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Movida Aluguel de Carros: 11 horas de pesadelo

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Por Eleonora de Lucena

O que era para ser um mergulho refrescante na cachoeira do Buracão, na Chapada Diamantina, virou uma enxurrada de descaso, incompetência, desprezo, escárnio e desinformação. Foi o que a MOVIDA ALUGUEL DE CARROS proporcionou para a nossa família durante quase 11 horas no interior da Bahia nesta quinta, 21 de novembro de 2019. Uma demonstração inequívoca de que a empresa –como, aliás, é regra do capitalismo de hoje—está se lixando para o consumidor, o público, o cidadão: o que importa é resultado, distribuição de dividendo, lucros crescentes.

O principal executivo da MOVIDA ALUGUEL DE CARROS, em entrevista recente à “Época Negócios”, quando se gabava de supostas inovações tecnológicas da companhia, declarou: “Preciso me manter com os melhores indicadores para ser o parceiro escolhido por essas companhias [Google, Apple]. Assim, posso entregar resultados e garantir a minha sobrevivência”. Resultados, se vale a nossa experiência de consumidor, que são obtidos em cima da desconsideração e do desrespeito em relação aos que utilizam, de forma inadvertida, os seus serviços. Robôs, atendentes mal treinados, chefes que parecem incapazes de fazer a leitura elementar de um mapa, terceirizados amedrontados e desqualificados produzem um resultado de desespero para quem precisa do mais básico atendimento ao consumidor.

A gente sabe que o consumidor sofre nas ligações de zero oitocentos, para os sacs da vida e outros alegados serviços. Temos experiência de sobra com telefônicas, companhias aéreas, imobiliárias, concessionárias. Mas nunca fui tão mal atendida na vida. A MOVIDA ALUGUEL DE CARROS bateu todos os recordes. Justamente num momento de vulnerabilidade, longe de casa, com as pessoas largadas com malas, mochilas e computadores no meio da rua.

Eleonora de Lucena, de blusa laranja, fala ao telefone com a Movida; o veículo na frente dela é a Duster em pane

Eleonora de Lucena, de blusa laranja, fala ao telefone com a Movida; o veículo na frente dela é a Duster em pane – Foto: arquivo pessoal

Tudo começou por volta das 9h45, quando girei a chave do carro (uma Duster) e apareceu um sinal vermelho de pane, exigindo que o carro não fosse movimentado por extrema questão de segurança. Estávamos em Ibicoara, a 476 quilômetros de Salvador, onde tínhamos retirado o veículo. Dali em diante foi uma sucessão de liga-cai-gravação-transfere-não é nesse ramal-liga-cai-gravação-transfere-musiquinha-promoções-não é aqui-transfere-cai.

Até que conseguimos falar com uma pessoa –que disse que tínhamos que ir para Salvador. Depois disseram que tínhamos que ir para Feira de Santana (381 quilômetros dali). Todos que falavam pela companhia estavam preocupados com o veículo e o envio do guincho para proteger o patrimônio da empresa. E os clientes abandonados no meio da rua? Tinha que ligar para outro setor, não era com eles, vou transferir… e caia. Comecei a perceber que a alegada inovação tecnológica tinha lado –resguardar a empresa e só.

Finalmente consegui falar com um suposto “supervisor”. Expliquei que a família de quadro pessoas estava em viagem a Ibicoara, que nosso hotel ficava em Lençóis (225 km dali), que precisava de um carro reserva, que não tinha o menor sentido voltar a Salvador ou Feira de Santana. Iria perder mais um dia de férias –além do que estava sendo arruinado naquele momento. Quando achei que o “supervisor” estava entendendo o caso, ele me pediu o “número” da rua Ibicoara. Ele simplesmente não estava entendendo ou não queria entender. Com certeza nem tinha olhado no mapa onde eu estava. Pedi, encarecidamente, que ele olhasse no mapa (pedido que faria diversas vezes durante o dia). Passei o endereço onde estava em Ibicoara. Ele me garantiu que o guincho chegaria em 28 minutos e que o táxi para me levar onde fosse chegaria em 32 minutos. Eram quase 11 da manhã e suspirei de alívio.

Eu quis saber os dados do táxi (placa, nome do motorista) e a coisa empacou. Ele começou a dizer que tinha (só agora!) percebido que havia uma base da Movida mais perto, em Vitória da Conquista (221 km dali) e que o táxi nos levaria para lá. Tentei argumentar que a viagem de Ibicoara a Vitória da Conquista e, depois, a Lençóis (onde estávamos hospedados) sereia de 630 quilômetros: 10 horas e 14 minutos pelo Google Maps. Que aquilo era insano. Que o melhor a fazer era nos enviar um carro desde Vitória da Conquista ou nos levar até o hotel em Lençóis. Achei, novamente, que ele tinha entendido o problema. De Poliana me apelidaram.

Enquanto isso, se passavam os 28 minutos e os 32 minutos e nada de solução. A ligação caiu. Continuamos insistindo no contato. Liga, musiquinha, em breve iremos lhe atender, só mais um instante. Uma atendente diz que nenhuma ocorrência para envio de táxi foi aberta até agora. E a voz do “supervisor” não vale nada? Uma meia hora depois, alguém liga dizendo que o reboque iria demorar ainda uma hora. E o táxi? A mesma coisa. Passa o tempo e nada. Seguimos tentando o atendimento a emergências da MOVIDA ALUGUEL DE CARROS: tecla opção-musiquinha-propaganda-não é aqui-vou transferir para o setor-cai. Até que alguém entra em contato pelo Messenger. Às 13h02 afirmam que o guincho vai demorar ainda duas horas. E os 28 minutos do supervisor? Onde tinham ido parar? Fomos almoçar num restaurante ali perto. A gerente da casa se solidariza conosco. A hora do almoço da cidade acaba. Sai todo mundo, clientes, cozinheiras. Ela nos diz para ficarmos tranquilos e nos oferece café –um dos poucos sinais de gentileza do dia. Valeu.

Enquanto aguardamos, leio na Panrotas: “A Movida acumulou R$ 2,7 bilhões de receita bruta em 2018. Estabelecendo novos recordes, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 481 milhões e o lucro líquido de R$ 160 milhões, altas de 48% e 143%, respectivamente. Com um caixa de R$ 812 milhões, associado ao reforço da estrutura de capital e aumento da frota, as perspectivas de continuidade na captura de ganhos de escala e na expansão das margens são maiores, de acordo com a Movida”.

Certamente os resultados da Movida não dependem de uma família em férias no interior da Bahia. Ao contrário. O foco deve ser o cliente corporativo, o que fica nas capitais, o que dá mais rentabilidade. É para ele que as estruturas devem estar montadas e ajustadas. Dane-se a família e o interior. O nosso caso deve ser o de um “colateral damage”, uma ocorrência fora da curva, que nada afeta o todo da companhia. E sigo lendo as últimas “reportagens” sobre a Movida. O papo marketeiro a gente conhece bem: é enganoso, é mentiroso, é falacioso –como está na moda nos dias atuais, não é mesmo? O Facebook começa a me enviar propagandas de aluguel de carros, da MOVIDA ALUGUEL DE CARROS e de concorrentes. É o que recebo. Informação, ajuda? Nada.

As duas horas se passam. Estamos agora ansiosos sentados no meio fio. No calorão. Pelo SMS me informam que o guincho vai atrasar: deve chegar às 15h22. E o táxi para as pessoas?? Silêncio. Silêncio. Sem resposta. Por favor, uma resposta, insisto. Branco, nada, silêncio. Enquanto isso, continuamos com as tentativas de contato com o serviço de emergência. Nada. Musiquinha-não desligue-cai. A preocupação deles é com o carro. Nós, as pessoas, estamos abandonados.

