Frente Popular de Esquerda dá a largada em Minas Gerais com plataforma pela legitimidade e crescimento, apostando na convergência e na articulação
“Não tem protagonismo e não tem hierarquia. Quem concorda com a plataforma pode chegar.” Assim Beatriz Cerqueira, uma das coordenadoras da Frente Popular de Esquerda em Minas Gerais, convida para o lançamento de hoje à noite da sessão estadual do movimento que, de acordo com seu manifesto, pretende reunir forças nacionais em defesa dos direitos dos trabalhadores, da democracia, da soberania nacional e das reformas estruturais e populares. Segundo Beatriz, que é presidente da CUT/MG e coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG), foi feito um grande esforço de mobilização e ampla convocação de movimentos e grupos como pastorais, juventude organizada, centrais sindicais, organizações de bairro, partidos políticos, moradias populares “e todos mais que quiserem”.
Foto: Lidyane Ponciano
As discussões e articulações em torno de um consenso — senão no todo, em partes importantes — de grupos sociais populares para a formação de uma Frente Popular de Esquerda movimentaram pelo menos o primeiro semestre deste ano no país. E, apesar de agendas por vezes conflitantes e de divergências políticas, a leitura comum da conjuntura e da clara impossibilidade dos partidos de defenderem sozinhos os direitos ameaçados propiciou a convergência. Um manifesto foi construído e divulgado em julho (Link: http://manifestobrasil2015.org/). Hoje (7/8) a plenária estadual acontece às 18h na sede do CREA. Está previsto ainda, para setembro, nos dias 5 e 6, também em Belo Horizonte, um seminário nacional.
“Queremos um movimento que consiga aglutinar pessoas e reagir”, diz Beatriz. “Avaliamos que os partidos políticos de esquerda que estão no poder não têm, sozinhos, como dar conta.” Confira a seguir os principais trechos da entrevista que ela concedeu aos Jornalistas Livres.
Jornalistas Livres: A Frente Popular de Esquerda não tem como agenda só barrar a ascensão conservadora no país.
A Frente Popular de Esquerda surgiu pelo esgotamento político. Percebemos a impossibilidade dos partidos políticos de, sozinhos, reagirem a conjuntura conservadora atual. Eles não conseguem mais responder ao ajuste fiscal, que rompe com a plataforma que foi eleita. Não conseguem mais conservar a ética na política. Não conseguem se apropriar e reagir à falta de apuração da corrupção feita pelos políticos e partidos de direita — em Minas Gerais há exemplos clássicos. Também não conseguem reagir a votação de temas como a redução da maioridade penal, conter as ameaças a Petrobras e ao pré-sal, que consideramos essencial para o crescimento do país. Nossa agenda mínima e plataforma básica é sim pela defesa da democracia e soberania nacional. Queremos constituir um movimento que consiga aglutinar as pessoas em defesa desta agenda. Somos pelo crescimento.
Foto: Rafael Gaia
Jornalistas Livres: De quem é a liderança da Frente Popular?
A Frente não tem protagonismo e não tem hierarquia. A proposta é esta e é diferente, bem diferente, do que a esquerda está acostumada a fazer. Quem concorda com esta plataforma, é contrário a qualquer golpe e é pela manutenção de quem foi eleito democraticamente terá acolhimento. Quem é pela defesa da soberania nacional pode chegar. Pode chegar e ficar.
Jornalistas Livres: Qual é a composição deste grupo em Minas Gerais? Como é que está se formando este caldo?
Nós estamos em fase de construção. Estamos em ampla divulgação para hoje, que é o dia do lançamento aqui em Minas Gerais. Queremos aqui conosco a juventude, os movimentos de bairro, as pastorais, os movimentos populares, os partidos políticos, as centrais sindicais, e todo mundo. Estamos fazendo uma ampla convocação. Queremos nos constituir como grupo a partir do lançamento de hoje, para só então nos organizarmos para a conferência nacional que será em setembro. E que será aqui em Belo Horizonte também.
