora do filme “Selma: uma luta pela igualdade” e do documentário “13ª Emenda”, se tornou, segundo a própria Netflix, a minissérie mais assistida da plataforma nos EUA desde a sua estreia no dia 31 de maio.

A minissérie reconstrói a história que ficou conhecida como “Central Park Five”, quando 5 jovens negros, sendo um deles de origem latina, foram presos e condenados por agredir e estuprar uma mulher branca no Central Park, em Nova York, no ano de 1989. A série, dividida em 4 episódios, conta como, sem prova alguma, a polícia e a promotoria de Nova York fizeram Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymon Santana, Antron McCray e Korey Wise acusarem uns aos outros e confessarem o crime após 30 horas de tortura psicológica e física, sem a presença dos pais e advogados, mesmo com a única prova material que era o DNA os inocentando.

Na época, o atual presidente dos EUA, Donald Trump, era um magnata do mercado imobiliário e, apenas duas semanas após o fato, Trump pagou 85 mil dólares para publicar nos principais jornais da cidade, incluindo o New York Times, que os 5 jovens deveriam ser condenados a pena de morte: “Eu quero odiar esses assaltantes e assassinos. Eles devem ser forçados a sofrer e, quando matam, devem ser executados por seus crimes. Eles devem servir como exemplos para que os outros pensem muito antes de cometer um crime ou um ato de violência ”.

Em uma entrevista recente, Yusef Salaam disse que Donald Trump foi responsável por atiçar a ira pública contra eles, o número do telefone e os endereços de todos os 5 jovens foram publicados nos jornais, criando um clima de terror coletivo. No último dia 18, durante uma coletiva de imprensa, quando perguntado sobre o caso trazido de volta pela minissérie, Donald Trump duvidou da inocência dos 5 ex condenados e falou que não pediria desculpas pelos artigos na imprensa pedindo pena de morte.

Apesar da Netflix não divulgar os números da sua audiência, é bastante crível que a minissérie teve um grande alcance pois gerou repercussão política real. Uma das promotoras do caso, Elizabeth Lederer, foi acusada de racismo pelos alunos da Associação dos Estudantes Negros de Direito, na Universidade de Columbia, e acabou renunciando ao seu cargo no dia 12. A promotora Linda Fairstein abandonou um cargo que ocupava na ONG Safe Horizon, que ajuda vítimas de abusos e crimes violentos em Nova York. Segundo o site TMZ, os funcionários ficaram indignados com o fato da promotora ter permanecido no conselho de uma organização para minorias por todo esse tempo. Em sua defesa, Linda Fairstein escreveu um artigo no The Wall Street Journal dizendo que a minissérie contava uma “história falsa”, que mesmo concordando com a inocência da acusação de estupro, ela ainda duvidava da inocência dos 5 homens em outros delitos e no próprio ataque a Trisha Meili.

Em 2002, o verdadeiro estuprador, Matías Reyes, confessou o crime que foi comprovado por meio do exame de DNA e os 5 foram inocentados. Em 2014, o estado de Nova York pagou uma indenização de 41 milhões de dólares (cerca de 160 milhões de reais), mas existem coisas que o dinheiro não paga e não recompensa. Os condenados tinham na época entre 14 e 16 anos de idade, entraram na cadeia adolescentes e saíram de lá homens, alguns deles, como mostra o seriado, sofreram violência física e psicológica dentro do sistema prisional.

Em entrevista a apresentadora Oprah Winfrey, eles disseram que a minissérie trouxe alívio e dor também. É o caso de Antron McCray, que falou como a condenação destruiu a sua relação com o pai. Para quem já assistiu, o pai de Antron fez com que seu filho confessasse o crime, acreditando que a polícia o liberaria. Quando perguntado se havia perdoado o pai, Antron respondeu: “Eu o odeio. Minha vida está arruinada”.

Yusef Salaam, Raymon Santana, Korey Wise, Anton McCray e Kevin Richardson (esquerda para direita) tinham entre 14 e 16 anos quando foram condenados pela justiça de Nova York. Foto: Getty Images

O mito do homem negro estuprador nos EUA

O caso do Central Park faz parte de um processo histórico nos EUA que envolve o racismo e o sexismo numa construção racista sobre o que seria a masculinidade negra. Angela Davis, no livro “Mulheres, raça e classe”, dedica um dos capítulos a questão do racismo e o mito do homem negro estuprador.