O reboque chega pelas 15h30, e nada do táxi. Começa a bater um desespero. Disparo mensagens para o sac, o site da empresa, o “fale com o presidente”, o whatsapp da empresa, para a JSL, firma que, segundo consta, controla a Movida. Nada. Pelo Whatsapp da Movida recebo mensagens propondo locação de veículo. “Em qual cidade deseja retirar o seu carro?”. Conto ao robô o que está acontecendo, mas ele desconversa. “Você terá um consultor especializado para lhe ajudar na sua solicitação”. Cita um novo número de 0800. Ligo e escuto: aqui não é o setor, vou transferir, cai. O tempo vai passando; logo mais vai escurecer.

Recebo retorno da JSL: não é com a gente; ligue para o sac da Movida e para o 0800 –como se eu conseguisse falar lá! A Livelo, que entrou nesse acerto de locação, também diz que não é com ela. Não é com ninguém. Rale-se o consumidor.

Recebo uma ligação da Movida! É do serviço de satisfação do cliente fazendo pesquisa para saber se eu estou satisfeita com o serviço. Não, não estou satisfeita, estou parada na rua sem solução ainda. Ele desliga com um rápido boa tarde.

Pisca o SMS: mensagem da Movida: “Movida: você recomendaria a Movida Assistência 24hs para amigos ou familiares? De uma nota de 0 a 10 e comente! Resposta gratuita por SMS. Ajude-nos a melhorar”.

É o escárnio!

O sujeito do guincho já está há mais de uma hora sentando conosco no meio fio. Não pode fazer nada. Eu também não posso liberar o carro e ficar na sarjeta. Jovens já saem da escola e perambulam por ali. O pedreiro que fazia um pedaço da calçada onde estamos está quase terminando o serviço, e nada. Peneira o cimento, coloca água, alisa o novo calçamento. E nós ali. Cachoeira só a do balde para o montinho de cimento. Pensamos em chamar a polícia, em contratar um táxi, ver um ônibus, achar um hotel. A noite se aproxima e nós estamos nessa situação deste às 9h45 por causa da Movida.

São quase cinco da tarde quando conseguimos falar com alguém do serviço de atendimento 24 horas. O táxi chega em 20 minutos, diz o atendente. Qual táxi? Quem é o motorista? Não sei, vou ver. Os 20 minutos vão se passando. O táxi finalmente chega. Os 32 minutos garantidos pelo “supervisor” da manhã tinham virado seis horas.

Mas o motorista tem ordem de nos levar para Vitória da Conquista, o que significa uma viagem de 630 quilômetros (10 horas e 14 minutos pelo Google Maps, de Ibicoara a Vitória da Conquista e depois para Lençóis, até o nosso hotel). Perderam a razão? Tivemos essa discussão várias vezes ao longo do dia, mas ninguém parece interessado em entender o problema real. Em resumo, se formos até o hotel, perdemos a ida “a loja mais próxima, no aeroporto de Vitória da Conquista” e perdemos o carro com todas as diárias pagas antecipadamente. São 10 horas de viagem –por problema criado pela MOVIDA ALUGUEL DE CARROS— ou nada de carro.

É a lógica inovadora da empresa.

Lembro da fala do CEO da Movida à “Época Negócios”: “A gente não faz inovação por marketing. Faz porque precisa. Faltava governança para tornar os processos mais eficientes e produtivos. Somos uma empresa de TI que aluga veículos”.

Fico pensando na política de recall das montadoras. A lógica é um pouco essa: fazemos de qualquer jeito o produto e depois o consumidor é que se vire para levar o carro sem freio até uma concessionária. O consumidor que corra o risco de ter um acidente. O resultado da empresa está garantido. A Boeing parece ter tido o mesmo pensamento ao liberar o MAX 737: colocou o bicho para voar sabendo que tinha defeito para ter os seus resultados para os seus acionistas. No caminho morreram centenas de pessoas. É a lógica capitalista que vigora

Nós somos só uma minúscula família parada na estrada por incompetência e descaso da MOVIDA ALUGUEL DE CARROS. Estamos cansados da MOVIDA ALUGUEL DE CARROS. A MOVIDA ALUGUEL DE CARROS paga o hotel para a família? Como fazer essa viagem de mais de 10 horas, indo e voltando? Ninguém sabe, depois tem que ver, o procedimento, o contrato das letrinhas pequenas. E o meu ressarcimento? E tudo que estamos perdendo com a MOVIDA ALUGUEL DE CARROS? Negocia, liga, cai, liga. Sim, o táxi pode levar a família até Lençóis (três horas e cinco minutos de viagem). Ufa!

Só que o motorista ainda não tem ordens para nos levar para Lençóis! Diz que deve nos levar para Vitória da Conquista. Liga-liga-liga. Sem sinal. Musiquinha, aguarde um instante que já vamos lhe atender. A atendente combina com o motorista: leve os passageiros para Lençóis. Está tudo certo? Sim, diz o motorista. Notamos relutância. Já no carro, entramos num posto para ajustar um cinto de segurança que não estava disponível. Ele negocia com a sua “base” o pagamento de combustível –o tanque não segura a viagem até Lençóis e ele está sem cartão, diz. O moço do posto fala ao celular do motorista e acerta a transferência para o pagamento do combustível. Tanque cheio, vamos?

Não. O motorista diz que não pode partir. Precisa de outra autorização, acerto de quilometragem. Mas não estava tudo certo minutos atrás? Estamos parados no posto, com o motorista irredutível e o sol se pondo no horizonte. “Vocês já esperaram bastante, vão ter que esperar mais”. Ligo de novo para a Movida. Sem sinal, musiquinha, aguarde. O desespero aumenta. Já estamos na saída da cidade, mas sem solução. Finalmente, às 17h30, partimos.

O motorista não conhece a estrada, cheia de cotovelos, buracos, pontes por onde só passa um carro por vez. Sai em disparada, faz curvas fechadas, topa com força em algumas crateras da BR sem manutenção. Atropela algo que parece ser um pequeno animal. Seria um tatuzinho? Choramos de raiva, de medo, de frustação. No dia anterior, tínhamos percorrido o mesmo trajeto cantando Michael Jackson, Cindy Lauper, Rolling Stones. Um dia gostoso de férias como há muito não tínhamos. Pela manhã do dia 20, tínhamos subido e descido os 295 degraus da Cachoeira do Mosquito. Horas atrás, líamos em conjunto sobre geologia para aprender a beleza da Chapada. Agora, tudo parece estar sob risco.

Quase 11 horas depois da pane, estamos na rua do nosso destino em Lençóis. O motorista para. Hesita em subir a ladeira íngreme. Naquela altura, escalaríamos o Serrano para sair daquele carro. Chegamos. Estamos sem carro, apesar de todas as diárias terem sido pagas antecipadamente. O carro foi para o guincho com o tanque cheio. Temos ainda alguns dias aqui na Chapada. A MOVIDA ALUGUEL DE CARROS diz que não vai nos enviar um novo carro e que não paga nossa viagem até um novo carro. São as regras deles ou nada. Nos deram um táxi até Lençóis e, com isso, eu tenho que me virar, se quiser, para pegar um novo carro em uma loja deles. É a inovação, a tecnologia, o resultado. Pela tela do celular, entra uma mensagem com um anúncio da MOVIDA ALUGUEL DE CARROS. Na vida, Movida nunca mais.