Jornalistas Livres: Na plataforma da Frente há a defesa das reformas estruturais. Como é que se defende um governo e pressiona por reformas que o enfraquecem?
Foto: Lidyane Ponciano
A melhor forma de ajudar governos progressistas é não abandonar suas bandeiras e pautas legítimas. E nós percebemos que, no passado, em algum momento isto começou a acontecer. Nós falávamos, lá no início, em reformas estruturais. E, e de repente, não falávamos mais. Falávamos em regulamentação da mídia e depois passamos a falar que ela seria feita pelo controle remoto. Não foi e não será. Temos de manter a mobilização e a pressão. A defesa da democracia é intrínseca ao nosso movimento. E muitos de nós morremos por ela. Mas é essencial que também empurremos os governos sempre para mais à esquerda. Os governos que se elegeram com plataformas populares, todos aqueles que se elegem com plataformas progressistas, têm de ser pressionados por elas. É essencial nos articularmos para defender o governo democraticamente eleito, reagir à pauta conservadora e defender nossas demandas populares cada vez mais à esquerda.
Foto: Lidyane Ponciano
Jornalistas Livres: Tem uma afirmação sua muito interessante que gostaria que comentasse. Você diz “as ruas do Estado de MG não viraram à direita” em junho de 2013.
Não viraram. Em Minas, a trajetória há dez, cinco anos, já era de mobilização na rua. A educação de rede pública, a organização de ocupações urbanas de uma forma geral, os eletricitários — que enfrentaram o desmonte da Cemig — todos estiveram nas ruas. A gente tem tradição de colocar a pauta na rua. Embora os prefeitos sempre viessem com o discurso de criminalização cerceando protestos, com a questão do trânsito colocando entraves. Mas as nossas pautas sempre estiveram nas ruas. Antes das mobilizações de 2013 em Belo Horizonte já estávamos todos na rua. Quando a direita veio para a rua, ela disputou o espaço em BH. Os grupos organizados vieram fomentar ódio entre os grupos populares. Mas nós tínhamos pautas concretas. E tivemos uma grande capacidade de convergência e articulação. Sentamos todos CUT, PSOL, PSTU, setores do PT, diversidades Juventude, UEE, Levante, ocupações urbanas. Estas convergências foram boas, foram sólidas o suficiente para estarmos ali e a direita não conseguir expulsar a esquerda das ruas em Minas Gerais e em BH. Mas não acho que posso transportar este raciocínio para o resto do país. Esta convergência não foi mágica, mas nossa capacidade de entender a conjuntura foi rápida e viemos com nossas bandeiras.
Serviço: Lançamento Frente Popular de Esquerda Minas Gerais
As famílias não querem auxílio aluguel que não contempla todas as famílias. A Comunidade Mandela luta por Moradia para todas as famílias Foto: Fabiana Ribeiro | Jornalistas Livres
Negociação entre o proprietário do terreno e a municipalidade
A área de 300 mil metros quadrados é de propriedade de Celso Aparecido Fidélis. A propriedade não cumpre função social e possui diversas irregularidades com a municipalidade.
As famílias da Comunidade Mandela já demonstraram interesse em negociar a área, com o proprietário para adquirir em forma de cooperativa popular ou programa habitacional. Fidélis ora manifesta desejo de negociação, ora rejeita qualquer acordo de negócio.
Mas o proprietário e a municipalidade – por intermédio da COAB (Cia de Habitação Popular de Campinas) – estão negociando diretamente, sem a participação das famílias da Comunidade Mandela que ficam na incerteza do destino.
As mulheres são a grande maioria da Comunidade e também são elas que estão nos atos lutando por direitos. Foto: Fabiana Ribeiro | Jornalistas Livres
As famílias querem ser ouvidas
Durante o ato, uma comissão de moradores da Ocupação conseguiu ser liberada pelo contingente de Guardas Municipais que fazia pressão sobre os manifestantes , em sua grande maioria formada pelas mulheres da Comunidade com seus filhos e filhas. Uma das características da ocupação é a liderança da Comunidade ser ocupada por mulheres, são as mães que lideram a luta por moradia.
