Zeitgeist é um vocábulo alemão cuja tradução literal significa espírito da época, espírito do tempo ou sinal dos tempos.
Zeitgeist pode ser definido também como um conjunto de circunstâncias, o clima intelectual e cultural de um determinado lugar numa determinada época, as características peculiares de um determinado período de tempo.
Como eu havia dito anteriormente aqui, o governador do Estado de São Paulo e seu secretário de Educação — Herman Jacobus Cornelis Voorwald — têm promovido um ataque implacável contra a Educação, e o propósito desse ataque é o desmonte para posterior privatização do Ensino Público Estadual.
Uma matéria de Karen Marchetti para o “ABC Maior”, publicada no Viomundo dá conta de que Geraldo Alckimin tem a intenção de reduzir em 2 bilhões o orçamento para a Educação do Estado de São Paulo em 2016.
Baseando-me nessa premissa, faz mesmo todo sentido o governador praticar políticas absurdas e autoritárias, ficando bem claro que seu objetivo é desvalorizar a carreira dos professores, desestimular o ingresso de novos quadros na rede pública do Estado, aumentar o número de alunos dentro de uma mesma sala de aula, fechar unidades escolares e com isso precarizar ao máximo possível todo o Ensino Público.
Só que ele não contava com a força, a determinação e o poder de mobilização de uma juventude que ele sempre tentou criminalizar.
“Criar, criar, poder popular!”
Sem saber, Geraldo Alckmin acabou criando as condições ideiais para que oZeitgeist — o espírito do tempo — entrasse em ação, possuindo os corações e mentes dos jovens em uma luta contra o autoritarismo e pela manutenção de seus direitos poucas vezes vista na história de São Paulo.
Os jovens estudantes, dando um magnífico exemplo de organização e coragem, radicalizaram a democracia como há muito tempo não se via.
Já são mais de 83 escolas ocupadas em todo o Estado de São Paulo.
Contando com o apoio de ex-alunos, muitos deles pais de estudantes nessa mesma luta, o movimento só cresceu.
Parte da população, sensibilizada pela coragem dos alunos e a importância dessa luta, e com a percepção de que os alunos realmente estão fazendo a coisa certa, passou a contribuir com alimentos, além de materiais de higiene e limpeza.
Outros apoios importantes devem ser registrados: o MST — Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra doará 1.000 litros de leite, 500 litros de suco de uva e 1.000 caixas de achocolatado para os estudantes em luta.
A UBES — União Brasileira dos Estudantes Secundaristas também declarou seu apoio ao movimento, assim como uma parcela considerável de professores da rede pública estadual declarou seu apoio às ocupações.
E não há a menor demonstração por parte dos estudantes de que eles cederão ou abrirão mão de seus direitos, muito pelo contrário.
A luta dos estudantes contra os vários Golias
Boa parte da mídia tradicional faz clara oposição ao movimento de ocupação das escolas pelos estudantes, usando a sempre covarde tática de noticiar as ocupações como se fossem “invasões”.
No último dia 19, numa provável “tabelinha” com o governador a “Folha de S.Paulo”, jornal que é useiro e vezeiro em publicar notícias falsas disparou a falsa notícia de que a reestruturação das escolas imposta por Alckimin estaria suspensa.
Ficou evidente que a notícia tinha como propósito desmobilizar os alunos, fazendo com que comemorassem antecipadamente uma vitória que de fatoainda não existia.
As duas correções da notícia feitas posteriormente por aquela “Folha” ratificam o propósito nefasto do jornal.
Contra os estudantes há também a truculenta polícia militar sob o comando direto do governador.
Tristemente célebre por seus antecedentes de desrespeito aos direitos civis, a Polícia Militar do Estado de São Paulo é aquela polícia que até por ser militar sempre está preparadíssima para a guerra, mas totalmente despreparada para participar ou mesmo entender o que é uma democracia.
Em pelo menos três escolas a truculenta milícia, a despeito da falácia de seu comandante em chefe — que disse que “não usaria a PM” — fez uso da violência com a qual costuma lidar cotidianamente com cidadãos indefesos, desarmados e lutando por seus direitos.
O que se viu nas escolas Sylvia Ribeiro, na cidade de Marília, Professora Francisca Lisboa Peralta em Osasco e Professora Maria Petronila Limeira dos Milagres em Santo Amaro, São Paulo, foram ataques com spray de pimenta, agressões físicas, intimidação e prisões arbitárias sem fundamento algum.
A molecada de São Paulo batendo um bolão. A escola é deles e o orgulho é nosso!
Nada disso intimidou os estudantes, fortalecidos com o espírito do tempo, inabaláveis.
São meninos e meninas que não escolheram o atalho do mais fácil, antes escolheram lutar pela manutenção e até mesmo pela ampliação de seus direitos como cidadãos.
São meninos e meninas que têm a convicção de que só há saída na política, e que tudo é política.
São meninos e meninas que ousaram lutar e ousaram vencer.
Que diferença fará essa geração de jovens em nossa sociedade!
Mais que defender a manutenção de um direito — o direito constitucional inalienável que lhes está sendo negado, a Educação — esses meninos e meninas estão nesse exato momento escrevendo uma linda página na história do país, pavimentando a promessa de uma revolução que continuará em curso, a construção de um novo mundo e de uma nova sociedade, onde a radicalização da democracia e a participação popular nas decisões governamentais serão cada vez mais intensas.
Foi pensando na chegada de meu primeiro filho (que virá ao mundo em junho do ano que vem), com profunda admiração e muito orgulho dessa molecada que escrevi esse artigo, uma pequena homenagem aos jovens guerreiros resistentes em São Paulo, desejando que, como eles, meu filho(a) também escreva uma linda história de luta e de vida.
*Diógenes Júnior é estudante de Ciências Sociais, pesquisador independente, militante do PC do B, ativista dos Direitos Humanos e Jornalista Livre.