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54 Comments

54 Comments

  1. Alessandro Rodrigues Reis

    26/11/19 at 0:04

    Mano, nem consegui ler esse livro q vc fez sobre a melhor locadora de veículos ( para mim ). Não tenho o que reclamar dos caras. Por isso, não vou opinar no fato. Falei aí por mim. Mas vc podia resumir. Queria entender o pq do lucro e faturamento da empresa te encomodou.

  2. RICARDO BATISTA

    26/11/19 at 0:06

    Caraca q história frustrante .. Sinto mto, em Julho fiz exatamente o mesmo trajeto e com um carro da movida tbm, e ainda foi pra Itacaré e Maraú.. Tive sorte, pq foi cada lugar q botei o kwid kkkk

  3. QUIRINO XAVIER DA SILVA

    26/11/19 at 0:53

    Que pesadelo.

  4. Sergio Fernandes

    26/11/19 at 1:53

    Bom saber não alugar nesta locadora. Movida

  5. Luancarlosvitor

    26/11/19 at 5:34

    Lamentável, revoltante e triste. Quando percebi que essa empresa não se importa com o mais importante que é o cliente, peguei minhas coisas e pedi demissão.

  6. Luciana Costa

    26/11/19 at 5:35

    Processe

  7. Sandro Melo

    26/11/19 at 6:36

    Isso não por causa do Capitalismo minha Senhora. O problema são as leis brasileiras e os órgãos fiscalizadores que não funcionam por causa das pessoas despreparadas. O problema é que as Instituições que regem este País estão preocupadas em livrar bandidos da cadeia barrando a prisão em segunda instância. Quando deveriam em se preocupar em criar meios para melhorar a vida do brasileiro.

  8. Valberes sabino da silva

    26/11/19 at 6:37

    Já vi que estou com sorte, faz dois meses que tô com o carro da movida e tudo ok, muito bom nota dez.

  9. José Henrique

    26/11/19 at 7:10

    Minha experiência com a movida também e péssima, a propaganda que eles fazem é mentirosa. Chega a ser revoltante o total descaso. Eu mesmo já cheguei a ligar no número para falar com presidente: mais uma grande mentira, não dá em nada. MOVIDA, um GRANDE ENGODO

  10. Eduardo Amorim

    26/11/19 at 7:31

    Eu também tive uma situação parecida. Aluguei uma Mercedes C180 para ir de férias do RJ para a Bahia. O carro quebrou a suspensão no meio da viagem –por sorte, perto de uma pousada bem simples que foi nosso refúgio. Esperamos pelo táxi por 7h, depois tive que ir por conta própria em Salvador, buscar outro carro.

  11. Barbara Anna Luisa Maria de Freitas Marques

    26/11/19 at 7:51

    Lendo o relato, parece que estava presente no ocorrido, já que passei por situação semelhante, um horror, quanto descaso, a vontade é de sentar e, chorar, feito criança mesmo.

  12. Alfredo Frantz

    26/11/19 at 8:16

    Tenho uma maneira de ver a vida diferente da maioria. Acredito que se muitos pensassem como eu, muitos problemas se resolveriam.
    Tenho lista, a qual podemos chamar de LISTA NEGRA. Nela constam os nomes de pessoas, empresas, lojas, mercadoria e politicos dos quais não quero aproximação e dos quais procuro divulgar os pontos negativos.
    Assim sendo a MOVIDA acaba de entrar para esta lista, que por sinal é bem longa.
    MOVIDA não quero nem aproximação mais.
    É uma questão de consciência e uma forma de excluir tudo de ruim de nossa sociedade.
    Em apoio a essa familia e seus transtornos.
    Grande abraço a todos.

  13. Bruno Olivença

    26/11/19 at 8:18

    Kkkk(kkkk Parecem as férias da Família Grinswald! Digno da Sessão da Tarde!

  14. Rodrigo Galindo Luna

    26/11/19 at 8:46

    Quando vi a manchete quis ler toda a matéria, pois em Outubro desse mesmo ano passei por uma situação não tão parecida, mas que poderia ter gerado um transtorno parecido.
    Tinha alugado pela primeira vez um carro na Movida e me surpreendeu com a qualidade do primeiro veículo, foi uma locação rápida e pra uso urbano apenas. Me atraiu a princípio e resolvi alugar um segundo carro, nesse caso um sedan automático, pra uma viagem de Vitória/ES a Alto Caparaó/MG.
    A segunda locação o carro já não era tão conservado assim, com diversas marcas de arranhões e amassados, onde fiz questão de registrar.
    Mas esse não foi o maior agravante, mas sim quando já estava chegando ao meu destino fui parado em um blitz local da PM e apresentei os documentos.
    Para minha surpresa: o documento do veículo ainda era o de 2018 e segundo a autoridade eu deveria estar com o documento de 2019.
    Fui indagado se não olhei o documento na retirada do veículo, falei que não pois era costume alugar carros e sempre ter os documentos em dia.
    O policial que estava responsável pela averiguação não estava com intenções de me liberar, mas por sorte um outro policial se dispôs a verificar no sistema do Detran se o veículo estava regularizado e licenciado para 2019.
    Por sorte fui liberado, mas achei gravíssimo da locadora um erro tão grosseiro como esse.
    Enfim, a política de preços deles é agressiva e atraente, mas essa experiência que vivi não me agradou e isso conta muito para decisões nas minhas próximas locações, ou pelo menos pra ficar mais esperto na hora de retirar o veículo.

    Espero que você consiga reparo na justiça quanto a essas dores de cabeças com a Movida e parabenizo por compartilhar, pois só assim podemos tentar mudar um pouco essa política capitalista das empresas.

  15. Leticia da Cruz Silva

    26/11/19 at 8:48

    Q história….descaso total!
    Realmente a central de atendimento deles é péssima!!!!!
    Na hora de alugar ok, na hora q vc precisa aí vem a dificuldade.:(

  16. Regina

    26/11/19 at 8:56

    Aciona o Procon para ressarcimento pois isto é um descaso, desrespeito e um desserviço com o cidadão q paga para não usar o serviço oferecido.

  17. Pedro Milton de Moraes

    26/11/19 at 9:39

    A movida é horrível em tudo. Quando vc retorna de viagem, fazem um checkout de mais de 1 hora, vá de localiza e nunca se arrependerá.

  18. Ana paula

    26/11/19 at 10:02

    Aconteceu quase a mesma coisa comigo. O carro deu pane, eu estava a 110 km da loja em que aluguei o carro. No outro dia, era feriado na cidade onde aluguei o carro. Eles me mandaram ir pegar outro carro a mais se 250 km de distância da cidade onde eu estava. Expliquei a situação pra eles, falaram que não poderiam fazer nada, só mandar um táxi pra que eu fosse para a Cidade onde poderia pegar outro carro. Nisso já era 20:00! Falei que estava com criança pequena e nada! Eles não dão assistência devida e instruem os funcionários a se fingir de bobos! E, no final da história, tive que pagar o dia que fiquei sem o carro! É um absurdo!

  19. Gabriel Nogueira

    26/11/19 at 10:25

    Que triste um ser humano sendo tratado assim, com total desrespeito. Muito triste! Infelizmente só por meio de leis que o respeito vem para com o seus clientes e pessoas que somos.

  20. Deanir

    26/11/19 at 10:45

    Já pode fechar. Uma empresa q presta tamanho desserviço ao cliente, transformando um momento especial em um trauma, já pode fechar as portas.Graças a Deus a MOVIDA NUNCA foi um opção para mim pq nunca fui bem atendida quando solicitei informações .

  21. Adaias Lima

    26/11/19 at 11:10

    Que história triste, eu tbm não alugo mais carro da Movida; eles queriam q eu pagasse um amassado q não fui eu que amassou –já estava amassado quando eu liguei o veículo; eles pensavam q eu não tinha visto.
    MOVIDA NUNCA MAIS.