A reunião com o presidente da COAB de Campinas e Secretário de Habitação – Vinícius Riverete foi marcada para o dia 28 de setembro.
A luta e a esperança de igualdade social Foto: Fabiana Ribeiro | Jornalistas Livres
As mulheres da Comunidade Mandela, em sua maioria são trabalhadoras informais, se organizam para lutar por moradia.
Depois de muita espera, dez dias após o encerramento do prazo para a saída das famílias da área que ocupam, o juiz despacha no processo de reintegração de posse contra da Comunidade Mandela, no interior de São Paulo. No despacho proferido , o juiz do processo – Cássio Modenesi Barbosa – diz que aguardará a manifestação do proprietário da área sobre eventual cumprimento de reintegração de posse. De acordo com o juiz, sua decisão será tomada após a manifestação do proprietário. A Comunidade, que ocupa essa área na cidade de Campinas desde 2017, lançou uma nota oficial na qual ressalta a profunda preocupação em relação ao despacho do juiz em plena pandemia e faz apontamento importante: não houve qualquer deliberação sobre as petições do Ministério Público, da Defensoria Pública, dos Advogados das famílias e mesmo sobre o ofício da Prefeitura, em que todas solicitaram adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19 e das especificidades do caso concreto.
Ainda na nota a Comunidade Mandela reforça:
“ Gostaríamos de reforçar que as famílias da Ocupação Nelson Mandela manifestaram intenção de compra da área e receberam parecer favorável do Ministério Público nos autos. Também está pendente a discussão sobre a possibilidade de regularização fundiária de interesse social na área atualmente ocupada, alternativa que se mostra menos onerosa já que a prefeitura não cumpriu o compromisso de implementar um loteamento urbanizado, conforme acordo firmado no processo. Seguimos buscando junto ao Poder público soluções que contemplem todos os moradores da Ocupação, nos colocando à disposição para que a negociação de compra da área pelas famílias seja realizada.”
Hoje também foi realizada uma atividade on-line de Lançamento da Campanha Despejo Zero em Campinas -SP (
Campinas acaba prorrogar a quarentena até 06 de outubro, a medida publicada na edição desta quinta-feira (10) do Diário Oficial. Prefeitura também oficializou veto para retomada de atividades em escolas da cidade.
A Comunidade Mandela e as ocupações
A Comunidade Mandela luta desde 2016 por moradia e desde então tem buscado formas de diálogo e de inclusão em políticas públicas habitacionais. Em 2017, cerca de mais de 500 famílias que formavam a comunidade sofreram uma violenta reintegração de posse. Muitas famílias perderam tudo, não houve qualquer acolhimento do poder público. Famílias dormiram na rua, outras foram acolhidas por moradores e igrejas da região próxima à área que ocupavam. Desde abril de 2017, as 108 famílias ocupam essa área na região do Jardim Ouro Verde. O terreno não tem função social, também possui muitas irregularidades de documentação e de tributos com a municipalidade. As famílias têm buscado acordos e soluções junto ao proprietário e a Prefeitura. Leia mais sobre: https://jornalistaslivres.org/em-meio-a-pandemia-a-comunidade-mandela-amanhece-com-ameaca-de-despejo/
O dia de hoje (31/08) será decisivo para as 108 famílias que vivem na área ocupada na região do Jardim Ouro Verde em Campinas, interior de São Paulo. Assim sendo, o último dia do mês de agosto, a data determinada como prazo final para que os moradores sem-teto deixem a área ocupada, no Jardim Nossa Senhora da Conceição. A comunidade está muito apreensiva e tensa aguardando a decisão do juiz Cássio Modenesi Barbosa – da 3ª Vara do Foro da Vila Mimosa que afirmou só se manifestar sobre a suspensão ou não do despejo na data final, tal afirmativa só contribuiu ainda mais para agravar o estado psicológico e a agonia das famílias.