Segundo Angela Davis, nos EUA, as leis contra o estupro foram elaboradas para proteger homens das classes mais altas cujas filhas e esposas corriam riscos de serem agredidas. O que acontecia com uma mulher da classe trabalhadora em geral tinha uma preocupação menor por parte dos tribunais e eram poucos os homens brancos processados por violência sexual. A acusação de estupro tem sido usada de forma indiscriminada e dirigida aos homens negros, sejam eles culpados ou inocentes. Entre 1930 e 1967, dos 455 homens condenados por estupro que foram executados, 405 eram negros.

Na história dos EUA, a acusação fraudulenta de estupro é um dos mecanismos impiedosos criados pelo racismo. O mito do homem negro estuprador era invocado para justificar ondas de terror e violência contra a comunidade negra. A imagem fictícia do homem negro estuprador servia ao mesmo tempo para fortalecer a imagem da mulher negra promíscua, uma vez que a noção que os homens negros trazem consigo a compulsões sexuais incontroláveis e animalescas, toda a raça é investida de bestialidade. Se os homens negros voltam os olhos para as mulheres brancas como objeto sexual, então as mulheres negras deveriam aceitar o assédio sexual dos homens brancos.

Durante a escravidão, o açoitamento e o estupro eram os principais métodos para manter tanto os homens e as mulheres negras escravizados sob controle. Enquanto houve escravidão nos EUA, não existia no imaginário branco racista a figura do homem negro estuprador, com o fim da escravidão esse mito veio a tona, e mesmo sendo descrito como mito, não podemos tratá-lo dentro de uma leitura estritamente irracional, mas sim como uma invenção política.

Os linchamentos até então eram promovidos para fins “preventivos”, pois pairava entre a população branca do Sul dos EUA teorias conspiratórias sobre uma suposta supremacia negra e confabulações de rebeliões e revoltas. Com o passar do tempo, no pós abolição, os linchamentos ganharam uma nova forma, agora, linchar negros até a morte era um mecanismo para proteger as mulheres brancas. Embora a maioria dos linchamentos não envolvessem acusações de estupros, a queixa racista de estupro se tornou uma explicação comum e eficaz.

Daniel dos Santos, no livro “Como fabricar um gangsta”, aborda como a produção imagética de homens negros hiperssexuais, potentes e com pênis grande geravam um sentimento aterrorizante e ameaçador, que funcionava como dispositivo para impedir a miscigenação e a suposta degeneração racial temida pela população branca. A proibição de casamentos inter raciais foram uma das primeiras medidas também aprovadas na instauração do regime apartheid na África do Sul, por exemplo. Porém, Daniel nos diz que a supermasculinidade utilizada para animalizar os homens negros era instrumento de inveja e fascínio do homem branco. A violência contra homens negros servia também como válvula de escape do sentimento de inferioridade sexual que os homens brancos não aceitavam que poderia existir.

Ainda segundo Angela Davis, em um estudo publicado pela Comissão Sulista para os Estudos sobre Linchamentos, em 1931, relevou-se que, entre 1889 e 1929, apenas um sexto das vítimas de linchamento haviam sido realmente acusadas de estupro, 37% foram acusadas de assassinatos, 16% por estupro e 6,7% por tentativa de estupro. O papel do linchamento também era impedir a igualdade racial. Qualquer pessoa negra que desafiasse a hierarquia racial estabelecida era vista como potencial alvo das gangues de linchadores.

Um dos casos mais famosos de linchamento de pessoas negras nos EUA, por causa de uma acusação falsa de assédio a uma mulher branca é o de Emmett Till, que foi sequestrado e linchado em 1955, no Mississippi. Emmett Till, 14 anos, morava num bairro da classe trabalhadora em Chicago, viajou para o Mississippi, estado com segregação racial baseada na lei, para visitar familiares. No dia 24 de agosto, Till estava do lado de fora de uma loja com seus primos e amigos, ao dizer que tinha uma noiva branca onde morava, Till foi desafiado a falar com Carolyn Donham, uma balconista branca. Ao ver a mulher sair da loja, Emmett Till deu uma assobiada para ela.