  22. CARLOS ALBERTO RODRIGUES

    26/11/19 at 11:23

    Ainda prefiro a Localiza, até hoje não tive problemas quando surge algum imprevisto no carro. Perguntam se consegue chegar a loja ou guincho pra levar outro carro.

  23. Margareth

    26/11/19 at 11:52

    Eu sou cliente movida, mas depois desta não confiarei mais…sinto muito por vocês. E muito obrigada por nos alertar

  24. Johnny

    26/11/19 at 12:27

    Movida lixo já a passei por algo assim

  25. Milene Faleiros maurente

    26/11/19 at 12:32

    Tbem tive uma pessima experiencia c a movida. Nao recomendo.

  26. Eduardo

    26/11/19 at 12:52

    Terrível este mundo capitalista aonde pode-se escolher a locadora. Aposto que em Cuba isto nunca teria acontecido.

  27. Maria Eugenia

    26/11/19 at 13:19

    Tenho histórico, 2 pessoas da família não indicam a Movida.

  28. LEANDRO ROSSETTI

    26/11/19 at 13:37

    Realmente ontem dia 25/11/19, fiquei mais de quatro horas esperando guincho e taxi, e ainda tendo que viajar 1 hora até a agência mais próxima, pois não levou um carro até o local, e fora o atendimento péssimo que temos que ficar ligando para todo mundo.

  29. Creusa

    26/11/19 at 13:42

    Ontem 25/11/2019. Tivemos um problema parecido. Estavamos em viagem a trabalho e o carro deu problema. Foram mais de 4h para solucionar, tivemos que ligar diversas vezes. E tivemos que buscar o carro em uma agência da movida que era +- 1 h de distância, eles não levaram o outro carro até nós.

  30. Zé de Mundinha

    26/11/19 at 14:10

    Bom saber. Sempre me oferecem locar carros da, MOVIDA. Pelo jeito, MOrte de VIDA. Tchau, querida!

  31. Juliana Soares

    26/11/19 at 14:41

    Eu tbm tive uma péssima experiência com a movida.
    Movida nunca mais.

  32. Carla Maria soares

    26/11/19 at 14:50

    Entrar na justiça , mover um processo contra essa empresa

  33. Paulo

    26/11/19 at 14:50

    Fui devolver carro um dia antes da devolução !!!
    Só que atendente da avenida catalão em Belo Horizonte …
    Não podia aceitar …
    Pq tinha que devolver no sábado !!!
    Obs:já estava pago !!!
    Se entregasse sexta feira tinha que pagar multa !!!
    50%
    Fui entregar sábado em outro endereço da locadora …
    Falei sobre ocorrido
    Atendente falou que não existia nada disso !!
    Que a funcionária era cricri !!!
    Não indico a ninguém MOVIDA!!!

  34. Ana pinheiro

    26/11/19 at 15:07

    Em junho aluguei um kwid,em Belém,sem problemas até indico a Movida

  35. Victor Hugo OliviaJoias

    26/11/19 at 16:14

    Bom saber, Deus me livre…

  36. Givanildo

    26/11/19 at 17:06

    melhor locadora do mundo localiza hertz.sou 6anos cliente nunca me deixaram na mão sempre rápido em tudo.

  37. José Paulo Silva

    26/11/19 at 19:00

    Que situação absurda. Minha solidariedade.
    Vou replicar esse relato em minhas mídias.

  38. Emmanoel de Freitas Pinto

    26/11/19 at 20:15

    Estou com vontade de dar um murro nesse teclado. Sacanas. Escrotos. Esse discurso de eficiência é exasperante. FDP. Um dia de cão. Não. Um cachorro ajudaria. Um dia de fúria. Moro no interior da Bahia. Gente estúpida e incompetente. Boçais. Conheço essa realidade. Está realmente muito quente. Como dizia um baiano; “Esse calor insuportável não abranda o frio da alma. A vida já não é tão segura, e nada mais me acalma. Ô crianças, isso é só o fim”. Um beijo pra Eleonora e família. #MOVIDA APIORLOCADORADOPAÍS.

  39. Dioéliton Pereira Silva

    26/11/19 at 21:24

    Tive uma experiência assim com a movida. É bem isso que você narrou!!

  40. João

    27/11/19 at 1:28

    Isso fotografado, filmado, guardado msn, whatsapp, testemunhas, dá uma boa ação na justiça. O problema é que estamos no Brasil, e a justiça é pior até que essa Movida. A única coisa que nos resta é relatar e repassar. Eu particularmente, já aviso: Movida nunca mais. 👏👏👏

  41. Ivam moura

    27/11/19 at 8:26

    Bom dia… Lamento o ocorrido com vc, mas loco carros na movida há mais de cinco anos e nunca passei nem perto dos problemas que vc relatou. Muito pelo contrário, sempre recomendo aos meus colegas de quartel. Penso que casos isolados ocorrem em qualquer lugar e talvez este tenha sido o caso. Espero que tudo se resolva.

  42. Cicero Rodolfo

    27/11/19 at 8:32

    Estou passando por situação constrangedora também, me deram um virtus com 83000 kms, cheio de pequenas avarias por todo o carro.
    Quando devolvi o carro encontraram uma avaria no para brisas, tão minúsculo que não saiu nem na foto, e estão querendo cobrar R$1.127,84 por isso
    Tenho total certeza que essa avaria não ocorreu durante meu uso

    PS: recebi o carro à noite, uma péssima condição de se fazer um levantamento de avarias, ainda mais o tipo de trinca minúsculo no para brisas

    Quem puder me indicar algum advogado, fico agradecido

  43. Luiz Carlos Nistal

    27/11/19 at 10:23

    Com certeza comigo aconteceu o mesmo. Eles estao se lixando para os clientes

  44. Charles

    27/11/19 at 11:03

    Nunca tive problema com a MOVIDA, eles sempre me atenderam bem… E super recomendo eles, acredito que seja um caso atíptico. Não troco eles por nada!

  45. Tiago Barbosa

    27/11/19 at 11:25

    Exagerada a matéria, parece até fakenews ou matéria encomendada,
    Trabalho viajando ha 5 anos por todo o Brasil, ja aluguei em quase todas as locadoras, no mínimo 3 vezes por mês, sempre dou preferência a Movida pois são sempre os carros mais novos e mais completos, nunca tive problema, checkin e check-out rapido, bom atendimento, se isso realmente aconteceu é um fato isolado que merece ser verificado, mas na minha opinião não é por casos isolados em meio a milhões de casos bem sucedidos que definiremos a qualidade de uma empresa.

  46. José Almeida

    27/11/19 at 11:36

    Deus me ajude pela primeira vez vou alugar um pela movida dia 30 de dezembro no aeroporto de Salvador. Sou cliente da localiza há anos. Espero não me arrepender.

  47. Vinnnna

    27/11/19 at 12:32

    Essa movida é um lixo. Eu e minha família alugamos um carro por 7 dias e na hora de pegar já na agência no Rio de janeiro alegaram que meu nome estava negativado e não ligaram o carro nem eu me comprometendo a pagar em espécie à vista, apesar de que o cartão tinha limite. Coloquei eles na justiça e disse que eles se negaram a vender o serviço mesmo eu me comprometendo a pagar à vista. Eles perderam a causa. Eles são canalhas; fazem muito isso. Mas se o cliente se comprometer a pagar à vista eles são obrigados a locar o carro. É lei, artigo 39 do cdc. Faça valer seus direiros

  48. Jefferson Lucas

    27/11/19 at 12:36

    Nossa, terrível!!
    Fiquei com preocupação em alta.
    Isso realmente é motivo a repensar a probabilidade da locação.
    Sou grato pelo relato e espero que a MOVIDA não ignore novamente essa situação perigosa.
    Em fevereiro tenho programado uma viagem em família a 1100 km.