A reintegração é uma evidente agressão aos direitos humanos dos moradores e moradoras da ocupação, segundo parecer socioeconômico do Núcleo Habitação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo . As famílias não têm para onde ir e cerca de entre as/os moradoras/es estão 89 crianças menores de 10 anos, oito adolescentes menores de 17 anos, dois bebês prematuros, sete grávidas e 10 idosos. 62 pessoas da ocupação pertencem ao grupo de risco para agravamento da Covid-19, pessoas idosas e com doenças cardiológicas e respiratórias, entre outras podem ficar sem o barraco que hoje as abriga.
Parecer socioeconômico da Ocupação da Comunidade Mandela. Importante trabalho da agente socióloga do Núcleo de Habitação – Defensoria Pública do Estado de São Paulo.
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo, a Comissão dos Direitos Humanos da Câmara de Campinas e o Ministério Público (MP-SP) se manifestaram em defesa do adiamento da reintegração durante a pandemia. A Governo Municipal também se posicionou favoravelmente a permanência após as famílias promoverem três atos de protesto. Novamente a Comunidade sofre com a ameaça do despejo. As famílias ocupam essa área desde 2017 após sofrem uma reintegração violenta em outra região da cidade.
As famílias
A comunidade possui 89 crianças com idade inferior a 10 anos
foto: Fabiana Ribeiro – Jornalistas Livres
Célia dos Santos, uma das lideranças na comunidade relata:
Foto Fabiana Ribeiro – Jornalistas Livres
“ Tentamos várias vezes propor a compra do terreno, a inclusão das famílias em um programa habitacional, no processo existem várias formas de acordo. Inclusive tem uma promessa que seriam construídas unidades habitacionais no antigo terreno que ocupamos e as famílias do Mandela seriam contempladas. Tudo só ficou na promessa. Prometem e deixam o tempo passar para não resolver. Eles não querem. Nós queremos, temos pressa. Eles moram no conforto. Eles não têm pressa”
Simone é mulher negra, mãe de cinco filhos. Muito preocupada desabafa o seu desespero
Foto: Fabiana Ribeiro – Jornalistas Livres
“ Não consigo dormir direito mais. Eu e meu filho mais velho ficamos quase sem dormir a noite toda de tanta ansiedade. Estou muito tensa. Nós não temos para onde ir, se sair daqui é para a rua. Eu nem arrumei as coisas porque não temos nem como levar . O meu bebê tem problemas respiratórios e usa bombinha, as vezes as roupinhas dele ficam sujas de sangue e tenho sempre que lavar. Como vou fazer?”
Dona Luisa é avó, mulher negra, trabalhadora doméstica informal e possui vários problemas de saúde que a coloca no grupo de risco de contágio da covid-19. Ela está muito apreensiva com tudo. Os últimos dias têm sido de esgotamento emocional e a sua saúde está abalada. Dona Luisa está entre as moradores perderam tudo o que possuíam durante a reintegração de posse em 2017. A única coisa que restou, na ocasião, foi a roupa que ela vestia.
Foto: Fabiana Ribeiro – Jornalistas Livres
“ Com essa doença que está por aí fica difícil alguém querer dar abrigo para a gente. Eu entendo as pessoas. Em 2017 muitos nos ajudaram e eu agradeço a Deus. Hoje será difícil. E eu entendo. Eu vou dormir na rua, junto com meus filhos e netos. Sou grupo de risco, posso me contaminar e morrer. E as minhas crianças? O quê será das crianças? Meu Deus! Nossa comunidade tem muitas crianças. Esses dias minha netinha me perguntou onde iríamos morar? Eu me segurei para não chorar na frente dela. Se a gente tivesse para onde ir não estaria aqui. Não é possível que essas pessoas não se sensibilizem com a gente. Não é possível que haja tanta crueldade nesse mundo.”
Comunidade Mandela – Foto Fabiana Ribeiro – Jornalistas Livres