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Marielle vive

Marielle está aqui

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por Kátia Passos e Anderson Moraes

Em meio a todos os resultados das eleições onde temos o Coiso vencendo em 17 estados no 1o turno, Alexandre Frota, Major Olímpio, Janaína Paschoal, Kim Kataguiri, Eduardo Bolsonaro e tantos outros personagens da extrema direita conservadora eleitos, um acalento, uma felicidade gigantesca também está presente nos resultados das apurações das urnas, Marielle realmente virou semente: teremos diversas candidaturas negras, que eleitas com suas existências e resistências ocuparão os espaços de parlamentos pelo país.

Vai ter sim! Talíria Petrone (PSOL-RJ), vereadora de Niterói professora, militante LGBTI, nona deputada federal mais votada no RJ.

Vai ter sim, Erica Malunguinho (PSOL-SP), negra, trans, do quilombo Aparelha Luzia, como deputada estadual.

Vai ter sim, Erika Hilton, gerontóloga pela UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), foi eleita como membra da bancada ativista do PSOL em São Paulo. Ao lado de nove pessoas, pretende fomentar o debate do preconceito de gênero.

Vai ter sim! Áurea Carolina (PSOL-MG), deputada federal, socióloga a mais votada em MG.
Vai ter sim! a Andreia de Jesus (PSOL-MG), como deputada estadual.

E não acabou.

As experientes Leci Brandão (PCdoB – SP), deputada estadual e Benedita da Silva (PT-RJ), deputada federal foram reeleitas. Elas são as comandantes das lutas em defesa do povo de Candomblé, no caso de Leci, e Benê que fala todo dia de representatividade da mulher negra na Câmara Federal.

E Marielle Vive!

Vive e revive com todas as eleitas. Mônica Francisco e Renata Souza e Dani Monteiro, mulheres negras que trabalhavam com Marielle e que em 2019, ocuparão a ALERJ, como deputadas estaduais.

E verdade seja dita, o racismo nosso de cada dia, doa a quem doer, fez com que até os próprios partidos desacreditassem das corajosas candidaturas. Tem gente espantada com os resultados nesses partidos, mas essas pessoas sempre estiveram aqui, entre a gente, precisou que uma candidatura caótica fosse instalada com Bolsonaro para que as coisas começassem a mudar. É início, mas é vitória, e é uma vitória para o país debater a história de 354 anos de escravidão, e outros 20 de Ditadura.

Fundo partidário perto de zero e estrutura pífia, foi o que mais se viu nessa curta campanha, mas para os negros, isso foi elevado à terceira potência, segundo o desabafo de muitos deles, que encontramos nas ruas fazendo campanha com a ajuda de amigos, família e colocando à mostra toda a capacidade do povo negro de fazer um diálogo sobre a realidade da vida com o povo que sofre, que trabalha e que não vive sob a tutela de privilégios.

Uma leitura é necessária: quando os partidos ignoraram essa oportunidade, mantendo seu velho e cansado jeito de fazer política, perderam a chance de reaprender na raça, como fazer a reaproximação com suas bases, com movimentos sociais e populares. E não adianta agora, depois de passado o perrengue de fazer campanha a trancos e barrancos, mas com muita criatividade, amor e organicidade, dirigentes partidários tentarem se aproximar dessas pessoas negras eleitas.

Isso seria, no mínimo, hipócrita. Aquele partido, ou o outro deveria se curvar a essas pessoas e absorver humildade, além de se esforçar para de uma vez por todas, entender que a construção de uma eficaz frente que explique os efeitos drásticos que o Coiso poderá causar na vida das pessoas, fato que só é possível de ser feito com a maioria da população, ou seja, no Brasil, com negros, indígenas.

Ainda assim, há tempo.

Só que não dá mais para aguardar a hora de parar de teorizar Democracia e Fascismo. Está na hora de agir, de estabelecer ações concretas que mostrem o que Bolsonaro, de fato, trará (se eleito) para a vida dos negros pobres.

Não se pode cometer o erro de ficar até os 45 minutos do segundo tempo, como foi no período passado, permanecer se afogando, morrendo e gritando: NÃO VAI TER GOLPE e depois, FORA TEMER. Essas manifestações podem ter sido aprendizados interessantes para uma parcela da população, uma maioria composta de pessoas privilegiadas, que, de dentro de suas bolhas confortáveis dos bairros de classe média, se declaram como “de esquerda” e defensoras de Direitos Humanos.