  49. Cezar Eduardo

    27/11/19 at 17:45

    Quando eu fui a movida alugar um veículo para viajar, fui tratado com desdém, a atendente me olhou com quem diz esse cara não tem como alugar carro, não fez questão nenhuma de me dar informação, virei as costas e fui a unidas onde fui bem tratado e ainda paguei mais barato…

  50. Eder Esteves Nakamura

    27/11/19 at 19:30

    Realmente a Movida eu tbem não recomendo nem para o meu pior inimigo, infelizmente eu tive uma experiência péssima com eles. Eles não dão a mínima para os clientes.

  51. César

    29/11/19 at 6:01

    Não recomendo esta empresa capitalista a ninguém, eles NÃO entenderam que o que queremos acima de tudo e preço é atenção, cuidado, gentileza e humanismo. Acordem antes que seja tarde de mais..fica a dica

  52. Noêmia Schwerz

    01/12/19 at 16:17

    Tivemos uma péssima experiência na última semana com a Movida de Poa! Atendimento péssimo , atendente mal educada, nos tratou com falta de respeito , o carro q nós deram parecia uma carroça velha, foi a terceira vez q aluguei , mas depois dessa , nunca mais quero saber da Movida

  53. Valberes sabino da silva

    17/07/20 at 23:22

    Movida empresa rabujada, não tem nenhuma consideração com o cliente, eles não tiveram o que fazer na hora do desconto da mensalidade no meu cartão de credito, fizeram o favor de bloquear o meu car tao, ai provocou uma inadiplencia no meu cadastro junto à empresa, e pra concluir todos carros da movida tem rastreador, simplesmente tava fazendo compras no supermercado junto com minha esposa quando terminamos as compras que fomos pro carro tinha um sujeito proximo ao veiculo já tinha muchado os quatro peneus do carro e foi logo dizendo a movida mandou rebocar o veiculo, imagine a vergonha que passamos, levaram o carro e ate hoje fiquei sujo perante a empresa.

  54. Virginia Benício

    23/07/20 at 14:59

    Movida nunca mais . Estamos entrando na justiça com um processo por cobrança indevida e DANOS MORAIS ( até vídeo da oficina deles dizendo que havíamos trocado o pneu e vulcanizado , eles mandaram, sendo que isso NUNCA ACONTECEU , uma mentira absurda pra justificar a cobrança indevida feita 15 dias depois e que na hora da devolução não foi relatado.) pode demorar o tempo que for na justiça , não é nem pelo dinheiro , mas pela audácia de inventarem um dano e um conserto que nós não fizemos . Pior locadora do Brasil .

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O caso Mariana Ferrer, por Honoré de Balzac

Enfim, “de todas as mercadorias deste mundo, a mais cara é sem dúvida a justiça”.

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O caso Mariana Ferrer por Honoré de Balzac

Por Dirce Waltrick do Amarante*

Quando o escritor francês Honoré de Balzac teve acesso ao vídeo da audiência de Mariana Ferrer, ele decidiu escrever o Código dos homens honestos, isso nos idos de 1875, mas só agora estou tornando públicas suas palavras, que estavam sob segredo de justiça.  

Em uma análise bastante rigorosa, Balzac lembra, em primeiro lugar, que sabemos perfeitamente bem que “em princípio, ficou estabelecido que a justiça seria para todos, mas […]” . A tradução é de Léa Novaes, pois Balzac tinha dificuldade em escrever em português.

Dito isso, ele fala da figura do procurador. Em tempos idos, diz Balzac, os procuradores “levavam tão a sério o interesse de um cliente que chegavam a morrer por eles”. Além disso, eles “nunca frequentavam a sociedade”, e se a frequentassem eram vistos como “monstros”, mas hoje, “hoje tudo está monetarizado: já não se diz que Fulano foi nomeado procurador-geral, vai defender os interesses de sua província […]. Não, nada disso; o senhor Fulano acaba de conquistar um belo posto, procurador-geral, o que equivale a honorários de vinte mil francos […]”.

Balzac ia falar da figura do juiz e do defensor público, mas depois de tudo que assistiu ficou sem as palavras justas para descrevê-los.

Então, o escritor francês decidiu se debruçar sobre o papel do advogado, que “frequenta bailes, festas […] despreza tudo o que não é elegante”. E, diz Balzac, “Justiça seja feita aos advogados […]! São os decanos, os chefes, os santos, os deuses da arte de fazer fortuna com rapidez e com uma sagacidade que os torna merecedores de muitos elogios”.

Enfim, “de todas as mercadorias deste mundo, a mais cara é sem dúvida a justiça”.

Não citei na íntegra o texto do Balzac, porque foram esses os únicos fragmentos aos quais tive acesso, os outros foram apagados.  

*Formada em Direito, em 1992, na Universidade Federal de Santa Catarina

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O show de Trump: renovação ou cancelamento?

A eleição nos EUA e o destino da democracia na condição atualista

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Nos EUA voto popular não significa vitória. Biden terá mais votos do que Trump e ainda assim o resultado da eleição continuará indefinido por algum tempo. Apesar dos descalabros que marcaram a gestão Trump antes e durante a pandemia, o seu desempenho na atual corrida eleitoral será muito forte.

Mateus Pereira, Valdei Araujo e Walderez Ramalho, professores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em Mariana, MG

A disputa está sendo muito mais acirrada do que era inicialmente previsto pela maior parte dos institutos de pesquisa e da mídia americana, embora a cautela e o medo nunca deixaram de estar presentes. Sob esse ponto de vista, as eleições deste ano são como uma repetição do que vimos em 2016, ainda que o resultado possa ser a derrota eleitoral para Trump. Em 2016 foram os democratas que denunciaram a interferência russa, agora é o presidente-agitador que se apressa em questionar a legitimidade do pleito, sem mostrar nenhuma prova. Sabemos que no ambiente do atualismo provas têm como base apenas convicções.

Um sistema eleitoral que sobreviveu por séculos, sem grandes mudanças, pode ter se tornado obsoleto desde a eleição de Bush, em 2000. Um lembrete do possível declínio da democracia americana: das últimas oito eleições presidenciais desde 1992, os democratas venceram no voto popular as últimas sete, mas em apenas quatro ocasiões ganharam o colégio eleitoral e fizeram o presidente.

Acreditamos que as eleições nos EUA são um exemplo do confronto entre duas estratégias e duas concepções sobre fazer política: de um lado, Trump e sua promessa de eterna atualização da atualidade em modo nostálgico; e Biden, com sua aposta moderada no cansaço na agitação atualista que seu adversário republicano encarna e radicaliza, e a retomada da política em moldes liberais. Essa retomada é feita sem uma crítica efetiva ao modelo neoliberal abraçado pela cúpula do partido democrata. Uma aposta radical, como Sanders, teria se saído melhor? É difícil dizer, mas tudo leva a crer que não, tendo em vista o complicado xadrez do voto estado a estado.

A escolha entre as duas estratégias/concepções se mostrou muito mais difícil e apertada do que se imaginava. A tal “onda azul” anunciada por parte da imprensa estadunidense esteve longe de acontecer. De fato, Trump se mostrou eleitoralmente muito mais forte do que os analistas supunham. Considerando que esta não é a primeira vez que os institutos de pesquisa falharam em captar esse movimento no eleitorado americano, e considerando também que fenômeno semelhante ocorreu no Brasil em 2018, coloca-se a questão de saber se as tradicionais pesquisas de opinião tornaram-se de alguma forma obsoletas em um mundo atualista. Esse quadro muda pouco, mesmo com uma  eventual vitória de Biden ou pior, com uma inconveniente reeleição de Trump.

