Por Joana Brasileiro | Jornalistas Livres
O traço mais ousado e no limite da expressão arte/loucura é o da Mariza Dias.
Infelizmente nos despedimos dela no dia de hoje, ela morreu ontem, dia 28.03 depois de um mal súbito.
Nos anos 90 na Folha a sua presença era a mais interessante. Perturbando a lógica yuppie e passando como uma nuvem de sentimentos e ambiguidades, desfazia a ordem vigente.
Lembro-me de ela entrar pela Redação fazendo um barulho, como um miado de gato assustado, bem alto, que nos tirava daquele torpor de fechamento, e que me fazia rir muito.
Era um tempo em que havia pranchetas no centro da Redação, preenchidas por gênios como Mariza, do desenho, da caricatura e que me enchiam de orgulho, pois eu pertencia à ARTE.
A ARTE era um pedaço muito especial do fazer jornal, por onde tudo passava de alguma maneira. Como eu era uma reles diagramadora (não existia essa coisa de design ainda…), tinha que trafegar em todos os lados, mas aí eu dava uma paradinha para bater um papo rápido com um destes lindos, lindas e inspiradores desenhistas, que guardo em minha memória como personagens feitos dos seus próprios traços.
Mariza muitas vezes se materializou ali assim, como seus próprios desenhos, e mudando qualquer estilo e padrão possível, preenchia nosso vazio com seu traço único e autêntico, manchados e aquarelados de magia. Ela percorreu do Pasquim à Folha ilustrando os textos de personalidades como Paulo Francis e Contardo Calligaris.
Mas assim como as pranchetas foram sumindo e sendo substituídas, por scanners e computadores, tornando a aquele espaço menos criativo, e mais infográfico, a arte foi perdendo o espaço, na Folha e na imprensa de um modo geral.
Ainda reverbera nos meus ouvidos a frase:– Ilustração esfria, tem que ter uma foto. Cadê a foto?
Naquele espaço que não havia mais, era muito difícil A ARTE SOBREVIVER. Mariza rodou a Redação durante anos, vendendo seus originais e suas artes, por 20 reais, ou o que você pudesse oferecer. Tenho dois lindos Peixes, ela sabia que eu amo peixes, que ela me trouxe sabendo que eu não iria resistir. Muitos olhavam torto, difícil é estar neste lugar.
A pessoa que mais ajudou e batalhou pelo reconhecimento da Marisa, além de cuidar dela como um irmão, amigo e às vezes um pai foi o Orlando Pedroso. Além da admiração e respeito, ele nunca quis enquadrá-la em numa caixinha, ele sempre respeitou a sua natureza. Por que até o vazio no entorno, ou na profundidade da Mariza, foram sempre um amparo para a explosão de ARTE e COR que saía do seu coração e da sua alma.
;( Saudades, minhas e em nome dos Jornalistas Livres
Uma resposta
Muito Obrigada pela homenagem! Ela merece muito!