Tomara que essa massa tenha percebido, que desde os tempos dessas palavras de ordem, a grande massa negra, pobre e periférica pouca unidade fez. E não fez, pois não se sentiu identificada com os privilegiados, que na volta para casa, saindo das manifestações, não são abordados de maneira vexatória pela polícia. Já os negros, agora sim, poderão ter sua representatividade na prática, nos parlamentos, como nunca se viu na história do Brasil. É um começo, mas é uma guinada negra muito linda e revolucionária para o país.

Preta-Rara (arquivo pessoal)

Nas redes sociais, vimos algumas manifestações emocionadas sobre o resultado das eleições, uma delas é a da rapper e MC, Preta-Rara que caminhou ao lado de diversas candidaturas negras nesse tempo curto de campanha. Sobre Erica Malunguinho, Preta escreve:

“O povo preto elegeu minha amiga, Erica Malunguinho que o próprio partido dela, o PSOL desacreditou que seria possível.
Para candidata branca a verba foi megainvestimento pra fazer campanha.
Pra nóix foi uma mixaria, pq aqui no Brasil sempre escutei que se ganha política c o megainvestimento na campanha.
Sendo assim, chupa PSOL e não retiro a minha palavra de falar que a esquerda também é Racista.
Mais o nosso modo de organização é milenar, a sagacidade é ancestral e a vontade de vencer é inenarrável.
Agora vcs entendem a nossa força, querida esquerda?
A semente de Marielle germinou e cresceu fruta preta da existência à resistência.
Agora o que sobra pra vcs e sair da porta, pq nosso bonde vai passar, ficar e permanecer até que as reparações históricas sejam de fato reparadas.
Pq a coisa ainda ficará preta de ponta a ponta, pq nosso levante bem de peso e cada dia mais, estamos mais preparados pra ocupar nosso espaço de fato. E fica a lição aí pra esquerda brasileira que adora usar corpos pretos de chaveirinho pro seu discurso falido sem prática e nem vivência.
Lidem e melhorem pois o quilombo está em festa e não tem hora pra acabar ✊🏿✊🏿
Preta-Rara”

Marcelo Rocha (arquivo pessoal)

Para Marcelo Rocha (PSOL-SP) que foi pré-candidato a deputado estadual em São Paulo, as candidaturas negras eleitas já trazem uma surpresa partidária importante para os parlamentos:

“É uma surpresa para as estruturas partidárias que já causa uma espécie de embate inicial: esse novo cenário de negros na política já inicia o fim da lógica da maioria de homens brancos de universidades públicas nos parlamentos. Isso dá o poder para o cara que é líder popular ser mais que um puxador de votos, ser um legislador e, com isso, estamos vendo o desejo das pessoas, de termos candidaturas negras. Assim, a partir do momento que os partidos reconhecerem isso, os negros passarão a ser os mais votados.
Outra mudança que acontece em 2019, é a do confronto estético, que mostrará aos parlamentos a verdadeira representatividade do povo brasileiro. Essa circulação de negros nos parlamentos, por si só, já transformará a política que até agora está abastada de discursos racistas e homofóbicos, que no próximo ano, se continuarem a existir, não passarão impunes. O tão verbalizado “decoro parlamentar” terá de ser aplicado e todos esses anos de dominação branca e machista nos parlamentos serão cobrados, é a dívida.
Marcelo Rocha”

Nesse ano, temos que aplicar um olhar especial para o índice de abstenções: 20,33%. É necessário pensar sobre o problema da falta de representatividade que poderia ter diminuição drástica, com mais candidaturas negras valorizadas pelos partidos.

Uma coisa é fato: nenhum parlamento será como antes. Os que ainda não passarão em 2019, por esses “confrontos estéticos” citados por Marcelo Rocha, não escaparão da mudança em 2020.

Por isso, conclamamos Baobá, por uma história de resistência preta e assim, queremos deixar uma mensagem para as corajosas candidaturas negras e para o povo brasileiro que elegeu essas pessoas.

Até o cair da última folha e enquanto a raiz resistir com seus frutos mesmo que secos, a árvore existirá e transbordará vida e vamos tentar entender o porquê continuar a lutar e resistir nesse Brasil que pode caminhar para o fascismo. Falar de resistência é lembrar do velho Baobá.
Uma árvore que veio da África e que já na primeira vista, encanta pela grandiosidade, que vai para além de sua copa, tem cheiro de ancestralidade.

