O grande encontro de Chomsky com Lula e sua militância

Viviane Ávila, para o Jornalistas Livres

Reverenciado mundialmente em âmbito acadêmico como “o pai da linguística moderna“, o filósofo analítico, socialista libertário e ativista político norte-americano, Noam Chomsky, se emocionou ao visitar o ex-presidente Lula na quinta-feira (20), em Curitiba, onde é preso político desde 7 de abril na sede da Polícia Federal do Paraná. Assim como a ‘Vigília Lula Livre’, composta por sua militância em resistência pelo mesmo tempo em frente à PF.

Em entrevista coletiva após à visita, Chomsky, que veio acompanhado de sua esposa Valéria Wasserman, ativista brasileira, disse que encontrar-se com Lula foi uma experiência maravilhosa, uma fonte de energia grandiosa. “Não é todo dia que se encontra uma figura tão extraordinária do século XXI que, por direito, deveria ser o (próximo) presidente do Brasil”, se referindo à decisão arbitrária do TSE que proibiu Lula de ser candidato, desobedecendo inclusive tratado da ONU que exige justiça e liberdade para o ex-presidente.

A figura doce, acolhedora e amável de Chomsky não se contrapõe a sua fortaleza contra o Imperialismo hegemônico Americano. Pelo contrário, mostra o quanto o acolhimento sem fronteiras também é um complemento a essa força necessária para a luta socialista libertária e progressista que almeja a igualdade.

“Nós ficamos felizes em ver que ele continua otimista, cheio de energia e com muitos planos para o futuro. Eu o lembrei que quando nos encontramos há 20 anos, Lula disse que nunca pensou que pudesse ser eleito. E, quando foi, fez coisas maravilhosas e isso é uma indicação do que pode acontecer no futuro do Brasil”, acredita ele, sobre o projeto de governo do PT, agora encabeçado pelo Fernando Haddad à presidência e Manuela D’avila (PCdoB) como vice.

Os ataques da Grande Mídia

Um dos pontos que Lula mais enfatizou durante a conversa com Chomsky, segundo ele, foi a onda de ataques que o ex-presidente sofria da grande mídia, a convencional, durante o seu governo e depois, da presidenta Dilma até então. “Eram e são ataques vindo de todos os lados, de toda a mídia e é claro que esses ataques confundem a opinião pública”, afirma o também professor emérito em Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

O que precisa ser feito com relação a esse golpe midiático hegemônico, segundo Chomsky, é conter o poder concentrado das mídias na América Latina que, com certeza, impede o desenvolvimento socioeconômico. “E a Mídia Livre pode ser a resposta pra acabar com essa concentração do poder da mídia (convencional)”, defende o especialista em como compreender e romper com estratégias de manipulação de massa.

“É preciso conter a concentração de poder da grande mídia e a Mídia Livre pode ser a resposta para isso.” (olho)

Esse sistema de centralização adotado pelos meios de comunicação tradicional no Brasil cria um consenso entre a elite da sociedade sobre os assuntos de interesse público estruturando esse debate em uma aparência de consentimento democrático que atendem aos interesses dessa elite. No entanto, este sistema é construído às custas da sociedade como um todo que, naturalmente, é formada em sua grande maioria pelas pessoas não privilegiadas, com menos oportunidades, como mulheres, negros, indígenas, LGBTs, ribeirinhas e quilombolas.
Especialmente TV, que detém as maiores audiências e têm como objetivo bloquear a capacidade crítica e a autonomia da maioria das pessoas e manter o mundo como convém para os mais poderosos. No Brasil, por exemplo, a Rede Globo e demais canais abertos deixam claras suas linhas editoriais políticas, ora liberais, ora conservadoras.

Para Chomsky, “é inimaginável haver um golpe de estado nos EUA com o New York Times apoiando, e o New York Times continuar circulando. Os governos de esquerda e centro esquerda que passaram pela América Latina nas últimas décadas em geral tiveram uma postura de abertura para imprensa, ainda que essa imprensa fosse universalmente contra esse governo. Nos ditos países livres, isso jamais aconteceria”, reforçou o que já havia falado na semana passada durante coletiva com blogueiros e mídias alternativas sobre golpe, democracia, a ameaça da extrema-direita e as eleições no Brasil, no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo.

À militância, com carinho

A mensagem de Lula para os militantes de diversos movimentos sociais, sindicais e estudantis, foi dada pelo ex Ministro e Senador Aloízio Mercadante que também acompanhou a visita de Chomsky e a coletiva de imprensa. “A grande diferença entre o PT e outros partidos é o seu “patrimônio”: a sua militância que luta junto por um país melhor e mais justo. Lula pede que a militância não fique só assistindo a campanha, que vá amassar barro na rua, com trabalho de base, porque o futuro do Brasil depende desses dias que faltam para as eleições.”

E continua: “O Brasil não precisa de mais faca, revólver, fuzil. O Brasil precisa de livro, Cultura, Educação, Museu. Temos que sair pra rua, encaminhados, convocar caminhadas pela paz, para mostrar que nós precisamos ter uma cultura que respeite a diversidade, que dialogue com a diferença, que permita a pluralidade.”

Para Mercadante, é incrível que ele (Lula), preso, receba um dos intelectuais mais importantes da contemporaneidade, como o professor Chomsky, lideranças parlamentares de toda parte do mundo, de partidos mais representativos, que venham quatro ex-ministros europeus, Nobel da Paz, Papa Francisco enviando terço e benção, e que ninguém visite nem receba esse governo golpista. “O mundo, a ONU, Chomsky e o Brasil querem o Lula livre.”

Atentos também aos estímulos do linguista e ativista político, os militantes receberam sua mensagem de apoio. “A liderança vem de pessoas como vocês, dos movimentos populares. E só com a ajuda de pessoas como vocês, Lula pode ocupar a posição que ele deve ocupar, e superar os terríveis problemas que o Brasil está enfrentando num terrível período na História do Brasil, que pode se transformar num declínio permanente. Ou pode se transformar no Colosso do Sul, como foi anunciado a um século atrás, e que começou a se tornar possível depois da liderança do Lula. Essas são as escolhas que os brasileiros têm num futuro muito próximo. E, dado o significado do Brasil no mundo, as escolhas que vocês fizerem vão ser importantes historicamente. Lula livre!”, encerra Chomsky.

Fotos: Mauro Calove, Instituto Lula

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