Doeu ouvir tanta gente lembrar com nostalgia do restaurante que ficava sob as sombras das mangueiras de Bento Rodrigues. Doeu ouvir tanta gente falar de um lugar que não existe mais e que talvez nunca mais volte a existir. Foi assim durante toda esta sexta-feira: uma dor profunda nos olhos de todos que subiram e desceram as ladeiras de chão batido dos distritos que ficam ao norte do centro de Mariana, primeira capital de Minas Gerais.
Foto: Bruno Bou
Minas Gerais…. parece que, nesta semana, até o nome deste estado dói um pouco. Afinal, é mais uma vez ela, a mina, ou a mineração, o sonho de riqueza de uns poucos, o motivo de choro de tantos mais. Nunca saberemos quantos escravos, desde os tempos de um Brasil remoto, morreram para fazer o ouro brotar desta terra e enriquecer outras mais. Tantos séculos depois, queremos é saber, desta vez, quantos morreram para fazer minério de ferro virar fortuna para uns poucos por aqui. Pouco mais de um dia depois da tragédia, queremos entender muito mais.
Por que a barragem de rejeitos rompeu? Por que não havia buscas por sobreviventes por terra em Bento Rodrigues, apenas pelo ar? Se outros animais resistiram sob a lama, por que humanos não poderiam ser encontrados também? Alguma outra barragem corre risco de se romper aqui em Mariana, como teme a população de diversos distritos, como o povo de Santa Rita Durão? Por que uma barragem maior ficava acima de um barragem menor, ao contrário da lógica? Elas estavam supercarregadas, como dizem alguns moradores? Havia obras de ampliação da barragem em andamento, como dizem alguns moradores? Elas podem ter causado a tragédia? Como uma barragem pode se romper num período de extensa estiagem? Por que havia duas barragens sobre as cabeças de uma comunidade inteira? Como as mineradoras e, especialmente, a Samarco, se relacionam com os moradores da região, afinal? Quais órgãos públicos vão se corresponsabilizar pela tragédia? Poucas destas respostas começaram a ser respondidas nesta sexta-feira.