As lendas em torno do Baobá trazem a força da resistência, a história de uma comunidade originária do orgulho de quem sempre lutou pela sobrevivência em terra de Brasil às vezes com “Z”.

A raiz desta lendária e forte árvore tinha aos seus pés (raiz) Grios que sabidamente sentavam ao chão com olhos de esperança e força nas palavras, para assim transmitirem o que Xangô, ensinava com sua força e sabedoria.

O individualismo é algo inventado pela branquitude, já na África se aprende a lutar coletivamente.

Por isso, nesse segundo turno, não podemos votar apenas por ideologias, e sim por nossas ancestralidades e comunhão com a raiz de um povo que nasce da benção, da reza, da cura, do canto, do tambor e da vida.

A nossa luta passa por Xangô e seu Oxé que juntamente com sua companheira Iansã, a primeira a surgir nas cerimônias, lutam juntos, por justiça.

Nada pode tocar quem tem o corpo fechado pela fé e a raiz de uma história preta de vivência secular. Esse é o povo brasileiro.

Que venha dia 28 de Outubro! Marielle está aqui!

Feminicídio

MARIELLE FRANCO, 41 ANOS DEMOLINDO AS VELHAS ESTRUTURAS

Marielle Franco, 41 anos. Dois jornalistas livres constróem e narram o que ela representa para o mundo

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Marielle Franco, 41 anos

Lembro-me que, naquele 14 de março de 2018, eu estava em um trabalho na Bahia, quando soube do assassinato de Marielle Franco. Era também, a data de meu aniversário. Cercada de amigos num restaurante, o mundo literalmente parou. Eu não havia conhecido Marielle pessoalmente, mas já acompanhava a sua atuação política e comunitária, mesmo antes de ser vereadora. Não acreditei que aquilo pudesse ter acontecido. Aliás, em época de fake news, eu achei que aquela era mais uma, e devido às minhas vivências profissionais com diversos parlamentares, no meu imagético mundo, a tal da imunidade parlamentar era como se fosse uma grande muralha impenetrável a qualquer tempestade. Marielle Franco faria 41 anos hoje.

Por Matheus Alves e Katia Passos

Amanhecer

É óbvio que eu já havia me deparado com histórias de execuções de prefeitos, por exemplo, de pequenas cidades, mas pensar que uma vereadora legitimamente eleita havia sido morta no Rio de Janeiro, era algo absurdo e inadmissível para mim. Mais inaceitável ficava, ainda quando eu lembrava do rosto de Marielle Franco, que era, entre outras parlamentares, uma das minhas referências no modo de atuar politicamente, como mulher preta. A comida e a bebida já não desceram mais. Lembro-me que saí do restaurante e o Pelourinho estava metaforicamente silencioso para mim. Havia aquela movimentação com xêro de Pelourinho, mas pairava no ar um clima absorto de indignação e medo. Caminhando por ali, encontrei outros amigos e sentamos num bar. Nossos corpos sentiam uma exaustão que não era fruto do calor bahiano e logo entendemos que era dor. 

Ali as nossas fichas começaram literalmente a cair. Aguardávamos Marielle para o dia seguinte participar de uma das atividades nas quais eu trabalharia como jornalista. Ela não viria. Recordo agora que choramos na mesa e não conseguimos mais tirar os olhos das telas dos celulares e queríamos ir embora para o Rio de Janeiro. 

O amanhecer foi absurdamente horrível. Lembro que acordei com uma pressão no peito. Liguei para casa. Chorei. 

Marielle Franco 41 anos

Katia Passos (à dir.) com os pais e irmã de Marielle Franco

Foto: Arquivo pessoal de Katia Passos
Marielle Franco 41 anos.
Katia Passos (à dir.) com os pais e irmã de Marielle Franco
Foto: Arquivo pessoal de Katia Passos

Um ato público já estava organizado em protesto ao assassinato de Marielle e seu motorista Anderson Gomes. Durante a manifestação lembro-me que eu tentava fazer uma transmissão ao vivo, e num momento choroso encontrei Marcelo Rocha, um jovem fotógrafo negro, de amizade íntima e longeva. Nos abraçamos e caminhamos. Um silêncio, alías o único som era da terra dos campos da Universidade Federal da Bahia, onde acontecia a manifestação.  