Ao saber do fato, Roy Bryant, o marido da balconista juntamente com seu irmão J.W. Milam, depois de quatro dias, sequestraram Emmett Till, bateram tanto nele que o olho pulou para fora do rosto, depois deram um tiro na sua cabeça e jogaram o corpo no rio. Roy e o irmão foram levados a julgamento, mas foram absolvidos do crime de homicídio por um corpo de jurados formados por brancos. No ano passado, após 63 anos, o caso Emmett Tiil foi reaberto, devido ao surgimento de uma nova informação, que pode está relacionada com a falsa acusação de assédio descrita por Carolyn Donham no tribunal.

Se quiserem assistir um filme, que também trabalha com o mito do homem negro estuprador, indico que assistam Marshall: Igualdade e Justiça, em que Chadwick Boseman (pantera negra), interpreta Thurgood Marshall, o primeiro homem negro a se tornar juiz na Corte Suprema Americana, mas que antes atuou como advogado para defender Josepho Spell, na acusação de ter atacado uma socialite branca em seu quarto.

Na visão de Angela Davis, o estupro é um dos sintomas mais evidentes de desintegração social. A estratégia do movimento contra o estupro deve ser também a luta contra o racismo. Em sua análise, a violência sexual é uma das facetas de uma profunda crise do capitalismo. Como lado violento do sexismo, a ameaça do estupro persistirá enquanto a opressão generalizada contra as mulheres continuar a ser uma muleta essencial para o capitalismo.

* Henrique Oliveira é historiador.

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2 Comments

2 Comments

  1. Paula Matos

    17/01/20 at 16:51

    Perfeito!
    Profissional em Impressão em PS, Sao Paulo – SP

  2. Gilson

    17/08/20 at 15:11

    trump devia ser processado por isso que ele falou.

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Campinas

A Vila Paula se reconstrói após a tragédia

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Solidariedade, resistência e as doações têm sido fundamentais para reerguer a comunidade

Um incêndio que iniciou na madrugada de segunda-feira (28)  desalojou 24 famílias na Comunidade Vila Paula na região da CDHU do bairro San Martin, em Campinas .  

Segundo informações da Prefeitura de Campinas, entre as pessoas atingidas  estão 36 adultos, 27 crianças,  dois adolescentes e dois idosos. Essas pessoas foram acolhidas na Escola Estadual Maria de Lourdes Bordini e em duas instituições religiosas nas proximidades.

A maioria dos moradores deixou suas casas só com a roupa do corpo. Todos os seus pertences  foram destruídos pelo fogo.

Na terça-feira, a reconstrução dos barracos foi iniciada no mesmo local em que as habitações de madeiras foram destruídas pelas chamas.   Paulo César Santos, uma das lideranças da comunidade,  relembra o drama  desastre que consumiu os barracos e as dificuldades  das famílias.


“ Foi uma tragédia muito grande na nossa vila. Foi duro para construir,  foi duro para assentar as famílias . Foi difícil  construir os barracos de madeira, estamos aqui faz um bom tempo.  No início era só lona e o incêndio devorador acabou com tudo.”

Paulo Cesar é uma das lideranças da Comunidade Vila Paula e trabalha na reconstrução da vila

A comunidade existe há cerca de cinco anos e abriga aproximadamente 176 famílias que moram no local e outras 70 suplentes, que não moram ali. No total, segundo Paulo, são ao menos 700 pessoas, entre crianças, idosos e adultos.

Elas perderam tudo

As 24 famílias perderam tudo e ficaram apenas com a roupa do corpo.

Lourrane , mãe de Abdias e grávida de sete meses conta que ficou muita assustada. A vizinha tentou  alertá-la  sobre o incêndio mas o fogo estava intenso.

“ Foi desesperador. Eu tenho um sono pesado e não ouvi as batidas em minha porta. Quando eu  me atentei  e abri a porta, um calor intenso e fumaça invadiram  minha casa. Eu peguei meu filho e  minha bolsa com documentos e saí correndo. Assim que eu saí algo que me pareceu  como um botijão de gás estourou e  a chama do fogo  começou a incendiar o meu barraco. Perdi tudo. Tinha acabado de chegar cesta básica e verduras. Estava tudo abastecido.”

Mãe e filho tem a esperança de reconstruir o barraco

“ É desanimador olhar para tudo aquilo que a gente construiu com tanto sacrifício e ver tudo em cinzas , mas eu também agradeço por estar viva com meu filho e bem.”

