NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM ÍNDIO

 

A possibilidade de uma vida econômica campeia o horizonte dos povos originários, uma vontade que paralisa tradições e desponta em desapontamento para muitos. O couro de onça feito em cinto torna-se rapidamente apenas uma lembrança, e as plumas estarão a temer nas aves que resistirem aos novos elementos de seus defensivos e agrotóxicos que matam a sede da fome. Comer é preciso; e comer é palavra complexa. Chega um tempo que é de profunda escuridão e conturbadas possibilidades. Cabe a si e às etnias escolherem por onde ir. Cabe ao Estado a salvaguarda do patrimônio linguístico e cultural dos povos indígenas, garantindo a integridade de seus territórios, na pena da lei assinada.

 

Sente-se dores nas matas e na glória percebe-se tristeza. Não será raptado ao mundo grande o índio, mas determinado que sua terra será pequena para tanto saber e as consequências disso são previsíveis. O capitalismo chora sua futura última glória. A diferença entre a caatinga, o cerrado e a floresta densa é questão de umidade e unidade das plantas. Para o animal humano reservou-se a cultura, apesar de as plantas saberem, também. Resta-nos sermos poeta de um mundo caduco, o antigo professor tinha razão.

 

Clarice Lispector dizia que escolher a própria máscara é o primeiro gesto humano e solitário. Uma esperança para fugir do mundo. O mundo também é rato, afirmava ela.

 

Mas de tudo fica um pouco. Coisa boa é chegar na aldeia e ver a escola cheia dos seus, pois há tempos veem-se salas de aulas em muitas comunidades e em algumas, dedicados e determinados professores, muitos deles indígenas. Isso foi um  instrumento, como carta náutica, para orientar o processo de contato com o ocidente e nossa invenção brasileira, alfabetizando seus jovens.

 

 

Nesse momento se dá à prova. Conheci nesses últimos 20 anos gênios indígenas, muitos estão por vir. O facão do contrato se impõe agora como nunca dantes nesse país, pois as tensões das diferenças se determinam e a tolerância não é sempre servida no cardápio das leis. Muitas portas se apresentam ao jovem indígena, pois fascínio é alimento de toda juventude planetária. Em muitas aldeias ainda se busca o conselho dos anciões para decisões sobre comando do leme, e aí se acessa a mediunidade própria aos genitores,  que vão com a morte se destituindo e levam consigo sua sabedoria. O celular se infiltra na nova ordem e voraz muda os códigos, deixando todos inebriados com possíveis produtos ao desejo.

É a tradição o mais importante a seguir, sabem eles, alguns já traumatizados com o mundo descartável que vivemos.  É na cultura e filosofia de seus mitos que os indígenas terão seus resultados positivos e propositivos ao futuro. Na nova ordem ser índio será imprescindível  ser original e sustentável, feroz desafio.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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