Sabíamos que aquele 14 de março não era só mais um dia para comemorar aniversário, sentimos que a data trazia um limítrofe com giz preto riscado no chão, sobre o que não iríamos mais tolerar e qual legado queríamos imortalizar. Entendemos ali o sentido da frase: “não serei interrompida!”.

Depois de mais de 2 anos sem respostas sobre quem mandou matá-la, hoje chegamos vivos, eu e Matheus e muitos outros pretos, ao 27 de julho de 2020, data dos 41 anos de Marielle. Sim, porque para nós, Marielle Franco permanece em legado e semente representando obviamente um verdadeiro incômodo à Casa Grande, milicianos e racistas. 

Mãe

Dessa trajetória surgiram centenas de milhares de novas mulheres negras que se reconhecem como parte de uma estrutura que tem como engrenagem os seus próprios corpos e esses precisam se movimentar, como diz a mestra Angela Davis, para que toda uma estrutura se movimente, evolua e por nossa sobrevivência, que seja inclusive demolida e novas construções defendam uma das trajetórias mais ricas em poderio político, humanitário e afetuoso já vista na história de uma mulher preta, altiva e de tom permanentemente voraz em sua militância. E por falar em afeto, nesses 41 anos nós negras e negros amanhecemos literalmente afetados com a declaração daquela que pariu Mari, D. Marinete Silva:

“Vinte e sete de julho de 1979! Era uma sexta de sol lindo com desenhos infinitos e desordenados, nem parecia inverno. A criança que veio ao mundo, tinha peso e tamanho de menino. A mãe feliz, segura, e tomada de confiança em Maria, sua intercessora, sua mãe Filó, que chegara de João Pessoa para acompanhar o nascimento da criança. A partir daquele dia nunca mais me senti sozinha, começava ali uma missão de doação, entrega e amor eterno com aquele ser indefeso e frágil que nos remete a pensar em você como prioridade para nada no mundo. Chegava sua melhor, amiga, companheira, guerreira, irradiando luz, esperança e um futuro brilhante para sua trajetória.

Marielle Franco 41 anos

D. Marinete e Marielle recém nascida

Foto: arquivo das redes sociais da família de Marielle Franco
D. Marinete e Marielle recém nascida
Foto: arquivo das redes sociais da família de Marielle Franco

Foram 38 anos de luta, sacrifícios, dedicação e amor infinito. Formei caráter, personalidade e principalmente o respeito ao sagrado. Cumpri minha missão de mãe e devolvi minha filha para Deus, precocemente, sem entender o porquê! Acreditando em sua misericórdia de pai que nunca me desamparou e sem perder minha fé. Só o senhor mudaria minha história e a da Marielle. A justiça dos homens pode não chegar, a sua jamais falhará e nessa eu acredito. O céu está em festa. Que toquem as trombetas da eternidade por nos dar de presente seus 38 anos de existência.” 

Descobrir 

Conheci Marielle bem de perto em dois eventos onde estive no Rio de Janeiro. Eu não era, de fato, um jovem próximo da vereadora, apesar de termos sido formalmente apresentados um ao outro. Mas desde quando a conheci, nunca mais acordei igual. Descobertas, um novo desperta.  Tornei-me um jovem preto mais esperançoso com a vida e avançado na consciência sobre meu real papel no país. 

Sou um contrariador das estatísticas, e embora vivo, estou há dois anos angustiado lutando diariamente para que seja respondida a pergunta sobre os mandantes do crime. E mesmo não possuindo provas jurídicas sobre os assassinos, é muito claro que para nós, militantes do campo progressista, a sensação das conexões do assassinato com determinados personagens, esteja presente e por isso somos afetados por resistência e angústia ao mesmo tempo, desde o 14 de março de 2018. E isso piora quando somos apresentados a fatos supostamente ligados ao crime, veiculados pela mídia tradicional. Alternâncias intrigantes entre angústia, ardor no peito e resistência. 

Hoje amanheci lembrando do sorriso e da firmeza das palavras da vereadora, que como diz Jorge Mautner, em canção que leva seu nome, “é uma força furiosa” . 

Quando verbalizam “Marielle Franco”, logo vem à cabeça a sensação de exemplo, de coletivo, dá vontade de sorrir e de abraçar alguém. Seu nome remete a muitas coisas, dentre elas o amor à causa, seja ela qual for, desde que faça bem ao mundo. Sua vida é um enredo de amor à família e respeito ao chão em que se pisa. Trata-se do novo mundo que seus passos firmes no solos íngremes moldam a cada dia que sobrevivemos.