Do mesmo modo,  Isadora também relembra com pesar . Casada, mãe de dois filhos  morava  com eles e seu marido no barraco que também foi destruído.

A família de Isadora perdeu tudo e ficou apenas com a roupa que estava no corpo

“ Ficamos só com a roupa do corpo. Tentamos até tirar algo da nossa casa mas não deu certo. Não deu tempo. Salvamos os nossos filhos.”

O casal trabalha  e tiveram que faltar esses dias no trabalho mas pretendem retornar o mais breve possível.

Paulo Cesar segurando uma cavadeira fala de peito aberto esperançoso

“ Estamos começando a fase de reconstrução. A nossa casa está sendo reconstruída. Nosso povo está aí trabalhando para isso.  A prefeitura está com equipes no trabalho de reconstrução. Os barracos serão de madeira. Recebemos muitas doações Campinas se mobilizou e algumas cidades da região também como  Paulínia e Valinhos. Temos que agradecer muito a solidariedade”

As doações vindas de Campinas e algumas cidades da região

A futura mamãe também se sente esperançosa.

“ Sei que posso ter meu bebê e voltar para a casa e terei uma casa”

Ela havia sido presenteada com um berço e uma cômoda para o bebê, os  móveis foram consumidos pelas chamas durante incêndio.

Abdias, um garoto esperto de cinco anos, vivenciou a experiência da tragédia.

Abdias perdeu todas as suas roupas e brinquedos no incêndio.

“ Todos os meus brinquedos  foram queimados. Perdi todos os meus brinquedos e roupas. Quero voltar para a minha casa”.

 A mãe do garoto agradece as pessoas que se solidarizaram  com as famílias da Vila Paula e fizeram doações.

Isadora  diz se sentir aliviada  pelas doações e também pela reconstrução.

“ As doações dão um ânimo da gente. Também já vai começar a reconstruir. Isso  também  já ajuda muito. Porque tudo que passamos  é muito triste”

Crianças brincam entre as madeiras “kits barracos” – como está sendo chamado – providenciados pela Secretaria de Habitação , em um total de 35 , para a construção de moradias de 20 metros quadrados com banheiro

“As doações são importantes para a Comunidade da Vila Paula sobretudo quando os barracos estiverem prontos novamente. Vamos precisar montar morada. Móveis. geladeiras. Comida.” segundo Paulo Cesar

Onde entregar as doações :

1-Comunidade Frei Galvão da Paróquia São Marcos, O Evangelista – Rua Valentino Biff, s/n – em frente ao CDHU San Martin

2- Escola Maria de Lourdes Bondine no CDHU San Martin, entre as quadras R e U.

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Campinas

Famílias da Comunidade Mandela fazem ato em frente à Prefeitura de Campinas

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Comunidade Mandela Luta por Moradia

Em busca de uma solução, mais uma vez, moradores tentam ser atendidos

Os Moradores da Comunidade Mandela  fizeram nesta quinta-feira (17), um ato de protesto em frente à Prefeitura  de Campinas. O motivo da manifestação  é o   impasse  para o  problema da moradia das famílias que se arrasta desde 2016. E mais uma vez,  as famílias sem-teto  estão ameaçadas pela reintegração de posse, de acordo com despacho  do juiz  Cássio Modenesi Barbosa, responsável pelo processo a  sua decisão  só será tomada após a manifestação do proprietário.
Entretanto, o juiz  não considerou as petições as Ministério Público, da Defensoria Pública que solicitam o adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19, e das especificidades do caso concreto.
O prazo  final   para a  saída das famílias de forma espontânea  foi encerrado no dia 31 de agosto, no dia  10 de setembro, dez dias depois de esgotado o a data  limite.

As 104 famílias da Comunidade ” Nelson Mandela II” ocupam uma área de de 5 mil metros quadrados do terreno – que possui 300 mil no total – e fica  localizado na região do Ouro Verde, em Campinas . A Comunidade  Mandela se estabeleceu  nessa área em abril de 2017,  após sofrer  uma violenta reintegração de posse no bairro Capivari.

Negociação entre o proprietário do terreno e a municipalidade

A área de 300 mil metros quadrados é de propriedade de Celso Aparecido Fidélis. A propriedade não cumpre função social e  possui diversas irregularidades com a municipalidade.