São vários fatores que devem ser considerados para avaliar essa questão. Os próprios institutos se apressaram a ensaiar algumas explicações ao público. O diretor da Trafalgar Group, Robert Cahaly, afirmou que muitos eleitores “esconderam”, como já havia acontecido, sua preferência por Trump por algum receio ou constrangimento social.[1] Não podemos desconsiderar algum tipo de boicote/sabotagem dos eleitores republicanos, já que na retórica do trumpismo as pesquisas de opinião fazem parte da mídia vendida. Outros recorreram à justificativa de que as pesquisas anteriores representavam apenas fotografias do momento específico em que as entrevistas foram feitas, e não o que se poderia esperar na eleição propriamente dita. Isso poderia ter sido de fato observado pela tendência de redução da vantagem de Biden nos últimos 15 dias. Afinal, o episódio da contaminação de Trump e sua rápida recuperação pode ter tido um saldo positivo, ao menos na mobilização de sua base, como já havíamos especulado em coluna anterior.

Aceite-se ou não essas justificativas, fato é que os institutos de pesquisa sairão dessas eleições com sua credibilidade e imagem pública mais arranhadas, sobretudo diante das especificidades do sistema eleitoral americano. Como afirmamos, muitos fatores concorrem para esse desgaste. Um deles está relacionado à condição atualista que caracteriza o nosso presente e como cada um dos candidatos se coloca frente a tal condição.

Trump é um político bastante sintonizado com o ambiente da comunicação atualista onde as provas dispensam comprovação factual. Seja nas redes sociais, seja em seus concorridos comícios, o presidente se revela um comunicador difícil de ser batido. Dentre os aspectos associados à condição atualista, destacamos a intensidade e velocidade sem precedentes do fluxo de notícias, em detrimento dos protocolos de verificação e checagem da informação veiculada. Esse ambiente infodêmico[2] é particularmente fértil para a produção de desinformação e sua disseminação como misinformação.[3] Além das informações imprecisas, para não dizer apenas falsas, que a infodemia trumpista ajuda a difundir, é preciso levar em consideração a agitação/ativação que produz. É como se a oposição se agitasse confusamente e a base trumpista se ativasse a cada um de seus comentários polêmicos. Assim, o uso constante das redes sociais para disseminar fake news ou comentários faz com que, seja de modo positivo ou negativo, o presidente esteja sempre no foco da mídia. O acúmulo de notícias sobre suas falas ou atos inconsequentes faz com que seja difícil recuperar qual foi o absurdo dito ou feito na semana anterior. Na condição atualista há um valor excepcional em estar mais atualizado (e exposto) que o seu adversário. 

Ainda assim, a manipulação das fake news como ferramenta política supõe uma linguagem organizada para se tornar eficaz. Essa afirmação pode soar chocante à primeira vista: como podemos atribuir coerência a um discurso fundamentado em desinformação e que frequentemente e sem o menor pudor afirma hoje o contrário do que disse ontem, como o exemplo do uso de máscaras na pandemia?[4] O ponto aqui é que a condição atualista coloca muitos obstáculos para que o passado, mesmo o mais recente, seja trazido à reflexão. Assim, quando confrontados com suas próprias contradições, políticos atualistas como Trump e Bolsonaro simplesmente atualizam suas narrativas e afirmações quando as anteriores se tornam insustentáveis. Com muita frequência, os seus discursos mudam em função da conveniência da atualidade, sem a mínima necessidade de se prestar conta da contradição com o que eles mesmos diziam no dia anterior.

Essa estrutura atualista do discurso político só se torna eficaz, porém, no interior de uma linguagem organizada e facilmente identificável pelo público que a compartilha, no interior de uma condição material de reorganização do mundo do trabalho e do capital. A crise de 2008, concentração de renda, neoliberalismo, capitalismo de vigilância e a formação do atual “precariado” são elementos, dentre outros, fundamentais para entender a emergência de líderes que governam e são eleitos por pequenas maiorias mobilizadas pela historicidade e ideologia atualista. Só assim podemos entender a força de Trump na eleição independente do resultado final, ainda que sua derrota  interesse a todos os democratas do mundo.

Trump lança mão de artifícios retóricos quando confrontado com suas afirmações evidentemente baseadas em mentiras e contradições, de tal maneira que ele consegue, mesmo em tais situações, transmitir e reforçar o código entre o seu público. O código se estrutura em uma lógica antagonista, na qual o portador é sempre vítima de perseguição por parte do establishment e da imprensa vendida para a “esquerda corrupta” ou as corporações globalistas.

O ponto principal a ser considerado é que para ser politicamente eficaz não é necessário que o código seja compartilhado por todos; mas que seja continuamente ativado junto aqueles que já o compartilham. Por mais que esteja sustentado em desinformações, o fato é que o código é bastante poderoso na ativação de afetos políticos centrais como o medo, ódio e ansiedade, vetores de forte engajamento e agitação política que Trump e Bolsonaro sabem tão bem promover.

O sucesso dessa estratégia se coaduna com a popularização das redes sociais e dos smartphones, bem como das novas tecnologias de processamento de dados manipulados para fins políticos. Nesse contexto, tornou-se possível criar e difundir mensagens sob medida para cada tipo de público, cada indivíduo ou grupo formula suas próprias percepções sobre o mundo a partir de narrativas (códigos) que não mais precisam ser expostos publicamente a todos para serem eficazes. Após alguns reconhecimentos iniciais, os algoritmos se encarregam de abastecer-nos das notícias que nos mobilizam, sempre com o mesmo teor e formato. Reforça-se, assim, o fenômeno das “bolhas”.[5] Esses códigos podem circular de forma subterrânea, de tal modo que o que parece absurdo e chocante para uns, é perfeitamente aceitável e normalizado para outros.

Esse ambiente de circulação de notícias e códigos é condizente com a ordem atualista de nosso tempo e, ao nosso ver, é um fator importante a ser considerado no desempenho surpreendente de Trump nestas eleições. E um dos preços a se pagar para tal sucesso é a radicalização do clima de agitação que tem marcado a nossa época. Esse quadro tem resultado inclusive em distúrbios psicológicos cada vez mais comuns, como o “transtorno do estresse eleitoral”, que segundo estimativas afeta sete em cada dez cidadãos estadunidenses.[6]

Os políticos atualistas claramente não se importam em pagar esse preço, na verdade eles têm lucrado com isso. Mas, ao fim e ao cabo, eles não podem evitar completamente os efeitos colaterais de suas apostas. Agitação e dispersão geram também cansaço no eleitorado. Biden e os democratas tomaram esse efeito como vetor de suas estratégias para estas eleições. Frente à irrefreável agitação de Trump, Biden se vendeu como a opção mais “centrista”, de moderação e convergência. A divergência entre as duas estratégias foi mais uma vez demonstrada logo após o fechamento da votação: enquanto Trump se apressou em declarar-se vencedor e dizer que irá judicializar a eleição em caso de derrota, Biden classificou tal postura como “ultrajante” e pregou calma aos seus apoiadores[7].