Marielle é sobre a vontade de empurrar os nossos para adiante com um foco: projetar a favela como união e transgressão política em comunidade. É demolir as estruturas arcaicas da branquitude.

Os 41 anos de Marielle Franco nos colocam num processo de felicidade que seu sorriso aberto levará por décadas e centenários para várias partes do Brasil e do mundo, onde quer que chegue, representando uma galera aí que pertenceu aos humilhados e ofendidos, mas que hoje é do barulho. E sim, esse sorriso barulhento aí, escancarado ao mundo, é o maior exemplo das centenas de fatos, posturas e conquistas que incomodam quem não gosta da felicidade do povo preto e tão pouco está interessado em fazer a alternância de poder necessária na política, nos partidos, movimentos sociais e até coletivos de mídia, essa é a turma do sono profundo e que se for para atrapalhar ou fortalecer o racismo que permaneçam inertes em suas zonas de conforto, mas não atrapalhem o legado de Marielle. 

Semear

Dizer que Marielle é semente, significa colocar em prática um projeto bom para acabar com um projeto mal: o de extermínio da população negra. Significa darmos asas a PANE ANTIRRACISTA, uma plataforma que vai construir, através do Instituto Marielle Franco, uma nova mobilização do sistema político no Brasil. Essa é a primeira eleição municipal sem a presença física de Marielle. Mas a PANE pretende derrubar o que até hoje foi “lógica” colocando no sistema político a responsabilidade da população negra que quer alterar essa lógica irresponsável e racista. 

Marielle foi autora de sete importantes projetos de lei, que representavam grandes mudanças nas vidas de mulheres, crianças e da comunidade LGBTQIA+ carioca.

O PL 17/2017 do Espaço Coruja, programa que garante creches noturnas aos filhos de famílias que estudam à noite; o Dossiê Mulher Carioca, que visa garantir dados mais detalhados sobre crimes de violência contra a mulher na cidade do Rio de Janeiro; a Campanha Permanente de Conscientização e Enfrentamento ao Assédio e à Violência Sexual são alguns dos exemplos.

Há 15 dias de seu assassinato, no dia 28 de fevereiro de 2018, Marielle Franco assumiu a relatoria de uma comissão criada na Câmara Municipal do Rio para acompanhar a Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio, se tornando a responsável pela fiscalização dos militares nas favelas do Rio e, como socióloga, faria linha dura a qualquer descontrole. Não há caminho de retorno sobre os frutos que a história de Marielle entrega para fortalecer a luta antirracista. Eu sou porque nós somos é o mantra diário de nós mulheres e homens negros no país e não, não admitiremos sermos interrompidos em nossa construção.

Marielle Franco, 41 anos
Foto: Matheus Alves / Jornalistas Livres

Katia Passos tem 44 anos, é mãe de duas meninas de 19 e 14 anos, ativista em Direitos Humanos, jornalista da bancada do PT na Alesp, fundadora dos Jornalistas Livres, integra o Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas em Comunicacão, da Fundacão Perseu Abramo e atualmente constrói um projeto literário em homenagem e defesa do legado de Marielle Franco.

Matheus Alves, 22, é fotojornalista freelance baseado em Brasília (DF). Tem seu trabalho dedicado a documentar Movimentos Populares de luta pela terra e direito à cidade. Premiado pelo Concurso Fotográfico “Combater os Retrocessos: Existir e Resistir à Retirada de Direitos”, promovido pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos em 2019. É militante do Levante Popular da Juventude e colabora com a rede Jornalistas Livres.

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Ação Humanitária

Miguel: quantos como ele correm perigo nas casas das patroas de suas mães?

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https://www.youtube.com/watch?v=sMvyTtB070M

Se nesse momento a história da trágica morte do menino negro, Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, filho da empregada doméstica, Mirtes Renata Santana da Silva, fosse inversa em todas os seus detalhes: se ele fosse o filho branco da patroa, Sari Mariana Gaspar Corte Real, e tivesse morrido depois de despencar do 9º andar por desleixo e irresponsabilidade da empregada doméstica, certamente essa mulher negra estaria, neste exato momento, encarcerada.

Miguel Otávio Santana da Silva, 5 anos de vida, é vítima do racismo arraigado na vida cotidiana de pessoas como Sari, uma mulher que, ironicamente, possui sobrenome supremacista branco “CORTE REAL”.