 As famílias da Comunidade Mandela já demonstraram interesse em negociar a área, com o proprietário para adquirir em forma de cooperativa popular ou programa habitacional. Fidélis ora manifesta desejo de negociação, ora rejeita qualquer acordo de negócio.

Mas o proprietário  e a municipalidade  – por intermédio da COAB (Cia de Habitação Popular de Campinas) – estão negociando diretamente, sem a participação das famílias da Comunidade Mandela que ficam na incerteza do destino.

As famílias querem ser ouvidas

Durante o ato, uma comissão de moradores  da Ocupação conseguiu ser liberada  pelo contingente de Guardas Municipais que fazia  pressão sobre os manifestantes , em sua grande maioria formada pelas mulheres  da Comunidade com seus filhos e filhas. Uma das características da ocupação é a liderança da Comunidade ser ocupada por mulheres,  são as mães que  lideram a luta por moradia.

A reunião com o presidente da COAB de Campinas  e  Secretário de  Habitação  – Vinícius Riverete foi marcada para o dia 28 de setembro.

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Campinas

Ocupação Mandela: após 10 dias de espera juiz despacha finalmente

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Depois de muita espera, dez dias após o encerramento do prazo para a saída das famílias da área que ocupam,  o juiz despacha no processo  de reintegração de posse contra da Comunidade Mandela, no interior de São Paulo.
No despacho proferido , o juiz do processo –  Cássio Modenesi Barbosa –  diz que  aguardará a manifestação do proprietário da área sobre eventual cumprimento de reintegração de posse. De acordo com o juiz, sua decisão será tomada após a manifestação do proprietário.
A Comunidade, que ocupa essa área na cidade de Campinas desde 2017,   lançou uma nota oficial na qual ressalta a profunda preocupação  em relação ao despacho  do juiz  em plena pandemia e faz apontamento importante: não houve qualquer deliberação sobre as petições do Ministério Público, da Defensoria Pública, dos Advogados das famílias e mesmo sobre o ofício da Prefeitura, em que todas solicitaram adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19 e das especificidades do caso concreto.

Ainda na nota a Comunidade Mandela reforça:

“ Gostaríamos de reforçar que as famílias da Ocupação Nelson Mandela manifestaram intenção de compra da área e receberam parecer favorável do Ministério Público nos autos. Também está pendente a discussão sobre a possibilidade de regularização fundiária de interesse social na área atualmente ocupada, alternativa que se mostra menos onerosa já que a prefeitura não cumpriu o compromisso de implementar um loteamento urbanizado, conforme acordo firmado no processo. Seguimos buscando junto ao Poder público soluções que contemplem todos os moradores da Ocupação, nos colocando à disposição para que a negociação de compra da área pelas famílias seja realizada.”

Hoje também foi realizada uma atividade on-line  de Lançamento da Campanha Despejo Zero  em Campinas -SP (

https://tv.socializandosaberes.net.br/vod/?c=DespejoZeroCampinas) tendo  a Ocupação Mandela como  o centro da  discussão na cidade. A Campanha Despejo Zero  em Campinas  faz parte da mobilização nacional  em defesa da vida no campo e na cidade

Campinas  prorroga  a quarentena

Campinas acaba prorrogar a quarentena até 06 de outubro, a medida publicada na edição desta quinta-feira (10) do Diário Oficial. Prefeitura também oficializou veto para retomada de atividades em escolas da cidade.

 A  Comunidade Mandela e as ocupações

A Comunidade  Mandela luta desde 2016 por moradia e  desde então  tem buscado formas de diálogo e de inclusão em políticas  públicas habitacionais. Em 2017,  cerca de mais de 500 famílias que formavam a comunidade sofreram uma violenta reintegração de posse. Muitas famílias perderam tudo, não houve qualquer acolhimento do poder público. Famílias dormiram na rua, outras foram acolhidas por moradores e igrejas da região próxima à área que ocupavam.  Desde abril de 2017, as 108 famílias ocupam essa área na região do Jardim Ouro Verde.  O terreno não tem função social, também possui muitas irregularidades de documentação e de tributos com a municipalidade.  As famílias têm buscado acordos e soluções junto ao proprietário e a Prefeitura.
Leia mais sobre:  
https://jornalistaslivres.org/em-meio-a-pandemia-a-comunidade-mandela-amanhece-com-ameaca-de-despejo/

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