Mesmo que a vitória do democrata seja confirmada, é inegável que o preço desse lance foi bastante alto. A imprensa americana noticiou como parcelas importantes do eleitorado negro, que o próprio Biden afirmou ser “a chave para a vitória”, relataram estarem pouco motivados a votarem no candidato democrata.[8] O mesmo ocorreu entre parte do eleitorado hispânico, em especial na Flórida e no Texas. O conservadorismo nos costumes, a adesão a denominações evangélicas que tem crescido entre hispânicos e a tradição anticomunista dos cubanos, e agora também venezuelanos, na Flórida, são fenômenos a serem considerados. Enquanto fechamos essa coluna Trump ainda lidera na Pensilvânia, estado no qual o operariado branco migrou dos democratas para o trumpismo. No último debate, Biden acabou por reconhecer que teria que acabar com a exploração do altamente poluente gás de xisto, o que foi imediatamente explorado por Trump: “Eis uma declaração importante”, ironizou o presidente. Caso perca por margem apertada na Pensilvânia, onde os trabalhadores dessa indústria são amplamente sensíveis ao tema, talvez essa declaração tenha custado a eleição.

Para entender melhor essas flutuações teríamos que fazer algo pouco praticado durante a campanha, uma avaliação retrospectiva fundada em boa informação acerca das políticas públicas implementadas por democratas e republicanos, em especial nos governos Obama e Trump. O apoio ao republicano não é apenas resultado da mágica da comunicação, deriva também da tibieza das políticas democratas e dos acertos de Trump. Reforma do sistema criminal, política externa menos intervencionista, foco na economia e na criação de empregos, com bons resultados, ao menos até a pandemia.

A decisão das eleições primárias do Partido Democrata em nomear um candidato “centrista” para concorrer nessas eleições – ao contrário de uma opção mais radical do populismo de esquerda como Bernie Sanders – foi importante para unificar o partido (em especial o seu establishment) e angariar o apoio do eleitorado “cansado” da agitação radicalizada. Por outro lado, a figura moderada de Biden não se mostrou capaz de promover um grau de engajamento e mobilização do público à altura do seu adversário agitador, nem está claro ainda se seu discurso de união nacional conseguiu atrair eleitores de Trump. Essa diferença é importante em um contexto onde o voto não é obrigatório e, no caso particular das eleições deste ano, ainda mais desencorajado pela pandemia do coronavírus.

Mesmo assim, a moderação pode ter sido eficaz para para derrotar a agitação, mas não para desativá-la. E ainda não podemos assegurar como os EUA sairá dessas eleições, pois Trump continua sendo quem é. Há ainda o risco de o agitador perder e não aceitar sair, e as consequências disso poderão ser catastróficas. E mesmo que ele saia, o trumpismo – o negacionismo, o anti-esquerdismo, o desejo de retorno a um passado glorioso e mítico – ainda permanecerá em parcelas consideráveis da população.

O que tudo isso ensina para o campo democrático brasileiro, que tem de enfrentar a sua própria versão de agitador atualista? Desde o início da votação nos EUA, Bolsonaro disparou freneticamente uma série de tweets ressoando as alegações infundadas de seu ídolo sobre as eleições serem “fraudadas” a favor dos democratas, o que seria um risco para a “liberdade” e para o Brasil. Afinal, nosso agitador atualista tupiniquim sabe bem que a permanência de Trump é uma força de sustentação fundamental para ele. As relações entre EUA e Brasil deixaram de ser uma relação entre Estados, mas sim uma relação de “amizade” (leia-se emulação e, do nosso ponto de vista, subserviência) entre os chefes de turno da Casa Branca e do Palácio do Planalto.

Assim, e seguindo o estilo atualista de fazer política, Bolsonaro ressoa as afirmações sem fundamento de Trump, sem se preocupar com a veracidade e desprezando o princípio diplomático básico da impessoalidade. Mas Bolsonaro também tem seu próprio código “alternativo”, cujo enfrentamento é a tarefa prioritária das forças democráticas no Brasil, que deverá avaliar e tomar suas próprias escolhas para vencer o confronto. Assim como o trumpismo, nos Estados Unidos, o bolsonarismo é um fenômeno que não necessariamente depende da permanência de Bolsonaro no poder: ele mobiliza parcelas consideráveis da população através de seus discursos, que defendem o conservadorismo nos costumes, o liberalismo na economia, a luta contra “o sistema”, a religião e a admiração pelo militarismo.

Será que a aposta moderada e centrista será suficiente para derrotar o bolsonarismo aqui? Mesmo que por pouco? Ou, em nosso contexto particular, faz-se necessário redobrar a aposta na radicalização pela via da esquerda? Mesmo que a vitória de Biden seja confirmada, ainda não está claro qual das duas vias parece a mais indicada para o Brasil. Enfim, tudo indica um destino trágico da democracia liberal de “pequenas maiorias” em tempos de agitação atualista. Sem negar a nossa atual realidade, cabe a nós pensar e imaginar alternativas, por mais difícil que pareça ser em nosso atual nevoeiro e impregnados por uma sensação de asfixia. Além disso, a lentidão com que a apuração avança em alguns estados decisivos promete nos deixar hipnotizados pelos mapas eleitorais na expectativa da atualização decisiva.

(*) Mateus Pereira e Valdei Araujo escreveram o Almanaque da Covid-19: 150 dias para não esquecer ou o encontro do presidente fake e um vírus real com Mayra Marques. Ambos são professores de História na Universidade Federal de Ouro Preto, em Mariana (MG). Também são autores do livro Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI e organizadores de Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro, com Bruna Klem. Walderez Ramalho é doutorando em História na mesma instituição. Agradecemos à Márcia Motta e ao grupo Proprietas pelo apoio e interlocução nesse projeto.


[1] https://noticias.uol.com.br/colunas/thais-oyama/2020/11/04/o-eleitor-oculto-de-trump-e-o-novo-erro-dos-institutos-de-pesquisa.htm

[2] PEREIRA, Mateus; MARQUES, Mayra; ARAUJO, Valdei. Almanaque da COVID-19: 150 dias para não esquecer, ou a história do encontro entre um presidente fake e um vírus real. Vitória: Editora Milfontes, 2020.

[3] Usamos aqui um neologismo para dar conta da diferença que em inglês é mais clara entre a produção deliberada de notícias falsas (disinformation) e sua disseminação involuntária (misinformation).

[4] https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/07/20/trump-muda-discurso-e-agora-diz-que-usar-mascara-e-patriotico.htm

[5] EMPOLI, Giuliano Da. Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algorítimos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. São Paulo: Vestígio, 2019.

[6] https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/10/quase-sete-em-cada-dez-americanos-relatam-transtorno-do-estresse-eleitoral.shtml

[7] https://br.noticias.yahoo.com/em-pronunciamentos-biden-prega-calma-e-trump-faz-acusacao-de-roubo-065922289.html

[8] https://www.aljazeera.com/news/2020/9/12/biden-battles-trump-lack-of-enthusiasm-among-black-voters

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Feminismo

Que tal ajudar Mariana Ferrer a obter Justiça?

Não basta lacrar. Um chamamento a todas as feministas e a todas as mulheres para que enfrentemos a misoginia dos tribunais brasileiros

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Mariana Ferrer chora durante julgamento em que foi humilhada o ofendida

A reportagem do Intercept Brasil sobre a denúncia de estupro da influencer Mariana Ferrer tornou-se viral nas redes. Sob o título JULGAMENTO DE INFLUENCER MARIANA FERRER TERMINA COM SENTENÇA INÉDITA DE ‘ESTUPRO CULPOSO’ E ADVOGADO HUMILHANDO JOVEM, o texto da repórter Schirlei Alves serviu de base para milhares e milhares de postagens sobre a excrescência jurídica que teria embasado a absolvição do empresário André de Camargo Aranha. Até as 15h30 de ontem (4/11), o Google devolvia 781.000 resultados, quando se procurava pela expressão “estupro culposo”. Memes, charges, textões e textinhos foram produzidos em escala industrial para provar que um estuprador havia conseguido sentença absolutória graças a uma invencionice jurídica obrada pela Justiça, com vistas a proteger um macho branco, amigo de poderosos e, ele mesmo, “filho do advogado Luiz de Camargo Aranha Neto, que já representou a rede Globo em processos judiciais”, segundo a reportagem do Intercept.