Mas esse não é o pior dos detalhes. Nesse episódio trágico, a imprensa pernambucana, majoritariamente branca, portanto “limpinha”, não quis desagradar a mulher do prefeito da cidade de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB).

Até agora não há sequer uma menção realmente incisiva sobre a responsabilização de Sari na morte do menino.

O mesmo aconteceu com o delegado Ramón Teixeira, que acolheu o caso inicialmente. Preferiu preservar a identidade de Sari Mariana Gaspar Corte Real.

Sari não dispensou Mirtes por causa da pandemia. Sari não quis limpar sua própria merda, não quis varrer seu chão, não quis colocar  suas roupas na máquina de lavar, não quis cozinhar sua própria comida. Sari não quis levar seu cachorro para passear. Sari colocou a vida de sua empregada em risco, exposta à COVID-19. Sari matou o filho de Mirtes.

Que tipo de gente é essa?  Miguel, 5 anos, queria ver a mãe, que saiu para levar o cachorro da patroa a passear. Insistiu, fez birra, como qualquer criança faria. E não se curvou ao racismo de Sari. Por isso entrou no elevador. Por isso foi ao nono andar. Sozinho, porque Sari não se importa, não se importou com o fato de ele ser um menino. Ele era filho da empregada, não era nada. E ele caiu do nono andar. Ele morreu. Quando um filho morre, a mãe é a primeira que desce à cova. Era um filho negro. Na casa da patroa branca. A mãe negra, a empregada, não percebeu isso ainda. Em meio à dor, em estado de choque, ela humildemente lamenta a “falta de paciência” da patroa assassina.

Miguel

Miguel com sua mãe, Mirtes. Ao lado, Sari Corte Real, a patroa que colocou a empregada e seu filho em risco.

O FATO – O menino foi vítima de homicídio na terça-feira (2). Caiu do 9° andar da sacada de um prédio de luxo no Centro do Recife, em Pernambuco, conhecido como Torre Gêmeas. A informação inicial era de que, na hora do acidente, a empregada estaria trabalhando no 5° andar do prédio, mas hoje foi revelado que, na verdade, a empregada estava cumprindo a função de passear com os cachorros da família, enquanto a patroa cuidava de Miguel. Sari foi presa inicialmente, mas pagou uma fiança de R$ 20 mil e responde em liberdade, mesmo depois da divulgação de vídeos mostrando que Sari colocou Miguel sozinho no elevador de serviço, o único que dava acesso para a área desprotegida da qual o menino despencou para a morte. Os elevadores para pessoas como Mirtes e seu filho, na prática, ainda são diferentes no Brasil. E foi lá que a patroa o deixou.

Apartamento onde Miguel estava

Planta de um apartamento no prédio de luxo de Sari, marcado por corrupção e tragédia

 

Um corpo negro que vale 20 mil reais? Realmente vivemos um pesadelo legitimado pela racismo institucional do judiciário

Liana Cirne Lins, professora da Faculdade de Direito da UFPE, relatou em suas redes sociais que muitos têm defendido a tese de que, inclusive, houve homicídio DOLOSO, configurando dolo eventual. “Afinal, que adulto coloca uma criança de cinco anos, que está chorando pela mãe, sozinha, num elevador, e não calcula a possibilidade de um acidente?” Miguel não tinha intimidade com elevadores. Morava com os pais em uma casa pobre, num bairro humilde.

Sari sabia dos riscos e não faria o mesmo com os próprios filhos. Aliás, essa é uma pergunta que gostaríamos de fazer à patroa de Mirtes: como você acabaria com a birra de seus filhos?

Certamente Sari não os colocaria em risco. O centro desse debate é, sem dúvida, a herança de nossa cultura escravocrata e racista.

Outra declaração importantíssima de Liana Cirne é sobre o local e a data simbólica do homicídio: “O local é nas famigeradas Torres Gêmeas, esse lugar horroroso que tem essa energia do mal, do crime, da corrupção. Elas são um aborto em nossa paisagem e cenário de vários escândalos, desde que a [construtora] Moura Dubeux as ergueu, entre liminares. Nesse momento, mais do que em outros, queria que a sentença demolitória do juiz Hélio Ourém tivesse sido executada. Sobre a data: Miguel morreu no dia em que a PEC das Domésticas completou cinco anos! E é assim que se celebra o aniversário da legislação de proteção das Domésticas, o que diz muito sobre nosso país, que não superou sua herança escravagista.”

Os Jornalistas Livres se solidarizam demais, profundamente, com mais esse fato absurdo, horroroso, que tem como alimento o racismo.

Miguel, presente!

 

 

 

Leia mais sobre o racismo que mata no Brasil:

A Polícia de Wilson Witzel matou João Pedro, um jovem estudante. Ele poderia ser seu filho

 

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#EleNão

Cadê o Queiroz? Braço direito de Bolsonaro tem a senha pra derrubar o presidente

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Entre amigos: se a investigação contra Flavio Bolsonaro for para valer, é preciso saber cadê o Queiroz

Por Dacio Malta*

Não resta dúvida que a entrevista do lobista Paulo Marinho à Monica Bergamo, e mais as 8 horas de depoimentos que ele prestou à Polícia Federal e ao Ministério Público, abalam o senador Flávio Bolsonaro mas, principalmente, o seu pai  — o presidente da República.

Como o inquérito corre em segredo de justiça, não se sabe o que Marinho apresentou aos investigadores. Ele diz apenas que mostrou “provas” da ligação de um delegado com os Bolsonaros, e “ampliou as denúncias”.

O lobista tem se mostrando excessivamente confiante em relação a esses depoimentos. Mas o que teria de novo? Seriam vídeos, gravações, fotos? Ninguém sabe.

Se forem apenas fatos — mesmo com nomes, datas, locais e horários—  será difícil a investigação ganhar musculatura. Será a palavra de um contra o outro.

O fato de Fabrício Queiroz  — e sua filha—  serem demitidos em uma mesma data, entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2018, já foi respondido, no passado, pelo próprio capitão.  Queiroz foi demitido porque Flavio foi eleito senador, e precisava exonerar seus assessores na Assembleia Legislativa do Rio.

A filha de Queiroz foi pra rua pelo mesmo motivo. Como candidato a presidência da República, o capitão não voltaria para a Câmara dos Deputados.

É claro que todos poderiam continuar ganhando seu dinheirinho até dezembro, e não ter os proventos suspensos no início de outubro.

Mas, tecnicamente, a argumentação faz sentido.

A verdade é que o imbróglio que envolve a famiglia Bolsonaro só será esclarecido quando Queiroz for localizado e preso — para prestar o depoimento que ele deve desde dezembro de 2018.

Já se passaram 18 meses.

Como é sabido, Queiroz tem enorme intimidade com milicianos, mas esses, como bons mercenários que são, não garantem a sua segurança.

Hoje vivemos uma pandemia. E se Queiroz for infectado e morrer?

Toda a narrativa da rachadinha, do envolvimento da família com milicianos, da lavagem de dinheiro, da compra e venda de imóveis, da franquia de uma marca de chocolates e outros crimes, irão para o lixo.

Durante os 14 meses em que Sergio Moro foi ministro da Justiça, ele não moveu uma palha para que Queiroz fosse localizado. O ex-juiz, considerado traidor pelos bolsonaristas, prestou enorme serviço ao chefe, a partir do momento em que não se interessou pelo caso. Ou guardou as informações para ele.

Agora que o presidente tem a Polícia Federal na mão, e mais a superintendência do Rio de Janeiro, a localização de Queiroz torna-se ainda mais difícil.

E assim como pergunta-se “Quem mandou matar Marielle?”, a indagação “Cadê o Queiroz?” continuará sem resposta.

Ele sabe que os procuradores têm “uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente”. Por isso sumiu.

Ninguém sabe onde vive, com que recursos, onde está sua mulher e sua filha. Até mesmo os oito funcionários do gabinete — que mensal e candidamente entregavam parte dos salários para a caixinha do então deputado—  estão desaparecidos.

Se a investigação contra Flavio Bolsonaro for para valer, é preciso saber cadê o Queiroz.

 

 

*Dacio Malta trabalhou nos três principais jornais do Rio – O Globo, Jornal do Brasil e O Dia – e na revista Veja.

Leia mais Dacio Malta em:

 

Paulo Marinho apavora Jair Bolsonaro porque conhece os podres do presidente

 

TESTE DO COVID-19 DE BOLSONARO É FAKE

BOLSONARO DEVE DEIXAR SAÚDE COM PAZUELLO, QUE CONFUNDE HOMENS COM CAVALOS

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