Lida toda a sentença de 51 páginas do juiz do caso, Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, entretanto, constata-se que, em nenhum momento da sentença é dito que houve “estupro culposo” contra a jovem. Ao contrário, é dito que não existe essa tipificação e que o estupro é necessariamente doloso. Portanto, está errada a formulação do título do Intercept Brasil.

Está tão errada que o próprio site The Intercept Brasil foi obrigado, às 21h54, nada menos do que 19 horas e 50 minutos depois de publicada a história, a fazer uma “atualização” que diz assim:

“A expressão ‘estupro culposo’ foi usada pelo Intercept para resumir o caso e explicá-lo para o público leigo. O artíficio é usual ao jornalismo. Em nenhum momento o Intercept declarou que a expressão foi usada no processo.”

O Intercept faz como a música de Tom Zé: “Eu tô te explicando pra te confundir. Eu tô te confundindo pra te esclarecer.” Uma explicação que confunde. E, sim, o Intercept disse que a sentença inédita baseou-se no “estupro culposo”.

É só ler o título indigitado de novo:

JULGAMENTO DE INFLUENCER MARIANA FERRER TERMINA COM SENTENÇA INÉDITA DE ‘ESTUPRO CULPOSO’ E ADVOGADO HUMILHANDO JOVEM

Com as redes ajudando a espalhar a bobagem, todo mundo louco atrás de cliques, de “bombar”, da lacração, poucos deram-se ao trabalho de ler a sentença que, sim, absolveu o réu André de Camargo Aranha por “falta de provas”.

Uma pena.

Se, em vez da lacração, tivessem mirado no fato em si da absolvição do crime de estupro “por falta de provas”, talvez tivessem ajudado muito mais. Sabe-se que a cada 8 minutos uma mulher ou menina é estuprada no Brasil. Mas a maior parte desses crimes jamais será nem sequer investigada pela falta de indícios e elementos probatórios, já que ocorrem escondidos e, preferencialmente, sem testemunhas.

Mariana Ferrer, diz a sentença, não conseguiu provar a acusação que fez contra André de Camargo Aranha. Será? Está na sentença que o exame toxicológico não apontou o consumo de substâncias estupefacientes, como seria de se esperar se ela tivesse ingerido involuntariamente alguma droga do tipo “Boa Noite Cinderela”. A maioria das testemunhas ouvidas, várias mulheres inclusive, disse que a vítima não cambaleava e que não parecia dopada. As câmeras internas do Café de la Musique, onde teria ocorrido o estupro, mostram Mariana Ferrer subindo para um camarote e descendo, seis minutos depois, sem necessidade de ajuda (e de salto!!!!, como faz questão de ressaltar a sentença). Teria transcorrido nesses seis minutos o crime de estupro, de que Mariana Ferrer não tem memória.

Mas Mariana Ferrer diz ter inúmeras provas irrefutáveis do estupro e que nem sequer foram levadas em consideração pelo julgador.

E, no entanto, todas as mulheres sabem da dificuldade de “provar” a violência sexual, quando ela ocorre entre quatro paredes, sem testemunhas. Mariana Ferrer não seria exceção. Nos trechos da vídeo-conferência que foi o julgamento, assombra a solidão da menina que denuncia, vítima de outros homens violentos, que a acusam de ser (ela sim), um monstro querendo prejudicar a reputação de um “pobre milionário”.

Como sempre acontece, a vítima deixa de ser vítima para se transformar no monstro sensual e ardiloso que precisa ser contido. A qualquer custo.

A verdade é que Mariana Ferrer estava sozinha.

Desde o dia em que alega ter sido estuprada (15/dezembro/2018), Mariana Ferrer tem pedido ajuda pelas redes sociais e tem narrado todo o sofrimento e a depressão que a assolam em decorrência do fato.

Quem foi ajudá-la a reunir provas? Quem foi ajudá-la a colher testemunhos que aumentassem a credibilidade de sua acusação? Quem foi ao Café de la Musique, onde ocorreram os fatos julgados, procurar indícios de que ali funcionaria um “abatedouro” de meninas destinadas ao gozo masturbatório de machos alfa? Quem?

Ou achamos razoável condenar alguém sem elementos probatórios que apoiem a denúncia?

Não, não é razoável.

Apenas a voz da vítima não pode embasar uma condenação. E quem defende isso precisa saber que abdicar de provas é apenas a reedição do velho punitivismo, é vingança. Não é Justiça. Pior, resultará na condenação sem provas dos mesmos criminalizados de sempre: os pretos, pobres e periféricos.

A única forma de evitar a perpetuação desse ciclo perverso requer de nós nós, feministas, que encaremos o estupro, cada estupro, como um problema nosso!

Temos de ajudar as vítimas a robustecer as provas da violência que sofreram. Temos de afrontar a Justiça machista, exigindo a presença de mulheres no julgamento. Tem de ser um trabalho nosso enfrentar a misoginia cuspida e escarrada de gente como Cláudio Gastão da Rosa Filho, o advogado de defesa de André de Camargo Aranha, que humilhou e ofendeu Mariana Ferrer enquanto exibia fotos dela que nada tinham a ver com o processo! Que nenhuma mulher mais tenha de enfrentar um julgamento de estupro apenas diante de homens, na solidão absoluta, como acontecia com as antigas feiticeiras.

Temos de incentivar a solidariedade entre nós, mulheres, para que acolhamos as vítimas, em vez de fingir que se trata de um problema só delas. Não há mulher ou menina que não tenha sido atacada ao menos uma vez em sua vida pela violência sexual. E nós sabemos disso em nossos próprios corpos!

É o pai, é o tio, é o avô, é o tarado que mostra o pinto para a adolescente, é o abusador que se acha no direito de ejacular na mulher dentro do trem lotado…

Temos de organizar o “Socorro Feminista”, para apoiar as mulheres que decidem denunciar a violência sexual.

Os tribunais brasileiros são câmaras de tortura contra mulheres, negros, indígenas e pobres em geral. As cenas de humilhação de Mariana Ferrer não são, infelizmente, exceções. São a regra.

É preciso atuar sobre esse front.

Então, precisamos entender que não se trata de um problema privado de Mariana Ferrer o desenlace de sua denúncia. É de todas nós!

Lembro da França, em 1971, quando uma mulher foi presa e julgada pelo crime de aborto, na época punível com a pena de morte pela guilhotina!

Em vez de “solidariedades”, textões de repúdio, e essas lacrações inúteis, 343 mulheres, entre elas as atrizes Catherine Deneuve e Jeanne Moreau, assinaram o manifesto escrito por Simone de Beauvoir, e assumindo que haviam feito, elas também, um aborto. A força desse texto e a coragem das signatárias empolgaram intelectuais como Françoise Sagan e Annie Leclerc, jornalistas conhecidas, de muitas feministas, a começar por Antoinette Fouque, da advogada Gisèle Halimi ou ainda da deputada socialista Yvette Roudy. Todas declararam ter realizado um aborto, como forma de quebrar o tabu de uma injustiça social.

A Justiça no Brasil é machista, é racista e é classista. Só incidindo juntas sobre ela será possível mudar esse regramento que sempre condena a vítima e libera o agressor.

Mariana Ferrer deve recorrer da sentença em primeira instância. Agora, é organizar a luta para mudar o rumo da História. Quem se dispõe?

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